O time de vôlei era mediano, mas muito bom e forte. O professor Marcos era bacana com seus alunos, mas rígido com seus atletas durante dos treinos. Com o olhar afiado, não perdia nenhum detalhe ou informação dentro da quadra. Para alguém que nunca participou de uma partida de vôlei, Gabriel estava agradecido por ser devidamente guiado.
A sequência de treinos de saque era o último exercício do treino daquela tarde. Pela quadra coberta o eco dos tênis no amadeirado se espalhava junto com os gritos dos dez garotos que formavam o time oficial da escola.
Enfileirados para cumprir com o exercício, Gabriel prestava atenção no garoto baixinho cuja braçadeira apontava como capitão do time. Diferente dos demais jogadores, Nicolas saía correndo em disparada para dar um grande salto e fazer o corte na bola sobre a rede. Seu corte era forte o suficiente para que o impacto da bola no chão fosse alto se comparado com os demais.
Não tinha como não se surpreender com Nicolas.
— Mas como o tampinha é exibido! — Resmungava um garoto alto em uma careta.
Nicolas, por outro lado, apenas o olhara sobre o ombro com certa indiferença despontando um sorriso sarcástico para irritar seu colega de time. O que dera certo, já que Gabriel ouvira o outro resmungar enquanto se preparava para fazer o mesmo exercício.
Quando o apito soara indicando o final do treino, Gabriel se jogara no chão da quadra tentando recuperar seu fôlego perdido no treino. Uma toalha fora jogada sobre seu rosto, da qual usara para enxugar seu suor.
— Eai novato, já se sente parte do time?
Erguendo a toalha para encarar o sorriso charmoso de Milles, Gabriel se sentava no chão e enrolava a toalha em torno do seu pescoço.
— Dou conta de acompanhar o ritmo de vocês.
— É claro que dá, é um alfa. Já estou ansioso pelas eliminatórias, só pra ver a cara do desespero dos perdedores esse ano.
Arqueando a sobrancelha, Gabriel balançara a cabeça para os lados tornando a se secar com a toalha. Sua atenção tão breve fora roubada quando uma cabeleira loira se tornara presente na quadra coberta. Os dois garotos observavam Theodore ir até Nicolas e lhe entregar alguns papéis.
— E a princesa chegou. — O comentário fora ouvido por Gabriel, que imediatamente ergueu os olhos para Milles. O rapaz alto com as mãos na cintura já havia desfeito de seu sorriso galanteador de antes.
Theodore olhara na direção deles, tendo seu olhar encontrado o de Gabriel. Quando trocavam olhares se perdiam em uma conexão desconhecida e alucinante. O novo atleta acenara e sorrira para ele sem qualquer problema, recebendo em troca apenas um aceno de cabeça antes de Theodore sair da quadra.
Recebendo o olhar duvidoso de Milles, não se surpreendeu quando ele se agachara rapidamente ao seu lado para o fitar descaradamente.
— Você... É do time dele?
— Como é?
— Estava acenando para ele como se o conhecesse.
— Somos da mesma sala, e fazemos trabalhos juntos. Há algum problema nisso?
A resposta direta estava recheada de palavras nas entrelinhas, percebia Milles. Cruzando os braços sobre o joelho, o rapaz alto de cabelos também loiros despontara o sorriso de canto ao passar sussurrar para o novo colega de time.
— Não diretamente. Provavelmente você não sabe da história, não é?
A m*****a curiosidade surgira nos olhos castanhos de Gabriel. Desde o momento em que entrara naquela escola já havia percebido que Theodore e Mckenzie tinham uma briga ferrenha. Infelizmente nenhuma das partes lhe contara os detalhes, apenas deixando claro que o garoto loiro deveria ser evitado.
Tampouco Gabriel seria lerdo de não perceber que isso teria a ver com a orientação sexual e a classe de seu colega de classe. A pergunta que Theodore tinha feito mais cedo na aula fora a maior prova. Sentira naqueles olhos claros o medo de que Gabriel pensasse alguma coisa dele.
Agora que encarava os olhos âmbar de Milles, tinha a certeza de que o assunto poderia ser mais sério do que imaginava.
— Não sei, sou apenas o cara novo. Fui avisado que deveria me manter longe.
— Foi é? Então você escolheu se aproximar dele mesmo assim?
— A briga não é minha, Milles.
— Tem razão — Admitia o alfa coçando o queixo, desviando o olhar para o chão. — Faz o certo de tirar as próprias conclusões, mas não diga que não avisamos.
— Avisaram o quê?
Milles aproximou o rosto do de Gabriel com um sorriso largo no rosto, repleto de malícia. O aluno novo não ousara em se afastar, manteve-se parado e neutro apenas esperando o movimento do outro, que parou perto de seu rosto.
— Ele vai pedir pra ter a bunda comida por você.
Recebendo um forte tapa na cabeça, Milles massageava a cabeleira loura ao virar a cabeça irritadiço. Porém, não tão irritado quanto os olhos cansados e frios de um capitão baixinho.
— Está com fogo no rabo, Mckenzie? Parece que o treino de hoje foi fácil demais pra você, já que está tão energético pra falar merda.
— O marido já veio defender sua esposa.
Jogando a toalha branca sobre o ombro, Nicolas inclinava a cabeça ao sorrir ladino para Miles.
— Por quê? Está com medo de ter sua bunda comida também? Não precisa se preocupar, Theodore gosta de pessoas e não jumentos.
Gabriel comprimira os lábios se forçando a engolir o riso. Milles, furiosamente, se levantou peitando o seu capitão de time que não retrocedeu com a súbita ameaça de um metro de noventa na sua frente. Até mesmo liberara seus feromônios para obrigar o outro a retroceder.
— Você tem a boca bem suja pra um pirralho.
— As merdas que tanto fala devem ter respingado em mim. Não se preocupe, irei me limpar devidamente.
— Fica pra você, combina contigo.
Deveria intervir? Questionava-se Gabriel ainda sentado no chão cobrindo o nariz com aquele cheiro enjoativo. Como mero observador, sentia uma aura tensa e perigosa vinda daqueles dois que o impedia de sequer opinar sobre a discussão. Dependendo do que falasse eles entenderiam que tomara partido de um deles, o que aumentaria ainda mais a briga.
Gabriel, então, torcia para que o técnico aparecesse ali para aliviar a tensão.
O que não acontecera.
Nicolas apenas envolvera a toalha em torno da nuca de Milles, o puxando para que se curvasse e se aproximasse de si. Tal ato enrijecera a postura do alfa, que se esforçava para não ser puxado pelo mais baixo.
— Está com medo, Mckenzie? Não se preocupe, as cocotinhas podem cair aos seus pés, mas o meu Theo tem cérebro o suficiente para saber que gastar a saliva dele com gente como você é perda de tempo. Você não vale a pena o esforço. — Libertando o pescoço do alfa, Nicolas tornava a jogar a toalha sobre o ombro mantendo toda a sua pose egocêntrica quando dera as costas para os dois rapazes. — Limpem a quadra, já que tem energia ainda seu fedorento.
Nenhum dos dois garotos alfas disseram algo para aquele capitão marrento. Entretanto Gabriel podia dizer que o seu colega de time estava, de fato, emputecido. Sabiamente manteve-se em silêncio até sair da quadra.
A semana passara se arrastando para alguém que ansiava a chegada da sexta-feira.Theodore acreditava que ter sido honesto desde o começo fora o melhor para evitar problemas, uma vez que Gabriel se afastou de si até o dia em que o professor passara o trabalho.Pelo o que pudera ver, Gabriel ficara próximo de Sadie Mckenzie e do time de voleibol da escola. Como esperado sua popularidade crescia na medida em que seu talento atlético era lapidado pelo técnico.O aluno transferido brilhava como o sol no verão, sob os olhos claros de Theodore. O brilho era tanto que só podia ser admirado de longe.Fora um tanto quanto desapontador, admitia Theodore, não ter sido capaz de desenvolver uma boa amizade com o alfa. Mas era bem melhor do que aguentar ele e Nicolas brigando como fizeram no refeitório duas semanas atrás.Parecia que sua rotina retornara ao normal até um certo pro
Era um verdadeiro desafio não se apaixonar por Gabriel Jones.Principalmente quando ele estava tão perto ao ponto de sentir seu perfume amadeirado, ou então de ouvi-lo suspirar enquanto seus olhos castanhos passavam pelas linhas do caderno. Principalmente quando era simplesmente impossível não ficar olhando-o tão de perto, sem conseguir controlar seu coração de bater tão acelerado.Era simplesmente impossível.Theodore sentia vontade de se mexer à todo momento mesmo que quisesse permanecer parado. Sua nuca coçava, sua perna adormecia, sentia a bunda adormecer na cadeira. Tudo incomodava.Não... O que incomodava era a presença do alfa lendo suas respostas com tanta atenção e proximidade.O que mais lhe perturbava a mente era a incapacidade em não conseguir evitar de olhá-lo. Queria observá-lo.Theodore rendera-s
A família Mckenzie era muito conhecida naquela pequena cidade. Não seria para menos, uma vez que um pequeno garoto que sonhava em viajar pelo país crescera e tivera a ideia de criar uma rede de hotéis espalhado pelo território brasileiro. Mesmo que a prosperidade agraciasse a família Mckenzie, aquele homem – que um dia fora um garoto sonhador – não abandonou suas raízes no interior.Por ter tamanho prestígio carregado em seu sobrenome, Sadie fazia questão de manter a dignidade da família até na sua respiração. Pagasse o preço que fosse, nada poderia sujar o sobrenome. Dedicaria cada esforço seu para que a prosperidade advinda do sonho de seu pai apenas aumentasse.Justamente por visar um futuro brilhante, é que seus maquiados olhos castanhos recaíram sobre um alfa inteligente e dedicado que combinava exatamente com seu sonho. Gabriel
Batucando os dedos sobre a mesa de estudos, Gabriel ponderava sem desgrudar os olhos do perfil de Theodore no Orkut. Havia enviado a solicitação de amizade que até então se mantinha pendente, o que lhe incomodava.Já havia dado uma olhada no perfil de Sadie, visitando o perfil de cada pessoa cujo sobrenome fosse Mckenzie. Havia encontrado um rapaz jovem e bonito que tinha amizade tanto com Sadie quanto com Theodore. Jake Mckenzie parecia ser bonito, mas aos olhos de Gabriel ele era a encarnação do capeta.Seus cabelos eram platinados e tinha olhos claros, sendo o típico garoto alfa que as meninas surtariam por puro prazer. A principio não concluíra o seu desgosto ao primo de sua amiga, mas ao ler os depoimentos mais antigos no perfil de Theodore, o desgosto fora concretizado como uma lei universal.“Se você acordarE EstiverSendo C
O que fazer quando você percebe que alguém está te evitando?Retribuir o silêncio criando um espaço que deve ser respeitado, enquanto se espera a pessoa tomar a iniciativa em resolver o problema? Ou então ir atrás dela e perguntar o que raios estava acontecendo?Theodore ponderava sobre a primeira, já que ele não tinha tanta coragem em erguer o queixo e encabeçar uma discussão. Principalmente quando alguns dias atrás ele mesmo queria que Gabriel se distanciasse. Agora conseguiu.Deveria estar contente por ter conseguido, não? Contudo, Theodore se pegava constantemente olhando na direção do seu novo colega de classe. Olhadas rápidas e discretas, só pra saber o que ele estava fazendo.Na sala de aula Gabriel parecia concentrado nos estudos, fazendo anotações sem se importar em ser vigiado. No pátio ele se reunia com seu g
Theodore esperou que todos os jogadores tivessem saído do vestiário quando entrara segurando uma cesta de palha. Com o silêncio abundante, ele entrara tranquilamente para guardar os uniformes do time oficial nos armários. Como assistente do time, Theodore era responsável por cuidar dos uniformes, por isso os recolhia no sábado e os lavava para devolver na segunda-feira. Além de também cuidar da alimentação dos jogadores em dias de partidas, entre tantas outras tarefas. Entretanto, quando os rumores sobre sua sexualidade e classe começaram a se espalhar, sua tarefa se tornara mais difícil. Os jogadores simplesmente não ficavam mais à vontade com ele. Sempre o expulsavam do vestiário quando era final de treino, já que os rapazes tomavam uma ducha. Para piorar, ninguém quis tomar o lugar de Theodore como assistente. Na verdade até queriam, mas os jogadores já estavam acostumados com os mimos que o ômega loiro dava à eles. Que pessoa iria levar uniformes para lav
Depois de jogar a sua mochila no chão, Theodore se jogara na cama fechando os olhos. Um suspiro lhe escapara dos lábios ao se dar conta do quão cansado se sentia, e do quão acelerado batia o seu coração. — Por que você está assim hoje? — Sussurrava o rapaz ao acariciar o peito, onde podia sentir as fortes batidas. Era tão vívido as sensações em seu corpo, o abraço em seu cintura, a mal espalmada e o calor que dela emanava. Mas o que mais lhe fazia tremer ali na cama era lembrar da respiração quente de Gabriel contra o seu pescoço. Sua pele ainda se arrepiava só de recordar o quão próximo ambos estavam. Cobrindo os olhos com as mãos, tentara afastar aquelas lembranças. Era difícil quando pareciam tatuagens em sua memória. Sua mente queria repassar o calor, e o sangue pulsava com aquilo. Suas bochechas logo ficaram vermelhas, e Theodore abrira os olhos focando no teto do seu quarto tentando manter o controle. Estendendo a mão para o alto, fitara a sua p
Eram onze da noite quando Theodore pegara Lisa no colo para levá-la até seu quarto e deitá-la na cama. A menina tinha caído no sono depois de dançar High School Musical, e ainda teve energia para dançar o filme The Cheetah Girls. Depois disso ela ficou quietinha enquanto Theodore penteara seus cabelos loiros e compridos, fazendo uma trança. E então ela dormira. Encostando a porta do quarto com a plaquinha de unicórnios, o rapaz rira baixo em perceber o quão cansado estava. Não somente o dia tinha sido longo por causa do time de vôlei, como cuidar de uma criança de quatro anos pedia por muita energia. No instante em que pisara no último degrau da escadaria, tivera de respirar fundo para encontrar mais um pouco de energia para arrumar a sala. Mantas estavam espalhadas junto com travesseiros, o sofá fora arrastado para terem mais espaço para dançarem. E ainda haviam as vasilhas de pipoca e os copos onde beberam refrigerante. — Vamos lá! Enquanto arrumava