O calor da lareira dançava nas paredes da cabana enquanto Helena tentava processar tudo que Erik havia lhe contado. Mas antes que pudesse organizar seus pensamentos, o som distante de algo rompendo a calma do bosque chegou até seus ouvidos. Erik, no entanto, congelou imediatamente. Sua postura relaxada desapareceu, e seus olhos dourados brilharam com uma intensidade feroz.
— O que foi isso? — Helena perguntou, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
Erik ergueu uma mão, pedindo silêncio, e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse escutando algo que ela não conseguia ouvir. Ele se moveu com a precisão de um predador, atravessando a sala até uma janela pequena e entreaberta. Do lado de fora, a floresta parecia inerte, mas o brilho nos olhos dele indicava que algo estava errado.
— Fique aqui. — Ele murmurou, sem sequer olhar para ela.
— O quê? Não! O que está acontecendo? — Helena protestou, mas ele já estava pegando uma espada curta que estava apoiada na parede. A arma parecia tosca, mas a maneira como ele a segurava demonstrava experiência.
— Caçadores. — A palavra saiu dos lábios de Erik com um tom sombrio. Ele finalmente olhou para ela, sua expressão severa. — Se eu não voltar em dez minutos, corra. Para o norte. Não olhe para trás.
— Dez minutos? Você está brincando? Erik, eu não… — Ela foi interrompida pelo som de passos pesados vindo da floresta. Desta vez, até mesmo ela conseguiu ouvir.
Erik rosnou baixo, um som gutural que não parecia completamente humano. Antes que Helena pudesse dizer mais alguma coisa, ele abriu a porta e desapareceu na noite.
Sozinha, Helena sentiu o coração acelerar. Ela queria correr atrás dele, gritar para que não a deixasse sozinha, mas algo em sua voz e na maneira como ele saiu a fez hesitar. Em vez disso, ela foi até a janela, tentando ver o que estava acontecendo.
Então ela os viu. Homens. Pelo menos cinco, talvez mais, se movendo em formação. Cada um deles carregava armas que brilhavam fracamente sob a luz da lua: espadas, lanças e arcos. Eles não pareciam simples viajantes. Havia algo metódico em seus movimentos, como se fossem caçadores experientes.
— A cabana está logo ali. Ele deve estar escondendo algo. — A voz de um deles cortou o ar, fria e cruel.
Helena recuou da janela, o coração martelando. Eles estavam vindo para cá. Sua mente disparou em todas as direções, tentando encontrar uma solução. Erik havia dito para ela correr, mas para onde? Ela não conhecia aquele lugar. Antes que pudesse decidir o que fazer, um som ensurdecedor de metal contra metal ecoou pela floresta.
Ela correu para a porta, abrindo-a apenas uma fresta. A cena que viu a fez prender a respiração.
Erik estava no meio de uma clareira, enfrentando dois dos homens. Ele havia se transformado parcialmente, suas mãos agora terminando em garras afiadas, e seus olhos brilhavam como brasas. Apesar de estar em desvantagem numérica, ele se movia com uma graça letal, desviando dos golpes e atacando com precisão.
Um dos homens tentou golpeá-lo com uma espada, mas Erik desviou com facilidade, agarrando o homem pelo braço e jogando-o contra uma árvore com força suficiente para fazer a madeira estremecer. O outro aproveitou a abertura para atacar pelas costas, mas Erik girou rapidamente, bloqueando o golpe com sua própria espada.
Helena sentiu medo e fascínio ao assistir à cena. Erik era uma força da natureza, mas os caçadores eram implacáveis. Antes que ela pudesse reagir, mais dois homens surgiram das sombras, cercando-o.
— Você não pode lutar contra todos nós, lobo. — Um dos caçadores falou, sua voz carregada de desdém.
Erik apenas rosnou em resposta.
Helena sabia que ele estava em perigo. Sem pensar muito, ela pegou uma das facas que estava sobre a mesa e saiu da cabana. Seus instintos gritavam para que ela voltasse, mas algo dentro dela a empurrava para a frente. Ela não podia simplesmente ficar parada enquanto ele enfrentava todos aqueles homens sozinho.
— Erik! — Ela gritou, tentando chamar a atenção dele.
Seu grito fez com que os caçadores olhassem em sua direção, mas também distraiu Erik por um breve momento. Um dos homens aproveitou a oportunidade para atacá-lo, golpeando sua perna com uma espada. Erik grunhiu de dor, caindo de joelhos.
— Não! — Helena correu na direção deles, segurando a faca com mãos trémulas. Ela sabia que não era forte o suficiente para enfrentá-los, mas precisava fazer algo.
Antes que pudesse chegar até Erik, um dos caçadores bloqueou seu caminho, apontando uma lança para ela.
— Fique onde está, garota. Não queremos machucar você. Ainda. — Ele sorriu de maneira cruel.
Helena congelou, mas seus olhos permaneceram fixos em Erik, que agora lutava para se levantar. Ele olhou para ela, e algo em seu olhar dizia tudo: ela havia cometido um erro.
Mas antes que o homem pudesse fazer qualquer coisa, um som baixo e ameaçador ecoou pela floresta. Um uivo, longo e cheio de fúria. Os caçadores ficaram tensos, olhando ao redor.
— O que foi isso? — Um deles perguntou, nervoso.
Erik sorriu, apesar do sangue escorrendo por sua perna.
— Vocês mexeram com o lobo errado. — Ele disse, sua voz cheia de desafio.
De repente, das sombras, surgiram outros olhos brilhantes. Mais lobos. Eles eram enormes, suas formas quase indistinguíveis das sombras ao seu redor, mas seus olhos brilhavam como tochas.
Os caçadores se agruparam, levantando suas armas, mas era tarde demais. Os lobos atacaram em sincronia, movendo-se como uma única entidade. Helena recuou, observando a cena com uma mistura de alívio e terror.
Erik aproveitou a confusão para atacar novamente, derrubando um dos homens que o cercavam. Ele se movia com uma fúria renovada, como se a presença dos outros lobos tivesse lhe dado forças.
Em poucos minutos, os caçadores estavam vencidos. Alguns fugiram para as sombras, enquanto outros caíram diante dos lobos. Erik, agora completamente transformado em sua forma lupina, uivou para o céu, declarando sua vitória.
Helena permaneceu onde estava, incapaz de se mover. Quando tudo terminou, Erik voltou para ela, sua forma humana retornando gradualmente. Ele estava ferido, mas havia uma satisfação feroz em seu olhar.
— Eu disse para você ficar na cabana. — Ele disse, sua voz baixa e cheia de irritação.
Helena abriu a boca para responder, mas fechou-a novamente. Ela sabia que ele estava certo. Mas algo dentro dela se recusava a aceitar a ideia de ficar parada enquanto ele lutava sozinho.
— Eu não podia… — Ela começou, mas ele ergueu uma mão, interrompendo-a.
— Você quase se matou. E quase me matou também. — Ele se aproximou, os olhos fixos nos dela. — Da próxima vez, obedeça.
Helena sentiu a raiva crescer dentro dela, mas conteve-se. Ele tinha razão, mas isso não significava que ela gostasse de ser tratada como uma criança.
— Certo. Mas se você espera que eu apenas assista enquanto você morre, vai se decepcionar. — Ela respondeu, cruzando os braços.
Erik a encarou por um longo momento antes de soltar um suspiro pesado.
— Você é mais teimosa do que eu imaginava. — Ele disse, antes de se virar e começar a caminhar de volta para a cabana. — Vamos. Precisamos cuidar dos meus ferimentos. E dos seus.
Helena o seguiu, sentindo que aquele era apenas o começo de algo muito maior. O perigo não havia passado, mas pelo menos agora ela sabia que não estava completamente sozinha. E, apesar de tudo, havia algo em Erik que a fazia sentir que, de alguma forma, ela poderia sobreviver a Eryndor.
Mas ela também sabia que os caçadores voltariam. E da próxima vez, talvez não fossem tão fáceis de enfrentar.
Capítulo 5 Helena estava ajoelhada no chão da cabana, segurando uma tigela de água morna e um pano limpo. A luz da lua entrava pela janela, iluminando a silhueta de Erik, que estava sentado em uma cadeira com a camisa rasgada, expondo os cortes e hematomas da batalha contra os caçadores. — Você precisa ficar quieto, ou isso vai piorar. — Ela disse, molhando o pano e começando a limpar um dos cortes em seu ombro. Erik soltou um grunhido, mas não se moveu. — Não estou reclamando, estou? Helena revirou os olhos, mas continuou o trabalho. Os cortes não eram tão profundos, mas os hematomas ao redor mostravam que os golpes tinham sido brutais. — Sabe, eu ainda não entendo por que eles ajudaram você naquela hora, mas depois foram embora. Não parecia que gostavam de você, mas também não pareciam dispostos a te abandonar. — A voz dela carregava curiosidade, mas também uma pitada de cautela. Erik ficou em silêncio por alguns segundos, observando-a trabalhar. — Eles não estavam lá por mi
Capítulo 6O silêncio da cabana era preenchido apenas pelo estalar ocasional do fogo na lareira. Erik estava sentado na mesma cadeira de madeira, o torso exposto e os braços apoiados nos joelhos. Observava Helena enquanto ela separava as ervas que ele havia indicado. Ela parecia concentrada, as sobrancelhas franzidas levemente, os lábios pressionados enquanto mastigava uma dúvida interna.Ele tentou ignorar o modo como o cheiro dela preenchia o espaço, mas era inútil. Aquele aroma era doce e inebriante, misturando algo familiar e antigo, como se evocasse memórias de uma vida que ele nunca teve. O lobo dentro dele rosnava de forma incessante, quase delirante."Toque-a de volta.""Ela nos pertence.""Por que está tão longe? O cheiro dela é nosso."Erik apertou os punhos, respirando fundo.— Você está quieto demais. — Helena comentou, a voz cortando o ar. Ela ergueu os olhos para ele, segurando uma tigela com as ervas que havia esmagado. — Está com dor?Ele inclinou a cabeça, tentando pa
Capítulo 7 A noite envolvia a cabana como um manto silencioso. O vento passava pelas árvores ao redor, sussurrando segredos esquecidos de um mundo condenado. No interior, a luz fraca do fogo lançava sombras oscilantes nas paredes de madeira rústica. Helena estava deitada sobre a cama improvisada de peles, sentindo o calor da fogueira acariciar sua pele. Ainda estava acordada, os pensamentos girando sem descanso. Ao seu lado, Erik repousava, ou pelo menos fingia. Seu corpo era uma presença sólida e quente, um lembrete constante de tudo o que havia mudado desde que ela chegara a Eryndor. O silêncio entre eles não era incômodo, mas carregado de perguntas não feitas. Finalmente, Helena rompeu a barreira do silêncio. — Você sabia, não sabia? — Sua voz soou baixa, hesitante. Erik abriu os olhos dourados, virando levemente a cabeça para encará-la. — Sobre o quê? — Ele perguntou, embora soubesse exatamente do que ela falava. Ela se virou para o lado, ficando de frente para ele.
Capítulo 8O amanhecer trouxe consigo uma névoa fina que se erguia dos campos ao redor da cabana. O ar estava fresco, carregado com o cheiro úmido das folhas e da terra. Helena puxou a manta ao redor do corpo, sentindo um arrepio que não vinha apenas do frio.Erik já estava de pé. Observava a clareira diante deles, os braços cruzados sobre o peito forte. Seus olhos dourados captavam cada movimento ao redor, como se estivessem sempre em alerta. Quando percebeu que Helena se aproximava, virou-se para ela com um meio sorriso.— Está pronta? — Ele perguntou, a voz rouca pelo frio da manhã.Helena hesitou por um momento, mas assentiu. Se quisesse sobreviver em Eryndor, precisava aprender.Erik levou-a até um espaço aberto entre as árvores, onde a grama era baixa e o solo firme. Ele girou uma pequena adaga entre os dedos e a entregou a ela.— Primeira lição: nunca confie apenas na magia. O corpo também precisa saber lutar.Helena segurou a lâmina, sentindo o peso frio em sua mão. Parecia pe
Capítulo 9A noite já havia se instalado sobre Eryndor, e a única luz que iluminava a clareira era a fogueira crepitante diante de Helena e Erik. O calor da chama pintava sombras no rosto dele, acentuando os contornos fortes de sua mandíbula e a intensidade dourada de seus olhos.Helena ainda sentia o peso do treinamento do dia em seus músculos, mas sua mente estava inquieta. Havia algo que não saía de sua cabeça desde aquele momento mais cedo, quando a pele de Erik roçou contra a sua e seus dedos deslizaram instintivamente até a marca no pescoço dele.Ela nunca havia reparado de verdade naquilo antes. Sim, já tinha visto a marca algumas vezes, mas nunca prestara atenção. Agora, porém, sentia que algo estava diferente… Ou talvez fosse apenas a forma como Erik reagira ao seu toque.Ela observou Erik pelo canto do olho. Ele parecia concentrado no fogo, mas algo em sua postura indicava que ele também estava imerso em pensamentos.Helena mordeu o lábio, reunindo coragem antes de perguntar
Capítulo 10A tensão entre eles ainda pairava no ar quando Erik virou bruscamente a cabeça, seu corpo inteiro se enrijecendo. Helena seguiu seu olhar para a escuridão da floresta, mas tudo o que viu foi a silhueta retorcida das árvores.— Erik? — Sua voz saiu baixa, mas cheia de alerta.Ele ergueu a mão, pedindo silêncio. Seus olhos dourados estavam fixos em um ponto além da névoa rasteira. Então, ele sussurrou:— Eles estão aqui.O sangue de Helena gelou.— Os caçadores?Erik assentiu lentamente, sua expressão sombria.— São pelo menos cinco. Eles estão nos cercando.O coração de Helena martelava. Ela se levantou de um salto, sentindo o corpo ainda dolorido do treinamento.— E agora? Fugimos?— Se ficarmos, teremos que lutar. Mas se corrermos… — Ele inspirou fundo, analisando a situação. — Podemos ter uma chance de despistá-los antes que nos alcancem.Helena não hesitou.— Então corremos.Sem mais uma palavra, Erik segurou sua mão e puxou-a consigo para dentro da floresta. O mundo ao
Capítulo 1Helena corria desesperada pela floresta, tropeçando nas folhagens e nos galhos escondidos entre elas. Suas mãos e joelhos estavam esfolados e doloridos, pois os usava para se apoiar cada vez que caia. Apavorada, levantou apressada na expectativa de não ser alcançada. Ela podia escutar nitidamente as vozes masculinas que se aproximavam dela.— Você não pode fugir para sempre, garota! — Um deles gritou, a voz rouca com crueldade transparecendo em seu tom de voz.Helena não olhou para trás. Ela sabia que, se parasse, seria o fim. O medo a corroía por dentro, e o terreno traiçoeiro da floresta começava a cobrar seu preço. Seus pés descalços estavam feridos, os galhos rasgavam sua pele, mas ela não desistiria. Continuaria correndo.— Apenas parem! Por que estão fazendo isso comigo? — Ela gritou, mais para o vazio do que para os homens que a perseguiam.Nenhuma resposta veio além de risadas sinistras.Mais uma vez, Helena tropeçou em uma raiz exposta, caindo de joelhos. Suas mãos
Capítulo 2Helena ficou ali, ajoelhada na terra úmida, tentando compreender o que acabara de acontecer. Sua respiração vinha em arfadas curtas, o coração martelando contra o peito como se quisesse escapar. A marca em seu pescoço ainda ardia, irradiando uma sensação estranha que ia além da dor. Era como se algo nela tivesse mudado, algo profundo e irreversível.Ela olhou ao redor, tentando se orientar na floresta que agora parecia mais viva e ao mesmo tempo ameaçadora.O lobo negro, ou seja lá o que Erik fosse, havia desaparecido, deixando-a sozinha. Mas mesmo na ausência dele, Helena sentia sua presença, como se uma parte dele estivesse grudada nela. Era perturbador e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente reconfortante.“Eu não pertenço a ninguém”, pensou, tentando reunir forças. Mas as palavras dele ainda ecoavam em sua mente. “Agora você é minha.”Helena balançou a cabeça, determinada a não deixar o medo dominá-la. Ela se ergueu, apoiando-se em uma árvore próxima. Não sabia para onde i