Entro em contato com a bruxa mais travessa — e mais talentosa — que conheço: Gabriele. A sorte é que ela também é a melhor no que faz, ou pelo menos é o que todas as outras bruxas gostam de dizer… mesmo rangendo os dentes.Atendo o cristal de comunicação com um toque.— Gabriele, consegue vir até minha alcateia até amanhã?A imagem dela aparece flutuando diante de mim, os cabelos ruivos soltos em ondas rebeldes e os olhos castanhos brilhando de curiosidade.— Olá, alfa. Do que exatamente precisa? — ela pergunta com aquele ar de quem já adivinhou que tem algo grande vindo por aí.— Quero que rastreie uma adaga pra mim. A mãe da minha parceira a encontrou. Achamos que pode ter alguma ligação com a deusa.Gabriele arregala levemente os olhos, inclinando o rosto como quem cheira magia antiga no ar.— Isso é realmente interessante. Muito. Pode ter sido um presente divino… ou um alerta. Posso chegar aí pela manhã.— Combinado. Manda um abraço pro Léo por mim.Léo. O alfa mais ranzinza que c
— Tem certeza que não vai me quebrar no meio?Cruzo os braços, tentando parecer confiante, mesmo sabendo que estou prestes a levar a maior surra da minha vida. De um lado, tenho Alex ,o meu alfa, parceiro e a coisa mais linda que já pisou na Terra ,e do outro lado, Lord, o brutamontes mais debochado que já conheci. E parceiro da minha mãe.— A menos que você seja feita de vidro, não — responde Lord, com aquele sorrisinho irritante que ele adora usar quando sabe que vai se divertir às minhas custas.— Eu tenho certeza que ela é feita de aço — Alex comenta, sorrindo de canto, os olhos brilhando de orgulho. — Mas vamos com calma hoje. Primeiro, noção de espaço. Depois, golpes básicos.— E se eu chutar vocês onde não devo? — pergunto, fingindo inocência. — Tipo… bem ali.Aponto discretamente para a parte estratégica do corpo de um lobo.Lord solta uma gargalhada tão alta que até os pássaros das árvores próximas levantam voo.— Eu vou amar ver isso acontecer.Alex apenas me lança um olhar
Minha mãe para ao lado de Alex, ainda um pouco hesitante. Está usando uma roupa leve, de treino, como a minha. Fico feliz em vê-la assim… não como a figura que sempre cuidou de mim, mas como alguém disposta a lutar. A se fortalecer ao meu lado. Sinto muito orgulho dela.— Está pronta? — pergunto, sorrindo com um pouco de nervosismo.Ela me encara, o mesmo sorriso tímido que eu conheço desde sempre surgindo em seus lábios.— Acho que estou… ou quase — ela confessa, ajeitando a blusa como se isso fosse resolver algo. — Faz tempo que não corro, Zoe.— Não vamos começar correndo — Lord responde, com a voz firme, mas o olhar atencioso. — Hoje é apenas o começo. Respiração, movimentação, postura.— Parece coisa demais — ela comenta, e eu noto a forma como ele a observa. Com cuidado. Com… reverência. É discreto, mas está ali, no modo como ele inclina levemente o corpo em direção a ela, como se o instinto estivesse o guiando. Quase como Alex comigo.— A gente começa devagar, mãe — digo, tenta
O cheiro de bolo recém-saído do forno preencheu o ar assim que voltamos do treinamento. A cozinha da casa estava aquecida, com as janelas levemente embaçadas pelo vapor que subia da chaleira e da rosca amanteigada ainda soltando fumaça no prato. Minha lobinha entrou primeiro, os cabelos ainda bagunçados do treino, as bochechas coradas e o sorriso iluminando o rosto. Segurei a porta para sua mãe passar, e logo atrás veio Lord, que insistiu em carregar o jarro de suco como se aquilo fosse uma missão de honra.— Ok, aviso logo — Zoe anunciou, já se jogando na cadeira da ponta da mesa. — Eu treinei, suei e apanhei. Quero duas fatias de bolo e rosca dobrada.— Duas fatias? — ri, puxando a cadeira ao seu lado e depositando um beijo na lateral do seu rosto. — Depois dizem que os Alfas têm apetite exagerado.— Eu sou uma loba em evolução, Alex. Preciso de energia. Crescimento. Desenvolvimento.— Isso aí — a mãe dela apoiou, sorrindo enquanto distribuía os pratos. — Crescimento exige alimentaç
Meu pai chegou antes do esperado. Quando senti seu cheiro no corredor principal da sede da alcateia, eu já soube que alguma coisa estava errada. Não era o tipo de chegada casual. Era tensa. Silenciosa demais. Como se ele tivesse voltado de um campo de batalha.Abro a porta da sala de reuniões antes mesmo que ele bata. —Está parecendo um espectro —comento, tentando suavizar o clima.— Eu preferia ser um — ele rebate, entrando. Os olhos, sempre firmes, agora carregam algo que nunca vi ali antes: incerteza.Zoe está sentada em uma das poltronas, as pernas dobradas de lado e uma xícara de chá entre as mãos. Quando ele entra, ela se ajeita rapidamente, sempre respeitosa. Meu pai a encara por alguns segundos antes de desviar o olhar para mim.— Precisamos conversar. Agora.— Lord está a caminho — aviso, puxando uma cadeira e sentando. — E minha sogra também. Todos os que precisam ouvir isso devem estar presentes.Ele solta um suspiro impaciente. — Não sei se temos tanto tempo assim para r
A porta se abriu com um rangido suave, e uma figura entrou com um ar de quem já sabia que todos os olhares estariam voltados para ela.— Gabriele? — perguntei, surpresa.— Só poderia ser ela. A garota possui cabelos cacheados lindos e uma pele morena.A bruxinha travessa sorriu como se tivesse acabado de aprontar alguma coisa. Seu vestido longo ondulava com o movimento leve, e os olhos dela brilharam ao me ver.— Olá, Zoe. Prazer finalmente conhecer você pessoalmente. — Ela olhou para Alex com um sorriso maroto. — E obrigada por me receber, alfa. Sua parceira é ainda mais poderosa do que você descreveu. Me desculpe pelo atraso. Tive alguns probleminhas na estrada.Alex resmungou, mas sorriu.— Achei que você pudesse nos ajudar a entender a origem da adaga. Nos falamos melhor sobre esses problemas mais tarde.— Claro, é por isso que estou aqui. E tudo já foi resolvido.— ela disse, se sentando e tirando da bolsa uma pequena bolsa de couro com símbolos bordados. — Mas antes, é bom que c
O ar da manhã ainda era frio quando pisei na terra macia da minha antiga aldeia. O chão úmido coberto por folhas trazia memórias que eu desejava manter guardadas, mas agora, com tudo vindo à tona, não havia mais como ignorar. O sol filtrava-se entre as árvores com certa timidez. Gabriele caminha ao meu lado, com as mãos nos bolsos da capa marrom escura que usa. Seus cabelos presos em duas tranças grossas e o tom sempre leve no olhar combinam com o estado do momento. A presença dela me trazia certa paz. Era confortável conversar com ela.— Dormiu bem? — ela perguntou, virando levemente o rosto na minha direção.— Mais ou menos — respondi, dando de ombros. — Sonhei com a adaga.— A que sua mãe encontrou?Assenti. Ela estava coberta de sangue no meu sonho. Mas o estranho é que… não era o sangue de ninguém que eu conheço. Era diferente. Escuro. Espesso. Quase como se tivesse uma energia própria.Minha mãe teve um sonho, e agora eu. Tudo ligado.Gabriele franziu o cenho e diminuiu o passo
Havia algo no ar… uma tensão sutil que parecia pulsar junto com a energia da adaga que Gabriele agora segurava entre os dedos.Ela estava ajoelhada no centro do círculo de pedras que havíamos preparado no meio da clareira. Runa por runa, Alex e Lord seguiram as instruções dela para marcar o chão com precisão. Eu me mantive ao lado da minha mãe, observando a expressão séria de Gabriele enquanto ela fechava os olhos e pousava a lâmina sobre um tecido vermelho-escuro, bordado com símbolos antigos. Símbolos que ela disse pertencerem à linguagem da Deusa.— Tudo pronto — murmurou, quase como se falasse com as próprias runas. — Se tiverem algo a dizer antes da leitura, agora é a hora.Olhei para Alex. Ele estava ao meu lado, com a mandíbula tensa e os braços cruzados sobre o peito. Sentia que ele já sabia que não gostaríamos do que estava por vir. Lord segurava a mão da minha mãe, o polegar acariciando os nós dos dedos dela com delicadeza. Ela parecia apreensiva, mas firme.— Pode começar