Capítulo 2 Encrencada

*Diana Rodrigues*

Ao olhar para o homem alto de pernas grossas à minha frente, soltei o comentário mais idiota que poderia ter dito ao dono do hotel onde trabalho.

" Lindas", falei.

"Do que está falando? Acha bonito ter quebrado meu relógio de coleção?", ele brigou comigo.

"Desculpe-me, senhor. Peço que não me demita. Preciso do emprego."

"Não costumo dar segundas chances a funcionários como você."

"Por favor, reconsidere. Minha família depende de mim e eu preciso do emprego. Se for preciso, peço desculpas e me ajoelho à sua frente." Ele bufou e disse:

"Leve alguns dos meus ternos para passar, pois estão amassados, e depois os traga de volta. Tenho alguns compromissos e estou atrasado. Enquanto isso, vou pensar no que fazer com você." Ele saiu de perto de mim, pegou três ternos e me entregou.

"Sim, senhor." Peguei os ternos, a vassoura e o pano. "Obrigada, senhor."

O pano caiu no chão. Tinha que ser assim. Não seria eu se não deixasse nada cair. Me abaixei, mas não da forma correta e sim constrangedora. Acabei ficando virada para o dono do hotel onde trabalho. Dessa vez, ele me demitiria. Eu só faço coisas erradas. Nem olhei para trás. Saí da suíte e corri para o elevador de serviço.

Eu nunca tive muita sorte na vida; isso é um fato. Quando era pequena e ganhava um presente bonito, vinha uma criança e quebrava-o. Minhas amigas sempre atraíam a atenção do rapaz mais bonito, conseguiam o melhor emprego - e não é inveja, pois eu torcia por elas. É somente uma questão de falta de sorte minha. Acho que minha aparência não agradava, com meus óculos, roupas simples e meu corpo não ajudando muito. Sempre fui a feia da turma. Hoje estou aqui, não consegui realizar meu sonho de fazer faculdade, tive que trabalhar para ajudar em casa, enquanto meu irmão fazia faculdade, comprava sua moto e ia para as baladas. Mas, pela minha mãe, eu faria tudo de novo. Eu sentia pena daquela pobre mulher que trabalhava dia após dia para nos sustentar sozinha e dar uma vida digna, mas mamãe, além de fazer tudo o que meu irmão queria, ela também gostava de gastar o que não tinha, e eu era sempre a que pagava o que os dois gastavam. Não sobrava muito para mim.

Eu desci pelo elevador de serviço e corri para a lavanderia. Lá, eu iria pedir a alguém que passasse os ternos do meu chefe, o dono do hotel. Todas as garotas estavam ocupadas, e lembram da minha sorte? Ninguém quis passar os ternos para mim. Mas eu já havia feito isso antes; passar roupas era moleza, então lá fui eu passar o terno dele. Eu passei o primeiro e o segundo terno, e quando estava finalizando o terceiro, minha gerente me chamou.

"Diana, o que está fazendo aqui na lavanderia? Você sabe que deveria estar limpando as suítes lá da cobertura, não é mesmo? Como pode ser tão incompetente?", ela colocou as mãos na cintura.

"Eu já terminei o meu trabalho", Sirlene saiu não sei de onde, aquela vaca, "enquanto Diana fica brincando e não faz o trabalho dela", ela deu um sorrisinho, pois sabia que a gerente brigaria comigo.

"Estou passando o terno de um hóspede, ele me pediu…"

"Você sabe que isso não é sua função", ela aponta o dedo para mim, "sua função aqui é limpar e não passar roupas. Hoje mesmo vou deixar isso claro para você."

"Ele é o…", tento dizer.

"Não quero saber quem ele é, você leve os ternos para o cliente e vá até minha sala", e saiu reclamando.

"Acho que alguém vai ser demitida hoje", Sirlene me provoca, "e eu vou rir muito de você. Não vejo a hora de poder dizer adeus e nunca mais ver essa sua cara de boba."

"Olha aqui, sua…" - mas quando eu vou xingar aquela vaca, o cheiro de queimado chega até meu nariz.

"Diana, está vendo como você só faz bobagem? Quero ver você ficar aqui depois de queimar o terno do dono do hotel. Ele vai acabar com você. Talvez eu esteja com pena de você. Será a próxima desempregada da cidade", ela saiu rindo, me deixando lá com aquele problema.

Eu sabia que aqueles ternos custavam muito dinheiro, assim como o relógio. E o terno estava queimado. A marca do ferro estava estampada nas costas do casaco, e se ele não tinha me despedido até agora, com toda certeza ele me mandaria embora, e o dinheiro que eu tenho para receber do meu acerto do tempo de serviço não vai dar para pagar esse terno, muito menos o relógio. O que vou fazer? Primeiro vou subir lá e encarar a fera, depois eu vou tentar fazer um acordo com ele.

Com o terno queimado nas mãos, subi até lá. Peguei o elevador de serviço e fui para o último andar. Minha cabeça pensava em mil formas de como eu iria falar com ele. Uma coisa era certa: a rua seria o meu futuro, meu destino e minha ruína. Eu precisava tanto daquele trabalho, mas não podia simplesmente deixar o terno lá. Iria ser demitida do mesmo jeito. Saí do elevador e fui rumo à porta da suíte dele. Bati e logo ela foi aberta.

"Entre e coloque em cima da cama", ele estava no telefone. "E pode sair", ele não ia me demitir. Quase gritei de felicidade, mas eu tinha que falar do terno. Eu sempre estava em apuros. "Eu não quero me casar", a pessoa do outro lado da linha deve ter falado mais coisas e ele respondeu: "Eu não vou me casar, não vou me render às vontades de meu pai. Não sou um garotinho que ele manda e desmanda."

A conversa dele durou um bom tempo e eu fiquei ali ouvindo. Pelo que entendi, ele já deveria ter se casado há alguns anos. Parece que o pai dele estava fazendo de tudo para que ele se casasse ou seria punido. Ouvi que lá é por hierarquia, um clã que passa do pai para o filho mais velho. E ouvindo tudo ali como uma estátua com os ouvidos funcionando bem, ele estava bravo, pois ao que parece ele que levantou a fortuna da família que o pai não soube administrar e perdeu tudo em negócios sucedidos.

"O que você está fazendo aqui?" - ele estava furioso. "Estava ouvindo minha conversa?"

" Preciso falar com o senhor."

"Irmão, tem uma funcionária insistente aqui e escutando minha conversa. Vou desligar o telefone e demiti-la." Ele disse algumas palavras em outro idioma. "O que você quer? Não tenho tempo para ficar prestando atenção à conversa dos funcionários. Já não basta o que fez com meu relógio?"

"Eu", respirei fundo, fechei os olhos e disse: "Aconteceu um acidente com o seu terno."

"O que você fez?" - ele me olhou rapidamente.

"Queimou com o ferro, mas…"

"Queimou meu terno? Você não faz nada certo? Eu quero você longe de mim", eu tinha que concordar com ele, precisava ficar longe desse homem. Tenho medo do que eu possa fazer. "Vou descontar o valor do seu salário e enquanto não pagar tudo, você fica presa a este emprego."

"E quanto custa esse terno?" - perguntei com medo da resposta.

"Não sei, vinte ou trinta mil, depende da marca, não sei ao certo. Agora saia da minha frente, tenho outras coisas para fazer e problemas para resolver."

"Só mais uma pergunta. Vinte ou trinta mil reais?"

"Dólares. Não compro roupa no Brasil."

"Meu Deus", sento no sofá e começo a chorar. "Eu estou perdida."

"Você é uma garota que não presta atenção em nada." - ele se aproxima de mim e me observa, os olhos correm entre meu rosto e corpo.

"Não foi culpa minha, foi minha gerente que tirou minha atenção brigando comigo."

"Isso é um sinal de que você não é uma boa funcionária. Agora, saía. Tenho outras coisas para fazer. Vou pedir que descontem do seu salário o valor das avarias que você causou hoje. Qual é o seu nome?" 

" Diana" - eu estava chorando de raiva - "Diana Rodrigues. Peça para descontar do meu salário, por favor. Com licença." - Ele já estava sentado à mesa olhando para o computador e, pelo visto, nem estava mais prestando atenção no que eu estava falando.

E assim saí da suíte e fechei a porta. Eu não podia acreditar que ficaria presa aqui por anos, pagando tudo isso e ainda tendo que aguentar a vaca da minha gerente que só me maltrata. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não sabia o que fazer. Mas então, senti uma mão em meu ombro.

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