Nos últimos três dias eu não vi Eduardo. Trocamos algumas mensagens e ele disse que estava fora da cidade. De vez em quando ele me mandava mensagens de incentivo. E isso estava me fazendo muito bem. Nesses dias eu fiz o mesmo processo da segunda revisei todos os documentos e tudo que passava por mim umas três vezes. Sair tarde todos esses dias. Hoje sexta-feira estou pronta para fazer a mesma coisa.
– Kelly, você já verificou esse documento hoje. – Lya senta do meu lado. – Você tem que parar com isso. Não vai durar muito desse jeito.
Olho para ela assustada.
– Débora está pensando em me demitir?
– Não. – Lya rir. – Você está fazendo todo o esforço desnecessário. Pelo menos para trabalhos que não precisam de tanta atenção assim. – Ela pega os papéis em minha mão. – Você é uma ótima profissional, Kelly. Só precisa prestar mais atenção, mas isso não significa que você precisa olhar cada documento umas mil vezes. É ótima no seu trabalho. Ajuda todos até quem não merece. Precisa deixar de ser menos desastrada? Sim, mas você só precisa desacelerar um pouco. Tenho certeza que as coisas vão começar a dar certo. Focar mais em seu trabalho em vez de ajudar sempre os outros. Pensa mais em você.
– Tá bom, mas…
Ela revira os olhos.
– Chega de trabalho hoje! Vamos beber!
Lya não me deu tempo para discutir, ela chamou mais algumas pessoas que trabalham com a gente e fomos para o bar mais próximo. Eu consegui relaxar assim que deixei aquela mesa. Não ter a luz do computador ou aqueles papéis cheios de letrinhas me deixou aliviada.
– Vamos beber! – Um dos nossos colegas gritou.
Estamos no mesmo bar que eu tenho vindo com Eduardo.
– Isso! Sexta-feira, gente. – Outro comemora.
Logo as garçonetes apareceram com bebidas deixando a nossa mesa recheada. Meus colegas riam e conversavam alegremente, alguns ficaram animadinhos. Jacob é um dos meus colegas do setor do marketing, ele não é de beber muito e ficou me fazendo companhia enquanto Lya se acabava na cerveja.
Lya quando quer beber ninguém segura ela.
Uma hora depois de estarmos ali o que resultou no famoso vira garrafa. Fizemos até competição, eu não competi, mas puxei o grito de guerra animando eles. Estávamos prontos para começar outra rodada quando o meu celular vibra no meu bolso.
Me afastei deles saindo do bar para poder atender o telefone. Com a música e a gritaria eu não conseguia ouvir nada ali dentro. Sorrir ao ver o nome do Eduardo na tela.
– Eduardo! – falei seu nome animada quando atendi.
– Oi. Parece que tem alguém bem animado hoje.
- Sim! - Grito em resposta e comecei a rir.
- Aonde você está? - Sua voz fica neutra.
- No bar que a gente costuma vir. Vem para cá! - Chamo ele. - Está muito divertido.
Tenho certeza que meus amigos vão adorar conhecê-lo. Será bom para Leonardo poder se socializar com outras pessoas. Quem sabe assim ele não muda o humor dele e seja uma pessoa mais acessível.
- Estou indo aí te buscar. – Ele avisa.
- Me buscar? - Pergunto confusa.
- Sim. - Ele volta com aquela voz firme. - Vamos para um outro lugar de preferência jantar.
- Não, eu quero que você conheça os meus amigos. Eu não quero jantar.
- Você comeu hoje, Kelly?
Suspirei irritada.
- É claro que sim. Eu almocei na hora do almoço.
- Apenas isso? - Ele pergunta irritado. Por que ele está assim? - Você deve consumir no mínimo três refeições ao dia.
- Eu não tenho tempo para isso, Eduardo.
- E para beber tem?
- Eduardo, você vai vir ou não?
Agora quem está irritada sou eu. Posso comer qualquer coisa depois, ele tem que parar de ser chato e dizer que vai vir só isso. Quero ele aqui, aposto que Eduardo vai se divertir e muito.
- Sim e vamos jantar...
- Eduardo...
- Depois que formos jantar, podemos voltar. - Ele diz. - Mas talvez eu consiga te convencer a fazermos outra coisa.
Eu mordi meu lábio pensando no que seria essa outra coisa. Balancei a cabeça de um lado para o outro afastando esses pensamentos. Ele vai voltar comigo para esse bar. Eduardo precisa seriamente deixar de ser anti social. E se ele consegue se socializar comigo tenho certeza que vai conseguir ter um bom convívio com meus amigos.
- Pegue suas coisas e me espere do lado de fora. - Eduardo manda. - Estou chegando.
Ele não espera uma resposta minha e desliga a ligação. Por que ele tem que ser tão mandão? Eduardo precisa de ajuda. Eu darei o meu melhor para ajudar, agora vamos ver até onde isso vai durar. Volto para dentro do bar e falo com a Lya.
- Vou precisar sair um pouquinho. - Pego minha bolsa. - Mas já volto.
- Ok, mas não demora. - Ela riu quando viu outro colega nosso virando a garrafa de vodka. - Não temos hora para ir embora mesmo.
Eu rir com ela. Nos despedimos e eu fui para fora esperar Eduardo. Ele não demorou muito para aparecer. Ele apareceu em um lindo carro preto, não entendo de marca, mas parecia ser bem caro. Abaixou o vidro para que eu pudesse vê-lo e eu entrei no carro.
- Esse carro é muito bonito. - Comento.
Coloca o cinto e ele começa a dirigir. Eduardo está sério e quieto, ele não me respondeu. Quando ele parou o carro em frente de um restaurante chique eu comecei a balançar a cabeça negando.
- Eu não vou entrar aí dentro.
- Por que não?
Olhei para ele chocada. Aqui é simplesmente o restaurante mais caro de Nova York. Eu precisaria juntar um bom dinheiro para poder jantar aqui e nem teria mais dinheiro para pagar a sobremesa. Eu imaginava que Eduardo fosse rico e frequentava esses lugares, mas logo esse tipo de restaurante? Seja quem for com quem ele trabalhe, Eduardo ganha muito bem.
- Você quer que eu comece pela minha conta bancária ou pela roupa que eu estou usando?
Eduardo fica confuso com as minhas palavras e logo revira os olhos entendendo o que eu disse.
- Dinheiro não é um problema para mim e você está linda. - Ele diz e começa a tirar o cinto de segurança.
Continuei olhando para ele chocada.
- Minha blusa está manchada de cerveja. - Apontei para a mancha.
Ele faz um barulho com a língua e me olha com uma cara debochada.
- Isso não teria acontecido se você optasse por se alimentar em vez de ir beber.
- Você fala como se eu vivesse bebendo.
- Está quase indo para esse rumo... Aí!
Dou um soco em seu braço. Cruzei os meus braços na altura do peito e olhei para frente.- Não vou entrar aí.- Kelly, eu estou cansado. - Ele suspira. - Facilita, por favor. É só um restaurante.- Só um restaurante? Talvez para você seja só um restaurante. Deve estar acostumado a frequentar esses lugares. - Aponto para minha roupa. - Mas eu não. Eu não vou entrar aí dentro para você passar vergonha.- Se esse é o problema, eu não me importo.- E também não vou ser sustentada por você. A duas quadras daqui a gente consegue comer muito bem e com boa qualidade. - Comecei a argumentar. - Não vamos pagar a metade do que vamos gastar aqui. E vou poder te ajudar a pagar sem ter que me preocupar com o final do mês.- Kelly...- Eu não sou seus amiguinhos ricos. Estou em um patamar mais baixo.Ele respira fundo como se quisesse ganhar tempo para pensar em alguma forma de me convencer a entrar naquele restaurante. Sinto muito Eduardo, mas eu tenho muitos argumentos ainda.- Como eu falei dinhe
Quando Eduardo abre a porta da casa dou um passo para dentro e o mesmo passo que dei, eu dou para trás pronta para ir embora. Ele me olha intrigado. Eu não posso entrar ali dentro. Se ele tem amor pelas coisas dele, ele não deixará eu entrar aí dentro.- O que foi?- Quero escolher outra opção: ir para minha casa.- Mas já estamos aqui.Olhei mais uma vez para dentro da sua casa. Quando Eduardo entrou em um dos muitos condomínios luxuosos de Nova York. Eu ainda fiquei com esperança de que o imóvel não fosse tão chique assim. Abrindo a porta você via uma grande sala composta com quatro sofás e uma poltrona de canto, uma mesa de vidro no centro. Mais para frente um mini bar com repletas bebidas. Tirando o grande espelho que tem na parede que dá acesso a outro cômodo.- Você lembra que eu sou desastrada, não lembra?Meu medo é entrar ali e quebrar alguma coisa mesmo não querendo. Só esse chão desse ter custado uma fortuna, estou quase podendo ver meu reflexo perfeitamente. Nessa casa tem
Subimos para o andar de cima. Em nenhum momento ele soltou a minha mão. Caminhamos por um corredor até Eduardo parar em frente a uma porta, ele abriu a porta e entrou sem me dar a chance de questionar para onde estamos indo. Estamos em seu quarto, ele não me dá muito tempo para reparar na decoração e me leva até outra porta.Fico chocada com a quantidade de roupa e a organização daquele lugar. Estamos em seu closet. Tudo bem separado e organizado. Em um lado do seu guarda-roupa ficava apenas seus ternos e gravatas. Ele inclina a cabeça para o outro lado do quarto onde tinha as outras peças menos formais.- Eu não uso só terno.- Quantas pessoas precisam trabalhar para você conseguir manter esse lugar tão limpo e organizado?Só para aquele quarto contando com seu closet, eu acho que umas três pessoas. Ou mais. Sinceramente me pergunto o porquê de tatas roupas, eu não sei se tenho poucas ou não tenho dinheiro para contra mais mesmo. A segunda opção! Os carrinhos dos meus aplicativos de
Os dias foram se passando. No trabalho as coisas tem dado certo pelo menos no que eu faço. Camille assumiu o lugar de Bob como supervisor, ela parece ser uma mulher bem legal. Ela chegou recentemente e não é muito de conversar, criar amizade. Muitos reclamam que ela é bem rígida e eu tenho que concordar.Com Eduardo a gente tem que ser visto bastante. Sempre depois do meu trabalho e nos finais de semana. A gente só não se via quando ele precisava fazer alguma viagem a trabalho. Suas viagens costumam durar de 2 a 3 dias. Mesmo assim estamos sempre em contato.Estou gostando muito do nosso relacionamento. Não houve um pedido de namoro, estamos nos conhecendo melhor e queremos estar um com o outro e isso é o bastante. Faz uns quatro anos que eu não me relaciono com al
– Você está diferente. – Lyah comenta sentando ao meu lado.– Diferente? Diferente como?Ela me olhou mais.– Está mais risonha e acho que mais positiva que já é. – Ela riu. – Não sei se isso é possível.Eu ri.– É impressão sua.– Não é não. – Ela se apoiou na mesa. – Me diz o que está acontecendo? – Ela arregalou os olhos. – Não vai me dizer que está namorando. No fim do expediente as coisas acabaram não saindo como eu planejei, Lyah teve um imprevisto e precisou sair mais cedo. Vou ter que deixar meu plano para outro dia. Arrumei as minhas coisas para ir embora, entrei no elevador e mandei uma mensagem para Eduardo avisando que estou saindo.Quando estou em frente ao prédio Eduardo me liga.- Vou me atrasar um pouco. - Ele fala assim que eu atendo.- Ah, você pode atrasar e eu não? - Provoquei- É diferente.- Porque?- Você atrasa porque é desastrada. Quando eu me atraso é porque alguém deixou de fazer o seu trabalho direito. - Ele está irritado e sei que não é comigo.Alguém vai ouvir poucas e boas hoje. Sempre quando ele fica assim eu tento convencê-lo a não matar a pessoa. Eduardo estressado é difícil de conversar. Eu já presenciei ele em uma ligação e o mesmo estava tão furioso, mas tão furioso que eu fiquei com pena da outra pessoa do outro lado da linha.- Aonde você pensa que vai? - Eu olhei para trás vendo a Débora. - Fugindo do trCapítulo 10
Dou alguns passos para trás. Eu tinha me esquecido completamente de contar para ele. Tinha que ter me preparado antes. Era para mim ter tocado no assunto primeiro, acredito que assim teria mais controle. Pelo menos eu acho que teria. É o Eduardo na minha frente. Sempre com uma resposta na ponta da língua.– Eu… hm… tenho ido muito bem no trabalho. – Explico. Mesmo com a minha voz falhando. – Acho que deveria continuar assim.– Já conversamos sobre isso, Kelly. – Ele para na minha frente. – Você tirar férias não significa que as coisas vão voltar a ser como antes.Abaixo minha cabeça. Não penso assim. Acho que tenho que ficar. Estou indo muito bem e não tive reclamação ou esquecer algum documento. Preciso ficar assim mais tempo para continuar boa.– Eduardo…– Vamos para o Egito, o que acha? Você disse que gostaria de conhecer quando assistimos aquele documentário. – Ele passa a mão pelo meu rosto. – Eu cuido de tudo. Não se preocupe.Cuidar de tudo significa que ele pagaria todas as n
Eu começo a chorar. Eduardo me olha preocupado e segura minhas mãos me pedindo para parar de chorar. Não consigo parar. Minhas mãos chegam a tremer e mesmo respirando fundo, não conseguia me acalmar. Algumas pessoas que passavam pela gente nos olhavam curiosas.– Por que você está chorando, Kelly?Choro mais alto.– Você está morrendo, não está? Por que não me contou antes?Ele é tão jovem. Por que meu Deus?! Eu gosto tanto do Eduardo. Não quero ficar sem ele. Por favor, não tira ele de mim. Eduardo é boa pessoa. Deixa ele mais tempo comigo. Ele… ele é uma boa pessoa, meu Deus. Não tira ele de mim, não. Por favor. Olho para o céu.– Por favor, não leva ele. – Pedi.– Para com isso! – Ele segura em meu rosto fazendo eu olhar para ele. – Eu não estou morrendo. Estou muito bem de saúde.Pisquei algumas vezes em meio as lagrimas, solucei. Lentamente parando de chorar. Eu ouvi bem?– Você não está morrendo? – Perguntei para ter a certeza.Ele negou com a cabeça.– Por que você pensou nisso