Capítulo 10A tensão entre eles ainda pairava no ar quando Erik virou bruscamente a cabeça, seu corpo inteiro se enrijecendo. Helena seguiu seu olhar para a escuridão da floresta, mas tudo o que viu foi a silhueta retorcida das árvores.— Erik? — Sua voz saiu baixa, mas cheia de alerta.Ele ergueu a mão, pedindo silêncio. Seus olhos dourados estavam fixos em um ponto além da névoa rasteira. Então, ele sussurrou:— Eles estão aqui.O sangue de Helena gelou.— Os caçadores?Erik assentiu lentamente, sua expressão sombria.— São pelo menos cinco. Eles estão nos cercando.O coração de Helena martelava. Ela se levantou de um salto, sentindo o corpo ainda dolorido do treinamento.— E agora? Fugimos?— Se ficarmos, teremos que lutar. Mas se corrermos… — Ele inspirou fundo, analisando a situação. — Podemos ter uma chance de despistá-los antes que nos alcancem.Helena não hesitou.— Então corremos.Sem mais uma palavra, Erik segurou sua mão e puxou-a consigo para dentro da floresta. O mundo ao
Capítulo 1Helena corria desesperada pela floresta, tropeçando nas folhagens e nos galhos escondidos entre elas. Suas mãos e joelhos estavam esfolados e doloridos, pois os usava para se apoiar cada vez que caia. Apavorada, levantou apressada na expectativa de não ser alcançada. Ela podia escutar nitidamente as vozes masculinas que se aproximavam dela.— Você não pode fugir para sempre, garota! — Um deles gritou, a voz rouca com crueldade transparecendo em seu tom de voz.Helena não olhou para trás. Ela sabia que, se parasse, seria o fim. O medo a corroía por dentro, e o terreno traiçoeiro da floresta começava a cobrar seu preço. Seus pés descalços estavam feridos, os galhos rasgavam sua pele, mas ela não desistiria. Continuaria correndo.— Apenas parem! Por que estão fazendo isso comigo? — Ela gritou, mais para o vazio do que para os homens que a perseguiam.Nenhuma resposta veio além de risadas sinistras.Mais uma vez, Helena tropeçou em uma raiz exposta, caindo de joelhos. Suas mãos
Capítulo 2Helena ficou ali, ajoelhada na terra úmida, tentando compreender o que acabara de acontecer. Sua respiração vinha em arfadas curtas, o coração martelando contra o peito como se quisesse escapar. A marca em seu pescoço ainda ardia, irradiando uma sensação estranha que ia além da dor. Era como se algo nela tivesse mudado, algo profundo e irreversível.Ela olhou ao redor, tentando se orientar na floresta que agora parecia mais viva e ao mesmo tempo ameaçadora.O lobo negro, ou seja lá o que Erik fosse, havia desaparecido, deixando-a sozinha. Mas mesmo na ausência dele, Helena sentia sua presença, como se uma parte dele estivesse grudada nela. Era perturbador e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente reconfortante.“Eu não pertenço a ninguém”, pensou, tentando reunir forças. Mas as palavras dele ainda ecoavam em sua mente. “Agora você é minha.”Helena balançou a cabeça, determinada a não deixar o medo dominá-la. Ela se ergueu, apoiando-se em uma árvore próxima. Não sabia para onde i
Capítulo 3Helena despertou com o som de algo sendo mexido na cabana. Sua mente ainda estava enevoada pela exaustão da noite anterior. Os últimos acontecimentos passavam em sua mente como flashes: a fuga desesperada, a queda no abismo, o encontro com Erik… e, claro, aquela mordida que ainda ardia em seu pescoço.Ela abriu os olhos lentamente, encontrando a luz suave da manhã que entrava pelas frestas das janelas. O som era rítmico, como alguém cortando ou esmagando algo. Ao erguer-se da cama improvisada de peles, viu Erik próximo à lareira, mexendo em um pote sobre as chamas.Ele estava sem camisa, as costas largas e musculosas iluminadas pela luz da manhã. Seus movimentos eram metódicos enquanto ele triturava algo em uma tigela.— Está me observando? — A voz rouca de Erik cortou o silêncio, surpreendendo-a.Helena corou, desviando o olhar rapidamente.— Você estava fazendo barulho. Foi o que me acordou.— Bom. Precisamos conversar, de qualquer forma. — Ele não olhou para ela, continu
Capítulo 4O calor da lareira dançava nas paredes da cabana enquanto Helena tentava processar tudo que Erik havia lhe contado. Mas antes que pudesse organizar seus pensamentos, o som distante de algo rompendo a calma do bosque chegou até seus ouvidos. Erik, no entanto, congelou imediatamente. Sua postura relaxada desapareceu, e seus olhos dourados brilharam com uma intensidade feroz.— O que foi isso? — Helena perguntou, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.Erik ergueu uma mão, pedindo silêncio, e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse escutando algo que ela não conseguia ouvir. Ele se moveu com a precisão de um predador, atravessando a sala até uma janela pequena e entreaberta. Do lado de fora, a floresta parecia inerte, mas o brilho nos olhos dele indicava que algo estava errado.— Fique aqui. — Ele murmurou, sem sequer olhar para ela.— O quê? Não! O que está acontecendo? — Helena protestou, mas ele já estava pegando uma espada curta que estava apoiada
Capítulo 5 Helena estava ajoelhada no chão da cabana, segurando uma tigela de água morna e um pano limpo. A luz da lua entrava pela janela, iluminando a silhueta de Erik, que estava sentado em uma cadeira com a camisa rasgada, expondo os cortes e hematomas da batalha contra os caçadores. — Você precisa ficar quieto, ou isso vai piorar. — Ela disse, molhando o pano e começando a limpar um dos cortes em seu ombro. Erik soltou um grunhido, mas não se moveu. — Não estou reclamando, estou? Helena revirou os olhos, mas continuou o trabalho. Os cortes não eram tão profundos, mas os hematomas ao redor mostravam que os golpes tinham sido brutais. — Sabe, eu ainda não entendo por que eles ajudaram você naquela hora, mas depois foram embora. Não parecia que gostavam de você, mas também não pareciam dispostos a te abandonar. — A voz dela carregava curiosidade, mas também uma pitada de cautela. Erik ficou em silêncio por alguns segundos, observando-a trabalhar. — Eles não estavam lá por mi
Capítulo 6O silêncio da cabana era preenchido apenas pelo estalar ocasional do fogo na lareira. Erik estava sentado na mesma cadeira de madeira, o torso exposto e os braços apoiados nos joelhos. Observava Helena enquanto ela separava as ervas que ele havia indicado. Ela parecia concentrada, as sobrancelhas franzidas levemente, os lábios pressionados enquanto mastigava uma dúvida interna.Ele tentou ignorar o modo como o cheiro dela preenchia o espaço, mas era inútil. Aquele aroma era doce e inebriante, misturando algo familiar e antigo, como se evocasse memórias de uma vida que ele nunca teve. O lobo dentro dele rosnava de forma incessante, quase delirante."Toque-a de volta.""Ela nos pertence.""Por que está tão longe? O cheiro dela é nosso."Erik apertou os punhos, respirando fundo.— Você está quieto demais. — Helena comentou, a voz cortando o ar. Ela ergueu os olhos para ele, segurando uma tigela com as ervas que havia esmagado. — Está com dor?Ele inclinou a cabeça, tentando pa
Capítulo 7 A noite envolvia a cabana como um manto silencioso. O vento passava pelas árvores ao redor, sussurrando segredos esquecidos de um mundo condenado. No interior, a luz fraca do fogo lançava sombras oscilantes nas paredes de madeira rústica. Helena estava deitada sobre a cama improvisada de peles, sentindo o calor da fogueira acariciar sua pele. Ainda estava acordada, os pensamentos girando sem descanso. Ao seu lado, Erik repousava, ou pelo menos fingia. Seu corpo era uma presença sólida e quente, um lembrete constante de tudo o que havia mudado desde que ela chegara a Eryndor. O silêncio entre eles não era incômodo, mas carregado de perguntas não feitas. Finalmente, Helena rompeu a barreira do silêncio. — Você sabia, não sabia? — Sua voz soou baixa, hesitante. Erik abriu os olhos dourados, virando levemente a cabeça para encará-la. — Sobre o quê? — Ele perguntou, embora soubesse exatamente do que ela falava. Ela se virou para o lado, ficando de frente para ele.