Capítulo 5

[ Visão de Iuri Stevens]

Ao entrar em casa, vejo meus pais abraçados em pé no meio da sala.

— Finalmente, meu garoto está de volta! — meu pai me abraça forte e eu retribuo da mesma forma.

Sete anos longe daqui, dos meus pais. Durante as férias de um semestre para o outro, me dediquei na academia e no aprendizado de artes marciais. Me esforcei muito para melhorar fisicamente, e estou feliz com o resultado. Hoje me olho no espelho e me sinto bonito, mesmo ainda sendo atormentado pelas palavras de Aya que insistem em martelar na minha cabeça dia após dia.

— Você se tornou um homem muito lindo, meu filho — minha mãe também me abraça, eu a levanto do chão pela cintura e dou um giro com ela em meus braços. Como eu senti a falta dela.

— A senhora está ainda mais linda, mãe — falo e a solto.

— Os anos nos favoreceram, querido — ela sorri abertamente — Vá tomar um banho!

Dou um beijo na testa de dona Carmem e sigo para o meu antigo quarto. Olho em volta, nada mudou, os meus posters de anime continuam aqui no mesmo lugar. Suspiro, eu ainda sou muito fã de anime, mas agora não tenho mais tanto tempo como tinha antes, só assistio quando termino minhas responsabilidades.

Meu pai fez o nome Stevens Construções crescer muito no ramo das construtoras nacional e internacional, já tenho projetos de como fazer esse nome ter ainda mais destaques.

Vago por alguns instante olhando para a parede, há sete anos, Aya estava dormindo logo ali, bem no quarto ao lado... Não! Não pense nela! 

Sigo para o banheiro, tomo um banho rápido, visto o terno feito pelo meu alfaiate, com o pente arrumo meus cabelos para trás. Me olho no espelho, deixei minha barba crescer porque li em uma revista, uma pesquisa perguntando às mulheres se elas gostam mais de homem com ou sem barba, com barba ganhou e desde então mantenho minha barba, sempre bem feita.

— Vamos? — pergunto ao chegar na sala, caminho junto a meus pais para o carro que nos espera na porta.

Não leva mais que vinte minutos até o carro ser estacionado, respiro fundo, a partir de hoje estarei na frente de tudo isso. Caminho na frente de meus pais, as portas de vidro fumê não me deixam ver nada do lado dentro, no entanto, me viram chegando e abriram a porta para mim.

— Seja bem vindo, senhores Stevens — Juliana, a mãe de Aya, fala suavemente, mas me irrita só ouvir a voz dela.

Entro sem responder, ela engole em seco, todos os líderes de cada setor estão presentes, mas não tenho tempo de reparar no rosto de nenhum.

— Vamos para a sala presidencial —  meu pai dá a ordem.

Eu e meus pais vamos ao elevador privativo. As portas se abrem e seguimos para a sala da presidencia, que a partir de hoje pertencerá a mim. Todos vão entrando e se acomodando.

— Bem, A parti de hoje, será o meu filho o CEO da empresa Stevens, ele ficou fora por longos sete anos, estudando para poder ocupar o cargo e eu e minha esposa finalmente podermos descansar e aproveitar nossa aposentadoria, foram longos trinta e cinco anos aqui, trabalhar com cada um de vocês foi muito bom — ele vira para mim — Filho, nesses anos que ficou longe, novos funcionários entraram na gestão da empresa, irei apresentá-los, deem um passo à frente, Marcos Decapri, diretor do RH e Leandro Silva, diretor do setor de desenvolvimento econômico.

Só pode ser brincadeira, não acredito que o cara que passou a infância fazendo bullying comigo agora é um dos diretores na empresa. Como ele conseguiu entrar aqui? Ele era muito burro na escola!

— Prazer em conhecê-lo, senhor Stevens — Marcos estende a mão e eu aperto.

Noto a hesitação do Leandro de se aproximar, deve pensar que irei demiti-lo como uma forma de me vingar de tudo o que fez comigo.

— Senhor...

Sua voz é cortada com as portas sendo abertas simultaneamente, uma mulher de estatura baixa entra de olhando para baixo, quem é ela? Será que é alguém da gestão que se atrasou? Já começou com o pé esquerdo comigo, odeio atrasos... O que ela está fazendo!? Ela se ajoelha e cola a testa no chão, eu já vi essa posição antes, contudo, apenas em animes. Quem é essa mulher? Só pode ser uma louca desvairada.

Sinto meu sangue gelar em minhas veias, isso não pode ser coincidência, o mundo só pode está de brincadeira com a minha cara! Não pode ser a mesma Aya por quem fui apaixonado. Ela devagar ergue a cabeça, seus grandes olhos redondos de cor violeta não me deixam nenhuma dúvida, é ela. Trabalhei tanto tempo para tirá-la de meus pensamentos, e agora ela está bem aqui, na minha frente! De joelhos e chorando. Seus olhos me olham assustada, com certeza ela não esperava me ver aqui. Negando com a cabeça e com os olhos chorosos ela se levanta e sai correndo da sala, Leandro corre atrás dela.

— Só pode ter ouvido que o herdeiro é solteiro, caçadora de homens — Marcos murmura, mas consigo ouvi-lo bem.

— Bem, podem voltar para seus setores, quero que apenas o senhor Marcos permaneça — falo me dando por vencido, preciso de informações.

— Seja sábio em suas decisões — minha mãe me abraça, e eu a abraço de volta.

— Pode deixar mãe.

— Sucesso, meu filho — meu pai também me abraça,  depois abraça minha mãe pelos ombros e saem juntos fechando as portas.

Ajeito meu paletó e caminho para minha poltrona atrás da mesa, Marcos permanece em pé, faço sinal com a mão para que ele também se sente, assim ele faz.

— No que posso ajudar, senhor Stevens?

Respiro fundo, sei que não queria ter nenhuma informação sobre ela, mas agora ela trabalha aqui, talvez eu tenha que vê-la todos os dias. Terei que ter informações sobre ela, todos esses anos que sufoquei essa vontade, foram por água abaixo assim que seus olhos pousaram sobre mim.

— O que sabe sobre a senhorita Aya? — indago de forma direta.

— Bem... Há mais de um ano ela vem saindo com mais de duzentos homens, um diferente a cada noite ou a cada semana. — diz com desgosto.

— Você foi um deles?

— Sim, Leandro nos apresentou mês passado — ele dá uma pausa e coça a cabeça — Ela queria que eu me casasse com ela em menos de um mês.

— O que ela faz aqui na empresa? — pergunto escondendo o quão incomodado eu fiquei com tais informações.

— Ela trabalha no setor de desenvolvimento econômico, como secretária do Leandro há dois anos.

Eu realmente vivi para vê-los trabalhando juntos, o que aconteceu nesses anos que fiquei fora?

— Não duvido nada, que como ela não conseguiu pegar o senhor Gustam, veio atrás do filho dele...

— Pode ir embora — o corto grosseiramente, e calado ele sai da minha sala.

Giro na poltrona e fico olhando os carros passando apressados pela rua, eu só queria distância dela, pensei que nunca mais a veria novamente e para aumentar ainda mais a minha surpresa, além de vê-la, ainda revejo Leandro e pela cena, os dois agora são amigos.

Ela está ainda mais linda que antes, seu corpo está com muitas curvas, seus seios antes escondidos pela blusa larga do uniforme da escola, agora estão quase saltando pelos pequenos botões da blusa branca, seus cabelos estão ainda maiores, mas seus olhos... Apesar de me encararem de forma assustada, ainda pareciam ser inocentes, mas sei que não são, ela é uma caçadora de homem, ela agora é uma oferecida. Suspiro, eu realmente não queria saber dessas coisas. Não queria ficar incomodado dessa forma, a vida e o corpo são dela, ela quem decide o que fazer.

"— Do que está falando!? — questiono confuso —  Nossos pais são amigos — tento me justificar — Eles sempre jantaram lá em casa, e para mim também foi uma surpresa quando você apareceu...

— Você é um mentiroso! — revira os olhos — Aquele jantar… — as lágrimas voltam a cair de seus olhos, isso deixa meu coração tão apertado, ainda mais por eu não entender o real motivo — Minha mãe me obrigou a ir, apenas porque o filhinho mimado de seus chefes estava apaixonadinho por mim. Com certeza você só queria me usar como o Leandro fez, vocês devem ser iguais, dois canalhas sem escrúpulos que pensam que podem fazer o que bem entender sem...

— Não me compare com ele! — a corto, não vou permetir ser comparado com esse lixo — Eu nunca mentir pra você, nunca sequer pensei em te usar, porque eu não...

— Por que EU nunca te dei bola — grita histerica — Nunca sequer reparei em você na sala, um espinhudo feio que se acha só porque tem dinheiro e aí quer manipular a todos ao seu redor! Tudo o que você vai conseguir na vida são mulheres que vão te querer apenas por dinheiro, porque você não tem nada além disso para oferecer! N-A-D-A!

— Eu nunca me achei melhor que ninguém — falo cansado — Nem nunca te forcei a nada, sei que não sou o mais bonito, mas...

— Vá para o inferno seu invisível de merda! — me interrompe, a olho triste — Quero que se foda você e todo mundo!

—Aya... "— chacoalho minha cabeça, isso não é hora de ficar lembrando dessas coisas.

Aya, Aya, o que eu farei com você?

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