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Capítulo 5

Dou um soco em seu braço. Cruzei os meus braços na altura do peito e olhei para frente.

- Não vou entrar aí.

- Kelly, eu estou cansado. - Ele suspira. - Facilita, por favor. É só um restaurante.

- Só um restaurante? Talvez para você seja só um restaurante. Deve estar acostumado a frequentar esses lugares. - Aponto para minha roupa. - Mas eu não. Eu não vou entrar aí dentro para você passar vergonha.

- Se esse é o problema, eu não me importo.

- E também não vou ser sustentada por você. A duas quadras daqui a gente consegue comer muito bem e com boa qualidade. - Comecei a argumentar. - Não vamos pagar a metade do que vamos gastar aqui. E vou poder te ajudar a pagar sem ter que me preocupar  com o final do mês.

- Kelly...

- Eu não sou seus amiguinhos ricos. Estou em um patamar mais baixo.

Ele respira fundo como se quisesse ganhar tempo para pensar em alguma forma de me convencer a entrar naquele restaurante. Sinto muito Eduardo, mas eu tenho muitos argumentos ainda.

- Como eu falei dinheiro não é um  problema para mim. - Ele usa uma voz mais calma. - Então não se preocupe com isso. Aceite este jantar como um presente.

- Presente?

- Sim de manter você viva! - Ele fala autoritário novamente.

- Você está dizendo que eu passo fome? - Olho para ele abismada. - Fique sabendo que eu como muito bem.

- Tenho minhas dúvidas. Você está mais magra desde a última vez que eu te vi.

- Isso foi uma consequência do trabalho. Acabei focando demais e deixando de comer essa semana, mas não é como se acontecesse sempre.

Eu tenho uma grande facilidade para emagrecer e nesse tempo que saí tarde do trabalho acabei não me alimentando direito.

- Kelly, vamos entrar...

- Não! Vamos em outro.

Ele passa a mão pelo cabelo e olha para o teto do carro como se ali encontrasse essa resposta.

- Você só precisa dirigir mais um pouco. – Insistir.

- O que adianta ir a duas quadras daqui se você não comer direito o resto dos dias?

- E comer nesse restaurante caro vai fazer eu comer direito nos outros dias?

Eduardo me olha com tanta raiva que era capaz dele chutar minha bunda ali mesmo. Ele respira fundo mais uma vez e liga o carro. Virei o rosto para que ele não me veja sorrindo. Eduardo é teimoso demais. Quando chegamos eu saí do carro saltitando. Ouvi ele bufar. Escolhemos a mesa e olhamos os cardápios para fazer nossos pedidos.

Esse restaurante é calmo e bem iluminado. Eu gosto bastante daqui.

- Vai me dizer que esse lugar não é legal?

Puxo assunto quando vejo que ele ainda está com aquela carranca no rosto.

- Estamos aqui, não estamos? Agora é melhor você comer.

Ignoro o seu jeito de falar e fazemos nossos pedidos. Eu escolhi um suco de maracujá enquanto Eduardo escolheu tomar um vinho branco.

- Como foi sua viagem? - Perguntei sorrindo.

Quero ficar bem com ele novamente. Gosto do tempo que passamos juntos. Eduardo me olha por alguns segundos sem dizer nada e bebe um pouco do seu vinho.

- Cansativa e irritante.

Realmente era nítido o seu cansaço.

- Já pensou em tirar algumas férias? Acho que está precisando.

Ele ergue uma sobrancelha.

- Me faria companhia?

- Minhas férias são daqui a um mês. - O garçom coloca nossa comida na mesa. - E mesmo assim não acho que vou tirar.

- Por que?

- Estou criando uma nova rotina de trabalho para mim. Então preciso de mais tempo para me adaptar.

Eduardo abre a boca para falar alguma coisa, mas desiste.

- É bom ver o seu esforço.

Sorri para ele e começamos a comer. Eduardo evitou falar comigo. Ele está muito fanático nesse assunto sobre me alimentar. Como quero manter um clima bom entre a gente, eu comecei a comer e conversar menos. Eduardo foi aliviando aquele rosto emburrado enquanto via o meu prato esvaziando.

- Prontinho. - Termino de comer e bebi meu suco.

- Boa garota. - Ele sorriu.

Gosto de ver ele sorrindo. Eduardo chamou o garçom para fechar a conta.

- Agora vamos voltar para o bar. - Falei assim que deixei a metade do dinheiro em cima da mesa.

Ele ia recusar o dinheiro, mas sabiamente não fez isso.

- Tenho uma proposta melhor.

- Eduardo...

- E ainda não irei impedir você de beber, caso queira.

Nos levantamos para sair do restaurante.

- Mas eu quero que você conheça meus amigos. Lá está muito legal e você precisa parar de ser anti social.

- Eu não sou anti social. - Ele me olha como se tivesse ofendido ele.

- É sim! Você dispensou o único amigo seu que conheço no dia do seu aniversário. Preferindo passar com uma desconhecida.

- Você é uma visão melhor de ser vista do que ele. - Eduardo dá de ombros. 

Revirei os olhos.

- Eles são legais e não vou julgar você pelo seu jeito.

- Meu jeito. - Concordo. - Como seria o meu jeito?

- Grosso, ignorante, fresco com aquele jeito de não me tocar...

- Chega!

- Tem certeza? Porque eu posso continuar.

Eduardo para do lado do seu carro, colocando suas mãos no bolso da frente de sua calça.

- Se eu sou tudo isso, porque quer está perto de mim?

Fico ao seu lado olhando para o restaurante à nossa frente.

- Gosto de você. Para mim você é mais do que essa casca vazia que demonstra. - Sorri para ele. - Você tem o seu lado bom e gentil. Quero conhecê-lo.

Eduardo fica sem saber o que me dizer e acabei sorrindo mais. Eu o deixei sem palavras? Justo esse homem que parece ter todas as palavras na ponta da língua.

- Podemos deixar para conhecer seus amigos outro dia? - Eduardo pediu. - Estou bem cansado hoje.

- Tá bom. Você deve descansar, não vou insistir. - Cerro os olhos e apontei para ele. - Mas na próxima você não escapa.

Ele ergue as mãos como se estivesse se rendendo e concorda.

- Vá direto para casa descansar, eu vou chamar um táxi para mim...

- Ei, ei… – Ele segurou no meu braço fazendo um leve carinho. – Eu estou cansado, não significa que você está liberada para aí. - Olho para ele confusa. - Estou cansado demais para ir conhecer os seus amigos hoje, mas isso não significa que estou cansado demais para passar o resto da noite com você.

Arregalo os olhos. Eduardo dá a volta no carro para entrar.

- Anda, Kelly. Entra no carro.

Ele chama minha atenção já que eu fiquei parada sem reação. Entrei em seu carro e coloquei o cinto de segurança, Eduardo faz o mesmo pronto para dar partida.

- Hum, para onde vamos?

Ele deveria estar indo para casa descansar. Como vou convencer ele se eu também quero ficar mais tempo ao seu lado. Não seja tonta, Kelly. Eduardo precisa descansar. Ele mesmo disse que foi cansativo e estressante seu trabalho. Precisa de um tempo para ele, senão seu corpo vai começar a reagir e não quero ninguém no hospital.

- Eduardo...

- Eu vou te dar três opções. - Ele avisou. - Ir para o cinema, ir para minha casa ou ir para sua casa. Você só pode escolher essas três opções.

Essa é a forma de Eduardo não ser tão direto com suas intenções. Somos apenas amigos, não somos? Ou deixamos algo mais acontecer?

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