Dou um soco em seu braço. Cruzei os meus braços na altura do peito e olhei para frente.
- Não vou entrar aí.
- Kelly, eu estou cansado. - Ele suspira. - Facilita, por favor. É só um restaurante.
- Só um restaurante? Talvez para você seja só um restaurante. Deve estar acostumado a frequentar esses lugares. - Aponto para minha roupa. - Mas eu não. Eu não vou entrar aí dentro para você passar vergonha.
- Se esse é o problema, eu não me importo.
- E também não vou ser sustentada por você. A duas quadras daqui a gente consegue comer muito bem e com boa qualidade. - Comecei a argumentar. - Não vamos pagar a metade do que vamos gastar aqui. E vou poder te ajudar a pagar sem ter que me preocupar com o final do mês.
- Kelly...
- Eu não sou seus amiguinhos ricos. Estou em um patamar mais baixo.
Ele respira fundo como se quisesse ganhar tempo para pensar em alguma forma de me convencer a entrar naquele restaurante. Sinto muito Eduardo, mas eu tenho muitos argumentos ainda.
- Como eu falei dinheiro não é um problema para mim. - Ele usa uma voz mais calma. - Então não se preocupe com isso. Aceite este jantar como um presente.
- Presente?
- Sim de manter você viva! - Ele fala autoritário novamente.
- Você está dizendo que eu passo fome? - Olho para ele abismada. - Fique sabendo que eu como muito bem.
- Tenho minhas dúvidas. Você está mais magra desde a última vez que eu te vi.
- Isso foi uma consequência do trabalho. Acabei focando demais e deixando de comer essa semana, mas não é como se acontecesse sempre.
Eu tenho uma grande facilidade para emagrecer e nesse tempo que saí tarde do trabalho acabei não me alimentando direito.
- Kelly, vamos entrar...
- Não! Vamos em outro.
Ele passa a mão pelo cabelo e olha para o teto do carro como se ali encontrasse essa resposta.
- Você só precisa dirigir mais um pouco. – Insistir.
- O que adianta ir a duas quadras daqui se você não comer direito o resto dos dias?
- E comer nesse restaurante caro vai fazer eu comer direito nos outros dias?
Eduardo me olha com tanta raiva que era capaz dele chutar minha bunda ali mesmo. Ele respira fundo mais uma vez e liga o carro. Virei o rosto para que ele não me veja sorrindo. Eduardo é teimoso demais. Quando chegamos eu saí do carro saltitando. Ouvi ele bufar. Escolhemos a mesa e olhamos os cardápios para fazer nossos pedidos.
Esse restaurante é calmo e bem iluminado. Eu gosto bastante daqui.
- Vai me dizer que esse lugar não é legal?
Puxo assunto quando vejo que ele ainda está com aquela carranca no rosto.
- Estamos aqui, não estamos? Agora é melhor você comer.
Ignoro o seu jeito de falar e fazemos nossos pedidos. Eu escolhi um suco de maracujá enquanto Eduardo escolheu tomar um vinho branco.
- Como foi sua viagem? - Perguntei sorrindo.
Quero ficar bem com ele novamente. Gosto do tempo que passamos juntos. Eduardo me olha por alguns segundos sem dizer nada e bebe um pouco do seu vinho.
- Cansativa e irritante.
Realmente era nítido o seu cansaço.
- Já pensou em tirar algumas férias? Acho que está precisando.
Ele ergue uma sobrancelha.
- Me faria companhia?
- Minhas férias são daqui a um mês. - O garçom coloca nossa comida na mesa. - E mesmo assim não acho que vou tirar.
- Por que?
- Estou criando uma nova rotina de trabalho para mim. Então preciso de mais tempo para me adaptar.
Eduardo abre a boca para falar alguma coisa, mas desiste.
- É bom ver o seu esforço.
Sorri para ele e começamos a comer. Eduardo evitou falar comigo. Ele está muito fanático nesse assunto sobre me alimentar. Como quero manter um clima bom entre a gente, eu comecei a comer e conversar menos. Eduardo foi aliviando aquele rosto emburrado enquanto via o meu prato esvaziando.
- Prontinho. - Termino de comer e bebi meu suco.
- Boa garota. - Ele sorriu.
Gosto de ver ele sorrindo. Eduardo chamou o garçom para fechar a conta.
- Agora vamos voltar para o bar. - Falei assim que deixei a metade do dinheiro em cima da mesa.
Ele ia recusar o dinheiro, mas sabiamente não fez isso.
- Tenho uma proposta melhor.
- Eduardo...
- E ainda não irei impedir você de beber, caso queira.
Nos levantamos para sair do restaurante.
- Mas eu quero que você conheça meus amigos. Lá está muito legal e você precisa parar de ser anti social.
- Eu não sou anti social. - Ele me olha como se tivesse ofendido ele.
- É sim! Você dispensou o único amigo seu que conheço no dia do seu aniversário. Preferindo passar com uma desconhecida.
- Você é uma visão melhor de ser vista do que ele. - Eduardo dá de ombros.
Revirei os olhos.
- Eles são legais e não vou julgar você pelo seu jeito.
- Meu jeito. - Concordo. - Como seria o meu jeito?
- Grosso, ignorante, fresco com aquele jeito de não me tocar...
- Chega!
- Tem certeza? Porque eu posso continuar.
Eduardo para do lado do seu carro, colocando suas mãos no bolso da frente de sua calça.
- Se eu sou tudo isso, porque quer está perto de mim?
Fico ao seu lado olhando para o restaurante à nossa frente.
- Gosto de você. Para mim você é mais do que essa casca vazia que demonstra. - Sorri para ele. - Você tem o seu lado bom e gentil. Quero conhecê-lo.
Eduardo fica sem saber o que me dizer e acabei sorrindo mais. Eu o deixei sem palavras? Justo esse homem que parece ter todas as palavras na ponta da língua.
- Podemos deixar para conhecer seus amigos outro dia? - Eduardo pediu. - Estou bem cansado hoje.
- Tá bom. Você deve descansar, não vou insistir. - Cerro os olhos e apontei para ele. - Mas na próxima você não escapa.
Ele ergue as mãos como se estivesse se rendendo e concorda.
- Vá direto para casa descansar, eu vou chamar um táxi para mim...
- Ei, ei… – Ele segurou no meu braço fazendo um leve carinho. – Eu estou cansado, não significa que você está liberada para aí. - Olho para ele confusa. - Estou cansado demais para ir conhecer os seus amigos hoje, mas isso não significa que estou cansado demais para passar o resto da noite com você.
Arregalo os olhos. Eduardo dá a volta no carro para entrar.
- Anda, Kelly. Entra no carro.
Ele chama minha atenção já que eu fiquei parada sem reação. Entrei em seu carro e coloquei o cinto de segurança, Eduardo faz o mesmo pronto para dar partida.
- Hum, para onde vamos?
Ele deveria estar indo para casa descansar. Como vou convencer ele se eu também quero ficar mais tempo ao seu lado. Não seja tonta, Kelly. Eduardo precisa descansar. Ele mesmo disse que foi cansativo e estressante seu trabalho. Precisa de um tempo para ele, senão seu corpo vai começar a reagir e não quero ninguém no hospital.
- Eduardo...
- Eu vou te dar três opções. - Ele avisou. - Ir para o cinema, ir para minha casa ou ir para sua casa. Você só pode escolher essas três opções.
Essa é a forma de Eduardo não ser tão direto com suas intenções. Somos apenas amigos, não somos? Ou deixamos algo mais acontecer?
Quando Eduardo abre a porta da casa dou um passo para dentro e o mesmo passo que dei, eu dou para trás pronta para ir embora. Ele me olha intrigado. Eu não posso entrar ali dentro. Se ele tem amor pelas coisas dele, ele não deixará eu entrar aí dentro.- O que foi?- Quero escolher outra opção: ir para minha casa.- Mas já estamos aqui.Olhei mais uma vez para dentro da sua casa. Quando Eduardo entrou em um dos muitos condomínios luxuosos de Nova York. Eu ainda fiquei com esperança de que o imóvel não fosse tão chique assim. Abrindo a porta você via uma grande sala composta com quatro sofás e uma poltrona de canto, uma mesa de vidro no centro. Mais para frente um mini bar com repletas bebidas. Tirando o grande espelho que tem na parede que dá acesso a outro cômodo.- Você lembra que eu sou desastrada, não lembra?Meu medo é entrar ali e quebrar alguma coisa mesmo não querendo. Só esse chão desse ter custado uma fortuna, estou quase podendo ver meu reflexo perfeitamente. Nessa casa tem
Subimos para o andar de cima. Em nenhum momento ele soltou a minha mão. Caminhamos por um corredor até Eduardo parar em frente a uma porta, ele abriu a porta e entrou sem me dar a chance de questionar para onde estamos indo. Estamos em seu quarto, ele não me dá muito tempo para reparar na decoração e me leva até outra porta.Fico chocada com a quantidade de roupa e a organização daquele lugar. Estamos em seu closet. Tudo bem separado e organizado. Em um lado do seu guarda-roupa ficava apenas seus ternos e gravatas. Ele inclina a cabeça para o outro lado do quarto onde tinha as outras peças menos formais.- Eu não uso só terno.- Quantas pessoas precisam trabalhar para você conseguir manter esse lugar tão limpo e organizado?Só para aquele quarto contando com seu closet, eu acho que umas três pessoas. Ou mais. Sinceramente me pergunto o porquê de tatas roupas, eu não sei se tenho poucas ou não tenho dinheiro para contra mais mesmo. A segunda opção! Os carrinhos dos meus aplicativos de
Os dias foram se passando. No trabalho as coisas tem dado certo pelo menos no que eu faço. Camille assumiu o lugar de Bob como supervisor, ela parece ser uma mulher bem legal. Ela chegou recentemente e não é muito de conversar, criar amizade. Muitos reclamam que ela é bem rígida e eu tenho que concordar.Com Eduardo a gente tem que ser visto bastante. Sempre depois do meu trabalho e nos finais de semana. A gente só não se via quando ele precisava fazer alguma viagem a trabalho. Suas viagens costumam durar de 2 a 3 dias. Mesmo assim estamos sempre em contato.Estou gostando muito do nosso relacionamento. Não houve um pedido de namoro, estamos nos conhecendo melhor e queremos estar um com o outro e isso é o bastante. Faz uns quatro anos que eu não me relaciono com al
– Você está diferente. – Lyah comenta sentando ao meu lado.– Diferente? Diferente como?Ela me olhou mais.– Está mais risonha e acho que mais positiva que já é. – Ela riu. – Não sei se isso é possível.Eu ri.– É impressão sua.– Não é não. – Ela se apoiou na mesa. – Me diz o que está acontecendo? – Ela arregalou os olhos. – Não vai me dizer que está namorando. No fim do expediente as coisas acabaram não saindo como eu planejei, Lyah teve um imprevisto e precisou sair mais cedo. Vou ter que deixar meu plano para outro dia. Arrumei as minhas coisas para ir embora, entrei no elevador e mandei uma mensagem para Eduardo avisando que estou saindo.Quando estou em frente ao prédio Eduardo me liga.- Vou me atrasar um pouco. - Ele fala assim que eu atendo.- Ah, você pode atrasar e eu não? - Provoquei- É diferente.- Porque?- Você atrasa porque é desastrada. Quando eu me atraso é porque alguém deixou de fazer o seu trabalho direito. - Ele está irritado e sei que não é comigo.Alguém vai ouvir poucas e boas hoje. Sempre quando ele fica assim eu tento convencê-lo a não matar a pessoa. Eduardo estressado é difícil de conversar. Eu já presenciei ele em uma ligação e o mesmo estava tão furioso, mas tão furioso que eu fiquei com pena da outra pessoa do outro lado da linha.- Aonde você pensa que vai? - Eu olhei para trás vendo a Débora. - Fugindo do trCapítulo 10
Dou alguns passos para trás. Eu tinha me esquecido completamente de contar para ele. Tinha que ter me preparado antes. Era para mim ter tocado no assunto primeiro, acredito que assim teria mais controle. Pelo menos eu acho que teria. É o Eduardo na minha frente. Sempre com uma resposta na ponta da língua.– Eu… hm… tenho ido muito bem no trabalho. – Explico. Mesmo com a minha voz falhando. – Acho que deveria continuar assim.– Já conversamos sobre isso, Kelly. – Ele para na minha frente. – Você tirar férias não significa que as coisas vão voltar a ser como antes.Abaixo minha cabeça. Não penso assim. Acho que tenho que ficar. Estou indo muito bem e não tive reclamação ou esquecer algum documento. Preciso ficar assim mais tempo para continuar boa.– Eduardo…– Vamos para o Egito, o que acha? Você disse que gostaria de conhecer quando assistimos aquele documentário. – Ele passa a mão pelo meu rosto. – Eu cuido de tudo. Não se preocupe.Cuidar de tudo significa que ele pagaria todas as n
Eu começo a chorar. Eduardo me olha preocupado e segura minhas mãos me pedindo para parar de chorar. Não consigo parar. Minhas mãos chegam a tremer e mesmo respirando fundo, não conseguia me acalmar. Algumas pessoas que passavam pela gente nos olhavam curiosas.– Por que você está chorando, Kelly?Choro mais alto.– Você está morrendo, não está? Por que não me contou antes?Ele é tão jovem. Por que meu Deus?! Eu gosto tanto do Eduardo. Não quero ficar sem ele. Por favor, não tira ele de mim. Eduardo é boa pessoa. Deixa ele mais tempo comigo. Ele… ele é uma boa pessoa, meu Deus. Não tira ele de mim, não. Por favor. Olho para o céu.– Por favor, não leva ele. – Pedi.– Para com isso! – Ele segura em meu rosto fazendo eu olhar para ele. – Eu não estou morrendo. Estou muito bem de saúde.Pisquei algumas vezes em meio as lagrimas, solucei. Lentamente parando de chorar. Eu ouvi bem?– Você não está morrendo? – Perguntei para ter a certeza.Ele negou com a cabeça.– Por que você pensou nisso
Não sei o que dizer. Estou perdida e confusa. A empresa é grande e dividida em vários setores, cada setor um líder. Não é qualquer um que conhece o CEO da empresa, eu faço parte desse time. Você tem que ser chamado ou tem que ser um assunto muito sério do qual só ele possa resolver. Fora que meu chefe… hum, o Eduardo é conhecido por não manter contato com ninguém da empresa. Vive viajando a negócios, então passa mais tempo fora do que na própria empresa. Ele não tem uma fama muito boa.Muitos já saíram chorando de sua sala. Ninguém queria estar lá.– Kelly. – Eduardo se aproxima. – Vamos para casa. Podemos conversar melhor lá.Eu não me afasto quando ele se aproxima, porque para mim é o Eduardo aqui na minha frente. O meu Eduardo e não o CEO da empresa Foccus. CEO que todos têm medo, que tenho medo de tantas histórias que ouvir sobre ele. É difícil para mim associar os dois. Acho que ainda não caiu a ficha.– Você contou para alguém sobre a gente?Ele acena com a cabeça.– O Gabriel,