[ Visão de Carmem Stevens]
— No que está pensando? — meu marido questiona.
— Será que foi realmente uma boa ideia colocá-la lá? — perscruto, mas a pergunta é mais para mim do que para ele.
— Vamos deixar o tempo dizer, querida — segura minha mão, até hoje, sempre que sinto o seu contato, quente, me sinto a pessoa mais feliz do mundo, o melhor homem do mundo é meu.
Foi minha ideia colocá-la na empresa, eu queria que Juliana a visse conquistando as coisas, superando o abandono que sofreu, no entanto, depois de um ano e meio sendo uma funcionária exemplar, ela começou a sair com praticamente todos os homens da empresa, chegando a sair até com sócios. Eu nunca a questionei do porquê ela ter começado a agir dessa forma porque a vida é dela, no entanto, Iuri foi embora pedindo para que cuidarsemos dela porque ele a amava, e agora? Depois de sete anos, ele não encontrou nenhuma outra mulher, será que ele ainda é apaixonado por ela? Eu espero que não.
Durante os quatro anos que ela viveu com a minha família, quase fiquei com os cabelos brancos, e quase infartei quando Leandro entrou em contato pela primeira vez dizendo que ela estava no hospital, ela havia sumido o dia todo, mas descobrir que ela estava tentando cometer suicídio, aquilo realmente mexeu demais comigo, nunca tinha presenciado nada do tipo. Dois meses depois, ela contou que nesse dia havia encontrado com a mãe, que falou muitas coisas a ela e ela se culpou por tudo de ruim que estava acontecendo e que pensou que todos estariam melhor se ela não existisse mais. Quis bater muito em Juliana, mas me controlei e apenas a abracei.
Observar os prédios enormes, me faz refletir: Como será o ar no campo?
— Querido, que tal passarmos férias em alguma fazenda? Quero mudar os ares, conhecer um pouco do que é o campo.
— Então vamos, meu amor — me dá um selinho.
Não importa quantos anos se passem, eu serei eternamente apaixonada por meu marido. As lembranças do que vivemos sempre estarão vivas em minha memória, o amor é o sentimento mais lindo do mundo. Quero que meu filho viva um amor assim, sem sofrimento, sem arrependimentos, onde um fortalece o outro. Quero isso para o meu filho, e por mais que goste de Aya, não consigo sentir que ela é a mulher ideal para o meu filho.
— Amor? — o chamo.
— Sim?
— Por que Aya foi pedir para comprar o orfanato? — só agora que me toquei no que ela havia pedido, ela estava até chorando enquanto falava das crianças.
— Não sei dos maiores detalhes, Leandro falou que lá tem uma menina que ela quer muito adotar, mas que não pode por ser solteira.
— E você comprando ele, ela vai conseguir adotar?
— Não, mas o dono do parque comprou o lugar e as crianças serão remanejadas para outro lugar. Aquele orfanato foi abandonado pelo governo e a antiga diretora desviava o dinheiro e fazia perversidade com as crianças, uma coisa muito triste.
— Que absurdo! — como alguém é capaz de maltratar crianças?
— Sim, a nova diretora é a esposa de Leandro, uma pena que tenha ficado lá por apenas dois anos e meio.
— Sim...
Será que é por isso que ela saia com homens diferentes, em busca de algum que pudesse ser o pai dessa tal criança? Perdão Aya, eu cheguei a acreditar nos boatos que falavam mal de você.
Quantas vezes preciso levar na cara para aprender? Essa é a segunda vez que eu a julgo sem saber dos fatos, preciso melhorar esse defeito em mim.
[ Visão de Iuri Stevens]
Olho no relógio da parede e já são seis da noite, o último funcionário saiu a uma hora. Fiquei porque queria adiantar o máximo possível nas atualizações sobre a empresa. Preciso arrumar uma secretária, tive eu mesmo que agendar uma reunião com Lucas Philip, cansativo.
Afrouxando a gravata saio de minha sala e caminho para o elevador, o carro que vim para empresa com meus pais agora é meu, suspiro cansado, cheguei e ainda nem comprei um apartamento para mim, se eu tivesse uma secretária isso já estaria feito.
Entro no carro e dou partida, chego no restaurante meia hora antes do combinado.
— Boa noite, o senhor tem reserva?
— Sim, Iuri Stevens, fiz reserva para às dezenove horas.
— Por aqui senhor — ela anda em minha frente e me leva até minha mesa — Desejo que tenha uma ótima experiência aqui.
— Obrigado — me sento e ela sai.
Pego meu celular e começo a pesquisar apartamentos, não quero nada muito grande, acho um perfeito, e não fica muito longe da empresa, pego meu celular no bolso do paletó e digito o número do proprietário.
— Alô, com que falo? — a voz masculina fala do outro lado da linha.
— Iuri Stevens, quero comprar o apartamento imediatamente — falo logo de vez.
— É duzentos mil, se me der esse dinheiro agora, em meia hora eu...
— Me diga sua conta, irei transferir duzentos e cinquenta mil, quero que deixe o quarto principal e a cozinha prontos, tem meia hora para isso, acha que irá conseguir?
— Claro, mandarei por mensagem.
— Certo — desligo o celular.
Pelo menos já consegui um lugar para morar, guardo o celular e Lucas aparece, sorrindo.
— Olá, jovem empresário — ele fala se sentando.
— Olá, senhor Philip.
— Por que quis se reunir comigo?
— É sobre o local do orfanato que comprou.
— Ah, entendi, você quer que eu o contrate para demolir e construir o meu parque, não é? Mas sinto em lhes dizer, já contratei outra empresa e...
— Não — vejo a confusão em seu rosto, esse velho não tem cara de ser uma má pessoa — Eu quero comprá-lo.
— Por que? — questiona me olhando sem entender a razão. — Aquele lugar foi abandonado pela sociedade! E eu paguei uma quantia enorme ali.
— Te pagarei o dobro, eu quero que lá continue abrigando as crianças.
— E me pagará um milhão?
— Agora mesmo, só me dizer a conta para transferência.
— Garoto obstinado, prevejo muito sucesso em seu caminho — fala sorrindo.
— Também prevejo isso, e prevejo uma conta bancária bem gorda em questões de segundos.
Ele sorri, ponto positivo; foi até bem mais fácil do que imaginei.
— Aqui minha conta — ele me entrega um papel.
— Perfeito, amanhã quando eu assinar o papel que passa o local para meu nome te mandarei o dinheiro.
— Feito.
— O que vocês gostaria de pedir? — o garçonete chega.
— Quero o especial — respondo, nem olhei o cardápio.
— E para o senhor?
— Nada querida, já estou de saída — ele se levanta e me estende a mão, eu a aperto — Até amanhã às sete e meia, senhor Stevens.
— Até — e ele se vai.
Cinco minutos depois minha refeição chega. Observo a comida e mexo sem vontade, sem minha permissã, lembranças me veem a mente do dia em que pedi aos meus pais para cuidar dela:
"— Podem tomar conta dela? Eu... Eu a amo, não quero que ela sofra ainda mais... Ela não tem mais ninguém no mundo... Por favor... Tomem conta dela até ela poder se virar sozinha, eu só... Bem... Eu sempre quis ver o sorriso que ela me deu quando éramos crianças... Apenas mais uma vez... As lágrimas não combinam com ela." — Como eu era ingênuo.
Nunca imaginei que a menina doce raro de antes, se tornaria o petisco de hoje.
[ Visão de Aya Millenis] — Toma — minha irmã me entrega uma caneca com chocolate quente. — Obrigada — pego a caneca. Já tem duas horas que voltei do trabalho e me sinto abatida, a primeira coisa que fiz quando cheguei foi ligar para minha irmã, ela veio imediatamente e a primeira coisa que ela fez... Isso mesmo, me obrigou a tomar banho, banho gelado... Até que ajudou, mas ainda me sinto mau. — Vamos, conta logo o que aconteceu — se senta ao meu lado, também bebendo chocolate quente. Suspiro e aliso a borda da caneca, Iuri vem em meus pensamentos... Ele me deu uma ordem, apenas mandou eu encontrá-lo amanhã para conversamos, o que será que vai acontecer? Lembrar de como ele foi grosso comigo me machuca, mas não posso sentir raiva, eu o tratei muito pior no passado, agora eu sei como ele se sentiu quando eu falei e fiz aquelas coisas com ele sem se quer me importa de como ele estaria se sentindo. — O Iuri... Ele voltou..
[ Visão de Aya Millenis] Grosso, grosso, grossoooo! Que raiva! Respiro fundo, meu dia ontem foi ruim, hoje pelo jeito vai ser ainda pior. Saio do elevado e caminho até minha antiga mesa, Leandro já deve está em sua sala, com certeza ele estranhou o fato de eu não está o esperando na porta com a agenda pronta, sempre chego dez minutos antes dele. Meu cérebro tenta a todo custo encontrar uma lógica para o que aconteceu, por que ele me escolheu como sua secretaria? Apesar de já exercer como secretaria, não tenho o melhor histórico com ele. Calma Aya, pelo menos já sabe que desempregada não irá ficar. Sei que se eu fosse demitida, não seria problema encontrar outro emprego, porém, sempre me dediquei em meu cargo como forma de gratidão por tudo que fizeram por mim. — Aya? — a voz de Leandro me tira do transe. — O-oi — pisco varias vezes, me afundei tanto em pensamentos que nem notei que havia entrando na sala dele sem nem a
[ Visão de Aya Millenis] Faltam apenas cinco minutos para o expediente acabar, passei o dia todo com o pé de minha barriga congelando. O dia todo no misto de tristeza e ansiedade. A imagem de minha pequena ainda me deixa muito triste, e o que no momento esta me distraindo dessa tristeza é a apreensão sobre como vai ser daqui pra frente com o Iuri. Nem dá para acreditar, depois de todos esses anos, longos setes anos, finalmente terei uma conversa com ele, irei pedir perdão por tudo o que fiz e irei tentar explicar o porquê de eu ter agido daquela forma, tenta explicar que agora eu sou uma pessoa totalmente diferente. Com todos esses anos, depois de ter sido salva por Leandr
[Visão de Iuri Stevens] As vezes eu me pergunto, por que as pessoas mudam tanto? E ao invés de mudar para melhor, a mudança é algo que nos decepciona. Eu tinha algumas expectativas para esse jantar com Aya, queria começar a colocar em prática meu plano para levá-la ao
[ Visão de Aya Millenis] “O que ele quis dizer com: ou levará punição?" — Como ele poderia me punir? — coloco minhas mãos sobre minha boca, acabei falando em voz alta a última parte do meu pensamento. Sinto calafrios na minha espinha, respiro fundo, ele deve ter falado apenas para me assustar, como uma brincadeira. Fecho as pastas no computador e pego na mesa o cartão de crédito pessoal que ele deixou aqui ontem, não imaginei que ele havia deixado apenas para eu ir comprar o almoço dele. Na empresa tem refeitório, mas pelo jeito ele não curte a comida aqui. Coloco o cartão no bolso do meu blazer e sigo para o elevador, o restaurante fica a cinco minutos daqui. ***Dezenove minutos depois*** Resta apenas um minuto do tempo que o Iuri me deu para buscar seu almoço, fico batendo meu pé freneticamente no chão
[Visão de Iuri Stevens] Droga! Diaba violeta do rosto mais sexy que já vi! Como pude ter sido tão fraco!? O plano era tão simples! Eu não queria tê-la beijado, queria apenas tê-la provocado, deixando-a com vontade de me beijar e não ao contrário, queria que ela fechasse os olhos e avançasse em mim, para eu me afastar e sorrir de forma sedutora para ela, mas ao invés disso, ela tentou me afastar com o rosto tão corado que quem avançou nela foi eu. Que grande droga! Isso acabou sendo como uma adaga de dois gumes, e eu me cortei feio. Não consegui resistir aquela boca que sempre esteve tão fora do meu alcance, mas que agora há pouco estava apenas alguns milésimos de distancia, aquela pele bronz
[Visão de Iuri Stevens] Estaciono o carro na frente do apartamento de Aya, aqui até que é um lugar legal, com uma boa vizinhança, não é um dos bairros mais chiques de Manhattan, mas é um bom lugar. Olho para meu relógio de pulso e ele marca exatamente dezessete horas e trinta minutos, pego o celular do porta-luvas e disco o número do celular pessoal dela, tive que pegar na ficha do escritório, esqueci de mandar ela enviar o número para meu e-mail junto com o endereço. — Quem fala? — uma voz feminina estranha atende, não sabia que ela tinha empregados. — Iuri Stevens, quero falar com Aya Millenis, ela está? — Tá sim, Aya! — afasto o celular do meu ouvido, a louca grita muito alto, definitivamente, ela não é uma empregada.
Aya leva alguns segundos para responder um simples "à vontade", fico um pouco decepcionado com essa resposta. Eu e Michelle seguimos para o centro do salão onde os casais estão em maior número dançando. Paramos em um lugar onde eu consiga ver Aya, a música tocando é uma clássica, Michelle é uma ótima dançarina, infelizmente já eu não sou, e acabo pisando umas três vezes no seu pé, mas continuamos como se nada tivesse acontecido. — É a mesma Aya de sete anos atrás? — Sim. — Ela é muito bonita, tem bom gosto. — Realmente, por fora ela é muito linda. Hoje ela é a minha secretária — informo. — Ainda está apaixonado por ela?