New York, Manhattan, East Village.
[ Visão de Aya Millenis]
"— Você é uma p**a! — o grito de minha mãe me faz chorar ainda mais, ergo minha mão até meu rosto e com certeza ele está vermelho, arde muito, ela nunca me bateu com tanta força.
— Não acredito que fez isso, Aya! — meu pai fala decepcionado e irritado — Te disse para não mentir para mim!
— M-mãe, pai... — minha voz sai embargada por causa do choro — Me deixa explicar, não… não foi assim que aconteceu....
— Cale-se! — ordena e eu me calo na mesma hora — Eu fui claro com você, Aya! Você envergonhou toda a sua família! Você é uma desgraça para os Millenis! Sua existência...
— Não, não, não... — balanço minha cabeça freneticamente em negação, receber um soco no estômago deve doer menos do que ouvir isso.
— Você me humilhou, humilhou a sua mãe e a sua irmã, desgraçou com o nosso nome....
— Ela não é mais a minha filha! — minha mãe o corta e sua fala doe mais que o tapa que me foi dado há poucos instantes.
— Mãe por favor.... — tento me aproximar, não posso aguentar ser rejeitada dessa maneira.
— Não encoste em mim! — suas mãos me empurram, me desequilibro do salto e caio de bunda no chão.
— A partir de hoje, você não faz mais parte da nossa família, a gente te renega! Sua vagabunda! — meu pai aponta o dedo na minha cara, o choro entala na minha garganta — Te dei do bom e do melhor, e mesmo assim você não pensou duas vezes antes de mentir e nos expor a humilhação pública, jogando o nosso nome do lixo, você para nós é um nada! E nem volte para minha casa, o que você achava que tinha lá não é seu, quem comprou foi eu e sua mãe e vamos queimar, a única coisa que você vai levar é a roupa do corpo.
— Ela não merece nem isso!
— Não mãe, por favor.... Para! Para...
Não importa o quanto eu peça, o ódio nos olhos de minha mãe cortam minha pele como facas afiadas. Ela puxa as finas alças do vestido as rasgando, tento impedi-la, mas recebo mais um tapa em meu rosto. Os gritos dão lugar aos soluços, e como se queimasse sinto o tecido sendo rasgado, meus seios ficam expostos, tento cobri-los a todo custo. A vergonha que sinto é tanta.
— Você não vale um centavo furado, te criamos da melhor maneira possível! Te educamos com o melhor! Mas você é uma vadia escrota de quinta categoria, uma....
— Para por favor... — mesmo com os joelhos tremendo, me levanto enquanto seguro os rasgões para esconder a nudez de meus seios — Aquela não sou eu, por favor acreditem em mim... E-eu nunca faria nada para os envergonhar assim, aquela mulher no vídeo não sou eu, por favor...
— O chão é o seu lugar! Sua escória imunda! — minha mãe me empurra usando mais força que antes. O contato de minha testa com o chão danificado da quadra faz o sangue escorrer por minha testa e o corte arde.
— Vamos embora, já perdemos tempo demais nesse muquifo.
— Não por favor, não façam isso comigo, acreditem em mim, por favor... — seguro no vestido de minha mãe que chuta a minha mão, meu pulso lateja."
Fecho meus olhos com força para espantar essas lembranças, mas infelismente, por mais que eu lute, a medida que vou me aproximando da empresa, sou atiginda por mais memorias dolorosas:
“É o último dia de outono, o chão está coberto com várias folhas de cores diferentes, a entrada do inverno estava muito próxima. Respiro fundo, o quarto semestre está sendo muito puxado, mesmo sendo estudiosa, até eu estava tendo dificuldade em algumas matérias. Preciso espairecer. Decidi estudar em lugar diferente, queria respirar o ar puro, então resolvi ir para a pracinha perto da faculdade, sentei no banco de madeira e tirei o livro e caderno da mochila junto com uma caneta, mas, assim que abri o livro na página marcada, bicos finos de salto na cor preta entram no meu campo de visão, ergo minha cabeça e o olhar de minha mãe distila nojo em minha direção.
— Onde roubou esse livro? — fala ríspida.
Eu nada respondi, apenas abaixei minha cabeça, lembranças do dia do baile me invadem e respiro fundo.
— Pelas suas roupas e a direção que chegou aqui, você veio da faculdade de New York, como conseguiu entrar lá? Já sei, se deitou com todos da direção para conseguir uma balsa, num é? Só poderia, do jeito que é uma...
— Vo...Você não tem o direito de se intrometer na minha vida e nem de fazer nenhuma especulação errada sobre...
— Vadia não tem vida, sem vender o corpo você nunca conseguiria entrar lá, também deita com os alunos para ter onde dormir? Você é um porca imunda, com certeza já deve estar com várias DSTs.
Sem cabeça para ouvir, começo a arrumar as coisas dentro de minha mochila, melhor voltar para a residência dos Stevens, mas ela me atrapalha e j**a tudo chão, pisando logo em seguida, amassando o livro caríssimo que Dona Carmem me deu.
— Por... Por que fez isso!? — me ajoelho no chão tirando o livro debaixo dos saltos dela.
— Você não é digna de ler esses livros nem de pisar naquele lugar, você é apenas um vadia que transa com qualquer um e ainda faz vídeo para se expor na frente de todos!
— Eu não fiz nada disso! —falo com a voz embargada e me levanto do chão, abraço forte o livro sobre meus seios.
Minha bochecha arde, mais uma vez, essa é a terceira vez que ela me b**e, as lágrimas caem, eu mereço esse tapa, não importa o quanto eu lute contra, sempre serei derrotada por minha mente.
— Seu lugar é num prostíbulo, limpando o chão com a língua. Uma vadia sem valor nenhum, nunca mais ouse aparecer na minha frente, pare de estragar a paisagem com sua presença promíscua.
Ela vira as costas e começa a caminhar se afastando, sinto meus joelhos fraquejarem, mas antes que eles alcancem o chão, ela se vira novamente em minha direção e me olha de cima a baixo, mesmo não tendo feito nada de errado, estou me sentindo suja diante dos seus olhos.
— Você deveria estar morta — suas palavras me machucam — Ou melhor, nem deveria ter nascido, assim não seríamos submetidos a vergonha de ter você manchando o sobrenome Millenis.
Suas palavras me cortam, não consigo mais aguentar o peso de meu corpo e desabo no chão, mais uma vez as lágrimas caem grossas de meus olhos.”
Chacoalho minha cabeça para tentar espantar mais uma vez essas lembranças, hoje não é dia para isso.
Após estacionar o carro e caminho até as portas de vidro fumê, sinto meu coração acerelado. As portas se abrem, são exatamente sete e meia da manhã, daqui a meia hora a empresa entra em pleno vapor, sei que todos os gestores já estão reunidos para conhecerem a nova funcionária na sala da presidência, respiro fundo. Com passos firmes entro na caixa de metal e aperto o botão do último andar, em menos de dois minutos as portas se abrem e dou o primeiro passo para mais uma nova fase.
Eu não quis nenhum cargo que tivesse que ficar a frente de nada, e por ser só uma simples funcionária não deveria ser apresentada a toda gestão da empresa, mas senhor Gustam insistiu, ele quer mostrar no que a filha rejeitada se tornou, então aqui estou eu.
Sinto meu coração batendo forte, como se estivesse para sair de dentro do meu peito, preciso me manter fria e centrada, não posso vacilar. Suspirando mais uma vez, abro a grande porta de vidro fumê da sala do senhor Gustam. Entro de cabeça baixa, estou vestindo uma saia lápis de cor preta e uma blusa social de cor gelo, saltos agulha pretos e cabelos soltos que batem na minha bunda. Ergo minha cabeça, observo com satisfação os olhos arregalados e descrentes de meus pais.
[ New York, Manhattan, Upper East Side — Visão de Aya Millenis] — O que acha de sairmos para beber? — Leandro sugere — Não fazemos isso a mais de um ano — comenta enquanto arruma os papéis em sua mesa. Já faz mais de um ano que não saímos todos juntos em um programa, Leandro vive chamando, mas tanto eu, quanto minha irmã vivemos ocupadas, ela por causa do trabalho, já eu... — Irei no orfanato — respondo sorrindo. — Entendo, não consegue ficar muito tempo longe dela. — Eu gosto tanto dela... Hoje irei com minha irmã. — Bem, então aproveitarei para levar minha gata em um passeio. Ah não... Ela também vai está no orfanato, parece que agora vocês me excluem dos programas. Me sinto sozinho! — oh drama
[ Visão de Aya Millenis] — Por que está com essa cara? — questiono a Luana e ela me olha com um olhar triste. — Venha comigo. — Algum problema? — pergunto, mas algo me diz que é sim um problema, e dos grandes. Ela suspira e abraça o próprio corpo, isso apenas faz o aperto em meu peito aumentar. — Eu tenho duas notícias Aya, e nenhuma delas é boa — pronúncia séria, isso me preocupa. — Quais são? — Bem — ela suspira e eu prendo a respiração — Primeiro quero agradecer a todo o seu esforço e doação constante que você faz. É graças a você, sua irmã e o meu marido que o orfanato ainda não fechou as portas, no entanto, compraram o local do orfanato e bem...
[ Visão de Iuri Stevens] Ao entrar em casa, vejo meus pais abraçados em pé no meio da sala. — Finalmente, meu garoto está de volta! — meu pai me abraça forte e eu retribuo da mesma forma. Sete anos longe daqui, dos meus pais. Durante as férias de um semestre para o outro, me dediquei na academia e no aprendizado de artes marciais. Me esforcei muito para melhorar fisicamente, e estou feliz com o resultado. Hoje me olho no espelho e me sinto bonito, mesmo ainda sendo atormentado pelas palavras de Aya que insistem em martelar na minha cabeça dia após dia. — Você se tornou um homem muito lindo, meu filho — minha mãe também me abraça, eu a levanto do chão pela cintura e dou um giro com ela em meus braços. Como eu senti a falta dela. [ Visão de Aya Millenis] — Espera Aya — ouço a voz de Leandro me chamando, mas antes que as portas do elevador se fechassem ele consegue entrar — O que deu em você para fazer aquele cena, Aya? — E-eu não sabia que ele tinha voltado... Por que não me disse!? Vocês sabe o quanto eu queria falar com ele... — Me desculpe Aya, e-eu... Fiquei me corroendo, também fiz e disse muitas coisas com o Iuri que me arrependo, cheguei até pensar que ele me demitiria por vingança... Eu.. Me desculpa. — Agora já está feito... Passei vergonha na frente de toda a gestão da empresa e pior... Na frente de meus pais... Eu...— as lágrimas caem como cascata sem que eu consiga controlá-las — Por que eu tenho que ser tão idiota...Eu... Leandro me abraça, as portas do elevador se abrem novamente, parado agora no quarto andar, onde fica o nosso setor, caminhamos até a minha mesa que fica em frente a sala dele, ele desfaz o abraço e enxuga minha lágrimas.<Capítulo 6
[ Visão de Carmem Stevens] — No que está pensando? — meu marido questiona. — Será que foi realmente uma boa ideia colocá-la lá? — perscruto, mas a pergunta é mais para mim do que para ele. — Vamos deixar o tempo dizer, querida — segura minha mão, até hoje, sempre que sinto o seu contato, quente, me sinto a pessoa mais feliz do mundo, o melhor homem do mundo é meu. Foi minha ideia colocá-la na empresa, eu queria que Juliana a visse conquistando as coisas, superando o abandono que sofreu, no entanto, depois de um ano e meio sendo uma funcionária exemplar, ela começou a sair com praticamente todos os homens da empresa, chegando a sair até com sócios. Eu nunca a questionei do porquê ela ter começado a agir dessa forma porque a vida é dela, no entanto, Iuri foi embora pedindo pa
[ Visão de Aya Millenis] — Toma — minha irmã me entrega uma caneca com chocolate quente. — Obrigada — pego a caneca. Já tem duas horas que voltei do trabalho e me sinto abatida, a primeira coisa que fiz quando cheguei foi ligar para minha irmã, ela veio imediatamente e a primeira coisa que ela fez... Isso mesmo, me obrigou a tomar banho, banho gelado... Até que ajudou, mas ainda me sinto mau. — Vamos, conta logo o que aconteceu — se senta ao meu lado, também bebendo chocolate quente. Suspiro e aliso a borda da caneca, Iuri vem em meus pensamentos... Ele me deu uma ordem, apenas mandou eu encontrá-lo amanhã para conversamos, o que será que vai acontecer? Lembrar de como ele foi grosso comigo me machuca, mas não posso sentir raiva, eu o tratei muito pior no passado, agora eu sei como ele se sentiu quando eu falei e fiz aquelas coisas com ele sem se quer me importa de como ele estaria se sentindo. — O Iuri... Ele voltou..
[ Visão de Aya Millenis] Grosso, grosso, grossoooo! Que raiva! Respiro fundo, meu dia ontem foi ruim, hoje pelo jeito vai ser ainda pior. Saio do elevado e caminho até minha antiga mesa, Leandro já deve está em sua sala, com certeza ele estranhou o fato de eu não está o esperando na porta com a agenda pronta, sempre chego dez minutos antes dele. Meu cérebro tenta a todo custo encontrar uma lógica para o que aconteceu, por que ele me escolheu como sua secretaria? Apesar de já exercer como secretaria, não tenho o melhor histórico com ele. Calma Aya, pelo menos já sabe que desempregada não irá ficar. Sei que se eu fosse demitida, não seria problema encontrar outro emprego, porém, sempre me dediquei em meu cargo como forma de gratidão por tudo que fizeram por mim. — Aya? — a voz de Leandro me tira do transe. — O-oi — pisco varias vezes, me afundei tanto em pensamentos que nem notei que havia entrando na sala dele sem nem a
[ Visão de Aya Millenis] Faltam apenas cinco minutos para o expediente acabar, passei o dia todo com o pé de minha barriga congelando. O dia todo no misto de tristeza e ansiedade. A imagem de minha pequena ainda me deixa muito triste, e o que no momento esta me distraindo dessa tristeza é a apreensão sobre como vai ser daqui pra frente com o Iuri. Nem dá para acreditar, depois de todos esses anos, longos setes anos, finalmente terei uma conversa com ele, irei pedir perdão por tudo o que fiz e irei tentar explicar o porquê de eu ter agido daquela forma, tenta explicar que agora eu sou uma pessoa totalmente diferente. Com todos esses anos, depois de ter sido salva por Leandr