[ Visão de Aya Millenis]
— Espera Aya — ouço a voz de Leandro me chamando, mas antes que as portas do elevador se fechassem ele consegue entrar — O que deu em você para fazer aquele cena, Aya?
— E-eu não sabia que ele tinha voltado... Por que não me disse!? Vocês sabe o quanto eu queria falar com ele...
— Me desculpe Aya, e-eu... Fiquei me corroendo, também fiz e disse muitas coisas com o Iuri que me arrependo, cheguei até pensar que ele me demitiria por vingança... Eu.. Me desculpa.
— Agora já está feito... Passei vergonha na frente de toda a gestão da empresa e pior... Na frente de meus pais... Eu...— as lágrimas caem como cascata sem que eu consiga controlá-las — Por que eu tenho que ser tão idiota...Eu...
Leandro me abraça, as portas do elevador se abrem novamente, parado agora no quarto andar, onde fica o nosso setor, caminhamos até a minha mesa que fica em frente a sala dele, ele desfaz o abraço e enxuga minha lágrimas.
— Vo-você sabia? — sussurro com os olhos fechados, ainda os sinto úmidos.
— O que?
— Que tinham comprado o orfanato? — abro os olhos e o vejo suspirando.
Ele fica em silêncio por longos segundos, para um bom entender, esse silêncio já basta. Eu fui a ultima a saber, minha ultima esperança era o senhor Gustam, mas agora... Quem está a frente de tudo é o seu filho, e eu se quer consigo encará-lo. Por que a vida sempre tem que ter algo para nos tirar a felicidade?
Suspiro, todos já sabiam disso, mas ninguém me contou nada, me deixou para agonizar sozinha quando mais nada podia ser feito.
— Melhor ir para casa, você...
— Não posso ser ainda mais covarde, não deixarei trabalho acumular, preciso organizar hoje a papelada do relatórios... Droga! Eu esqueci minha pasta lá...— me sento frustrada em minha cadeira, não posso voltar lá para buscar, eu sou uma covarde.
— Me escute, tire o dia de hoje...
— Creio que isso seja seu — minha pasta é jogada de forma grosseira em minha mesa — Fez aquela cena toda para chamar a atenção do Iuri, não é? — me acusa.
— Eu nem sabia que ele tinha voltado! — me defendo.
— Conta outra garota, sua vida se resume em sair com caras diferentes a cada nova semana, é só uma vadia, não quis me ouvir e agora está assim, se humilhado para ter atenção de homens que não querem nada além de uma transa com você.
— Senhora Millenis, por favor saia do meu setor, não irei tolerar esse tipo de comportamento aqui — Leandro fala firme, mas ela não se intimida, apenas o encara de forma desafiadora.
— Eu sou a secretaria do vice-presidente — destaca o cargo do marido — Quem te tolera aqui sou eu — fala com o queixo erguido, mas Leandro não abaixa a cabeça para ela — Veja só — ela rondeia Leandro o olhando de cima a baixo com a mão no queixo, o analisando — O garoto que levou essa coisa para o mau caminho, agora que ocupa um cargo de respeito, com quem foi mesmo que ele se casou, senhorita Aya? — seu olhar superior me olha de cima a abaixo — Isso mesmo, com uma moça descente, que se casou de branco, já você por outro lado...
Nada respondo, estou sem forças, já me acostumei com seu olhar de nojo para mim, sem conter o veneno ela continua:
— Sempre soube que esse dia chegaria, o dia que se arrependeria amargamente pela desobediência, espero que o Iuri te despreze, assim como você fez com ele — vira as costas e volta para o elevador.
“Assim como fez com ele” — não foi desprezo o que senti por ele, apenas me enganei achando que ele queria apenas me usar como todas as outras pessoas sempre faziam, nunca me achei a mais linda, mas também nunca me achei feia, sempre soube que os meus olhos são meus maiores charmes... Que vontade de sumir do mundo.
— Não dê bola pro que aquela mulher diz, Aya — fala me olhando.
—Impossível, de certa forma, eu sei que ela está certa, muita coisa não teriam acontecido se eu a tivesse dado ouvidos.
Se eu a tivesse ouvido, não teria saído com Leandro, não teria sido ridicularizada no colégio, não sofreria de tentativa de abuso, não precisaria morar de favor, não entraria em depressão e nem teria tentando cometer suicídio... Mas também, nunca teria tido vontade própria, eu seria uma eterna fantoche, mesmo minha irmã sempre orgulhando nossos pais, ela não é uma fantoche, não entendo o porquê das coisas comigo terem acontecido daquela forma.
— A gente precisa errar para aprender, Aya. Não podemos viver para sempre nos corroendo por algo que não tem mais volta, precisamos ergue a cabeça e dá um jeito de continuar seguindo em frente...— sei que ele está falando isso mais para ele do que para mim.
Sinto meu coração batendo forte em meu peito, o Iuri está tão bonito, muito diferente de antes, queria poder vê-lo de novo, mas sem que aqueles olhos sérios me encarrassem de volta, apenas admirar o que perdi.
— O que irá fazer? — questiono, ele se encosta na mesa.
— Eu não sei... Queria pedir perdão, mas não encontro as palavras... Um bolo se forma em minha garganta... Fiz tanta merda com ele... E agora, dependo dele para ter um salario no fim do mês — sorrir de forma triste, compartilho desse sentimento.
— Acha que ele irá nos perdoar algum dia?
— Espero que sim, bem, melhor irmos trabalhar, você terá que levar os relatórios do setor e entregar pessoalmente, ele ainda está sem secretaria...
— Não pode levá-los? Eu...
— Melhor não, o senhor Gustam falou que ele odeia gente que não faz o seu trabalho, e infelizmente, levar os relatórios faz parte das suas funções.
Droga! Terei mesmo que encará-lo mais uma vez, e ainda no mesmo dia... Por que o chão não abre logo um buraco para me esconder? Quando que as coisas irão parar de dá errado em minha vida?
Só me resta suspirar e começar logo a organizar os relatórios, só preciso de mais ou menos meia hora, apenas para checar tudo, já deixei as coisas prontas ontem antes de sair, hoje apenas revisar, imprimir e entrega. Rápido.
Em vinte minutos já estou dentro do elevador, sinto meus dedos tremerem, ajeito meu óculos de forma nervosa, minhas pernas não querem ficar quietas, o que eu irei falar? Depois de um minuto as portas se abrem, puxo o máximo de ar com minhas narinas e encho meus pulmões, crio coragem. Com passos largos me aproximo da porta e dou três batidinhas.
— Entre — ele fala, que voz grossa, chego sentir os pelos de minha nuca se arrepiarem. Ele realmente não é mais um garoto.
[ Visão de Iuri Stevens]
A cerca de três anos o orfanato vem sendo abandonado, a ultima diretora o fez cair em terra, agora, um parque temático comprou o local e irá demoli-lo, mas o fato dela fazer doações não responde o fato dela querer tanto que meu pai o compre... Será que ela abandonou alguma criança lá? Já que saiu com tantos homens, pode ter engravidado sem querer e colocou a criança lá dentro para não atrapalhá-la nas próximas conquistas. Que merda!
Não consigo acreditar que ela desceu tão baixo. Tenho meus pensamentos interrompidos por três batidas na porta.
— Entre — ordeno e fecho as paginas sobre o orfanato da tela do computador.
— B-b-bom dia, senhor Stevens, v-vim trazer os relatórios do setor de desenvolvimento econômico — fala gaguejando de cabeça baixa.
— Deixe aqui em cima da mesa — observo ela caminhar até minha mesa de cabeça baixa, noto que suas mãos tremem, ela coloca a pasta.
— Bem... Eu...
— Trabalho não é local de conversa — a corto de forma grossa mesmo, ela verá que não sou o mesmo de antes e que não sou mais uma que ela irá flertar no local de trabalho.
— O senhor está certo, me desculpe, com sua licença — ela vira de costa e começa a andar, impossível não reparar em suas ancas, são bem redondas e empinadas. Como será apertá-las?
— Senhorita Aya— chamo sua atenção e ela para de andar me olhando pela primeira vez, não posso mentir, ela ainda fica muito linda com esses óculos redondos, uma perfeição — Poderemos conversar amanhã, depois do trabalho, as dezesseis horas no restaurante Lupis.
— C-certo — ela se vira de novo e sai da sala.
Os anos só a enalteceram ainda mais, quero prová-la, creio que isso não será problema, depois que eu matar meu desejo de anos por ela, irei demiti-la, não porque dormiu comigo, mas porque ela irá flertar com todos os homens da empresa, não quero ver isso, ou então, posso transferi-la para alguma filial, só quero a ver longe.
Não sou mais como antes, que queria apenas ela no mundo, sonhava em me casar e ter filhos com ela, construir uma família que nem a de meus pais e ser muito feliz, mas ela fez questão de pisar em meus sonhos e dizer que nenhuma mulher nunca vai querer nada além de dinheiro vindo de mim, porque é apenas isso que eu tenho a oferecer, bem, que seja, irei comprá-la também por uma noite.
Em uma noite irei vingar meu ego pisado a sete anos por ela.
[ Visão de Carmem Stevens] — No que está pensando? — meu marido questiona. — Será que foi realmente uma boa ideia colocá-la lá? — perscruto, mas a pergunta é mais para mim do que para ele. — Vamos deixar o tempo dizer, querida — segura minha mão, até hoje, sempre que sinto o seu contato, quente, me sinto a pessoa mais feliz do mundo, o melhor homem do mundo é meu. Foi minha ideia colocá-la na empresa, eu queria que Juliana a visse conquistando as coisas, superando o abandono que sofreu, no entanto, depois de um ano e meio sendo uma funcionária exemplar, ela começou a sair com praticamente todos os homens da empresa, chegando a sair até com sócios. Eu nunca a questionei do porquê ela ter começado a agir dessa forma porque a vida é dela, no entanto, Iuri foi embora pedindo pa
[ Visão de Aya Millenis] — Toma — minha irmã me entrega uma caneca com chocolate quente. — Obrigada — pego a caneca. Já tem duas horas que voltei do trabalho e me sinto abatida, a primeira coisa que fiz quando cheguei foi ligar para minha irmã, ela veio imediatamente e a primeira coisa que ela fez... Isso mesmo, me obrigou a tomar banho, banho gelado... Até que ajudou, mas ainda me sinto mau. — Vamos, conta logo o que aconteceu — se senta ao meu lado, também bebendo chocolate quente. Suspiro e aliso a borda da caneca, Iuri vem em meus pensamentos... Ele me deu uma ordem, apenas mandou eu encontrá-lo amanhã para conversamos, o que será que vai acontecer? Lembrar de como ele foi grosso comigo me machuca, mas não posso sentir raiva, eu o tratei muito pior no passado, agora eu sei como ele se sentiu quando eu falei e fiz aquelas coisas com ele sem se quer me importa de como ele estaria se sentindo. — O Iuri... Ele voltou..
[ Visão de Aya Millenis] Grosso, grosso, grossoooo! Que raiva! Respiro fundo, meu dia ontem foi ruim, hoje pelo jeito vai ser ainda pior. Saio do elevado e caminho até minha antiga mesa, Leandro já deve está em sua sala, com certeza ele estranhou o fato de eu não está o esperando na porta com a agenda pronta, sempre chego dez minutos antes dele. Meu cérebro tenta a todo custo encontrar uma lógica para o que aconteceu, por que ele me escolheu como sua secretaria? Apesar de já exercer como secretaria, não tenho o melhor histórico com ele. Calma Aya, pelo menos já sabe que desempregada não irá ficar. Sei que se eu fosse demitida, não seria problema encontrar outro emprego, porém, sempre me dediquei em meu cargo como forma de gratidão por tudo que fizeram por mim. — Aya? — a voz de Leandro me tira do transe. — O-oi — pisco varias vezes, me afundei tanto em pensamentos que nem notei que havia entrando na sala dele sem nem a
[ Visão de Aya Millenis] Faltam apenas cinco minutos para o expediente acabar, passei o dia todo com o pé de minha barriga congelando. O dia todo no misto de tristeza e ansiedade. A imagem de minha pequena ainda me deixa muito triste, e o que no momento esta me distraindo dessa tristeza é a apreensão sobre como vai ser daqui pra frente com o Iuri. Nem dá para acreditar, depois de todos esses anos, longos setes anos, finalmente terei uma conversa com ele, irei pedir perdão por tudo o que fiz e irei tentar explicar o porquê de eu ter agido daquela forma, tenta explicar que agora eu sou uma pessoa totalmente diferente. Com todos esses anos, depois de ter sido salva por Leandr
[Visão de Iuri Stevens] As vezes eu me pergunto, por que as pessoas mudam tanto? E ao invés de mudar para melhor, a mudança é algo que nos decepciona. Eu tinha algumas expectativas para esse jantar com Aya, queria começar a colocar em prática meu plano para levá-la ao
[ Visão de Aya Millenis] “O que ele quis dizer com: ou levará punição?" — Como ele poderia me punir? — coloco minhas mãos sobre minha boca, acabei falando em voz alta a última parte do meu pensamento. Sinto calafrios na minha espinha, respiro fundo, ele deve ter falado apenas para me assustar, como uma brincadeira. Fecho as pastas no computador e pego na mesa o cartão de crédito pessoal que ele deixou aqui ontem, não imaginei que ele havia deixado apenas para eu ir comprar o almoço dele. Na empresa tem refeitório, mas pelo jeito ele não curte a comida aqui. Coloco o cartão no bolso do meu blazer e sigo para o elevador, o restaurante fica a cinco minutos daqui. ***Dezenove minutos depois*** Resta apenas um minuto do tempo que o Iuri me deu para buscar seu almoço, fico batendo meu pé freneticamente no chão
[Visão de Iuri Stevens] Droga! Diaba violeta do rosto mais sexy que já vi! Como pude ter sido tão fraco!? O plano era tão simples! Eu não queria tê-la beijado, queria apenas tê-la provocado, deixando-a com vontade de me beijar e não ao contrário, queria que ela fechasse os olhos e avançasse em mim, para eu me afastar e sorrir de forma sedutora para ela, mas ao invés disso, ela tentou me afastar com o rosto tão corado que quem avançou nela foi eu. Que grande droga! Isso acabou sendo como uma adaga de dois gumes, e eu me cortei feio. Não consegui resistir aquela boca que sempre esteve tão fora do meu alcance, mas que agora há pouco estava apenas alguns milésimos de distancia, aquela pele bronz
[Visão de Iuri Stevens] Estaciono o carro na frente do apartamento de Aya, aqui até que é um lugar legal, com uma boa vizinhança, não é um dos bairros mais chiques de Manhattan, mas é um bom lugar. Olho para meu relógio de pulso e ele marca exatamente dezessete horas e trinta minutos, pego o celular do porta-luvas e disco o número do celular pessoal dela, tive que pegar na ficha do escritório, esqueci de mandar ela enviar o número para meu e-mail junto com o endereço. — Quem fala? — uma voz feminina estranha atende, não sabia que ela tinha empregados. — Iuri Stevens, quero falar com Aya Millenis, ela está? — Tá sim, Aya! — afasto o celular do meu ouvido, a louca grita muito alto, definitivamente, ela não é uma empregada.