Perdida em seus pensamentos, o carro parou em frente ao hotel.— Srta. Zelda, chegamos — a voz de Dália a trouxe de volta de suas lembranças. Zelda sorriu suavemente e entrou no hotel.No quarto, Zelda ficou parada em frente à janela panorâmica, olhando distraída para a vista.Atrás dela, Dália arrumava as malas enquanto perguntava:— Srta. Zelda, Cidade Nuvemis mudou muito?— Mudou bastante — respondeu Zelda.Tudo parecia ao mesmo tempo estranho e familiar. Ela nunca imaginou que, após quatro anos, voltaria a pisar nessa terra que tanto a machucou.— Pois é, a cidade muda, as pessoas também. Toda vez que volto para casa, tudo parece diferente, sejam pessoas ou lugares. A única coisa que não muda são as broncas dos meus pais — comentou Dália, distraidamente.As palavras de Dália atingiram algo no coração de Zelda. Seus olhos se abaixaram levemente, pensando em como estaria seu pai agora.— Srta. Zelda, já terminei de arrumar tudo. Não se esqueça de tomar os remédios — disse Dália, sem
Após assumir o Grupo Montenegro, Ada nomeou Marilia como diretora.— Entendida, Marilia — respondeu Ada, com um ar desanimado, sem muita empolgação.Marilia ergueu a sobrancelha e perguntou:— O que foi? Por que está tão abatida?— Estou irritada. O Vicente tem sido cada vez mais frio comigo, e ele nem menciona nada sobre casamento! — Ada franziu a testa, claramente frustrada.— Achei que fosse algo sério, mas é só por causa de um homem. Tola! Se ele não te dá atenção, dedique mais tempo ao trabalho — Marilia bufou, dando uma leve batida com a unha longa na testa de Ada.— Mas eu não consigo me concentrar no trabalho! Marilia, por que isso está acontecendo? Será que ele ainda pensa naquela maldita Zelda? — Ada resmungou, mas logo ficou em silêncio ao receber um olhar sério de Marilia.— Menina boba, além da atenção de um homem, o mais importante para uma mulher é ser independente e autossuficiente. Um homem como Vicente não vai valorizar se você ficar o tempo todo em cima dele. Se pres
Noite do leilão de caridade.Ao cair da noite, as luzes da cidade brilharam intensamente. O salão de um luxuoso hotel sete estrelas no centro da cidade estava decorado de forma deslumbrante. Com painéis antigos, cortinas de seda translúcidas e lanternas pintadas à mão, a atmosfera clássica impressionava a todos.Os convidados se reuniam em grupos pequenos, conversando animadamente, ansiosos pelo leilão de caridade da noite.Ada, em um elegante vestido de gala, exibia um sorriso sofisticado. Seus olhos brilhavam com expectativa enquanto esperava Vicente na entrada.Sob as luzes, um Bentley preto fez uma curva suave e parou na frente do hotel.Os olhos de Ada brilharam de felicidade, e ela foi ao encontro do carro. A porta se abriu, e um homem de feições frias e perfeitas saiu sob o brilho dos holofotes. Vestido em um terno cinza-escuro, seu corpo esguio e imponente chamava a atenção. Seu rosto esculpido e seus traços marcantes brilhavam sob a luz, destacando seu ar frio e irresistí
A resposta de Vicente fez o ambiente congelar. Os rostos ao redor expressavam decepção, e o sorriso de Ada ficou paralisado. Ela levantou os olhos abruptamente, quase querendo questioná-lo sobre o que ele quis dizer. No entanto, quando Vicente olhou para ela, Ada se conteve, engolindo as palavras.— Situações assim, eu não gosto — disse Vicente, sua voz calma, mas carregada de significado.Ada ficou tensa, mas logo forçou um sorriso perfeito e respondeu suavemente:— Entendi. Minha intenção era apenas promover o leilão de caridade. Esses repórteres são terríveis, sempre tentando criar fofocas.Vicente não disse mais nada. Ele apenas deu um leve tapinha na mão dela e continuou em direção ao salão. Sem que ele visse, o rosto de Ada se contorceu em uma expressão de fúria. "Um dia, você vai implorar para se casar comigo" pensou ela.Nos bastidores, Zelda estava alheia ao que acontecia do lado de fora. Sentada diante do espelho, sua bela face refletia o brilho suave da maquiagem
Vicente sentou-se ereto, o corpo completamente rígido, com os olhos presos à figura no palco. Ada percebeu a mudança dele e seguiu o olhar de Vicente. Quando viu quem estava lá, seu rosto ficou pálido como se tivesse visto um fantasma.Ela arregalou os olhos de terror, quase soltando um grito. "Zelda?!" "Ela não morreu na mesa de cirurgia? Como pode estar aqui...?" "Será que ela voltou para se vingar de mim?"Em um instante, Ada começou a se agitar, perdida em pensamentos caóticos.No palco, Zelda desviou o olhar após uma breve troca de olhares com Vicente. Com delicadeza, passou os dedos pela peça de bordado, e sua voz suave ecoou pelo salão através do microfone:— Esta obra se chama "Esperança". Ela retrata uma mãe e seu filho atravessando uma floresta cheia de espinhos, cruzando um pântano infestado de crocodilos, enquanto seguem pela escuridão.— O sol nascente simboliza o renascimento e a esperança, carregando consigo os desejos dessa mãe para o futuro de seu filho...A v
O som de suspiros percorreu o salão, e todos os olhares se voltaram para Zelda, surpresos. Alguns a achavam louca, outros imprudente.Vicente a encarava com olhos afiados, mas seu rosto não revelava nada.A apresentadora, surpreendida, gaguejou:— N-não vai vender?— Isso mesmo! — Respondeu Zelda, firme, encarando Vicente sem desviar o olhar.— Cada uma das minhas obras tem alma, são como meus filhos. Eu espero que quem as adquira as valorize de verdade. Claramente, o Sr. Vicente não é a pessoa adequada. Portanto, meus bordados são apenas para aqueles que realmente entendem o valor das obras. Para aqueles que só sabem usar dinheiro sem significado... desculpe, mas eu não vendo.As palavras de Zelda foram como uma pedra jogada em um lago, causando ondas de choque entre os presentes. As conversas aumentaram em intensidade, e todos olhavam com mais curiosidade e interesse.A coragem de criticar Vicente, insinuando que ele só "usar dinheiro sem significado", deixou muitos boquiabertos. Em
No corredor que levava ao salão, Zelda esfregou a testa, e o sorriso em seu rosto desapareceu. Sua sombra, alongada pelas luzes, movendo-se com uma leveza etérea, como se pudesse desaparecer a qualquer momento, tal qual uma névoa.O som abafado de seus saltos sobre o tapete se misturava com uma voz urgente atrás dela:— Zelda!Num instante, suas costas bateram contra a parede, enquanto alguém segurava seus ombros com força. Zelda levantou o olhar e se deparou com os olhos frios e penetrantes de Vicente.— Solte-me — sua voz era fria.Vicente não se moveu, o peito subindo e descendo com a respiração acelerada, sua voz rouca:— Quando você voltou? Onde esteve todos esses anos?O calor de sua respiração atingia o rosto dela, e Zelda franziu levemente o cenho.— Sr. Vicente, esse tipo de abordagem já está ultrapassado. Solte-me.— Zelda, vai fingir que não me conhece? — Vicente apertou ainda mais, seus olhos fixos nela. Quatro anos... ela estava viva. Por que não voltou?Zelda arqueou um
A voz de Zelda era fria, sem qualquer emoção aparente, mas sua mão, escondida atrás do corpo, estava firmemente cerrada em um punho. A dor aguda que ela sentia era a única coisa que a ajudava a conter a raiva intensa que fervia dentro de si.— Eu... — Vicente tentou falar, mas vasculhando todas as suas memórias, percebeu que não encontrava uma única coisa que tivesse feito por Zelda. Na verdade, o que mais encontrava eram momentos em que a machucou.A expressão de Vicente se fechou, e uma dor profunda o atingiu.Vendo-o em silêncio, o sorriso sarcástico de Zelda desapareceu.— Vicente, é verdade, eu fui tola e me deixei iludir pela sua aparência. Mas agora... — Zelda parou por um momento, olhando-o fixamente, palavra por palavra, clara como cristal:— Eu acordei. Não conte mais comigo.Dito isso, ela o empurrou com força, ajeitou as roupas e se virou para ir embora.Vicente não tentou impedi-la. Ele ficou parado, observando-a se afastar, os lábios cerrados em silêncio....No salão,