Minha mãe para ao lado de Alex, ainda um pouco hesitante. Está usando uma roupa leve, de treino, como a minha. Fico feliz em vê-la assim… não como a figura que sempre cuidou de mim, mas como alguém disposta a lutar. A se fortalecer ao meu lado. Sinto muito orgulho dela.— Está pronta? — pergunto, sorrindo com um pouco de nervosismo.Ela me encara, o mesmo sorriso tímido que eu conheço desde sempre surgindo em seus lábios.— Acho que estou… ou quase — ela confessa, ajeitando a blusa como se isso fosse resolver algo. — Faz tempo que não corro, Zoe.— Não vamos começar correndo — Lord responde, com a voz firme, mas o olhar atencioso. — Hoje é apenas o começo. Respiração, movimentação, postura.— Parece coisa demais — ela comenta, e eu noto a forma como ele a observa. Com cuidado. Com… reverência. É discreto, mas está ali, no modo como ele inclina levemente o corpo em direção a ela, como se o instinto estivesse o guiando. Quase como Alex comigo.— A gente começa devagar, mãe — digo, tenta
O cheiro de bolo recém-saído do forno preencheu o ar assim que voltamos do treinamento. A cozinha da casa estava aquecida, com as janelas levemente embaçadas pelo vapor que subia da chaleira e da rosca amanteigada ainda soltando fumaça no prato. Minha lobinha entrou primeiro, os cabelos ainda bagunçados do treino, as bochechas coradas e o sorriso iluminando o rosto. Segurei a porta para sua mãe passar, e logo atrás veio Lord, que insistiu em carregar o jarro de suco como se aquilo fosse uma missão de honra.— Ok, aviso logo — Zoe anunciou, já se jogando na cadeira da ponta da mesa. — Eu treinei, suei e apanhei. Quero duas fatias de bolo e rosca dobrada.— Duas fatias? — ri, puxando a cadeira ao seu lado e depositando um beijo na lateral do seu rosto. — Depois dizem que os Alfas têm apetite exagerado.— Eu sou uma loba em evolução, Alex. Preciso de energia. Crescimento. Desenvolvimento.— Isso aí — a mãe dela apoiou, sorrindo enquanto distribuía os pratos. — Crescimento exige alimentaç
Meu pai chegou antes do esperado. Quando senti seu cheiro no corredor principal da sede da alcateia, eu já soube que alguma coisa estava errada. Não era o tipo de chegada casual. Era tensa. Silenciosa demais. Como se ele tivesse voltado de um campo de batalha.Abro a porta da sala de reuniões antes mesmo que ele bata. —Está parecendo um espectro —comento, tentando suavizar o clima.— Eu preferia ser um — ele rebate, entrando. Os olhos, sempre firmes, agora carregam algo que nunca vi ali antes: incerteza.Zoe está sentada em uma das poltronas, as pernas dobradas de lado e uma xícara de chá entre as mãos. Quando ele entra, ela se ajeita rapidamente, sempre respeitosa. Meu pai a encara por alguns segundos antes de desviar o olhar para mim.— Precisamos conversar. Agora.— Lord está a caminho — aviso, puxando uma cadeira e sentando. — E minha sogra também. Todos os que precisam ouvir isso devem estar presentes.Ele solta um suspiro impaciente. — Não sei se temos tanto tempo assim para r
A porta se abriu com um rangido suave, e uma figura entrou com um ar de quem já sabia que todos os olhares estariam voltados para ela.— Gabriele? — perguntei, surpresa.— Só poderia ser ela. A garota possui cabelos cacheados lindos e uma pele morena.A bruxinha travessa sorriu como se tivesse acabado de aprontar alguma coisa. Seu vestido longo ondulava com o movimento leve, e os olhos dela brilharam ao me ver.— Olá, Zoe. Prazer finalmente conhecer você pessoalmente. — Ela olhou para Alex com um sorriso maroto. — E obrigada por me receber, alfa. Sua parceira é ainda mais poderosa do que você descreveu. Me desculpe pelo atraso. Tive alguns probleminhas na estrada.Alex resmungou, mas sorriu.— Achei que você pudesse nos ajudar a entender a origem da adaga. Nos falamos melhor sobre esses problemas mais tarde.— Claro, é por isso que estou aqui. E tudo já foi resolvido.— ela disse, se sentando e tirando da bolsa uma pequena bolsa de couro com símbolos bordados. — Mas antes, é bom que c
O ar da manhã ainda era frio quando pisei na terra macia da minha antiga aldeia. O chão úmido coberto por folhas trazia memórias que eu desejava manter guardadas, mas agora, com tudo vindo à tona, não havia mais como ignorar. O sol filtrava-se entre as árvores com certa timidez. Gabriele caminha ao meu lado, com as mãos nos bolsos da capa marrom escura que usa. Seus cabelos presos em duas tranças grossas e o tom sempre leve no olhar combinam com o estado do momento. A presença dela me trazia certa paz. Era confortável conversar com ela.— Dormiu bem? — ela perguntou, virando levemente o rosto na minha direção.— Mais ou menos — respondi, dando de ombros. — Sonhei com a adaga.— A que sua mãe encontrou?Assenti. Ela estava coberta de sangue no meu sonho. Mas o estranho é que… não era o sangue de ninguém que eu conheço. Era diferente. Escuro. Espesso. Quase como se tivesse uma energia própria.Minha mãe teve um sonho, e agora eu. Tudo ligado.Gabriele franziu o cenho e diminuiu o passo
Havia algo no ar… uma tensão sutil que parecia pulsar junto com a energia da adaga que Gabriele agora segurava entre os dedos.Ela estava ajoelhada no centro do círculo de pedras que havíamos preparado no meio da clareira. Runa por runa, Alex e Lord seguiram as instruções dela para marcar o chão com precisão. Eu me mantive ao lado da minha mãe, observando a expressão séria de Gabriele enquanto ela fechava os olhos e pousava a lâmina sobre um tecido vermelho-escuro, bordado com símbolos antigos. Símbolos que ela disse pertencerem à linguagem da Deusa.— Tudo pronto — murmurou, quase como se falasse com as próprias runas. — Se tiverem algo a dizer antes da leitura, agora é a hora.Olhei para Alex. Ele estava ao meu lado, com a mandíbula tensa e os braços cruzados sobre o peito. Sentia que ele já sabia que não gostaríamos do que estava por vir. Lord segurava a mão da minha mãe, o polegar acariciando os nós dos dedos dela com delicadeza. Ela parecia apreensiva, mas firme.— Pode começar
O céu já escurecia quando me afastei da casa. Caminhei em silêncio até o limite da clareira, onde a floresta começava a se tornar mais densa. O ar estava fresco, e o som dos galhos balançando nas árvores era a única coisa que me fazia companhia. Sabia que Gabriele me esperava ali, como tinha prometido. Ela sempre dizia que conversar embaixo das estrelas fazia a magia dela fluir melhor.— Achei que fosse me deixar esperando a noite inteira — disse ela quando me aproximei.Estava sentada sobre uma pedra coberta de musgo, com as pernas cruzadas, brincando com um pequeno galho entre os dedos. O cabelo ruivo solto brilhava sob a luz da lua, e seus olhos claros me encararam com aquela vivacidade que só a Gabriele tinha.— Eu precisava de um momento sozinha antes de vir — murmurei, me sentando ao lado dela.— É, dá pra ver. Está com a energia meio caótica — ela ergueu uma sobrancelha, divertida, e logo em seguida ficou mais séria. — Como estão suas marcas?— Estão normais… quer dizer, um pou
Acordei com os braços de Alex ao meu redor, firmes e possessivos, como se ele soubesse exatamente o momento em que eu pensaria em me mover. Sua respiração batia tranquila contra a curva do meu pescoço, quente e constante. Era quase impossível sair dali… quase.Me mexi devagar, tentando não acordá-lo. Só precisava ir ao banheiro, nada demais. Mas antes que eu conseguisse sequer tirar as cobertas de cima de nós, seu braço me apertou pela cintura.— Onde pensa que vai, minha lobinha? — ele murmurou com a voz ainda rouca de sono.Soltei uma risada baixa, sentindo o calor subir pelas minhas bochechas. — Banheiro. Só isso.— Não. Fica. — Ele me puxou de volta, colando meu corpo ao dele. — As marcas ainda estão quentes. Tão gostosa.Era verdade. As marcas estavam queimando com mais intensidade do que nos dias anteriores. E quanto mais o tempo passava, mais evidente se tornava que o cio estava próximo. Muito próximo.— Acha que é hoje? — perguntei, virando meu rosto para olhar em seus olhos.