Parte 3...
Ele entrou e a viu deitada.
Seu coração pulou uma batida. Nunca imaginou que a veria dessa forma. Alguns aparelhos estavam ligados a ela, que dormia, o rosto virado de lado, a mão sobre a barriga.Ele nem conseguia acreditar no que estava à sua frente.Fechou a porta e ficou um instante parado, observando-a dormir. Seu rosto tinha marcas de arranhão e também em seus braços. Respirou fundo, se segurando para não tocá-la. Andou pelo quarto pensativo, sentindo uma coisa estranha no peito, uma sensação ruim, não sabia bem o que. Ela se mexeu devagar e ele foi para o lado dela.Colocou a mão sobre sua barriga alta. Era difícil de acreditar que ali dentro tinha uma criança. Um filho seu.Seria seu mesmo? Eram muitas dúvidas.Cora sentia algo quente em seu sonho, perdida na nuvem que escondia seus traumas. Mexeu a cabeça piscando os olhos, sem querer acordar realmente. Estava segura em seu sonho.Sentiu algo tocando sua mão, sua barriga. Se forçou a abrir os olhos, ainda um pouco enevoados. Ouviu uma voz próxima, quente, forte.Virou o rosto devagar e não conseguiu definir o rosto meio borrado à sua frente, o que lhe causou uma sensação de pânico e arfou, tentando se sentar depressa.— Calma, ómorfí mou... Está tudo bem. Você está segura.Ela se esticou de lado, forçando a mente a dizer quem era aquele rosto. Olhou para os lados e entendeu que estava no hospital ainda. Soltou um suspiro de alívio.Ela o encarou. Era muito bonito e seus olhos pareciam carinhosos, mas ela não sabia quem ele era. Talvez fosse um médico novo? Um parente seu ou que sabe seu namorado?Seria possível que ele fosse o pai de seu filho?Queria muito lembrar, mas não conseguia. Isso a deixava triste. Fechou os olhos um momento.— Ei, não vá dormir agora.Ela abriu os olhos novamente. A voz dele era muito bonita, suave e sensual ao mesmo tempo. Sentiu um arrepio na pele, no entanto sua mente insistia em esconder sua identidade.— Eu... - levou a mão até a barriga alta.— Não se preocupe - cobriu a mão dela — Nosso filho está bem e você está segura, sendo bem cuidada.Ela olhou sua mão sobre a dela. Ele era muito charmoso. Estava bem vestido e seu perfume enchia suas narinas. Não conseguia saber de onde vinha o sotaque dele, mas gostou de ouvir.— Nosso filho... - repetiu e franziu os olhos — Me desculpe... Eu... - puxou o ar levemente angustiada — Eu não sei quem é você.Ele sentiu um baque ao ouvir isso. Foi estranho. E parecia verdadeiro. Os olhos dela tinham marcas escuras ao redor, como olheiras. E sua respiração estava lenta. Ela parecia em conflito.Ela o olhava em busca de algum traço que pudesse lhe despertar alguma recordação do homem que dizia ser pai de seu filho, mas nada vinha.— Sinto muito... - levou a mão à cabeça — Eu não consigo me lembrar de você - suspirou entristecida.— Eu sou seu noivo, Fillipe Kristos - se aproximou mais.— Eu gostaria de lembrar...— Não tem problema - apertou sua mão — Já falei com o médico e ele me explicou tudo. Vou levar você para casa.— Nós moramos juntos? - franziu a testa.Era ruim demais vê-la assim, tão perdida.Cora não queria ficar tão vulnerável assim, mas ela não sabia mesmo quem ele era, de onde tinha saído e nem porque ela estava em um hospital sem se lembrar do que havia acontecido antes.E se tivesse sido ele quem fizera algo contra ela? Mas ele era o pai de seu filho e o médico já tinha conversado com ele, então tudo bem. Talvez estivesse tudo bem, ela não tinha certeza de nada.— Tenha calma, agápi mou. Não deve ser esforçar agora. Ainda teremos tempo.— Pode me falar algo sobre nós dois? Ela tentou sentar e ficou um pouco tonta, colocando a mão na cabeça. Ele estendeu a mão e tocou em seu rosto. Foi bom.— Não tem que pensar muito agora, o médico disse que aos poucos as coisas vão voltar para você e tudo vai se resolver.— Será mesmo? - olhou para ele desolada.— Sei que é difícil, mas precisa ficar calma, Cora - alisou sua bochecha e seu queixo — Isso não é bom para a criança que espera.Ela gostou do carinho em seu rosto e também do modo como ele pronunciou o seu nome. Sua voz era como veludo. Ela não devia estar reparando nessas coisas e sim no que estava acontecendo com ela, ali naquela cama de hospital.— Onde é minha casa? - recostou a cabeça.— Você não é daqui, nem eu - ele se inclinou um pouco — Mas eu viajo muito e por isso tenho imóveis em vários lugares.— E onde é aqui? — Por agora é no Canadá - explicou — Mas nós temos planos de ir morar em minha ilha na Grécia. Sempre gostamos mais do calor.Ela inclinou a cabeça de lado, observando-o. Ele tinha uma presença forte, marcante. Como ela poderia ter esquecido dele?— Você está pensando demais, Cora.Era verdade. Mas é que ela não se sentia bem por completo. Ele parecia saber mesmo sobre ela e falar a verdade, mas tinha algo que a deixava incomodada. Era como se tudo o que ele estivesse falando fizesse parte de um texto que ele decorou para lhe dizer.Parte 4...Se eram noivos, porque não havia mais alegria, mais emoção em sua voz? Ou ele seria assim realmente e apenas ela que não recordava? Se fosse o contrário ela estaria muito aliviada e feliz de vê-lo.Ela coçou a cabeça, intrigada, mas agora não tinha nada que a fizesse se recordar de como ele era, de como eles eram juntos. Ia fazer mais perguntas para tirar a dúvida, quando ele se inclinou e depositou um beijo de leve em sua boca.Foi bom, se sentiu aquecer. Ele ajeitou seu cabelo atrás da orelha e desceu a mão por seu pescoço. Seus rostos estavam bem próximos. Cora ficou mirando a boca dele.— Você vai poder fazer todas as perguntas que quiser depois - lhe deu um beijo na testa — Agora tem que descansar, o corpo e a mente. Eu vou falar com o médico e acertar tudo. Em pouco tempo já poderei te levar para casa, está bem? - ela concordou com a cabeça.A enfermeira bateu na porta e entrou, trazendo uma bandeja com um copinho com comprimidos coloridos e um copo maior com água. So
Parte 5...— Fillipe...Ele se inclinou e beijou sua mão de modo suave.— O que é, agápi mou.— Está vendo? Eu nem sei o que é isso o que você disse. — Não se preocupe - deu uma risadinha — É grego e nem todos conseguem entender.— Você é grego? - se admirou.— Sim. Nasci em Fira, capital de Santorini. Um ligar maravilhoso.— E eu, de onde sou?— Você é do Brasil - brincou com seus dedos — De uma cidade chamada Natal. E pelo pouco que vi, também é muito bonita.Ela franziu a testa. Eles eram estrangeiros então, de locais diferentes, mas estavam juntos. Como isso tinha acontecido.— Está pensando muito de novo, querida.Ela suspirou, inconformada.— Eu quero me lembrar - disse meio angustiada.— E vai lembrar. Só tem que dar tempo ao tempo e ter calma - ela o olhou séria — Eu sei, isso é muito difícil, mas pode fazer isso.— Tem muita coisa que eu quero saber... Preciso saber...— O médico já disse que você tem que relaxar para se cuidar e também pelo bebê - levantou —Não seja teimosa
Parte 1...Mais tarde Fellipe retornou ao quarto do hospital.Sentou na poltrona perto da janela e ficou observando enquanto ela dormia. Pensando em muitas coisas.Recordou da última noite em que a viu quando saiu fugida de seu apartamento e da descoberta dela ter sido uma vadia mentirosa que apenas usou seu interesse para roubar sua empresa, enganar a ele e a todos que faziam parte da empresa, que acabou tendo um prejuízo muito alto.Deu trabalho, mas ele resolveu tudo. Assim como resolveria com ela também. Dessa vez não a deixaria escapar. Não antes de conseguir o que ele queria.Seu filho.Ficou olhando enquanto ela dormia, tranquila. Sua respiração calma e leve. A barriga alta apoiada de lado em uma grande travesseiro, a perna dobrada. Estava em uma típica posição de grávida.E como ela tinha ficado grávida se tomavam as devidas precauções? Seria isso outra parte do plano dela de se aproveitar de sua posição de amante? Iria lhe cobrar depois que pagasse para ver o filho?Ele senti
Parte 2...Fellipe disse que eles moravam ali, em uma cobertura grande, mas até o momento ela não estava reconhecendo as lojas, as ruas, as praças. Era como se ela estivesse chegando na cidade agora.Estava achando tudo muito bonito organizado, mas não tinha a sensação de que ali era sua casa, seu lugar de moradia. Isso a deixou inquieta.Ele entrou em uma garagem grande, embaixo de um prédio muito bonito e moderno. A fachada era de concreto e vidro. Olhou para cima por um momento, esperando ter um sinal e nada. Continuava sem lembrar.Mordeu o lábio. Ele abriu a porta para que saísse e segurou sua mão. Entraram no saguão do prédio e passaram pela portaria. O homem que estava lá falou com ela, um tanto espantado. Isso a deixou curiosa.Por que ele se espantou ao vê-la?Fellipe a levou até o elevador. Se sentia um pouco tímida de estar ali com ele. Estava com uma barriga enorme e isso era estranho. A última vez que recordava de si mesma ela não tinha todo esse volume na frente e nem es
Parte 3...— O que você vai fazer?— Vou preparar o jantar. Vou ver o que Miranda pediu e podemos comer juntos. Onde prefere? Aqui na sala de jantar ou direto na cozinha?— Onde você quiser para mim está bom.Largou a manta em cima do sofá e andou devagar pelo apartamento, olhando tudo tentando ativar a memória. Não era só grande e moderno como ele havia dito. Era bem luxuoso e cheio de coisas caras. Ela não entendia muito de arte, mas dava para ver que as obras eram de qualidade.O piso era maravilhoso. Retirou os sapatos e sentiu o frio gostoso do granito claro, mexendo os dedos. Foi entrando em portas que estavam fechadas. Encontrou o escritório dele.A grande mesa de madeira decorada chamava a atenção. Correu a mão em cima, sentido seu material e por um instante teve um flash de que já esteve ali.Veio à sua mente os dois ali, juntos, agarrados em cima da mesa, ele entre suas pernas. Tocou a barriga subindo e descendo a mão. Aí estava a resposta de como tinha ficado grávida.Será
Parte 4...— Não saber me deixa ansiosa - foi teimosa.— O médico disse que as coisas vão voltar aos poucos, então é melhor não forçar.— Parece que você não me fala de propósito - retrucou.Ele fechou o semblante e a olhou levemente chateado.— Não abuse de sua condição e nem tente me fazer chantagem. Eu sei bem como você é - levantou — Vou fazer uma chamada e já volto. Termine seu jantar.Ele saiu e a deixou sozinha, se sentindo mal. O que ele queria dizer com sabia como ela era?***************Fellipe fechou a porta do quarto. Cora estava dormindo. Ele a cobriu e por um impulso a beijou na testa.Foi para a varanda e sentou na grande cadeira de madeira e ligou para o irmão do meio. Com certeza agora os irmãos já sabiam por alto que ele estava de novo com Cora. Tinha enviado uma mensagem curta apenas para que soubesse porque não iria poder comparecer na reunião.Seu celular estava cheio de mensagens e claro, algumas eram de seus irmãos. Mas não leu nenhuma e ligou direto para Alez
Parte 1...De manhã quando acordou, Cora se sentia mais descansada. A cama era muito confortável e os lençóis cheirosos e macios.Dormiu tão bem que chegou a sonhar que Fellipe estava dormindo ao lado dela com a mão em sua barriga, a protegendo. Mas não deve ter sido isso. Ele ainda parecia um pouco distante dela.Não sabia se isso era por causa de seu problema, que ele não queria forçar sua mente ou se eles eram assim mesmo antes.Se fossem assim antes não seria nada bom. Como ela poderia ter aceitado seu pedido de casamento se eles tinham um relacionamento frio e até polido demais.Ele seria assim mesmo? Ficou pensando.— Venha comer um bom café da manhã - ele entrou no quarto e ela sentou na cama — Como se sente hoje?— Bem - disse baixinho.— Então vamos comer - alisou seu joelho — Está tudo pronto na cozinha. Guine deixou tudo como sempre.Ela franziu a testa.— Guine... Nossa empregada? Ela vem quatro vezes na semana para deixar tudo em ordem, faz compras, cozinha... Essas coisa
Parte 2...— Você sofreu um acidente, querida.— Foi um acidente de carro? - aumentou os olhos — É por isso que tenho essa cicatriz atrás, na cabeça? - tocou o local sentindo.— O médico disse que você não deve se forçar a recordar. As imagens e tudo mais irão voltar aos poucos, de acordo com sua recuperação. Se ficar forçando, vai acabar angustiada e vai sofrer mais.— Mas eu quero saber, Felipe - disse com voz chorosa.— Eu sei disso - ele levantou e foi até ela, segurando seus braços — Só que você vai ter que aprender a esperar.— Foi muito sério? Eu atropelei alguém?Ela cobriu a boca com a mão, ficando nervosa. Se ela tivesse matado alguém iria se sentir culpada para o resto da vida.— Não, você não atingiu ninguém.— Então, eu estava sozinha no carro? - sua voz se elevou — Eu saí sem você? Onde você estava?Ele percebeu que ela começava a perder o controle. Estava respirando rápido e segurando seus braços com força.— Calma, querida, calma - a abraçou.Fellipe sentiu um remorso