Dorotéia
Espreguiço-me na cama e a maciez dela é um apelo para que eu permaneça mais um pouco.
Infelizmente, dormir até tarde não está em meus planos. Não hoje.
Passo a mão na minha cabeleira desgrenhada tentando me lembrar quando foi a última vez que fui ao cabeleireiro. E isso deve-se ao fato de que o professional hair — como Tadeu gosta de ser chamado —, ter uma fixação pelo meu cabelo que não passa do meio das costas. O único pretexto que ainda me faz frequentar seu estabelecimento, é que além se ser um ótimo profissional na área da beleza, eu sou uma “nada humilde” investidora que apostou nos produtos naturais e manipulados que aquele gato afeminado de roupas extravagantes faz.
Uma pena ele gostar da mesma fruta que eu. Pena mesmo.
Uma das coisas que pensei naquela festa que ele também estava, era que nós dois terminaríamos a noite se comendo por alguma parede da boate, em um motel ou na casa dele.
Na minha? Jamais.
Isso é regra absoluta. Nada de homens em minha casa.
Resultado da minha ilusão veio cinco minutos depois quando ele saiu de mesa em mesa procurando a “Diviníssima Dorotéia Arrais”, pois precisava de um investidor para sua ideia de cosméticos naturais.
Achei ele corajoso e a proposta um tanto fora de rumo, já que aquele ramo não era minha praia. Mas a cara de pidão que ele fez, e o sorriso do gato Cheshire da Alice no País das Maravilhas que Fabi, minha outra amiga exibia, contribuiu para eu dar uma chance ao cara. Afinal, tenho dinheiro de sobra e mais um investimento só viria a calhar.
Hoje, não me arrependo nem um pouco de ter lhe ajudado. Mesmo descobrindo dias depois que ele me procurou por indicação da Fabi, que já frequentava o pequeno salão dele, o retorno veio há pouco mais de um ano após termos feito o acordo, e graças a Deus, está tudo indo de “vento em popa”. Só que fiquei desolada com aquele desperdício de macho que vinha me visitar de vez em quando, e todas as vezes eu ficava impactada com suas roupas coloridas e os óculos, igualmente festivo.
Desenrolando os lençóis das minhas pernas que, insistentemente, noite após noite me embrulho, estando um calor insuportável ou não, levanto-me e puxo o short curto para baixo dizendo ao meu cérebro para não olhar o espelho acima da cômoda e reparar na bagunça que estão minhas olheiras depois de mais uma noite mal dormida.
Vou direto para o banho. A água quente que desce pelo meu corpo curvilíneo, relaxa pouco a pouco os músculos ainda doloridos, resultado de muito Job, ainda como diz Tadeu, que insiste em usar o inglês em quase todas as frases que pronuncia.
No fundo, tenho trabalhado demais e não é só modo de dizer. Ultimamente, fico até mais tarde em uma das principais filiais da Arrais, embora Fabi, Henrique e Carmem insistam constantemente para deixar de correria, ainda não é o momento.
Eu sinto isso.
Tenho certa convicção que sem esforços não há vitórias. Então, continuo minha jornada até que a empresa se mantenha no topo por muito mais tempo.
Eu sei que a sociedade machista ainda insiste com o discurso que nós, mulheres somos um sexo frágil, mas não é assim que as coisas funcionam. A cada dia, mais mulheres estão ocupando cargos que antes eram de exclusividade masculina. Estamos buscando visibilidade, embora seja cansativo, nós mulheres, continuamos a exercer nossos papéis como mães, irmãs e esposas.
Por isso mesmo o peso de minhas responsabilidades como empreendedora — que praticamente vieram de berço com minhas raízes familiares bem fincadas no meio empresarial —, são as mesmas que me fazem acelerar no banho para que eu possa chegar mais rápido na empresa.
A Arrais Motors estar há muito tempo no mercado. Bem verdade que teve seus momentos de desequilíbrio, no entanto, com muito trabalho e dedicação, não só meu, mas de todos os que estão lá desde o início a colocamos de volta nos trilhos.
Antes, a empresa consistia apenas em exportação de peças e produtos para a montagem de carros e motos com serviços de consertos e restauração, feita por uma empresa de minha propriedade, que atualmente também pertence ao grupo Arrais. Hoje em dia, depois da fusão das duas empresas, a Arrais possui um conglomerado de oficinas, além do seu carro chefe, a exportação de peças e até mesmo carros e motos importados.
Eu como herdeira e detentora de setenta por cento das ações da empresa, não poderia deixar de pôr a mão na massa. Aos trinta e dois anos, estou no auge das minhas responsabilidades como engenheira mecânica e empresária de sucesso. Além de ser CEO da Arrais Motors, gerencio uma das oficinas e trabalho diretamente na montagem e consertos.
Sinceramente, não tenho paciência para estar dentro de um escritório. Esse papel ficou para Henrique, meu irmão mais novo. Entretanto, acho que já está passando da hora de voltar à ativa, começando por fazer uma visita surpresa para aquele bastardo mulherengo do meu irmão. Essa visitinha será para eu ver pessoalmente como anda a empresa. Embora eu ache que Henrique não estar magoado por meu sumiço, é só que as vezes me iludo achando que essas visitas esporádicas vão aplacar o incômodo que sinto na consciência por deixar meu irmão, sozinho, cuidando de um império como a Arrais.
Algo que definitivamente não é seu papel, já que ele tem menos pulso firme que eu.
— Dorotéia! — Reviro os olhos para o grito desesperado da Fabi. — Dorotéia! — Mais uma vez ela berra e finjo que não escuto.
Fabi, como gosta de ser chamada, mora comigo desde que me mudei. Mora não, desde que me entendo por gente ela não desgruda de mim.
— Dotiiii! Se você não responder ou abrir essa maldita porta eu nem sei o que faço com você!
Através de uma pequena fresta, vejo sua figura alta e esguia já vestida para o trabalho, de braços cruzados na frente do corpo e batendo o pé freneticamente no chão.
— O que quer, Fabiana Janny de Medeiros? — Enrolo a pronúncia de seu verdadeiro nome na língua pausadamente, apenas para irritá-la.
Ela odeia esse nome, por isso é mais saboroso encher seu saco.
Eu acho até bonito, pitoresco e original. Uma bela homenagem à esposa do Tarzan, feita por sua falecida mãe que era fã do casal. O que, convenientemente, rendeu a mim e ao Henrique ótimas piadinhas.
Sempre perguntávamos por onde andava o seu Tarzan, pelo simples fato que Fabi sempre foi uma sonhadora. Vivia idealizando um príncipe encantado. Mas, como resposta, ela mostrava o dedo do meio todas as vezes que dizíamos para ela parar de sonhar com homem no cavalo branco e olhar para o alto que, talvez o Tarzan estava vindo buscá-la gritando a plenos pulmões e balançando nos cipós.
Agora mesmo, ela me atira um olhar fulminante e alargo o sorriso debochado.
— Posso saber por que tanto escândalo? Nem me masturbar em paz eu posso?
— Nossa, dá para você ser menos específica? Eu não precisava saber disso — protesta com cara de nojo.
— Vamos! Diz logo o que você quer, pois ainda tenho que gozar. — Desço a mão por trás da porta fazendo caras e bocas, em seguida solto um gemido falso nem um pouco preocupada com seu desconforto.
— Tem certeza que tá se masturbando? Com esse mau humor do cão e pelo jeito que você nem sabe fingir uma gozada, acho difícil que esteja sendo prazeroso. — Bato a porta na sua cara e ela cai na gargalhada.
— Vamos, Doti! Eu preciso usar seu banheiro.
— O apartamento é grande, tem mais banheiros disponíveis.
Moramos em um apartamento bem localizado em um dos bairros mais caros de São Paulo. Mesmo relutante, fui praticamente obrigada a receber do meu pai esse presente exagerado quando fiz dezoito anos. Era isso, ou acabaria acontecendo uma tragédia na família Arrais. Na época, senhor Alfredo Arrais ainda possuía domínio sobre suas finanças e da própria vida. Agora, depois de quase perder a empresa, ostentar o que possui é uma das coisas que ele mais ama.
Realmente é uma pena que ele não se importe mais com o império que vovô deixou. Mesmo que seja meu e que no passado papai me fez tão mal, seria bom ele voltasse para Arrais. Mas agora depois de tanto tempo tenho certeza de que não fará o mínimo esforço para conseguir os meios que mantenham seus extravios. Dele e da esposa, porque no caso dos dois, o ditado onde diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”, cai bem a ambos.
Ele e Maribel se merecem. Os dois gostam de gastar como se não houvesse amanhã.
Esse foi mais um dos motivos pelo qual a Arrais andou à beira da falência, e fui obrigada a morar longe dele, do meu irmão e da cobra que ele chama de esposa.
Eu acho que nasci na família errada. Não tenho ambições de possuir mais do que já conquistei, para mim já está bom mantermos o que temos.
— Eu sei que tem, mas o seu banheiro é maior, mais lindo e eu também tenho que ver o que você vai vestir. — Minha amiga argumenta, batendo na porta novamente.
Pronto! Está aí o real motivo de me infernizar durante o banho.
Imagino ela falando isso despreocupada, olhando suas belas unhas pintadas de branco. Está para nascer uma pessoa que ama a cor branca mais do que a Fabi. Como se já não bastasse ser médica e viver vestida de branco praticamente o dia todo, ainda tem que decorar o apartamento com detalhes em branco, exceto meu quarto. Esse é meu santuário e aqui ninguém mexe.
Saio do banheiro para encontrar minha cama cheia de roupas, sapatos e uma Fabi ainda inconformada por não achar o que quer.
Okay! Volto atrás em dizer que ninguém mexe no meu quarto. Ela mexe!
— Que diabos está acontecendo aqui? Foi um furacão que passou e não vi? — indago mesmo sabendo a resposta.
— Foi sim, meu amor. Furacão Fabi acaba de passar no seu closet e não está nada satisfeita com o que viu — responde levantando um dos meus macacões camuflados e meu coturno preferido.
— Nossa, Dorotéia, você nem parece ser uma das mulheres mais bem-conceituadas de São Paulo — me seguro para não virar os olhos para tanta besteira.
— Quando você vai entender que eu trabalho com graxa, ferramenta e pneu? Tenho que ser condizente com minha profissão — retruco e ela curva a sobrancelha bem-feita, fazendo-me ter inveja da mesma. — Aliás, só isso não! — Sento-me no sofá próximo ao closet, e ela doida para saber das fofocas, vem junto e continuo a falar: — Fabi você precisar ver o tanto de homem gostoso que passa por lá.
Me abanando com uma das mãos enquanto a outra segura o nó da toalha que ameaça se desfazer. Estou precisando de homem, essa vida de Maria graxeira está acabando comigo. Tenho que pelo menos pegar o Fábio, aquele mecânico gostoso.
Silêncio.
Nem mesmo o “cri-cri-cri” dos grilos inexistentes aqui, eu ouço.
Olho para o lado e a amiga da onça me deixou falando sozinha, ainda mais de um assunto tão delicado quanto os homens e seus tão poderosos músculos e tripés.
— Meu Deus! Ela não me leva mesmo a sério.
Minutos depois Fabi volta com o que parece ser meu look do dia e joga-o para mim.
— Prontinho, essa roupa deve servir. Precisamos ir às compras urgentemente.
— Oi? Você está me vendo aqui querida? Eu acho que ainda tenho direito de escolha. — Levanto uma roupa qualquer como forma de protesto.
— Claro, que sim. Com quem acha que estou falando? — contesta, colocando uma das mãos na cintura fina. — E você vai sair nunca com isso por aí com. — Toma a roupa das minhas mãos.
— Ohh, Fabiana! Você ouviu o que eu disse minutos atrás?
— Sobre os homens que vão à oficina? Ouvi sim! — Joga meu macacão esfarrapado no cesto que provavelmente vai parar no lixo. — Aliás, eles só vão lá pra ver sua bunda, que por sinal, é uma delícia.
Na maior cara de pau, ela fala e ainda me dá uma piscadela.
Que audácia! Atiro uma almofada contra seu corpo lhe expulsando do quarto.
Antes de fechar a porta atrás de si, a morena ainda deixa a pérola do dia.
— Você precisa mesmo de um homem Dorotéia, mas de um homem macho, daqueles bem quente, sabe?
— Não sei, não! — respondo, ficando de pé para passar o hidratante que o Tadeu gentilmente me mandou. O último lançamento, segundo ele.
— Óbvio que sabe. Deixa de ser fresca. — Mostro o dedo do meio e como se não tivesse visto meu gesto obsceno, ela persiste no discurso pró macho para mim. — O homem para você tem que ser um “brucutu”. Que te deixe molhada só de olhar para ele. Que te prenda, domine e que conquiste seu coração de pedra — Faz um gesto ridículo em formato de coração no ar. — E principalmente, que bata de frente com as suas opiniões, porque minha amiga você é uma força bruta da natureza
— Que “brucutu” que nada, Fabi. Para de sonhar acordada.
— Não é sonho. Se eu pudesse fazer um pedido ao gênio da lâmpada, seria isso: um macho para Dorotéia.
Me aproximo e bato em sua cabeça devagar.
— Tem certeza que não estar sonhando?
Um gênio? É sério isso? É cada coisa que sou obrigada a ouvir.
— Claro que não! — Bate em minha mão que continua a cutucá-la.
— De qualquer forma, homem não me interessa. Estou bem assim, obrigada! — Caminho para a frente do espelho com a roupa que minha consultora de moda pessoal me designou a vestir e a deixo resmungando qualquer coisa.
Só espero que esse homem quando aparecer seja um sapo, só assim dou-lhe uma bela cacetada.
Sou uma mulher que desde muito nova luto por minha independência, seja ela pessoal ou financeira. Por esse motivo sempre dei grande valor a minha liberdade, principalmente se essa liberdade me permitir ficar a quilômetros de distância dos homens, proteger meu coração de futuramente ser quebrado simplesmente pelo fato de me conhecer profundamente.
Sei o quanto sou intensa com essas questões de sentimentos e, geralmente, essas coisas de amor nunca são correspondidas na mesma proporção.
João PauloViver na maior capital do país é uma maravilha.Muitas mulheres, agitação, oportunidades e abundância. No entanto, tudo tem seu preço. São Paulo dá oportunidades a alguns, tira de outros, e ainda tem os que não se esforçam para fazer sua vida acontecer.Com tanta movimentação na maior cidade do país, o tráfego de automóveis continua em sua frequência lenta e passiva. Hoje, de acordo com as estimativas que o radialista faz questão de noticiar a cada quinze minutos através do sistema de som do carro, o engarrafamento chegará a dez quilômetros. Não deveria me importar se fosse um dia qualquer, todavia, é impossível não ficar entediado quando se tem uma reunião importante e o trânsito não ajuda em nada.Através do
Dorotéia Hoje o dia está corrido — como sempre nos últimos três meses. Olho o relógio pela centésima vez e percebo que está na hora de ir. Uma das minhas peculiaridades é acordar cedo. Razão, pela qual, Fabi me chama de “galinha velha” quando está irritada. Mas, ao contrário do que ela pensa ser só uma mania besta, esse é o horário que vejo o mais belo espetáculo da mãe natureza. Hábito que aprendi com meu avô — que Deus o tenha em paz. O nascer do Sol é a prova viva que nós, meros mortais, podemos e precisamos começar de novo. Nos dar uma segunda chance, não só a nós mesmos, mas ao próximo também. Parece sentimental até para mim, porém, no fundo, todos sabem que sou assim. Uma fortaleza por fora e manteiga derretida por dentro. Respiro fundo ao sair do meu estado contemplativo. Visto uma roupa que Fabi escolheu quando fomos às compras, após muita insistência dela. Devo confessar que ela fez um bom trabalho na escolha de vária
João Paulo Para o bem da minha própria sanidade, a senhorita casca-grossa sai pisando duro, balançando a bunda grande e empinada que busca espaço dentro do macacão que, notavelmente, não é seu número. Inclino para trás, vendo-a rebolando e solto um gemido ajustando a virilha. — O senhor está bem? — alguém pergunta. Solto lentamente o ar que preenche meus pulmões. De uma hora para outra, ele havia se tornado rarefeito e quente. Não sei o que fazer, se continuo a olhar o gingado do quadril largo e perfeito da senhorita língua afiada, ou entro de uma vez no elevador que se tornou pouco interessante agora. Nunca havia me divertido tanto em provocar uma mulher brava, mas essa me deu vontade de instigá-la mais um pouquinho. Tirar seu prumo. Me fez até esquecer da outra gostosa da moto. Não me passou despercebido que suas feições mostravam o quanto estava excitada. Porra! — Sim,
Dorotéia Já são duas da tarde e ainda não almocei. Minha barriga ronca só em imaginar uma bela refeição, no entanto, a imagem da comida fantasiosa se desfaz quando a porta se abre e meu irmão passa por ela com uma expressão nada boa depois de... uma semana!? — O que você acha que está fazendo, Dorotéia? — Ele puxa a cadeira em frente da mesa e se senta logo em seguida. Paro a análise das projeções de vendas dos últimos meses e o encaro. — Se você disser ao que se refere, eu poderia responder — falo, cruzando as pernas por baixo da mesa e encosto em minha poltrona macia. Embora me faça de tonta, sei perfeitamente que ela se refere ao fato de eu ter barrado novamente a entrada de seu amigo preconceituoso do outro dia. Ele balança a cabeça negativamente e sorri, daquele jeito incrédulo, o jeito que só ele sabe. Ao mesmo tempo, me encara com os olhos quase iguais aos meus. — Por que você vei
João Paulo Faz duas semanas que eu trabalho na Arrais e que a senhorita língua afiada me “humilhou publicamente”. Sem drama, não foi bem uma humilhação já que estávamos apenas nós três e aquilo tudo foi só um showzinho daquela diaba em forma de gente. Apenas uma forma dela mostrar quem manda na porra toda, o que não deixa de ser mortificante ter minha capacidade profissional posta em xeque. Logo eu, o cara que embora sempre tive tudo do bom e do melhor, nunca permaneci de braços cruzados aguardando algum milagre extraordinário acontecer. Ainda na adolescência, procurei me ocupar com alguma coisa que me trouxesse benefícios, nesse caso, contatos, dinheiro e principalmente experiência. Vê-la chegar no escritório e saber que ela é a irmã do meu amigo Henrique, foi uma tremenda surpresa. Mas nada poderia ter me preparado para o que veio a seguir. Depois que entrou, Dorotéia manteve-se firme em me deixar praticament
Dorotéia As semanas passaram como um borrão. Sempre as mesmas coisas. Levantar, brigar com a Fabi, ir à oficina e passar na Arrais, voltar para casa e sonhar que estou sendo fodida pelo babaca Dantas. Não consegui parar de pensar em seus olhos selvagens, na sua pegada e no modo que me domou com seu jeito de macho alfa. É vergonhoso, eu sei! No entanto, tenho que admitir que acordei algumas noites com a calcinha molhada, resultado da excitação exacerbada que sinto quando sonho com aquele infeliz. Faz um tempo que não sinto o toque e o peso de um homem sobre mim. Bem, tem o Fábio, mas ultimamente, trocamos alguns beijinhos, nada com tanta importância. O sexo com ele se tornou desinteressante... sem sal. Por isso mesmo que estou com um mau humor do cão. E para aumentar a sensação de obscuridade que se abateu sobre mim há alguns dias, hoje é meu aniversário de trinta e três anos. Data que muitos usam para c
Dorotéia Eu devo ter xingado ou jogado pedra na cruz! Chego nessa bendita festa e já encontro Maribel com a falsidade dela, meu pai com a demência dele e por fim, o babaca Dantas acompanhado. Essa perturbação que não me deixa desde que o vi com aquela loira aguada agarrada no seu braço. “— Deveria ser eu.” — Essa vozinha chata insiste em pôr palavras onde elas não existem. Além do mais, tem mais urubus esperando pacientemente que ele as note. Uma delas ficava trocando de pé em cima de um salto alto o suficiente para escalar um prédio de 10 andares, o vestido platinado não cobria os peitos plastificados ou as pernas cumpridas. Sigo em direção ao banheiro. Meu pensamento está tão distante que converso comigo mesmo. — Não sei o que dá nessas mulheres ciumentas. Nossa! Elas veem coisas onde não existem, idealizam relacionamentos e até mesmo põe defeitos nas outras. — Dou uma risada nervosa s
Doroteia Não sei por que demoro tanto para entender o que essa tal Renata diz. Ou, talvez, só não queira acreditar que o babaca Dantas esteja noivo dessa pessoa que, definitivamente, nunca vi na feira vendendo banana. Demoro ainda mais para notar que a dita cuja avança sobre mim, berrando descontrolada. — Sua vagabunda! Eu vou acabar com você. Ela se aproxima com a mão levantada para me acertar um tapa — e pela velocidade, não doeria pouco — Por sorte, seguro em seu pulso a poucos centímetros de meu rosto. Fitamo-nos por quinze, vinte ou mais segundos, não sei dizer, cada uma decorando bem os detalhes da outra. Seus traços são tão angelicais que eu poderia jurar que ela seria um ser celestial se não fosse por seus olhos verdes transmitindo um misto de raiva e loucura. — Escute aqui, garota. Eu não sei quem é você, de onde você veio ou o que quer comigo, mas uma coisa te garanto, se você