- Então você trabalha na empresa Foccus. - Eduardo diz assim que chega nossos pedidos. - Em qual setor?
A empresa Foccus é uma agência full service. A gente desenvolve sites, automatiza o marketing digital, promovemos eventos, criamos embalagens e outras coisas. Eu fico na parte da redação onde catálogo todo o movimento e eu crio roteiros dos eventos.
- Sou da redação. - Dou um gole na minha cerveja.
- Legal. O que te incomoda lá?
Não deixo de rir. Se ele quer tanto ouvir sobre meu trabalho, é bom estar com disposição para isso. Como eu tinha falado antes, o meu trabalho não é ruim, mas algumas pessoas lá são e muito.
- Por onde começar. - Eu finjo pensar e isso faz ele sorrir. - Bob é meu supervisor, mas ele age como se fosse o chefe de setor… Não, ele age como se fosse o dono da empresa. Ele quer tudo perfeito.
- E isso é ruim, por que…?
- Ele não cobra isso de todo mundo. - Olho para o Eduardo suspirando. - Bob tem seus preferidos e suas preferidas. Ele faz propostas indecentes, sabe?
Eduardo fica sério e me olha com atenção.
- Que propostas?
- Ah, você sabe. Ele chama as mulheres para dormir com ele. Ele não fala com todas as palavras, mas deixa a entender suas intenções.
- Você…
- Não! - Digo rapidamente. - Nunca aceitei e ele não fica emburrado por isso, mas pega no pé das pessoas que nega suas investidas.
Eu sei de algumas que aceitou dormi com ele e vejo o tratamento, ele não é burro de fazer isso com todas para não chamar muita atenção. Mas como até hoje ele não foi pego, Bob tem exagerado mais nas suas investidas nas novatas.
- Isso não é certo.
- Não, não é. Ele quer as coisas perfeitas, mas o trabalho dele mesmo não é.
O petisco chega à mesa. Eu sinto a água na minha boca. Não sabia que estava com tanta fome assim. Queria tanto terminar o trabalho que nem liguei de comer alguma coisa.
- Mas e você trabalha de que? – Perguntei.
- Hum, eu sou advogado particular.
- Você trabalha com algum figurão?
- Isso, mas não posso falar.
Olho para ele curiosa.
- Ah, diz. Eu prometo guardar segredo. - Faço minha cara de pidona e ele rir.
Eduardo deveria sorrir mais. Por que esse homem é tão sério?
- Pode fazer a cara que for, mas não vou contar.
Não evito meu aborrecimento.
- Isso não é justo.
- Hoje é meu aniversário. - Ele me lembra. - Então não pode ficar emburrada ou brigar comigo.
- Você não vai poder usar seu aniversário para sempre.
- É melhor eu aproveitar então.
Rimos. Eu perdi o tempo ali conversando com o Eduardo. Com o tempo ele foi se soltando mais. Eduardo tem 26 anos, fez faculdade de direito aqui mesmo em Nova York, mas ele nasceu no Canadá. Ele não tem família aqui e de vez em quando seus pais e familiares vem visitar ele. Conversa com Eduardo está sendo bom, ele deixou um pouco o lado arrogante escondido. Eu acredito que não tenha sido muito fácil, mas sempre acreditei que ele tinha uma versão melhor.
E não estou enganada.
- Até que você não é de todo chato. - Eu provoco.
Ele bebe sua bebida me olhando de canto de olho.
- Você não é tão desastrada, lerda, destrambelhada…
- Chega!
Ele riu.
- Mas já? Se quiser posso continuar com os elogios.
- Seus elogios são bem diferentes.
- Quem sabe na próxima não venha elogios melhores. – Seus tom de voz mudou e isso chamou minha atenção.
Olho para ele e ergo uma sobrancelha.
- Quer me ver de novo? Cuidado! Na próxima posso acabar derrubando algo nesse terno chique e caro. Sou muito desastrada, sabe?
- Você não é nem louca. – Sua voz saiu rouca e baixa.
O olhar que ele me deu fez eu prender a respiração e não fiquei com medo. Era algo bem diferente. Como não ter pensamentos impuros com Eduardo. Até as atendentes desse bar tinham. Dar para ver o jeito que elas olhavam para ele e umas até tentaram chamar sua atenção, mas ele as ignorou.
- Você é casado? - Arregalo os olhos quando eu vejo que fui eu que fiz a pergunta.
Uma garçonete perto da gente nos olhou, tentando falhamente disfarçar, a fim de ouvir a resposta. Eu sorri para ele como se fosse uma pergunta totalmente inocente e é. Eduardo me olha e dá um sorriso malicioso. E QUE SORRISO É ESSE?
- Por acaso está afim de mim, Kelly?
- Não! - Evito olhar para ele. - Somos amigos agora, não é? Só estou te conhecendo.
Balança a cabeça de um lado para o outro fingindo aceitar minha resposta, mas ele ainda tinha aquele maldito sorriso no rosto.
- Sou solteiro.
Vejo o sorriso no rosto da garçonete e ela corre, sem disfarçar para contar para as outras. Foi engraçado.
- E você?
Olho para Eduardo.
- Eu? - Aponto para mim.
- Não, Kelly. - Ele revira os olhos. - A garçonete que correu para contar para as outras que estou solteiro.
- Você também viu?
- Ela nem disfarçou. - Eduardo faz cara de poucos amigos.
- Talvez você consiga uma namorada hoje.
- Com certeza não será uma delas. - Ele me olha. - Você ainda não respondeu minha pergunta.
- Ah, não. Estou solteira também.
Ficamos conversando mais um pouco e saímos do bar faltando pouco para uma da manhã. Como Eduardo tinha bebido, ele preferiu deixar o carro ali e insistiu em me acompanhar até em casa. Quando chegamos ele não deixou eu pagar a minha parte da corrida e acabamos brigando por isso.
- Meu aniversário…
- Não! Pode parar. - Eu interrompi ele. - Não vou deixar que comece com esse discurso. - Eduardo passou a noite toda falando que era o aniversário dele e eu não poderia fazer tal coisa. - Seu aniversário foi ontem! Então não vem com esse papo para cima de mim.
- Mas não faz muito tempo. Então está valendo.
- Não! Eu vou pagar a minha parte…
- Kelly, eu já paguei. - Eduardo fecha minha bolsa. - Agora vai para casa.
Reviro os olhos. Como esse homem pode ser tão teimoso?
- Na próxima eu pago!
- Tá bom.
Ele sorri e me abraça.
Na segunda-feira, eu levei bronca no trabalho. Eu tinha esquecido de entregar o documento que Lya tinha me pedido, ela agora está muito chateada comigo e está me evitando. Eu não fiz por mal, mas entendo Lya. Débora brigou horrores com Lya e depois me chamou. – Quanta irresponsabilidade, Kelly! Não sei quem é mais patética: Você ou a Lya. – Débora anda de um lado para o outro. – Vocês não têm amor pelo trabalho de vocês? É isso? Por minha causa as coisas não ficaram feias. – Ela passa a mão pelo cabelo. – Sou ótima no meu trabalho. – Débora me olha com desprezo. – Ao contrário de você, eu não sou uma imprestável. Por que sinceramente você não consegue nem fazer seu trabalho direito.Débora é chefe do setor de redação. Ela comanda toda essa área.– Acho bom você começar a fazer seu trabalho direito. – Débora para do meu lado. – Vai ficar difícil manter uma pessoa como você aqui. Por que você sabe, não é? Eu tenho pena de você. Por isso ainda está aqui. Agora saia!– Sim, senhora. – Di
Nos últimos três dias eu não vi Eduardo. Trocamos algumas mensagens e ele disse que estava fora da cidade. De vez em quando ele me mandava mensagens de incentivo. E isso estava me fazendo muito bem. Nesses dias eu fiz o mesmo processo da segunda revisei todos os documentos e tudo que passava por mim umas três vezes. Sair tarde todos esses dias. Hoje sexta-feira estou pronta para fazer a mesma coisa.– Kelly, você já verificou esse documento hoje. – Lya senta do meu lado. – Você tem que parar com isso. Não vai durar muito desse jeito.Olho para ela assustada.– Débora está pensando em me demitir?– Não. – Lya rir. – Você está fazendo todo o esforço desnecessário. Pelo menos para trabalhos que não precisam de tanta atenção assim. – Ela pega os papéis em minha mão. – Você é uma ótima profissional, Kelly. Só precisa prestar mais atenção, mas isso não significa que você precisa olhar cada documento umas mil vezes. É ótima no seu trabalho. Ajuda todos até quem não merece. Precisa deixar de
Dou um soco em seu braço. Cruzei os meus braços na altura do peito e olhei para frente.- Não vou entrar aí.- Kelly, eu estou cansado. - Ele suspira. - Facilita, por favor. É só um restaurante.- Só um restaurante? Talvez para você seja só um restaurante. Deve estar acostumado a frequentar esses lugares. - Aponto para minha roupa. - Mas eu não. Eu não vou entrar aí dentro para você passar vergonha.- Se esse é o problema, eu não me importo.- E também não vou ser sustentada por você. A duas quadras daqui a gente consegue comer muito bem e com boa qualidade. - Comecei a argumentar. - Não vamos pagar a metade do que vamos gastar aqui. E vou poder te ajudar a pagar sem ter que me preocupar com o final do mês.- Kelly...- Eu não sou seus amiguinhos ricos. Estou em um patamar mais baixo.Ele respira fundo como se quisesse ganhar tempo para pensar em alguma forma de me convencer a entrar naquele restaurante. Sinto muito Eduardo, mas eu tenho muitos argumentos ainda.- Como eu falei dinhe
Quando Eduardo abre a porta da casa dou um passo para dentro e o mesmo passo que dei, eu dou para trás pronta para ir embora. Ele me olha intrigado. Eu não posso entrar ali dentro. Se ele tem amor pelas coisas dele, ele não deixará eu entrar aí dentro.- O que foi?- Quero escolher outra opção: ir para minha casa.- Mas já estamos aqui.Olhei mais uma vez para dentro da sua casa. Quando Eduardo entrou em um dos muitos condomínios luxuosos de Nova York. Eu ainda fiquei com esperança de que o imóvel não fosse tão chique assim. Abrindo a porta você via uma grande sala composta com quatro sofás e uma poltrona de canto, uma mesa de vidro no centro. Mais para frente um mini bar com repletas bebidas. Tirando o grande espelho que tem na parede que dá acesso a outro cômodo.- Você lembra que eu sou desastrada, não lembra?Meu medo é entrar ali e quebrar alguma coisa mesmo não querendo. Só esse chão desse ter custado uma fortuna, estou quase podendo ver meu reflexo perfeitamente. Nessa casa tem
Subimos para o andar de cima. Em nenhum momento ele soltou a minha mão. Caminhamos por um corredor até Eduardo parar em frente a uma porta, ele abriu a porta e entrou sem me dar a chance de questionar para onde estamos indo. Estamos em seu quarto, ele não me dá muito tempo para reparar na decoração e me leva até outra porta.Fico chocada com a quantidade de roupa e a organização daquele lugar. Estamos em seu closet. Tudo bem separado e organizado. Em um lado do seu guarda-roupa ficava apenas seus ternos e gravatas. Ele inclina a cabeça para o outro lado do quarto onde tinha as outras peças menos formais.- Eu não uso só terno.- Quantas pessoas precisam trabalhar para você conseguir manter esse lugar tão limpo e organizado?Só para aquele quarto contando com seu closet, eu acho que umas três pessoas. Ou mais. Sinceramente me pergunto o porquê de tatas roupas, eu não sei se tenho poucas ou não tenho dinheiro para contra mais mesmo. A segunda opção! Os carrinhos dos meus aplicativos de
Os dias foram se passando. No trabalho as coisas tem dado certo pelo menos no que eu faço. Camille assumiu o lugar de Bob como supervisor, ela parece ser uma mulher bem legal. Ela chegou recentemente e não é muito de conversar, criar amizade. Muitos reclamam que ela é bem rígida e eu tenho que concordar.Com Eduardo a gente tem que ser visto bastante. Sempre depois do meu trabalho e nos finais de semana. A gente só não se via quando ele precisava fazer alguma viagem a trabalho. Suas viagens costumam durar de 2 a 3 dias. Mesmo assim estamos sempre em contato.Estou gostando muito do nosso relacionamento. Não houve um pedido de namoro, estamos nos conhecendo melhor e queremos estar um com o outro e isso é o bastante. Faz uns quatro anos que eu não me relaciono com al
– Você está diferente. – Lyah comenta sentando ao meu lado.– Diferente? Diferente como?Ela me olhou mais.– Está mais risonha e acho que mais positiva que já é. – Ela riu. – Não sei se isso é possível.Eu ri.– É impressão sua.– Não é não. – Ela se apoiou na mesa. – Me diz o que está acontecendo? – Ela arregalou os olhos. – Não vai me dizer que está namorando. No fim do expediente as coisas acabaram não saindo como eu planejei, Lyah teve um imprevisto e precisou sair mais cedo. Vou ter que deixar meu plano para outro dia. Arrumei as minhas coisas para ir embora, entrei no elevador e mandei uma mensagem para Eduardo avisando que estou saindo.Quando estou em frente ao prédio Eduardo me liga.- Vou me atrasar um pouco. - Ele fala assim que eu atendo.- Ah, você pode atrasar e eu não? - Provoquei- É diferente.- Porque?- Você atrasa porque é desastrada. Quando eu me atraso é porque alguém deixou de fazer o seu trabalho direito. - Ele está irritado e sei que não é comigo.Alguém vai ouvir poucas e boas hoje. Sempre quando ele fica assim eu tento convencê-lo a não matar a pessoa. Eduardo estressado é difícil de conversar. Eu já presenciei ele em uma ligação e o mesmo estava tão furioso, mas tão furioso que eu fiquei com pena da outra pessoa do outro lado da linha.- Aonde você pensa que vai? - Eu olhei para trás vendo a Débora. - Fugindo do trCapítulo 10