Primeira troca de bilhetes

Todo adolescente sonha com alguma coisa. Passando a desejar algo com toda a força de sua existência, pois sente que aquilo irá lhe completar. Ou talvez seja o mistério em descobrir como se sentirá quando o sonho for alcançado.

O garoto ômega sentia que se encaixava nas duas opções.

Theodore queria saber como era namorar alguém.

Mas não como os demais colegas de sua classe, que sempre trocavam de namorados como ele trocava de camisa. Não. Não valeria a pena se esforçar por algo tão efêmero. Não bastaria ir para uma festa e beber álcool escondido para seduzir alguém ou passar seu cio com um fulaninho. Muito menos xavecar qualquer um que passasse na rua.

Não. Theodore sabia que esse não era o caminho.

Quando assistia aos filmes com clichês, ele encontrava o tipo de romance que adoraria vivenciar. Aquele que o deixaria nervoso o dia todo, ansiando por ir à escola e sonhando com o dito cujo que roubaria o seu coração.

Não se importava que a pessoa em questão fosse popular ou não, se fosse bonito ou não. Apenas que fosse alguém que o aceitasse sinceramente. Que o amasse e o mordesse, gerando uma conexão para a vida toda como sua alma gêmea. Tudo valeria a pena.

E não fora uma e nem duas vezes que chegara a ficar ansioso para ir à escola. Já se deparou com diversos possíveis candidatos para a vaga de namorado. O problema era que nenhum deles se mostrou digno para isso.

Qualquer aluno novo que aparecesse na escola era dominado pela garota mais irritante. Sadie Mckenzie. Se nos filmes existiam obstáculos que fortaleciam a relação do casal, na vida de Theodore existia uma garota que desafiava seus sonhos.

Nicolas, inclusive, sempre lhe dissera que se um garoto gosta de Sadie, independente de ser um alfa ou beta, nem valeria a pena saber seu nome. Seria um sinal de que vieram do mesmo planeta. Por esse motivo Theodore ficava sempre magoado quando descobria que seus alvos tinham personalidade tão distorcida quanto da garota.

Nenhum deles valeria a pena.

E agora parecia que o ciclo estava prestes a recomeçar.

— Meu nome é Gabriel Jones, recém cheguei da capital para o interior por causa do trabalho dos meus pais.

O garoto problema tinha nome e sobrenome. Fora difícil para Theodore não se interessar por ele, já que o infeliz era bonito demais e tinha um belo sorriso típico de um alfa. Mas para cair da nuvem de sonhos bastou ouvir os suspiros das demais garotas da classe.

Certo, precisava se lembrar de que mais cedo na entrada, Sadie já mostrara as garras para cima do aluno novo. Com certeza ele não seria diferente dos outros que sempre pareciam bonzinhos nas primeiras semanas, e depois de meses deixavam pingar o veneno.

Não deveria perder o tempo, então.

Theodore desviava o olhar para a janela, apoiando o queixo sobre a palma da mão tentando esvaziar a mente. Deveria começar a cantar alguma música do seu musical favorito em pensamento? Seria o suficiente para tirar a sensação de sua mão quente segurando-lhe o braço?

Qual música deveria escolher? Por algum motivo aquele solo da Gabriela Montez parecia se encaixar com a ligeira frustração que sentia.

Um movimento ao seu lado lhe chamara atenção. Resistira em olhar, mas o doce aroma denunciava a proximidade. Recusando-se a olhar para o lado, Theodore fora perspicaz em ver pelo reflexo da janela que o aluno novo se sentara ao seu lado.

Oh céus, isso era algum castigo? Tantos lugares para ele se sentar, escolhera justamente o seu lado?

Por que, oh mundo cruel?

Seu coração começara a acelerar.

Suas bochechas queimavam. Provavelmente até a pontinha da sua orelha estava vermelha.

O que fazer?

Por que estava nervoso?

Comporte-se!

— Ahn... Com licença? Posso dividir o livro de história contigo?

Imediatamente Theodore desviou os olhos para o lado. Não deveria, recriminou-se internamente, pois sabia que a mínima interação o faria cair em sonhos que o machucariam mais tarde. Mas lá estava ele, esperando sua resposta sem nenhum olhar malicioso.

Retribuía o olhar do aluno novo sem saber o que responder. Que cara estaria fazendo naquele momento? O aluno novo o encarava com um sorriso amistoso no rosto e olhos repletos de expectativas. Charmoso como um alfa deveria ser.

— É que eu não recebi os livros ainda... — Insistira o aluno novo.

Theodore baixou os olhos para o livro aberto em sua mesa. Era apenas uma aula, um livro dividido e então ele estaria fazendo apenas uma boa ação, não era? Não deveria temer isso, já que não poderiam ficar conversando durante a aula.

É... A situação estava ao seu favor.

Silenciosamente Theodore empurrou sua carteira e estendeu o livro, tendo o aluno novo também encostando sua carteira a dele. Estando perto um do outro ao ponto de seus cheiros se mesclarem, os dois dividiam o livro de história.

— Valeu, cara.

— Por nada.

Theodore sentira o olhar do outro sobre si quando o respondera. Tornando a apoiar o queixo sobre a palma da mão e focando em estudar, encontrara a saída perfeita para não se perder em seus delírios românticos.

Um verdadeiro desafio.

A mera presença do aluno novo ao seu lado, podendo sentir seu calor e até ouvir sua respiração limparam sua mente. Queria tanto fingir que estava tudo bem e era indiferente à sua chegada, que se esforçara em reprimir a vontade de observá-lo pelo canto dos olhos.

O professor explicava a matéria e Theodore fazia suas anotações meticulosas seguindo seu plano. Isso, siga focando em copiar a matéria que logo o tempo passa, e esse martírio chegará ao fim.

Contudo um pequeno pedaço de papel fora jogado sobre seu caderno.

Arqueando a sobrancelha ele olhara de canto para o aluno novo, que parecia concentrado em fazer suas anotações. Voltando a encarar o pedaço de papel, o revirou buscando o remetente sem encontrar.

A curiosidade venceu.

Desdobrando o papel encontrara o recado.

Me chamo Gabriel, qual o seu nome?”.

Alerta vermelho! O alfa estava querendo puxar assunto consigo! Que caos, que caos.

Responderia?

Fingiria que não leria? Não, isso seria grosseria além de que ele já deve ter visto Theodore abrir o bilhete. O garoto só queria saber o seu nome. Provavelmente o agradeceria por dividir o livro, apenas isso. Não haveria nenhum problema em respondê-lo... Certo?

Droga, ele queria responder.

Admitira, com muita derrota, que estava feliz por aluno novo ter vindo conversar consigo por vontade própria.

Logo pegara sua lapiseira e respondera no mesmo papel.

Theodore”.

Deixara o pedaço de papel no meio do livro tentando se concentrar em suas anotações. O coração disparou em ver o aluno novo estender a mão para pegar o papel, e fora difícil controlar os batimentos quando se dera conta de que ele estaria lendo.

Será que acharia sua letra feia?

Fechando os olhos e balançando a cabeça, mais uma vez se repreendera.

Quando abrira novamente, o papel se encontrava sobre seu caderno mais uma vez. Contivera o ímpeto de abrir de imediato como se estivesse completamente ansioso em saber sua resposta. Por isso terminara de fazer algumas anotações, e somente então desdobrara o papel.

Olá, Theodore! Mais uma vez obrigado por dividir o seu livro comigo”.

Tinha razão, ele só queria agradecer. Mil vezes uma palavra de agradecimento do que um olhar de condenação. O problema era... O que responder.

Não queria puxar assunto para desenvolver amizade, só que também não queria guardar o bilhete e dar como encerrado. Se foi o aluno transferido que começou, então seria ele quem terminaria. Decidido, rabiscara o cantinho do papel.

Por nada”.

Entregando o papel ao meio do livro e voltando a fazer suas anotações, Theodore não fora capaz de controlar seu coração quando percebia que o aluno novo rasgara mais um pedaço de papel do caderno e escrevia nele.

Iria continuar? Por quê? A aula não poderia acabar não?

Quando o novo pedaço de papel fora jogado em seu caderno, Theodore o abriu logo. Dane-se se o aluno novo o consideraria curioso, ele era mesmo. Vestiria a camisa da curiosidade e descobriria o motivo de sua tormenta.

Foi em você que esbarrei mais cedo, não? Desculpe por aquilo”.

Oh, era verdade. Estava fugindo da fúria de Nicolas que esbarrou nele e ainda não pediu desculpas. Tinha perdido a coragem naquela hora, já que Mckenzie estava por perto lhe fitando com aqueles olhos maquiados justo no instante em que perderia os sentidos por causa do cheiro do alfa.

Independente se ele era amigo ou não daquela garota, Theodore iria se desculpar. Foi a educação que recebera de seus pais, e não poderia ser julgado por aquilo. Não poderia ser interpretado como se tivesse dando em cima do alfa, certo?

Rapidamente Theodore escrevera a resposta.

Eu que estava correndo no corredor sem olhar, foi mal”.

Devolvendo o bilhete, tornara a prestar atenção na aula. Ou tentar. Mas sua atenção estava acompanhando o aluno novo, que parecia calmo em pegar o bilhete, ler e responder antes de jogá-lo novamente para seu caderno.

Parecia não estar nervoso, ao contrário de Theodore. Suas bochechas esquentaram ao se dar conta de que poderia parecer ansioso em continuar com aquela conversa tão secreta. Comprimindo os lábios, o loiro suspirava pesadamente para se acalmar antes de segurar o novo bilhete.

Parecia se divertir com o seu amigo, então está perdoado”.

Theodore soltara um riso nasalado. Deveria contar à esse reles mortal de que ele estava fugindo pelo bem de sua vida, já que seu melhor amigo estava de mau humor? Não... O pouparia disso.

Sentindo sua orelha queimar, Theodore segurou a ponta fria da cartilagem e desviou o olhar para a direita. O alfa o olhava com o rosto apoiado na mão e um sorriso no rosto.

O que era aquilo? Por que o olhava daquele jeito?

Maldito fosse... Seu coração voltara a acelerar o batimento.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo