Capítulo 8

[ Visão de Aya Millenis]

— Toma — minha irmã me entrega uma caneca com chocolate quente.

— Obrigada — pego a caneca.

Já tem duas horas que voltei do trabalho e me sinto abatida, a primeira coisa que fiz quando cheguei foi ligar para minha irmã, ela veio imediatamente e a primeira coisa que ela fez... Isso mesmo, me obrigou a tomar banho, banho gelado... Até que ajudou, mas ainda me sinto mau.

— Vamos, conta logo o que aconteceu — se senta ao meu lado, também bebendo chocolate quente.

Suspiro e aliso a borda da caneca, Iuri vem em meus pensamentos... Ele me deu uma ordem, apenas mandou eu encontrá-lo amanhã para conversamos, o que será que vai acontecer? Lembrar de como ele foi grosso comigo me machuca, mas não posso sentir raiva, eu o tratei muito pior no passado, agora eu sei como ele se sentiu quando eu falei e fiz aquelas coisas com ele sem se quer me importa de como ele estaria se sentindo.

— O Iuri... Ele voltou...

— E, ele continua um magrelo espinhudo? — sorriu sem graça de sua pergunta, eu lembro de quando ela ia nas sociais e falava que o filho dos chefes era esquisito.

— Não, ele agora é um homem, alto, cheio de músculos... Tem uma presença dominante e é grosso! Não tem mais nada daquele adolescente que eu e você conhecemos.

— Assim fico curiosa.

— Certeza que seu queixo vai ao chão — dou um riso forçado — Ele não é mais um adolescente sofrendo com a puberdade.

— Você também não é mais a adolescente que ele conheceu e nem está mais em um momento de fragilidade.

— Sim...

— Tem algo à mais nessa sua tristeza?

— Heloysie... Eu só tinha até as quatro horas da tarde de hoje para conseguir um jeito de não fazer o orfanato fechar as portas... Eu tinha a esperança que o senhor Gustam iria comprar... mas quando cheguei na sala dele... Me ajoelhei e pedi...

— Você se ajoelhou para pedir isso!?

— Sim... Eu sei que é humilhante, mas nos animes é assim que pedem quando precisam de ajuda!

— Você não está em um anime Aya!

— Eu sei ta bom? Me arrependo amargamente disso... Ele não estava sozinho... Nossos pais estavam lá, junto com toda a gestão da empresa e o novo presidente... O Iuri me olhou de uma forma… — seus olhos vem em minha mente e fecho os meus com força, balanço a cabeça para afastar aqueles olhos frios — Não conseguir segurar as lágrimas diante aquele olhar, sai correndo...

— Oh minha irmã — ela me abraça forte, choro mais um pouquinho.

— E o pior, agora já é tarde demais, minha pequena agora já deve ter sido adotada por um casal... Que dor mana... Eu a queria tanto...Nossos corações se escolheram — a aperto e fecho os olhos apenas sentindo as lágrimas que saem de meu coração partido em vários caquinhos.

Por que as coisas desandaram tanto? Agora tudo o que posso fazer é chorar, apenas isso, perdi a filha que eu tanto queria. Por que sempre que penso que estou dando um passo pra frente, na verdade, estou dando cinco pra trás? Eu não aguento mais sofrer tanto, não é possível que eu ainda não tenha pago por todo o mal que fiz!

— Vem, vamos pra cama — ela me ajuda a levantar.

Não consigo controlar as lágrimas, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, a vida mais uma vez me fez ir á lona, de onde tirarei forças para continuar agora?

Me deito na cama e fecho os olhos, o sorriso dela vem em minha mente, como eu queria poder ter a visto pelo menos mais uma vez. Suspiro e fecho os olhos, agora já é tarde demais. Espero que o dia amanheça logo.

[ Visão de Iuri Stevens]

Irei deixar o apartamento de forma mais adequada no fim de semana, minha primeira semana na empresa será muito corrida e preciso pegar logo o embalo. Me olho mais uma vez no espelho, está tudo em seu devido lugar. Lembro que quando era adolescente não me importava do meu cabelo bagunçado, eu até que achava legal, mas agora, só ando com ele arrumado, a barba bem feita e pronto. O adolescente que não se importava com sua aparência deu lugar a um homem muito vaidoso.

Verifico as horas no meu relógio de pulso, são sete horas, assim como meu pai, serei o primeiro a chegar na empresa e o ultimo a sair. Farei de tudo para ser o melhor no ramo e investir em vários outros setores.

Ligo o motor do carro e começo a conduzi-lo, não leva mais que quinze minutos até chegar a empresa. Pego as chaves da porta de entrada e destranco as portas de vidro fumê, os ar condicionados estão desligado, mas não está quente aqui dentro. Sei que o pessoal da faxina chegará daqui a dez minutos, eles são o primeiro a chegar para deixar a empresa em ordem. Sigo para o elevador privado e em questões de alguns minutos já estou no ultimo andar, um andar reservado apenas para mim. Preciso de uma secretaria, e que seja alguém que já tenha experiência e de preferencia que seja alguém que já trabalhe aqui... Já sei, irei juntar o útil ao agradável, assim ficara ainda mais fácil de conseguir levá-la para cama.

Destranco a porta de minha sala e me sento em minha poltrona super confortável, ligo o computador e começo a organizar o que tenho que fazer hoje, esse é o trabalho da secretaria, mas como Aya ainda não chegou, terei que fazer eu mesmo.

Duas batidas na porta chamam minha atenção, olho o relógio e são exatamente sete e meia, que velho pontual, gosto assim.

— Entre — falo auto e ele abre a porta, com um sorriso enorme no rosto.

— Bom dia, jovem — fala quando está próximo a mim e estende a mão.

— Bom dia — aperto sua mão e ele se senta.

— Trouxe comigo os papeis de venda da propriedade — abre a meleta e tira os papeis.

— O senhor trabalha bem rápido — comento.

— Tempo é dinheiro filho, não podemos perder nem um segundo se quer, tome — me entrega os papeis.

Levo vinte minutos lendo cada linha ali escrita, leio até as letras miúdas. É muita burrice assinar qualquer coisa sem antes ler, é compreensível apenas nos casos em que a pessoa não sabe ler, fora isso, é burrice! Depois de está tudo checado eu pego a caneta e assino com minha rubrica em todas as folhas.

Sorriu, mais uma carta na manga para usar em Aya.

O senhor Lucas pega o celular do bolso de dentro do terno e faz uma ligação.

— Senhora Silva? Sim, eu mesmo, liguei para avisar que o orfanato tem um novo comprador e que em breve ele irá ai — ele olha para mim — Quando irá lá senhor Stevens?

— Daqui a meia hora — respondo.

— Daqui a meia hora o novo proprietário estará ai, isso é tudo, adeus — ele desliga o celular.

— Foi um prazer fazer negócios com o senhor — ele aperta mais uma vez a minha mão e guarda os papeis.

Pelo computador faço a transferência bancaria.

— O dinheiro já está em sua conta — falo por fim e ele sai de minha sala.

Volto a organizar as coisas, pela manhã estou livre, tenho uma reunião meio dia e depois apenas revisar os contratos que chegaram. O dia hoje não está cheio. Olho no relógio e já oito horas da manhã, os funcionários já devem ter chegado. Pego o telefone fixo em cima da minha mesa e ligo apara o setor de RG, onde batem carteira.

— Sim, no que posso ajudar? — uma voz masculina fala.

— A senhorita Aya Millenis já chegou?

— Sim, ela acabou de bater ponto.

— Mande ela vim na sala da presidência agora — desligo o telefone.

Pego a copia da escritura do orfanato e gurda em uma gaveta, cinco minutos depois ouço batidas na porta, fala para que entre e Aya entra de cabeça baixa, com passos curtos ela vem se aproximando, lentamente. Não importa o tempo que passe, nunca conseguirei a ver de outra maneira se não a mais linda de todas, mesmo sabendo que dela só terei desprezo. Foda-se.

— E-eu pensei que só iria conversar comigo no final do...

— Não a chamei para conversar — a corto de forma grossa mesmo.

— E-então por que o senhor me chamou?

— Para lhes comunicar que a partir de hoje você será a minha secretaria.

Ela finalmente levanta o rosto, em seus grandes olhos tem a confusão, continuam tão lindos e aparentes inocentes, pena que eu sei que de inocente ela não tem nada. Apesar de agora estarem aparentemente tristes, com certeza é armação dela.

— C-c-como senhor?

— Não vou repetir, pegue logo suas coisas e se acomoda a frente de minha sala, faça a minha agenda para hoje e seja rápida, agora irei sair e quando voltar quero tudo pronto. Agora pode sair — volto a olhar para o computador e finjo está mexendo em algo. Escuto ela suspirando.

— Sim, senhor — ela sai da minha sala.

Espero dois minutos e saio também, vou para o elevador privativo e depois sigo para o estacionamento, dou partida no carro e em menos de dez minutos estou em frente ao orfanato. Que está em ruínas, precisa urgentemente de uma reforma isso aqui.

Caminho a passos largos e a porta está aberta, mas antes que eu girasse a maçaneta, a porta é aberta e um casal passa por ela, nos cumprimentamos com um aceno de cabeça e eu entro. Uma mulher vestindo apenas um vestido simples e dá para ver que ela está grávida. Ela me olha de uma forma triste.

— Bom dia, a senhora é a senhora Silva? — pergunto educado.

— Sim, e o senhor, quem é?

— Sou Iuri Stevens, o novo proprietário — falo e dou um pequeno sorriso.

— I-Iuri? Meu Deus do céu, nossa!

A olho confuso, não me lembro de já a ter visto antes.

— Você não está me reconhecendo, num é?

Faço que não com a cabeça. Ela suspira.

— Eu sou a Luana, a ultima vez que nos vimos foi quando eu te liguei para ajudar Aya.

As lembranças vem daquele dia e eu a olho de cima a baixo mais uma vez, ela está completamente diferente. Ela agora não é mais tão baixinha e seus cabelos estão curtos, seu rosto redondo.

— Eu também não o reconheci, mas fico feliz que esteja bem — ela sorrir.

— Bem, fico feliz por você também — falo para ser cordial.

— Eu estou surpresa, Aya conseguiu...

— Não conte para ela que eu comprei, eu que irei da a noticia.

— Está bem, fico muito feliz em saber que vocês estão se dando bem. Venha conhecer o orfanato.

Ela caminha na frente e eu a sigo.

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