Capítulo 13A noite caía lentamente sobre a floresta, trazendo consigo um silêncio peculiar. O vento soprava entre as árvores, carregando o cheiro da madeira úmida e do musgo, enquanto pequenos feixes de luz dourada do pôr do sol ainda dançavam entre as folhas. Helena sentiu um arrepio percorrer sua pele ao descer da sela de seu cavalo. O dia havia sido longo, marcado por batalhas e negociações tensas com a Tribo do Urso, e seu corpo clamava por descanso.— Há um riacho logo adiante. — Erik disse, desmontando ao lado dela. — Podemos aproveitar para nos limpar antes de continuar.Helena suspirou em alívio. O suor e a poeira da viagem estavam grudados em sua pele, e a ideia de se banhar em águas frescas era tentadora. Ela o seguiu pela trilha estreita até uma clareira onde um riacho serpenteava entre as pedras, refletindo as primeiras estrelas da noite. A água parecia cristalina, movendo-se suavemente sob a luz tênue.— Você primeiro. — Erik disse, jogando sua capa sobre uma pedra.Hele
Capítulo 14Desde que a Lua Vermelha brilhara no céu na noite anterior, algo dentro dela parecia diferente.Ela se movia com mais leveza, seus sentidos estavam mais aguçados, e a magia que antes parecia uma força bruta incontrolável agora pulsava de forma mais harmoniosa dentro de seu corpo. Mas, ao mesmo tempo, um nó persistente se formava em seu peito.Eryndor não era seu lar.Ou, pelo menos, não deveria ser.Helena passara os últimos dias tentando sobreviver, e agora tentava se adaptar. As roupas modernas que vestira ao chegar ali haviam sido substituídas por trajes mais adequados àquele mundo. Um conjunto de calças de couro flexível, uma túnica leve e um cinto adornado com pequenas facas. Suas botas eram feitas à mão, resistentes e confortáveis. O tecido áspero das roupas lhe causara estranhamento no início, mas agora já fazia parte de sua rotina.Ela passara a maior parte da manhã explorando os arredores da aldeia, esperando Erik retornar da caça. Ele não estava longe, mas ela sa
Capítulo 15Os dias na tribo do urso haviam sido tranquilos, mas Erik não conseguia se livrar da sensação de que essa calmaria era enganosa. Havia algo no ar, um pressentimento incômodo que o deixava inquieto. Ele observava os membros da tribo enquanto trabalhavam, caçavam e conviviam em perfeita harmonia, mas sentia um peso no peito. Como se algo estivesse à espreita, apenas esperando o momento certo para se revelar.Além disso, havia outro detalhe que o incomodava profundamente. Os olhares dos ursos sobre Helena.Ele não podia culpá-los. Helena carregava algo que os atraía. Sua linhagem, sua aura, o sangue da deusa pulsando em suas veias. Os transmorfos da tribo do urso eram instintivos, e ele sentia o desejo bruto que emanava deles sempre que sua companheira estava por perto. O único motivo pelo qual não haviam agido de forma mais direta era a presença de Erik ao lado dela, um aviso silencioso de que ela não estava disponível.Mas ele não gostava disso. Não gostava da forma como a
Capítulo 16Helena e Erik haviam se estabelecido em um aposento dentro do templo, um lugar seguro e protegido, mas ela não conseguia descansar. Sua mente estava inquieta, e o vínculo que a ligava a Erik parecia mais forte do que nunca, como se a Lua Vermelha ainda pairasse sobre eles, mesmo que já tivesse passado.Ela se levantou da cama, caminhando até a janela. A vista era impressionante: a floresta densa se estendia até onde os olhos podiam ver, e as estrelas brilhavam intensamente no céu escuro. Mas Helena não conseguia apreciar a beleza daquele lugar. Algo dentro dela a chamava, uma sensação que não conseguia ignorar.— Não consegue dormir? — A voz de Erik a fez se virar. Ele estava sentado em uma cadeira próximo à lareira, observando-a com aqueles olhos dourados que pareciam ver tudo.— Não — ela respondeu, cruzando os braços. — Sinto que há algo que preciso descobrir. Algo que está me chamando.Erik se levantou, aproximando-se dela. Sua presença era reconfortante, mas também in
Capítulo 17No centro do salão, Helena sentia-se encurralada. Os líderes transmorfos discutiam entre si, suas palavras se misturando ao brilho trêmulo das tochas espalhadas pelo espaço. Os olhares lançados a ela eram como lanças afiadas—alguns carregados de esperança, outros de desconfiança e, em alguns casos, de frieza absoluta. Ela sabia que, para muitos ali, sua presença representava uma ameaça, algo que devia ser eliminado antes que trouxesse mais problemas.Ao seu lado, Erik mantinha-se imóvel, mas sua postura tensa e o olhar dourado atento denunciavam sua prontidão. Ele observava cada líder, analisando gestos e expressões, como um predador esperando pelo momento certo de atacar. Helena não precisava perguntar para saber que, se as coisas saíssem do controle, ele não hesitaria em lutar para protegê-la.Um homem alto, de ombros largos e cabelos escuros desgrenhados, avançou para o centro da roda formada pelos líderes. Seu nome era Garran, o alfa da matilha do Sul. Conhecido por su
Capítulo 18O conselho não confiava em Helena, mas tampouco confiava em Erik. Sua postura rígida e o instinto protetor que demonstrava para com ela levantavam suspeitas entre os líderes transmorfos. Ele não era um deles. Não fazia parte de sua hierarquia, não seguia suas leis. E, para alguns, não passava de um lobo perdido que havia jurado lealdade a algo que nem compreendia.Então, decidiram testá-lo.A prova foi anunciada ao nascer do sol. O céu sobre a montanha rochosa tingia-se de um laranja pálido quando os transmorfos se reuniram no círculo sagrado. Helena e Erik foram levados até o centro da arena natural, esculpida entre penhascos irregulares, onde o vento rugia como um espírito selvagem. O ar ali era mais denso, carregado de uma energia ancestral que fazia a pele arrepiar.Zareth foi o primeiro a falar, sua voz firme ecoando contra as rochas.— Erik de Eryndor, você diz ser leal a Helena. Diz que dará sua vida para protegê-la. Mas palavras são vento. Nós exigimos prova.Erik
Ela ainda sentia os lábios de Erik nos seus, o gosto dele misturado ao medo que se entranhava em sua pele. Ele estava ferido, marcado pela brutalidade do ritual, mas nada em sua presença parecia frágil. Pelo contrário. A força que emanava dele era algo primitivo, irresistível.E isso a assustava.Ele ainda segurava seu rosto, e seus olhos dourados refletiam algo intenso, algo que a fazia esquecer do mundo ao redor.— O que foi? — A voz dele era rouca, baixa, como se ele próprio estivesse lutando contra alguma barreira invisível.Helena segurou as mãos dele sobre seu rosto e as afastou, se levantando. Tentava conter o tremor que não vinha do frio.— Isso... — Sua garganta secou. — Isso é perigoso.Erik arqueou uma sobrancelha, inclinando a cabeça levemente.— O que? Nós?Helena negou com a cabeça, afastando-se alguns passos.— Não é issoMas no fundo, era.O modo como seu corpo respondia ao toque dele. A maneira como o mundo parecia desaparecer quando Erik estava por perto. Como se, de
Capítulo 20O vento cortante açoitou o rosto de Helena quando ela saiu do templo, forçando-a a puxar o manto mais próximo ao corpo. A escuridão da noite se estendia ao redor deles, interrompida apenas pelo brilho prateado da lua, que banhava as pedras antigas do templo em um brilho fantasmagórico. O local sagrado agora parecia apenas um marco silencioso em sua jornada, e a sensação de que estavam sendo observados ainda persistia, como um peso invisível sobre seus ombros.Erik caminhava ao seu lado, os passos firmes e silenciosos. Ele não havia dito muito desde que haviam saído do templo, mas Helena sabia que sua mente estava inquieta. O desafio que ela enfrentara ali dentro não fora fácil, e embora tivesse conseguido ativar a marca de Aurinia, a sensação de que algo dentro dela havia mudado ainda a deixava desconfortável.Ela olhou de relance para Erik. Seu olhar dourado estava fixo no horizonte, onde a densa floresta os esperava. A trilha que levava às ruínas de Antheris começava ali