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Capítulo 3

Na segunda-feira, eu levei bronca no trabalho. Eu tinha esquecido de entregar o documento que Lya tinha me pedido, ela agora está muito chateada comigo e está me evitando. Eu não fiz por mal, mas entendo Lya. Débora brigou horrores com Lya e depois me chamou. 

– Quanta irresponsabilidade, Kelly! Não sei quem é mais patética: Você ou a Lya. – Débora anda de um lado para o outro. – Vocês não têm amor pelo trabalho de vocês? É isso? Por minha causa as coisas não ficaram feias. – Ela passa a mão pelo cabelo. – Sou ótima no meu trabalho. – Débora me olha com desprezo. – Ao contrário de você, eu não sou uma imprestável. Por que sinceramente você não consegue nem fazer seu trabalho direito.

Débora é chefe do setor de redação. Ela comanda toda essa área.

– Acho bom você começar a fazer seu trabalho direito. – Débora para do meu lado. – Vai ficar difícil manter uma pessoa como você aqui. Por que você sabe, não é? Eu tenho pena de você. Por isso ainda está aqui. Agora saia!

– Sim, senhora. – Digo com a voz trêmula.

Eu me levantei às pressas dali e acabei batendo minha perna no sofá. Débora ri.

– Que patética!

Me recomponho e saio da sua sala. Eu não volto para minha mesa, não vou conseguir trabalhar agora. Vou para a pequena sala que guarda os equipamentos de limpeza. Fecho a porta atrás de mim e apoio minha mão na parede, começando a chorar. 

Por que eu sou assim? Lya está encrencada e é minha culpa. Queria sair logo e esqueci desse maldito documento. A empresa perderia clientes por minha causa.

Olho para o teto. Por que sou assim?

Meu celular começa a tocar. Eu respiro fundo tentando me acalmar. Pega o meu celular no bolso de trás da minha saia. Eu não reconheço o número, tento novamente me acalmar antes de atender a ligação.

– Alô?

– Kelly, tudo bem? Sou eu, o Eduardo.

Fico confusa ao ouvir a sua voz. Como ele conseguiu o meu número?

– Você me deu o seu número na sexta, lembra?

– Eu dei? – Suspiro. – Desculpa, eu não lembrava.

– Não precisa se desculpar, você está bem? Sua voz está diferente. Kelly, você está chorando?

– Não. – Falei rapidamente. – Eu estou bem. – Engrossei minha voz.

Ele riu.

– Tem certeza? Agora mais parece que você está com dor de garganta.

Acabei sorrindo. Mordo do meu lábio inferior.

– Não estou tendo o meu melhor dia.

– É o Bob de novo?

– Não, dessa vez a culpa foi minha mesmo. – Não esconda tristeza na minha voz.

Eu preciso mudar e ser mais responsável. Tenho que prestar atenção nas coisas, senão as pessoas vão se complicar por minha causa. Não quero causar confusão a ninguém.

– Quer conversar? Hoje depois que sair do seu trabalho.

– Não acho que vou ser uma boa companhia. – Eu sinto vontade de chorar de novo. – Não é bom ficar perto de uma pessoa desastrada, lerda, irresponsável…

– Ei, chega! – Sua voz saiu alta e firme. – Não fale assim.

– Mas você mesmo me disse isso na sexta. – Solucei.

– Sim, mas você tem muitas qualidades.

– Quais?

– Hum… eu vou te dizer assim que a gente se conhecer melhor. Então aceite meu convite. Hoje no bar, ok? Ou podemos ir jantar em outro lugar, o que você acha?

– Tanto faz.

– Quando você desanima é difícil, hein?

Eu sorri.

– Preciso voltar a trabalhar até mais tarde, Eduardo.

– Até. Kelly se cuida. – Ele desliga.

Enxuga as minhas lágrimas, respira fundo e volta para minha mesa. Durante o caminho eu vi as pessoas cochichando uma com a outra. Será que estão falando de mim? Eles provavelmente devem ter ouvido os gritos da Débora. Agora seria a vergonha do setor da redação. Sento na minha mesa e evito olhar para os lados. De repente o silêncio e minha curiosidade falou mais alto, olho para ver o que está acontecendo.

Arregalei os olhos vendo Bob carregando uma caixa com suas coisas. Ele foi demitido? O que aconteceu que eu não estou sabendo?

– Ouvi dizer que descobriram que o Bob anda fazendo aqui. – Ouvi um colega do trabalho dizer.

– Sim! Encontraram vídeos dele com algumas pessoas que trabalham aqui fazendo aquilo. – Outro colega diz.

Fico chocada com essa informação. Bob saiu de cabeça erguida carregando suas coisas, ele não disse nada, apenas foi embora. 

No resto do dia me concentrei no meu trabalho, não deixe nada passar da minha vista. Revisei todos os trabalhos três vezes, o que me fez sair atrasada do trabalho. Não me importei mesmo que fosse um trabalho bem simples. Eu revisei de novo e cada detalhe. Foi cansativo, mas me senti melhor assim.

Quando eu saí do trabalho mandei uma mensagem para Eduardo, avisando que eu estava indo para o bar ele já estava lá me esperando.

– Demorou. – Ele olha em seu relógio no pulso, eu me sento ao seu lado. – Resolveu fazer hora extra hoje?

Coloco a minha bolsa em cima da cadeira ao meu lado e massageio as têmporas. Estou bem cansada.

– Eu revisei várias vezes cada trabalho que eu fiz hoje.

– Era necessário?

Apoio minhas mãos na mesa.

– Eu esqueci de entregar um documento na sexta e minha chefe de setor chamou minha atenção e de uma amiga minha. – Suspiro. – Eu não queria ter causado problema a ela.

– Ei, acredito que você não tenha feito por mal.

– Não, mas dessa vez a gente quase perdeu um cliente. Era um documento importante e eu esqueci. – Falei com raiva. – Eduardo, você tem noção disso? Eu esqueci. Porque sou lerda demais. Teve uma vez que eu precisei refazer todo documento, porque entornei café na minha mesa e não foi a primeira vez. Eu sou uma…

– Para. – Sua voz alta e grossa chama minha atenção. – Não gosto quando você fala desse jeito de si mesma. – Ele está sério. – Foi um erro que você não vai mais cometer. Tenho certeza que cuidará agora para que tudo corra bem. – A garçonete coloca uma cerveja e um vinho sob a mesa. – Eu pedi duas cervejas. – Eduardo vira seu rosto para olhar a garçonete lentamente, eu no lugar dela já teria saído correndo. Ele se mantém sério.

Ela sorri e passa a mão pelo cabelo.

– Eu achei que um homem fino como você preferiria um vinho, é o melhor da casa.

– Não quero saber o que você achou, eu quero o que eu pedi. Tire esse vinho da mesa e me traga minha cerveja.

A garçonete faz rapidamente o que ele pediu. Me senti incomodada na minha cadeira.

– Não era necessário você ter falado assim com ela.

– Ela trouxe outra coisa em vez do que pedi…

– Ela só queria agradar. – Solucei. Não quero chorar. – Ela não tem culpa de você se vestir como se fosse um dono de empresa muito famosa. Ela errou só isso. Igual a mim.

– Não se compare a ela. Ao contrário de você, ela fez isso, porque tem segundas intenções comigo.

– Ela só queria agradar. – Passo a mão pelo rosto enxugando as minhas lágrimas.

– Ok, eu exagerei. – Eduardo fala e me olha preocupado. – Agora para de chorar, por favor.

Faça um gesto de cabeça concordando. Eduardo tira um lenço do seu bolso e me entrega. Eu agradeço e enxuguei o meu rosto. A garçonete voltou com sua cerveja e Eduardo se desculpou. Agora ela estava todos sorrisos e Eduardo voltou a ignorá-la.

– Lembra quando eu te falei do Bob?

– Sim, o homem que se acha o dono da empresa.

– Ele foi mandado embora hoje. Parece que descobriram o que ele fazia e encontraram vídeos em seu computador. – Dou um gole na minha cerveja. – Agora fico me perguntando quem ficará no seu lugar.

– Quem sabe você não ganhe uma promoção.

Inclino a cabeça para o lado e olho para ele.

– É óbvio que não será eu, Eduardo. – Suspirei. – Eu não consigo fazer meu trabalho direito. Sou uma…

– Eu acho bom você não terminar essa frase.

– Você foi rude com a garçonete. – Acuso. – Por que está sendo legal comigo? Eu não quero a sua pena.

– E você não tem! Agora pare de se comparar a ela, eu já mandei.

– Você não manda em mim!

– Kelly, hoje você está muito respondona, não acha? – Eduardo me lançou um olhar desafiador. – Eu acho melhor você ter cuidado com suas palavras.

– Senão você vai fazer o quê? – Não abaixo o tom de voz para falar com ele.

Não estou falando alto o suficiente para chamar a atenção das pessoas. Eduardo passa a língua preguiçosamente pelos lábios. Acompanhei esse movimento sem piscar.

– Você já tomou cerveja demais.

Eu ainda estava na metade do meu primeiro copo.

– Vamos, Eduardo. Me diz o que você vai fazer comigo. – Não deixo de rir.

Até que está sendo legal desafiá-lo. Ele fica mais sério e olha para minha boca.

– Eu cuidarei dessa sua boca depravada. – Paro de rir. – De um jeito que você nunca vai esquecer.

Eu senti a promessa em sua voz. Eu posso me calar agora, mas um dia ele faria isso. Mesmo se eu não o desafiasse novamente. Não volto a falar sobre esse assunto senão era capaz dele fazer sabe lá o que ali mesmo. Eduardo bebeu sua cerveja com leve sorriso no rosto, contente por ter conseguido fazer eu me calar. Terminei minha cerveja.

– É melhor eu ir para casa. – Peguei o dinheiro na minha bolsa. – Amanhã terei um dia longo.

– Eu vou…

– Você pagou na última vez, Eduardo. – Coloco o dinheiro sobre a mesa. – Me deixa pagar hoje, por favor.

Ele não insistiu no assunto. Melhor assim, porque estava disposta a discutir e dessa vez eu ganharia.

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