Na segunda-feira, eu levei bronca no trabalho. Eu tinha esquecido de entregar o documento que Lya tinha me pedido, ela agora está muito chateada comigo e está me evitando. Eu não fiz por mal, mas entendo Lya. Débora brigou horrores com Lya e depois me chamou.
– Quanta irresponsabilidade, Kelly! Não sei quem é mais patética: Você ou a Lya. – Débora anda de um lado para o outro. – Vocês não têm amor pelo trabalho de vocês? É isso? Por minha causa as coisas não ficaram feias. – Ela passa a mão pelo cabelo. – Sou ótima no meu trabalho. – Débora me olha com desprezo. – Ao contrário de você, eu não sou uma imprestável. Por que sinceramente você não consegue nem fazer seu trabalho direito.
Débora é chefe do setor de redação. Ela comanda toda essa área.
– Acho bom você começar a fazer seu trabalho direito. – Débora para do meu lado. – Vai ficar difícil manter uma pessoa como você aqui. Por que você sabe, não é? Eu tenho pena de você. Por isso ainda está aqui. Agora saia!
– Sim, senhora. – Digo com a voz trêmula.
Eu me levantei às pressas dali e acabei batendo minha perna no sofá. Débora ri.
– Que patética!
Me recomponho e saio da sua sala. Eu não volto para minha mesa, não vou conseguir trabalhar agora. Vou para a pequena sala que guarda os equipamentos de limpeza. Fecho a porta atrás de mim e apoio minha mão na parede, começando a chorar.
Por que eu sou assim? Lya está encrencada e é minha culpa. Queria sair logo e esqueci desse maldito documento. A empresa perderia clientes por minha causa.
Olho para o teto. Por que sou assim?
Meu celular começa a tocar. Eu respiro fundo tentando me acalmar. Pega o meu celular no bolso de trás da minha saia. Eu não reconheço o número, tento novamente me acalmar antes de atender a ligação.
– Alô?
– Kelly, tudo bem? Sou eu, o Eduardo.
Fico confusa ao ouvir a sua voz. Como ele conseguiu o meu número?
– Você me deu o seu número na sexta, lembra?
– Eu dei? – Suspiro. – Desculpa, eu não lembrava.
– Não precisa se desculpar, você está bem? Sua voz está diferente. Kelly, você está chorando?
– Não. – Falei rapidamente. – Eu estou bem. – Engrossei minha voz.
Ele riu.
– Tem certeza? Agora mais parece que você está com dor de garganta.
Acabei sorrindo. Mordo do meu lábio inferior.
– Não estou tendo o meu melhor dia.
– É o Bob de novo?
– Não, dessa vez a culpa foi minha mesmo. – Não esconda tristeza na minha voz.
Eu preciso mudar e ser mais responsável. Tenho que prestar atenção nas coisas, senão as pessoas vão se complicar por minha causa. Não quero causar confusão a ninguém.
– Quer conversar? Hoje depois que sair do seu trabalho.
– Não acho que vou ser uma boa companhia. – Eu sinto vontade de chorar de novo. – Não é bom ficar perto de uma pessoa desastrada, lerda, irresponsável…
– Ei, chega! – Sua voz saiu alta e firme. – Não fale assim.
– Mas você mesmo me disse isso na sexta. – Solucei.
– Sim, mas você tem muitas qualidades.
– Quais?
– Hum… eu vou te dizer assim que a gente se conhecer melhor. Então aceite meu convite. Hoje no bar, ok? Ou podemos ir jantar em outro lugar, o que você acha?
– Tanto faz.
– Quando você desanima é difícil, hein?
Eu sorri.
– Preciso voltar a trabalhar até mais tarde, Eduardo.
– Até. Kelly se cuida. – Ele desliga.
Enxuga as minhas lágrimas, respira fundo e volta para minha mesa. Durante o caminho eu vi as pessoas cochichando uma com a outra. Será que estão falando de mim? Eles provavelmente devem ter ouvido os gritos da Débora. Agora seria a vergonha do setor da redação. Sento na minha mesa e evito olhar para os lados. De repente o silêncio e minha curiosidade falou mais alto, olho para ver o que está acontecendo.
Arregalei os olhos vendo Bob carregando uma caixa com suas coisas. Ele foi demitido? O que aconteceu que eu não estou sabendo?
– Ouvi dizer que descobriram que o Bob anda fazendo aqui. – Ouvi um colega do trabalho dizer.
– Sim! Encontraram vídeos dele com algumas pessoas que trabalham aqui fazendo aquilo. – Outro colega diz.
Fico chocada com essa informação. Bob saiu de cabeça erguida carregando suas coisas, ele não disse nada, apenas foi embora.
No resto do dia me concentrei no meu trabalho, não deixe nada passar da minha vista. Revisei todos os trabalhos três vezes, o que me fez sair atrasada do trabalho. Não me importei mesmo que fosse um trabalho bem simples. Eu revisei de novo e cada detalhe. Foi cansativo, mas me senti melhor assim.
Quando eu saí do trabalho mandei uma mensagem para Eduardo, avisando que eu estava indo para o bar ele já estava lá me esperando.
– Demorou. – Ele olha em seu relógio no pulso, eu me sento ao seu lado. – Resolveu fazer hora extra hoje?
Coloco a minha bolsa em cima da cadeira ao meu lado e massageio as têmporas. Estou bem cansada.
– Eu revisei várias vezes cada trabalho que eu fiz hoje.
– Era necessário?
Apoio minhas mãos na mesa.
– Eu esqueci de entregar um documento na sexta e minha chefe de setor chamou minha atenção e de uma amiga minha. – Suspiro. – Eu não queria ter causado problema a ela.
– Ei, acredito que você não tenha feito por mal.
– Não, mas dessa vez a gente quase perdeu um cliente. Era um documento importante e eu esqueci. – Falei com raiva. – Eduardo, você tem noção disso? Eu esqueci. Porque sou lerda demais. Teve uma vez que eu precisei refazer todo documento, porque entornei café na minha mesa e não foi a primeira vez. Eu sou uma…
– Para. – Sua voz alta e grossa chama minha atenção. – Não gosto quando você fala desse jeito de si mesma. – Ele está sério. – Foi um erro que você não vai mais cometer. Tenho certeza que cuidará agora para que tudo corra bem. – A garçonete coloca uma cerveja e um vinho sob a mesa. – Eu pedi duas cervejas. – Eduardo vira seu rosto para olhar a garçonete lentamente, eu no lugar dela já teria saído correndo. Ele se mantém sério.
Ela sorri e passa a mão pelo cabelo.
– Eu achei que um homem fino como você preferiria um vinho, é o melhor da casa.
– Não quero saber o que você achou, eu quero o que eu pedi. Tire esse vinho da mesa e me traga minha cerveja.
A garçonete faz rapidamente o que ele pediu. Me senti incomodada na minha cadeira.
– Não era necessário você ter falado assim com ela.
– Ela trouxe outra coisa em vez do que pedi…
– Ela só queria agradar. – Solucei. Não quero chorar. – Ela não tem culpa de você se vestir como se fosse um dono de empresa muito famosa. Ela errou só isso. Igual a mim.
– Não se compare a ela. Ao contrário de você, ela fez isso, porque tem segundas intenções comigo.
– Ela só queria agradar. – Passo a mão pelo rosto enxugando as minhas lágrimas.
– Ok, eu exagerei. – Eduardo fala e me olha preocupado. – Agora para de chorar, por favor.
Faça um gesto de cabeça concordando. Eduardo tira um lenço do seu bolso e me entrega. Eu agradeço e enxuguei o meu rosto. A garçonete voltou com sua cerveja e Eduardo se desculpou. Agora ela estava todos sorrisos e Eduardo voltou a ignorá-la.
– Lembra quando eu te falei do Bob?
– Sim, o homem que se acha o dono da empresa.
– Ele foi mandado embora hoje. Parece que descobriram o que ele fazia e encontraram vídeos em seu computador. – Dou um gole na minha cerveja. – Agora fico me perguntando quem ficará no seu lugar.
– Quem sabe você não ganhe uma promoção.
Inclino a cabeça para o lado e olho para ele.
– É óbvio que não será eu, Eduardo. – Suspirei. – Eu não consigo fazer meu trabalho direito. Sou uma…
– Eu acho bom você não terminar essa frase.
– Você foi rude com a garçonete. – Acuso. – Por que está sendo legal comigo? Eu não quero a sua pena.
– E você não tem! Agora pare de se comparar a ela, eu já mandei.
– Você não manda em mim!
– Kelly, hoje você está muito respondona, não acha? – Eduardo me lançou um olhar desafiador. – Eu acho melhor você ter cuidado com suas palavras.
– Senão você vai fazer o quê? – Não abaixo o tom de voz para falar com ele.
Não estou falando alto o suficiente para chamar a atenção das pessoas. Eduardo passa a língua preguiçosamente pelos lábios. Acompanhei esse movimento sem piscar.
– Você já tomou cerveja demais.
Eu ainda estava na metade do meu primeiro copo.
– Vamos, Eduardo. Me diz o que você vai fazer comigo. – Não deixo de rir.
Até que está sendo legal desafiá-lo. Ele fica mais sério e olha para minha boca.
– Eu cuidarei dessa sua boca depravada. – Paro de rir. – De um jeito que você nunca vai esquecer.
Eu senti a promessa em sua voz. Eu posso me calar agora, mas um dia ele faria isso. Mesmo se eu não o desafiasse novamente. Não volto a falar sobre esse assunto senão era capaz dele fazer sabe lá o que ali mesmo. Eduardo bebeu sua cerveja com leve sorriso no rosto, contente por ter conseguido fazer eu me calar. Terminei minha cerveja.
– É melhor eu ir para casa. – Peguei o dinheiro na minha bolsa. – Amanhã terei um dia longo.
– Eu vou…
– Você pagou na última vez, Eduardo. – Coloco o dinheiro sobre a mesa. – Me deixa pagar hoje, por favor.
Ele não insistiu no assunto. Melhor assim, porque estava disposta a discutir e dessa vez eu ganharia.
Nos últimos três dias eu não vi Eduardo. Trocamos algumas mensagens e ele disse que estava fora da cidade. De vez em quando ele me mandava mensagens de incentivo. E isso estava me fazendo muito bem. Nesses dias eu fiz o mesmo processo da segunda revisei todos os documentos e tudo que passava por mim umas três vezes. Sair tarde todos esses dias. Hoje sexta-feira estou pronta para fazer a mesma coisa.– Kelly, você já verificou esse documento hoje. – Lya senta do meu lado. – Você tem que parar com isso. Não vai durar muito desse jeito.Olho para ela assustada.– Débora está pensando em me demitir?– Não. – Lya rir. – Você está fazendo todo o esforço desnecessário. Pelo menos para trabalhos que não precisam de tanta atenção assim. – Ela pega os papéis em minha mão. – Você é uma ótima profissional, Kelly. Só precisa prestar mais atenção, mas isso não significa que você precisa olhar cada documento umas mil vezes. É ótima no seu trabalho. Ajuda todos até quem não merece. Precisa deixar de
Dou um soco em seu braço. Cruzei os meus braços na altura do peito e olhei para frente.- Não vou entrar aí.- Kelly, eu estou cansado. - Ele suspira. - Facilita, por favor. É só um restaurante.- Só um restaurante? Talvez para você seja só um restaurante. Deve estar acostumado a frequentar esses lugares. - Aponto para minha roupa. - Mas eu não. Eu não vou entrar aí dentro para você passar vergonha.- Se esse é o problema, eu não me importo.- E também não vou ser sustentada por você. A duas quadras daqui a gente consegue comer muito bem e com boa qualidade. - Comecei a argumentar. - Não vamos pagar a metade do que vamos gastar aqui. E vou poder te ajudar a pagar sem ter que me preocupar com o final do mês.- Kelly...- Eu não sou seus amiguinhos ricos. Estou em um patamar mais baixo.Ele respira fundo como se quisesse ganhar tempo para pensar em alguma forma de me convencer a entrar naquele restaurante. Sinto muito Eduardo, mas eu tenho muitos argumentos ainda.- Como eu falei dinhe
Quando Eduardo abre a porta da casa dou um passo para dentro e o mesmo passo que dei, eu dou para trás pronta para ir embora. Ele me olha intrigado. Eu não posso entrar ali dentro. Se ele tem amor pelas coisas dele, ele não deixará eu entrar aí dentro.- O que foi?- Quero escolher outra opção: ir para minha casa.- Mas já estamos aqui.Olhei mais uma vez para dentro da sua casa. Quando Eduardo entrou em um dos muitos condomínios luxuosos de Nova York. Eu ainda fiquei com esperança de que o imóvel não fosse tão chique assim. Abrindo a porta você via uma grande sala composta com quatro sofás e uma poltrona de canto, uma mesa de vidro no centro. Mais para frente um mini bar com repletas bebidas. Tirando o grande espelho que tem na parede que dá acesso a outro cômodo.- Você lembra que eu sou desastrada, não lembra?Meu medo é entrar ali e quebrar alguma coisa mesmo não querendo. Só esse chão desse ter custado uma fortuna, estou quase podendo ver meu reflexo perfeitamente. Nessa casa tem
Subimos para o andar de cima. Em nenhum momento ele soltou a minha mão. Caminhamos por um corredor até Eduardo parar em frente a uma porta, ele abriu a porta e entrou sem me dar a chance de questionar para onde estamos indo. Estamos em seu quarto, ele não me dá muito tempo para reparar na decoração e me leva até outra porta.Fico chocada com a quantidade de roupa e a organização daquele lugar. Estamos em seu closet. Tudo bem separado e organizado. Em um lado do seu guarda-roupa ficava apenas seus ternos e gravatas. Ele inclina a cabeça para o outro lado do quarto onde tinha as outras peças menos formais.- Eu não uso só terno.- Quantas pessoas precisam trabalhar para você conseguir manter esse lugar tão limpo e organizado?Só para aquele quarto contando com seu closet, eu acho que umas três pessoas. Ou mais. Sinceramente me pergunto o porquê de tatas roupas, eu não sei se tenho poucas ou não tenho dinheiro para contra mais mesmo. A segunda opção! Os carrinhos dos meus aplicativos de
Os dias foram se passando. No trabalho as coisas tem dado certo pelo menos no que eu faço. Camille assumiu o lugar de Bob como supervisor, ela parece ser uma mulher bem legal. Ela chegou recentemente e não é muito de conversar, criar amizade. Muitos reclamam que ela é bem rígida e eu tenho que concordar.Com Eduardo a gente tem que ser visto bastante. Sempre depois do meu trabalho e nos finais de semana. A gente só não se via quando ele precisava fazer alguma viagem a trabalho. Suas viagens costumam durar de 2 a 3 dias. Mesmo assim estamos sempre em contato.Estou gostando muito do nosso relacionamento. Não houve um pedido de namoro, estamos nos conhecendo melhor e queremos estar um com o outro e isso é o bastante. Faz uns quatro anos que eu não me relaciono com al
– Você está diferente. – Lyah comenta sentando ao meu lado.– Diferente? Diferente como?Ela me olhou mais.– Está mais risonha e acho que mais positiva que já é. – Ela riu. – Não sei se isso é possível.Eu ri.– É impressão sua.– Não é não. – Ela se apoiou na mesa. – Me diz o que está acontecendo? – Ela arregalou os olhos. – Não vai me dizer que está namorando. No fim do expediente as coisas acabaram não saindo como eu planejei, Lyah teve um imprevisto e precisou sair mais cedo. Vou ter que deixar meu plano para outro dia. Arrumei as minhas coisas para ir embora, entrei no elevador e mandei uma mensagem para Eduardo avisando que estou saindo.Quando estou em frente ao prédio Eduardo me liga.- Vou me atrasar um pouco. - Ele fala assim que eu atendo.- Ah, você pode atrasar e eu não? - Provoquei- É diferente.- Porque?- Você atrasa porque é desastrada. Quando eu me atraso é porque alguém deixou de fazer o seu trabalho direito. - Ele está irritado e sei que não é comigo.Alguém vai ouvir poucas e boas hoje. Sempre quando ele fica assim eu tento convencê-lo a não matar a pessoa. Eduardo estressado é difícil de conversar. Eu já presenciei ele em uma ligação e o mesmo estava tão furioso, mas tão furioso que eu fiquei com pena da outra pessoa do outro lado da linha.- Aonde você pensa que vai? - Eu olhei para trás vendo a Débora. - Fugindo do trCapítulo 10
Dou alguns passos para trás. Eu tinha me esquecido completamente de contar para ele. Tinha que ter me preparado antes. Era para mim ter tocado no assunto primeiro, acredito que assim teria mais controle. Pelo menos eu acho que teria. É o Eduardo na minha frente. Sempre com uma resposta na ponta da língua.– Eu… hm… tenho ido muito bem no trabalho. – Explico. Mesmo com a minha voz falhando. – Acho que deveria continuar assim.– Já conversamos sobre isso, Kelly. – Ele para na minha frente. – Você tirar férias não significa que as coisas vão voltar a ser como antes.Abaixo minha cabeça. Não penso assim. Acho que tenho que ficar. Estou indo muito bem e não tive reclamação ou esquecer algum documento. Preciso ficar assim mais tempo para continuar boa.– Eduardo…– Vamos para o Egito, o que acha? Você disse que gostaria de conhecer quando assistimos aquele documentário. – Ele passa a mão pelo meu rosto. – Eu cuido de tudo. Não se preocupe.Cuidar de tudo significa que ele pagaria todas as n