Felipe vestia uma camisa polo branca, uma bermuda azul-escura abaixo do joelho e uma sandália de couro, trançado na cor marrom, seus cabelos com muitos fios grisalhos penteados para trás sem o costumeiro bagunçado de sempre. Dizendo ele que os fios prateados de seu cabelo são sinal. Assim como seu pai, ele herdou a mesma coisa. — Conheceremos um pouco Salvador. — Avisou interrompendo meus pensamentos. — Vamos? — É, vamos! Dessa vez você não vai me fazer ficar nesse hotel o dia todo. Conheceremos o Centro Histórico. — Ninguém está te prendendo. — Verdade! — Comentou com ironia. — Mas saiba que ainda é cedo. — Digo apontando para o relógio. — Eu sei! Tomarei café, de preferência, preto e sem açúcar para ver se acordo, pois o fuso horário não me deixa dormir direito. — Imagino. — Declaro, virando e voltando a olhar a paisagem. — Venho te buscar às 08h00 da manhã. — Informa divertido. — Não estou a fim de sair, Felipe. — Você nunca está a fim de fazer nada, além de tr
— O pedido pela estátua, senhor Felipe, foi feito pelo desembargador José Botelho Benjamin. Ele quis presentear a cidade pelos anos difíceis que estavam enfrentando… A conversa se estendeu por um tempo, até eu anunciar que chegamos ao Pelourinho. Felipe ficou extasiado com o lugar, parecia uma criança recebendo um doce de tão contente que estava. Paulo não ficava atrás, era uma alegria sem tamanho. — Vamos logo, temos outros lugares para visitar. — Anunciei ao sair do carro acompanhado pelos dois. — Calma que acabamos de chegar. — Ouço a voz de Felipe dizer. Olho em sua direção fechando a porta do carro. — Encontro-me calmo! Estou avisando, porque se vocês quiserem conhecer outros lugares, não vai dá para ficar por muito tempo aqui… Ah! Felipe! — Exclamei com um rápido sorriso. — O quê? — Fico feliz por você ter tirado aquela bermuda ridícula. — O que tem de errado com a minha bermuda? — Você que me diz, já que tirou ela e substituiu pela calça jeans. — Troquei porqu
— Posso ter desistido de meus sonhos, mas farei tudo que eu puder para realizar os sonhos de meus futuros filhos. Eu sabia, de alguma forma pude ver nos olhos desse “baixinho marrento”, como ele mesmo costuma se chamar. Pude notar em seu olhar que ele faria o possível para seus filhos terem um futuro diferente do seu. — Você ainda tem 35 anos. — Comentei olhando em seu currículo. — Nem me fale, quando se chega nos 30 anos, o tempo parece correr… Penso que falei isso quando fiz 20 anos. — Pontua nos dedos. — Aos 25 e até quando fiz 30 anos. — Emendou rindo. Eu não sentia vontade nenhuma em sorrir, havia perdido o amor de minha vida, então imaginei que nunca mais exibiria um sorriso outra vez, mas, Paulo fez questão de mudar esse meu pensamento, porque ele foi o único que arrancou um sorriso de mim naquele momento, ainda que o sorriso não tenha durado por muito tempo. — Nem parece que você tem essa idade. — Melanina pura, a pele negra produz muito mais melanina, mas isso não
— O Mercado Modelo foi fundado em 1912, para ser um centro de abastecimento na Cidade Baixa, com localização privilegiada para a Baía de Todos os Santos. — E onde fica essa Baía de todos os Santos? — Foi a vista maravilhosa que os senhores apreciaram lá de cima, senhor Felipe. — Realmente, a vista é muito linda. — Concordei. — Os senhores sabiam… Provavelmente não sabem ainda. — Emendou rápido. — Poucos sabem. — O quê? — Eu e Felipe perguntamos com curiosidade. — No dia 1 de novembro, se comemora o Dia de Todos os Santos na tradição da religião católica. Era costume antigamente nomear todos os acidentes geográficos conforme os santos e dos dias onde os mesmos eram identificados. — Por isso a baía de Todos os Santos tem esse nome? — Felipe indagou olhando os muitos artesanatos a sua frente, acredito que decidindo qual ele deve levar. — Sim, coube à baía, este nome. Na verdade, foi dela que se originou o nome do estado brasileiro. — Mais pensei que o nome do estado
— Escravidão é um assunto muito sério para o dia de lazer que estamos tendo, mas podemos conversar a caminho de volta, se tiver tudo bem para você. — Por mim tudo bem, senhor Felipe. — Como você sabe sobre essas coisas Paulo? Cara, ele parece uma enciclopédia. — Sou baiano, nascido e criado aqui. — Você sabia sobre isso, Edward. — Afirmei. — Fui para Santa Catarina quando tinha 25 anos, conheci a minha esposa e fiquei por lá mesmo. — Mas isso não responde a minha pergunta. Como você sabe sobre as coisas que nos contou? — Sempre gostei de histórias, eu passava o dia lendo, a leitura sempre fez parte da minha vida. A leitura é uma porta que nos conecta ao conhecimento. — Você é um achado, Paulo. — Felipe comentou saindo do carro. — Ele tem razão! __ Concordei. — Agradeço, senhores, é muito importante para mim a opinião dos senhores. Rindo de um comentário que Felipe fez sobre o seu corpo está assado pelo sol, nos encaminhamos para a praia. O banho de mar foi agr
— Senhores, aceitam alguma bebida? — A comissária de voo perguntou assim que adentramos a aeronave e nos acomodamos nos assentos. O jatinho particular pertence às empresas, King, como têm duas aeronaves dispostas ao bel-prazer de todos, peguei essa para minhas viagens particulares e de Felipe , já que as duas me pertenciam. — Quero uma água com gás e um comprimido para dor de cabeça, Márcia, por favor. — Felipe respondeu com a voz cansada, voltando a falar em inglês. — O mesmo para mim, por favor. — Ela afirmou e saiu em direção ao fundo do avião. — Cara, eu estou morto, parece que meu corpo foi mastigado e moído ao mesmo tempo, para completar, cuspido em uma calçada suja. — Diz me fazendo rir pelo drama incutido em sua voz. — Nem me diga. — Início. — Meu corpo todo está quente e exausto. Não faço mais isso! — Avisei suspirando em seguida. — Somos dois! Quando eu insistir, continue dizendo não. — Torno a rir e ele faz o mesmo. — Na próxima a gente se organiza melhor. —
Talvez? A quem quero enganar? Se estivéssemos sozinhos tentaria conseguir outro beijo seu, sem dúvida alguma. Mas ela é sua funcionária, Edward. Minha mente me aconselha. Viro a minha face sentindo raiva de mim mesmo, dou as costas para todos e sai sem dizer nada. — Aonde vai, Edward? — Felipe perguntou, mas optei em não responder. — O que deu nele? — Dessa vez ouço a voz de Paulo perguntar com o tom preocupado, mas eu já estava afastado o suficiente de todos para respirar mais aliviado. Entrei no único quarto disponível que continha apenas uma cama de casal, um criado mudo e uma cadeira, provavelmente para sentar quando estiver levantando voo ou pousando. Sentei-me na cama e respirei fundo. Uma coisa parecia claro para mim. Isso não dará certo! Está muito claro para mim que essa mulher tirará meu resquício de paz. — O que eu faço? — Levantei abruptamente e fico andando de um lado para outro. — O que eu faço, fuck? — Olho para cima inconformado. — Senhores passageiros
Pela cara de poucos amigos que ela me fitava, eu devo ter falado as palavras em voz alta. Merda! — Nada! — Respondi a contra-gosto. Ela pareceu não querer puxar mais discussão alguma, ficou em silêncio e eu não queria deixar um clima ruim entre nós duas, então me vi dizendo o motivo de minha correria desenfreada. — Vi aquele cara, por isso saí correndo. — Ela me encarou com curiosidade, entortando a boca, certamente cogitando se quer ou não saber toda história. Bicha curiosa e orgulhosa. Pensei reprimindo um sorriso ao vê-la se virar em minha direção e cruzar os braços. — Você fala como se eu soubesse quem é o cara, Beatriz. — Olhei feio em sua direção. — Que cara, Lourdes? — Depois de alguns segundos ela volta a falar. — Ah! Esse cara… — É, esse cara! — Espere só um momento… — Descruzou os braços. — Você saiu correndo feito uma maluca e se escondeu atrás do letreiro, ao ver o estranho gostosão? — Questionou-me se referindo ao letreiro escrito “Salvador”, em frente