Faço muito isso, já virou uma mania esse negócio de arregalar os olhos, ainda mais quando estou assustada. — Você nem sabia que eu aceitaria. — Tenho a minha fé cega, minha cara Bea. — Entortei a boca e a encarei envergonhada. — Eu pedi desculpas, você não vai me deixar esquecer, não é? — Não! Você é muito negativa. Se a minha fé cega te irrita, o seu negativismo constante também não me é indiferente. — Declarou zangada. — Mudarei, prometo. — É bom mesmo! Agora vamos! Dormirei aqui hoje, vou te ajudar a arrumar as suas coisas. Mas antes, deixa eu avisar a Cláudia que você aceitou. — E como vou me encontrar com esse advogado? Qual o nome dele? — Acredito que ele se chama Edward King, o motorista dele passará aqui para te buscar às 19h00 em ponto, então não se atrase. Passarei o seu endereço para Cláudia também. — Certo! — Buscarei as malas. — Afirmei com a cabeça. Ela tira o celular do bolso, liga o visor, aperta a discagem rápida e leva o mesmo ao ouvido. — Cláudia
— Se realmente seu relógio biológico estiver acabando. — Faço uma pausa tocando em meu queixo encarando-a em desafio. — Quem disse a você que filho para ser filho precisa ser de sangue. — Você está falando de adoção, Beatriz? — Sim, Lourdes, estou! Filhos não precisam nascer de nosso ventre para ser filhos, eles precisam passar por nós. — Nunca pensei sobre isso, amiga, mas pensarei. É algo que posso cogitar. — Ótimo, pense a respeito. — Digo me encostando ao sofá e olhando a TV. — Bea? — Sim? — Voltei a olhar em sua direção e ela me fitava com preocupação. — O que foi? — Já que estamos confessando as coisas… — Não diria isso. — Me responde uma coisa? — Pergunta ignorando as minhas palavras. — Ué! Pergunte! — Você está bem? — Você quer dizer agora? — Também. No geral, como você está? — Não sei, Lourdes! Estou preocupada, muito, na verdade, mas, ao mesmo tempo, tentando ser positiva, como você pediu. — Sim, sei disso, o que quero saber é se… — Ela faz uma
— Mais ainda assim é errado, Bea, essa história desse homem ter te agarrado, isso é errado, terei que falar a Cláudia para punir esse cara. — Eu sei! — Você pensa que faria outra vez se ele te agarrasse? — Sinto curiosidades em suas palavras e volto a rir. — Acredito que sim, Lourdes, esse cara foi o primeiro que me fez pensar em fazer sexo pela primeira vez. — Ela arregalou os olhos e riu alto. — Assim você acabará acordando o Levi. — A advertir. — Desculpa, estou abismada com essa sua revelação. — Também não é para tanto. — Já pensou esse tal advogado ser o homem que te agarrou? — Lourdes, vire essa boca para lá. — Oxe, você ia transar besta. — Eu não sei nem se conseguiria olhar na cara do dito cujo. — É bonito o troglodita? — Pior que é, ele é o que você chamaria gostoso. — Eita! Misera! Se você encontrasse esse cara, deveria agarrar ele também. — Eu não! — Exclamei fazendo Lourdes voltar a rir alto. — Não teria coragem e não seria certo. — Oxe, por quê, Bea? — Somo
— Nada mudou! — Afirmei a mim, passando as mãos em meus cabelos e face com brutalidade. Da varanda eu podia observar a rua e muitos outros prédios ao redor. Mesmo sendo madrugada, as pessoas caminhavam naquele momento, despreocupadas, vestindo biquínis, shorts, ou calças jeans. Rindo, elas conversavam entre si como se fosse completamente normal andar no meio da madrugada em uma rua deserta. Alheios a tudo ao seu redor. Penso sentando à cadeira que fazia conjunto com a pequena mesa redonda de estrutura de ferro, alta, com tampa de vidro e mais uma cadeira disposta no lado direito da varanda. Fiquei por horas olhando pela janela, até presenciar os primeiros raios de sol surgir, magnífico como sempre. Não é atoa que escolho sempre hotel na Barra, não é apenas pela vista maravilhosa que dá para o mar do Porto da Barra, mas pelo espetáculo de presenciar vez ou outra o nascer e o pôr do Sol. O Grande Hotel Barra é ótimo, um lugar excelente e acolhedor, localizado em uma região bem agrad
Felipe vestia uma camisa polo branca, uma bermuda azul-escura abaixo do joelho e uma sandália de couro, trançado na cor marrom, seus cabelos com muitos fios grisalhos penteados para trás sem o costumeiro bagunçado de sempre. Dizendo ele que os fios prateados de seu cabelo são sinal. Assim como seu pai, ele herdou a mesma coisa. — Conheceremos um pouco Salvador. — Avisou interrompendo meus pensamentos. — Vamos? — É, vamos! Dessa vez você não vai me fazer ficar nesse hotel o dia todo. Conheceremos o Centro Histórico. — Ninguém está te prendendo. — Verdade! — Comentou com ironia. — Mas saiba que ainda é cedo. — Digo apontando para o relógio. — Eu sei! Tomarei café, de preferência, preto e sem açúcar para ver se acordo, pois o fuso horário não me deixa dormir direito. — Imagino. — Declaro, virando e voltando a olhar a paisagem. — Venho te buscar às 08h00 da manhã. — Informa divertido. — Não estou a fim de sair, Felipe. — Você nunca está a fim de fazer nada, além de tr
— O pedido pela estátua, senhor Felipe, foi feito pelo desembargador José Botelho Benjamin. Ele quis presentear a cidade pelos anos difíceis que estavam enfrentando… A conversa se estendeu por um tempo, até eu anunciar que chegamos ao Pelourinho. Felipe ficou extasiado com o lugar, parecia uma criança recebendo um doce de tão contente que estava. Paulo não ficava atrás, era uma alegria sem tamanho. — Vamos logo, temos outros lugares para visitar. — Anunciei ao sair do carro acompanhado pelos dois. — Calma que acabamos de chegar. — Ouço a voz de Felipe dizer. Olho em sua direção fechando a porta do carro. — Encontro-me calmo! Estou avisando, porque se vocês quiserem conhecer outros lugares, não vai dá para ficar por muito tempo aqui… Ah! Felipe! — Exclamei com um rápido sorriso. — O quê? — Fico feliz por você ter tirado aquela bermuda ridícula. — O que tem de errado com a minha bermuda? — Você que me diz, já que tirou ela e substituiu pela calça jeans. — Troquei porqu
— Posso ter desistido de meus sonhos, mas farei tudo que eu puder para realizar os sonhos de meus futuros filhos. Eu sabia, de alguma forma pude ver nos olhos desse “baixinho marrento”, como ele mesmo costuma se chamar. Pude notar em seu olhar que ele faria o possível para seus filhos terem um futuro diferente do seu. — Você ainda tem 35 anos. — Comentei olhando em seu currículo. — Nem me fale, quando se chega nos 30 anos, o tempo parece correr… Penso que falei isso quando fiz 20 anos. — Pontua nos dedos. — Aos 25 e até quando fiz 30 anos. — Emendou rindo. Eu não sentia vontade nenhuma em sorrir, havia perdido o amor de minha vida, então imaginei que nunca mais exibiria um sorriso outra vez, mas, Paulo fez questão de mudar esse meu pensamento, porque ele foi o único que arrancou um sorriso de mim naquele momento, ainda que o sorriso não tenha durado por muito tempo. — Nem parece que você tem essa idade. — Melanina pura, a pele negra produz muito mais melanina, mas isso não
— O Mercado Modelo foi fundado em 1912, para ser um centro de abastecimento na Cidade Baixa, com localização privilegiada para a Baía de Todos os Santos. — E onde fica essa Baía de todos os Santos? — Foi a vista maravilhosa que os senhores apreciaram lá de cima, senhor Felipe. — Realmente, a vista é muito linda. — Concordei. — Os senhores sabiam… Provavelmente não sabem ainda. — Emendou rápido. — Poucos sabem. — O quê? — Eu e Felipe perguntamos com curiosidade. — No dia 1 de novembro, se comemora o Dia de Todos os Santos na tradição da religião católica. Era costume antigamente nomear todos os acidentes geográficos conforme os santos e dos dias onde os mesmos eram identificados. — Por isso a baía de Todos os Santos tem esse nome? — Felipe indagou olhando os muitos artesanatos a sua frente, acredito que decidindo qual ele deve levar. — Sim, coube à baía, este nome. Na verdade, foi dela que se originou o nome do estado brasileiro. — Mais pensei que o nome do estado