Fernanda Castellane:Termino de enfaixar a mão de Pietro com cuidado, tentando não apertar demais, mas também não deixar frouxo. A gaze já está avermelhada nas pontas e a respiração dele segue pesada, silenciosa, como se cada inalação carregasse muito mais do que oxigênio. O cheiro de antisséptico ainda paira no ar, misturando-se ao nosso silêncio pesado.Ele não fala nada.E eu não pergunto.Não agora.Termino de prender a faixa no pulso dele com um grampo, solto um suspiro baixo e me afasto um pouco para observar o estrago. Seus dedos ainda estão inchados, as articulações vermelhas. A parede atrás de nós carrega as marcas de sangue seco e rachaduras no gesso.A angustia e raiva estão estampadas em sua cara, me apertando o peito. Ergo a mão, quero fazer carinho nele, para que ele se sinta melhor, mas, antes que eu possa realizar meu objetivo, o som do choro de Gabriel ecoa pela casa, cortando o silêncio, mesmo sendo um som frágil, quase sumido.— Fique aqui, Pietro. Eu vou olhar ele
Fernanda Castellane:Um mês inteiro já se passou, o dia da audiência está cada vez mais próximo e a cada instante que penso nisso, sinto meu peito apertar.“Nos papéis Adélia me acusa, afirmando que sou um viciado em jogos de azar, como o meu pai enquanto ainda estava vivo. Alega que coloco a vida do meu filho em risco, pois homens estrangeiros invadiram o hospital em horário de pico para cobrar a dívida e foram direto no berçário do Gabriel para usá-lo. Também me acuda de traição contra Marina, alegando que eu já estava me envolvendo com você enquanto Marina sofria numa cama hospitalar lutando pela própria vida e a do nosso filho. Além disso, insinua que desvio recursos do hospital para fins pessoais, que sou um administrador negligente.” Cada palavra ainda ecoa em mim, como se estivessem sendo dita nesse exato momento. E por mais que eu tente não pensar, não consigo, e toda vez, uma raiva cresce dentro de mim ao mesmo tempo que a sensação de incapacidade.Eu fecho os olhos por um i
Fernanda Castellane:— Aqui — Tiago estende um copo de água para mim, a expressão cheia de preocupação.— Obrigada — agradeço baixinho, aceitando o copo com mãos ainda um pouco trêmulas.Ele se senta ao meu lado no corredor, o silêncio se instala entre nós enquanto eu tomo pequenos goles da água gelada, tentando acalmar a torrente de pensamentos que me consome.— Por que a possibilidade de estar grávida te deixou nesse estado? — Ele pergunta, a voz suave, sem qualquer julgamento.Reclino na cadeira e deixo meu olhar se perder no teto branco do hospital. Mordo o lábio inferior e respiro fundo, volto meu olhar para o copo, ainda com um pouco de água.— Porque... talvez esse não seja o melhor momento, sabe? — forço um sorriso, tentando parecer mais calma do que realmente estou. — Tem pouco mais de um mês que eu me casei, ainda não me formei, já temos uma criança tão pequena em casa...Tiago me observa com atenção, sem interromper.— Entendi — diz por fim, inclinando levemente a cabeça. —
Fernanda Castellane:Sinto a carícia lenta dos lábios de Pietro no meu pescoço, quentes e possessivos, enquanto suas mãos exploram meu corpo com uma reverência que faz meu coração tropeçar dentro do peito.Ele massageia meu seio com a palma firme, o polegar roçando o mamilo que endurece sob seu toque. Minha respiração se acelera. Meu corpo se molda instintivamente ao dele, buscando mais, querendo mais.— Pi... — murmuro, entre um suspiro e outro.Ele interrompe o beijo e franze o cenho, buscando meu olhar.— Sim, amor? Algum problema? — pergunta, a voz rouca, carregada de desejo e preocupação.Por um instante, apenas o observo.Tão meu.— Quero que você se sente na poltrona — digo, firme, embora meu coração esteja disparado.Pietro pisca, confuso.— Por quê? — Questiona, arqueando uma sobrancelha, como se tentasse decifrar minha intenção.Sorrio de leve, provocando.— Apenas obedeça — minha voz desliza macia pelo quarto, mas carrega uma ordem inegável.Ele hesita.Sei que está acostum
Fernanda Castellane:Sinto os dedos de Pietro deslizarem pela minha fenda, brincando com as dobras macias e inchadas do meu sexo, enquanto minha pele parece pegar fogo a cada toque.A umidade que banha seus dedos é um testemunho silencioso de como estou entregue a ele, e, por um breve momento, percebo o vacilar do controle que Pietro tanto luta para manter.— Está tão molhada... — ele murmura junto à minha orelha, sua voz baixa e rouca de desejo. — Tudo isso só porque gozei na sua boca, amor?Mordo o lábio com força, tentando conter o gemido que ameaça escapar, enquanto sinto seus dedos passearem provocativamente sem nunca me dar exatamente o que quero.Ele apenas brinca, acariciando lentamente, deliberadamente, os grandes lábios.Meu corpo se arqueia involuntariamente em direção à mão dele, em busca de mais contato.Sinto o sorriso dele contra a minha pele, um sorriso carregado de malícia e posse. Então, finalmente, ele roça o polegar no meu clitóris, e o gemido que eu segurava escap
Fernanda Mendonça:Concentre-se Fernanda. Você já passou por várias simulações na faculdade, respire fundo e ajude! — Pressão arterial subindo! — A voz da enfermeira corta o ar, carregada de tensão.— Precisamos acelerar — a obstetra declara, sua postura rígida transparecendo a gravidade da situação. Ela se volta para o anestesista. — Ela está estabilizada o suficiente?— Podemos começar — o anestesista responde com um breve aceno, embora o nervosismo esteja evidente em sua voz.Meu coração parece pular do peito quando o bisturi na mão da doutora reluz sob a luz fria da sala. O ambiente ao meu redor parece diminuir, cada som ampliado como se estivesse dentro de uma bolha prestes a estourar.Droga! A simulação nunca é como a vida real.A obstetra começa a incisão, suas mãos rápidas e precisas. O sangue surge na pele pálida da paciente, e o som dos instrumentos sendo passados de mão em mão enche a sala, um ritmo quase hipnótico.— Chegando na cavidade uterina — informa a Dra.Sinto o s
Pietro Castellane:— Sei que o momento é delicado para o senhor — minha secretaria começa. — Mas os novos estagiários chegaram ontem, você ainda não se apresentou a...A frase dela é interrompida pelo som agudo do meu celular vibrando em meu bolso.— Um momento, Emile — tiro o aparelho do bolso e vejo o nome da médica da minha esposa na tela. Meu coração acelera. — O que aconteceu? — Atendo imediatamente, minha voz soando mais firme do que me sinto por dentro.O silêncio do outro lado dura uma fração de segundo, mas é longo o suficiente para que meu estômago se contraia em um nó.— Senhor Castellane, o estado da sua esposa piorou. A pressão dela está perigosamente alta. Precisamos fazer o parto de emergência agora. Não há tempo, ou perderemos os dois.O peso das palavras atravessa o meu peito como um soco. A sala ao meu redor desaparece em um turbilhão de vozes abafadas e formas indistintas, como se o mundo tivesse perdido o foco. A única coisa que ouço, clara como um trovão, é o som
Pietro Castellane:Ela está pálida, o rosto marcado por uma expressão que mistura cansaço, nervosismo e algo mais... culpa? Por um instante, fico paralisado pela surpresa de vê-la ali, mas a preocupação com Marina e o bebê rapidamente me tira do transe.— Minha esposa... — meus olhos caem para suas mãos cheias de sangue.Ela respira fundo, os lábios se comprimindo como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. O silêncio dela é ensurdecedor.— Seu filho... — ela começa, a voz baixa e hesitante. — Ele nasceu. Está na UTI neonatal agora. Mas...Meu mundo gira. A palavra "mas" ecoa na minha mente como uma sentença. Minha garganta aperta, e preciso reunir todas as forças para perguntar:— E Marina? Ela está bem?Fernanda desvia o olhar, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Meu coração para. Cada músculo do meu corpo fica tenso, esperando pelo golpe.— Eu sinto muito, Pietro. Fizemos tudo o que pudemos... — ela diz, e sua voz falha no final.As palavras me atingem como um