— Técnica nova? — respiro, com o rosto colado ao dele. — Técnica desesperada — ele sorri, ainda com a boca colada na minha. — Estava prestes a perder. — Então eu ganhei. — Ganhou a queda. Perdeu a luta. — Discordo. Olha onde você tá agora. Ele olha. E o olhar que ele lança sobre mim faz meu corpo inteiro reagir. Como se estivesse sendo despido só com os olhos. Ele observa meu corpo debaixo do dele. Os seios subindo e descendo com a respiração pesada. O pescoço exposto. O rosto corado. Os olhos brilhando. A boca entreaberta. Ele engole em seco. — Droga, Zoe… — Eu sei. E então ele me beija. Não é um beijo doce. É bruto. É faminto. Como se o treino tivesse sido só uma desculpa pra chegar nesse momento. Como se ele precisasse de mim pra viver. Sua língua invade minha boca, quente, possessiva, e eu correspondo com a mesma intensidade. Meu quadril se ergue e encontra o dele. Ele já está duro, completamente duro, e não há mais o que fingir. — A gente devia… terminar o trei
A semana passou rápido. Rápido demais.Quando se passa a maior parte dos dias transando, é difícil manter a noção de tempo. Os minutos se misturam, as noites parecem durar horas a mais e os dias se dissolvem no calor da pele, nos suspiros abafados, nos lençóis bagunçados.Minhas marcas, que antes queimavam com uma força incontrolável, agora são apenas um sussurro do que já foram. Um sussurro quente, constante, que me lembra a cada instante que ele é meu. Que nós somos um.Termino de virar a panqueca com cuidado, deixando a massa dourar na frigideira. O cheiro do melaço se espalha pela cozinha da cabana, doce e envolvente. O tipo de aroma que se mistura com o calor da madeira, com a brisa suave da floresta, e com a sensação de que, por um breve momento, tudo está em paz.Sinto as mãos de Alex envolverem minha cintura por trás, fortes e quentes. Ele me abraça com aquele jeito apertado, possessivo e ao mesmo tempo terno. Seu peito nu encosta nas minhas costas, a pele úmida do banho recém
— Deixa comigo. Vai se transformar.— Sério? Vai lavar a louça como despedida?— Como prova de amor — ele pisca, e eu rio.— Poético.— Realista. Vai logo, minha lobinha. Tá na hora de voltarmos.Saio da cabana com um sorriso no rosto. A brisa da manhã bate suave na minha pele, ainda quente do banho. O céu está limpo, algumas nuvens se esticam como fios de algodão no azul pálido. O cheiro da floresta é fresco, úmido, familiar. A madeira da cabana atrás de mim ainda exala o calor das nossas últimas noites. Tudo está calmo. Calmo demais.Fecho os olhos por um instante, puxando o ar para dentro dos pulmões como se pudesse guardar essa paz por mais um tempo.E então, deixo que meu corpo se transforme.A mudança é rápida. Um segundo de calor subindo pela espinha, de energia vibrando sob a pele, e estou em minha forma lupina. Pelos brancos como neve, patas firmes no solo úmido, sentidos alertas. A floresta ganha novas camadas de som, cheiro e textura. Tudo é mais vivo aqui.Atrás de mim, ou
Sou recebido em casa pelo cheiro de bolo.Que saudade disso.O aroma é doce, envolvente, carrega lembranças que eu nem sabia que tinha. Madeira morna, mel, massa assando no forno. É o cheiro de casa. O cheiro de acolhimento.Zoe passa por mim em um movimento ágil, se transformando em segundos. A luz da manhã ainda toca sua pele por um breve momento antes que os pelos brancos surjam, suaves como neve ao vento. Seu corpo muda com facilidade, naturalidade. Ela já domina essa parte de si com leveza. Isso é bom. Muito bom.Significa que minha lobinha está cada vez mais preparada. Treinada. E que sua loba já se tornou parte dela. Um com ela. Assim como meu lobo e eu somos um só.Ela avança até a porta com aquele jeito leve e determinado, e antes que eu possa me aproximar, já a ouço girar a maçaneta.A porta se abre e, imediatamente, gritos felizes invadem o ar.— Minha filha! — a mãe dela diz, com a voz embargada de emoção.— Você voltou! — Gabi completa, correndo para abraçá-la.As três se
Sento-me novamente, aceitando a xícara de chá que a mãe de Zoe me oferece. A mesa está coberta com rosca, bolo, geleias caseiras e pão de mel ainda morno. O cheiro é acolhedor, e o calor do ambiente só não é maior do que o das risadas que já ecoam pela sala.Zoe se acomoda ao meu lado, e Gabi já está a mil, falando como se tivesse guardado a semana inteira dentro da garganta.— Vocês não têm noção do que foi isso aqui! — ela começa, toda animada. — Uma das cabras fugiu do cercado e foi parar no telhado da casa da Dona Cida. Juro. No telhado.— No telhado? — Zoe arregala os olhos. — Como isso é possível?— Eu também queria entender! Mas acho que aquele bode de olhar cínico ajudou. Conspiração pura. Dona Cida achou que era sinal da Deusa e tentou amarrar um lenço na cabeça da cabra.— Não acredito — Zoe leva a mão à boca, rindo.— E quando fui ajudar, ela tentou me expulsar com um ramo de alecrim — completa Lord, com a expressão mais séria do mundo, como se fosse rotina.— Isso acontece
Desde que me entendo por gente, há tinta preta espalhada pelo meu corpo. Os anciãos dizem que estou destinada ao mais poderoso dos alfas, pois jamais viram marcas tão extensas quanto as minhas.Quando uma fêmea nasce destinada a um alfa, ela carrega uma marca — quase como uma tatuagem. Quanto maior a marca, mais forte o lobo que a reivindicará. As minhas se espalham por toda parte, cobrindo minha pele como um mapa do destino. Apenas meu rosto ficou imaculado, mas o resto... cada centímetro carrega o sinal da minha sina.Eles podem nos sentir assim que completamos vinte anos. Seguem nosso rastro, atravessam matas e montanhas para nos levar para sua alcateia. Hoje é minha vigésima volta ao sol. O dia em que encontrarei meu lobo.O dia em que finalmente aprenderei a me transmutar.O dia em que verei minha outra forma pela primeira vez.Mal posso esperar pela lua. Sinto a impaciência pulsar em meu peito. Quero que ela suba depressa no céu, que banhe a terra com seu brilho prateado e traga
O cheiro dela.Forte. Viciante.Está me deixando louco. Transtornado.Na forma humana, ainda consigo conter meus instintos. Agora? É impossível. Meu lobo ruge dentro de mim, exigindo que eu me aproxime, que tome o que é meu. Mas não posso. Preciso lembrar por que não podemos tê-la, por que devemos protegê-la até de nós mesmos. Mas de nada adianta. Minha fera já decidiu. Ela nos pertence. E vamos tomá-la.O aroma dela se espalha pela floresta densa e escura, infiltrando-se em cada fibra do meu ser. O ar da noite está carregado, pesado, e a lua cheia brilha entre as copas das árvores, testemunha silenciosa do que está prestes a acontecer. Meu corpo se tenciona.Rosno. Ciúmes. Ódio.Não sou o único alfa aqui. Não sou o único que sente esse perfume intoxicante. Outros o percebem. Outros o desejam. Mas ela é minha. Sempre foi. Sempre será.O instinto me guia. Meus pés se movem antes mesmo que eu perceba. Avanço sem hesitar, rompendo galhos e folhas secas pelo caminho, até encontrá-la.Ela
Acordo quando o pelo quente e macio onde estou deitada se transforma em algo firme. Um peitoral duro. Muito duro. Meu corpo se ajusta automaticamente ao calor dele, e, por um instante, quase me rendo novamente ao sono. Mas meus olhos, ainda pesados, piscam algumas vezes antes de se abrirem completamente.A claridade suave invade meus sentidos. O cheiro amadeirado do quarto me envolve, misturado ao aroma fresco da natureza que vem da janela aberta. Estou na aldeia dele. Minha aldeia agora. Uma nova casa. Um novo começo.Meu estômago ronca em protesto, e o som quebra o silêncio confortável ao nosso redor. Minha última refeição foi o bolo que minha mãe fez para minha despedida, e a fome já se torna impossível de ignorar. Alex percebe. Seus olhos verdes pousam em mim com intensidade, analisando cada pequeno movimento meu, e então ele se levanta sem pressa. Um momento depois, retorna com uma tigela cheia de frutas maduras.— Coma. — Sua voz é uma ordem, mas há algo mais nela. Um tom rouco,