Capítulo 4

Capítulo 4

O calor da lareira dançava nas paredes da cabana enquanto Helena tentava processar tudo que Erik havia lhe contado. Mas antes que pudesse organizar seus pensamentos, o som distante de algo rompendo a calma do bosque chegou até seus ouvidos. Erik, no entanto, congelou imediatamente. Sua postura relaxada desapareceu, e seus olhos dourados brilharam com uma intensidade feroz.

— O que foi isso? — Helena perguntou, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.

Erik ergueu uma mão, pedindo silêncio, e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse escutando algo que ela não conseguia ouvir. Ele se moveu com a precisão de um predador, atravessando a sala até uma janela pequena e entreaberta. Do lado de fora, a floresta parecia inerte, mas o brilho nos olhos dele indicava que algo estava errado.

— Fique aqui. — Ele murmurou, sem sequer olhar para ela.

— O quê? Não! O que está acontecendo? — Helena protestou, mas ele já estava pegando uma espada curta que estava apoiada na parede. A arma parecia tosca, mas a maneira como ele a segurava demonstrava experiência.

— Caçadores. — A palavra saiu dos lábios de Erik com um tom sombrio. Ele finalmente olhou para ela, sua expressão severa. — Se eu não voltar em dez minutos, corra. Para o norte. Não olhe para trás.

— Dez minutos? Você está brincando? Erik, eu não… — Ela foi interrompida pelo som de passos pesados vindo da floresta. Desta vez, até mesmo ela conseguiu ouvir.

Erik rosnou baixo, um som gutural que não parecia completamente humano. Antes que Helena pudesse dizer mais alguma coisa, ele abriu a porta e desapareceu na noite.

Sozinha, Helena sentiu o coração acelerar. Ela queria correr atrás dele, gritar para que não a deixasse sozinha, mas algo em sua voz e na maneira como ele saiu a fez hesitar. Em vez disso, ela foi até a janela, tentando ver o que estava acontecendo.

Então ela os viu. Homens. Pelo menos cinco, talvez mais, se movendo em formação. Cada um deles carregava armas que brilhavam fracamente sob a luz da lua: espadas, lanças e arcos. Eles não pareciam simples viajantes. Havia algo metódico em seus movimentos, como se fossem caçadores experientes.

— A cabana está logo ali. Ele deve estar escondendo algo. — A voz de um deles cortou o ar, fria e cruel.

Helena recuou da janela, o coração martelando. Eles estavam vindo para cá. Sua mente disparou em todas as direções, tentando encontrar uma solução. Erik havia dito para ela correr, mas para onde? Ela não conhecia aquele lugar. Antes que pudesse decidir o que fazer, um som ensurdecedor de metal contra metal ecoou pela floresta.

Ela correu para a porta, abrindo-a apenas uma fresta. A cena que viu a fez prender a respiração.

Erik estava no meio de uma clareira, enfrentando dois dos homens. Ele havia se transformado parcialmente, suas mãos agora terminando em garras afiadas, e seus olhos brilhavam como brasas. Apesar de estar em desvantagem numérica, ele se movia com uma graça letal, desviando dos golpes e atacando com precisão.

Um dos homens tentou golpeá-lo com uma espada, mas Erik desviou com facilidade, agarrando o homem pelo braço e jogando-o contra uma árvore com força suficiente para fazer a madeira estremecer. O outro aproveitou a abertura para atacar pelas costas, mas Erik girou rapidamente, bloqueando o golpe com sua própria espada.

Helena sentiu medo e fascínio ao assistir à cena. Erik era uma força da natureza, mas os caçadores eram implacáveis. Antes que ela pudesse reagir, mais dois homens surgiram das sombras, cercando-o.

— Você não pode lutar contra todos nós, lobo. — Um dos caçadores falou, sua voz carregada de desdém.

Erik apenas rosnou em resposta.

Helena sabia que ele estava em perigo. Sem pensar muito, ela pegou uma das facas que estava sobre a mesa e saiu da cabana. Seus instintos gritavam para que ela voltasse, mas algo dentro dela a empurrava para a frente. Ela não podia simplesmente ficar parada enquanto ele enfrentava todos aqueles homens sozinho.

— Erik! — Ela gritou, tentando chamar a atenção dele.

Seu grito fez com que os caçadores olhassem em sua direção, mas também distraiu Erik por um breve momento. Um dos homens aproveitou a oportunidade para atacá-lo, golpeando sua perna com uma espada. Erik grunhiu de dor, caindo de joelhos.

— Não! — Helena correu na direção deles, segurando a faca com mãos trémulas. Ela sabia que não era forte o suficiente para enfrentá-los, mas precisava fazer algo.

Antes que pudesse chegar até Erik, um dos caçadores bloqueou seu caminho, apontando uma lança para ela.

— Fique onde está, garota. Não queremos machucar você. Ainda. — Ele sorriu de maneira cruel.

Helena congelou, mas seus olhos permaneceram fixos em Erik, que agora lutava para se levantar. Ele olhou para ela, e algo em seu olhar dizia tudo: ela havia cometido um erro.

Mas antes que o homem pudesse fazer qualquer coisa, um som baixo e ameaçador ecoou pela floresta. Um uivo, longo e cheio de fúria. Os caçadores ficaram tensos, olhando ao redor.

— O que foi isso? — Um deles perguntou, nervoso.

Erik sorriu, apesar do sangue escorrendo por sua perna.

— Vocês mexeram com o lobo errado. — Ele disse, sua voz cheia de desafio.

De repente, das sombras, surgiram outros olhos brilhantes. Mais lobos. Eles eram enormes, suas formas quase indistinguíveis das sombras ao seu redor, mas seus olhos brilhavam como tochas.

Os caçadores se agruparam, levantando suas armas, mas era tarde demais. Os lobos atacaram em sincronia, movendo-se como uma única entidade. Helena recuou, observando a cena com uma mistura de alívio e terror.

Erik aproveitou a confusão para atacar novamente, derrubando um dos homens que o cercavam. Ele se movia com uma fúria renovada, como se a presença dos outros lobos tivesse lhe dado forças.

Em poucos minutos, os caçadores estavam vencidos. Alguns fugiram para as sombras, enquanto outros caíram diante dos lobos. Erik, agora completamente transformado em sua forma lupina, uivou para o céu, declarando sua vitória.

Helena permaneceu onde estava, incapaz de se mover. Quando tudo terminou, Erik voltou para ela, sua forma humana retornando gradualmente. Ele estava ferido, mas havia uma satisfação feroz em seu olhar.

— Eu disse para você ficar na cabana. — Ele disse, sua voz baixa e cheia de irritação.

Helena abriu a boca para responder, mas fechou-a novamente. Ela sabia que ele estava certo. Mas algo dentro dela se recusava a aceitar a ideia de ficar parada enquanto ele lutava sozinho.

— Eu não podia… — Ela começou, mas ele ergueu uma mão, interrompendo-a.

— Você quase se matou. E quase me matou também. — Ele se aproximou, os olhos fixos nos dela. — Da próxima vez, obedeça.

Helena sentiu a raiva crescer dentro dela, mas conteve-se. Ele tinha razão, mas isso não significava que ela gostasse de ser tratada como uma criança.

— Certo. Mas se você espera que eu apenas assista enquanto você morre, vai se decepcionar. — Ela respondeu, cruzando os braços.

Erik a encarou por um longo momento antes de soltar um suspiro pesado.

— Você é mais teimosa do que eu imaginava. — Ele disse, antes de se virar e começar a caminhar de volta para a cabana. — Vamos. Precisamos cuidar dos meus ferimentos. E dos seus.

Helena o seguiu, sentindo que aquele era apenas o começo de algo muito maior. O perigo não havia passado, mas pelo menos agora ela sabia que não estava completamente sozinha. E, apesar de tudo, havia algo em Erik que a fazia sentir que, de alguma forma, ela poderia sobreviver a Eryndor.

Mas ela também sabia que os caçadores voltariam. E da próxima vez, talvez não fossem tão fáceis de enfrentar.

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