Meus pais pareciam hesitantes naquele dia, o que era compreensível. Como poderiam contar para sua filha que dormiu toda a vida que, agora com apenas três anos, precisaria se preparar para um casamento iminente? Disseram que eu tinha um parceiro, mas não revelavam muitos detalhes. Imaginei que se tratava de algo complexo, que eu precisaria reconhecer meu parceiro e ele a mim. Como podiam escolher algo assim para mim?
— Não se preocupe, Samuel Kan é um homem inteligente e bonito — disse minha mãe, demonstrando insegurança e desviando o olhar. Isso me deixou ainda mais intrigada.
— Mamãe... vocês me ofereceram a ele?
— Nunca faríamos isso! — protestou ela.
— Mas... de repente Samuel Kan se interessou por uma de vocês.
— Tem certeza que não foi por minha irmã Lana? — perguntei esperançosa.
— Não é sua irmã, ele foi bem claro. Além disso, foi naquele... — ele ia dizer algo, mas minha mãe o interrompeu. Que segredos eles estavam escondendo agora? Quem era Samuel Kan? Se ele tinha duzentos anos, como os rumores diziam, com certeza era um ancião!
— Apenas pense que você está ajudando a acabar com um conflito que já dura mais de cem anos — disse minha mãe, Aurora, com a voz carregada de mágoa. — A família Kan vai finalmente poder compreender porque acolhemos magos e feiticeiros. Eles não poderiam estar nos acusando, já que ele abriga uma das deusas do destino. Essas mulheres não trazem nada além de caos.
Tudo isso me deixava louca, e parecia que hoje eu finalmente o conheceria. Bom... pelo menos agora sei que a intriga que ronda nossas famílias pode ser dissolvida se nos tornarmos uma só.
É cansativo mesmo com quinze anos eu já tinha que carregar isso nas minhas costas, ao menos ele pediu para que eu fosse entregue daqui a três anos, eu tinha bastante tempo para me preparar.
O dia fatídico finalmente chegou. Eu seria "reclamada" por Samuel Kan, mas não conseguia entender quando e como ele me conheceu. Desde que acordei, nunca saí da mansão de meus pais, sempre me limitando aos jardins e jamais ultrapassando seus muros altos.
Ainda assim, desde meus quinze anos, meu quarto se enchia de caixas de presentes que chegavam a todo momento. Eu nunca as abria, recusando-me a receber presentes de um desconhecido. Os presentes já tomavam toda a parede do meu quarto, e eu os empilhava sem piedade ou interesse de os abrir, para mim aquele homem tinha essa aparência, de varias caixas empilhadas,
Naquele momento, eu estava sentada no jardim, esperando enquanto meus pais arrumavam algumas coisas no carro. O vestido que eu usaria, me disseram, foi comprado por ele e que estava na mansão dele para onde iríamos agora. Mas nunca me deu nada pessoalmente se mantendo envolto em mistério. O medo me consumia, principalmente por sabe que é um idoso.
Toda a família seguiu para a imponente mansão onde ele vivia. Uma comitiva de líderes os aguardava, ansiosos pelo enlace.
Ao chegarem, a grandiosidade da propriedade se revelava em um silêncio quase sepulcral. Apenas empregados e seguranças movimentavam-se pelo local, contrastando com a vastidão vazia da mansão, fiquei feliz que não precisaria ficar presa no quarto, aquele lugar era bem maior que a mansão de meu pai, o que pensei que não poderia ser possível, comecei a caminhar pelo local para passar o tempo enquanto os maquiadores não chegavam.
A grandiosa mansão, um verdadeiro labirinto de opulência, me acolheu em seus corredores adornados com tapeçarias milenares e esculturas que pareciam sussurrar histórias de um passado glorioso. Meus passos ecoavam no mármore polido, enquanto a luz dourada do sol poente se infiltrava pelas janelas de cristal, criando um espetáculo de cores que dançava nas paredes.
De repente, meus olhos se depararam com uma porta monumental, talhada em madeira maciça e adornada com intrincados relevos em espiral. A curiosidade me impulsionou a avançar, e, ao me aproximar, notei que a porta estava entreaberta. Através da fenda, pude vislumbrar um ambiente que me deixou sem fôlego.
No interior de um luxuoso escritório, três homens conversavam em animadas gargalhadas. Eram trigêmeos, idênticos como gotas de água, cada um com uma beleza estonteante que me arrebatou. O mais próximo da porta, de cabelos negros como a noite e olhos castanhos, segurava uma taça de vinho tinto com ar despreocupado. Ao seu lado, o segundo irmão e o terceiro irmãos, todos iguais, seriam três vezes pecados monumentais. Seus corpos musculosos eles usavam ternos impecáveis, realçando sua aura de poder e sofisticação. A mobília do escritório era de época, feita com madeiras nobres e estofados em veludo carmesim. Tapetes persas cobriam o chão, e livros antigos se amontoavam em estantes. As risadas dos trigêmeos ecoavam pelo ambiente, enquanto suas palavras, carregadas de segredos, despertavam em mim uma curiosidade insaciável.
— Tudo certo — disse um dos trigêmeos, com um sorriso levemente irônico. — Quando ele vier para cá nos encontrar, daremos isso a ele e assim poderemos manchar sua imagem. Ele tem mantido uma postura incorruptível desde sempre, mas não vai conseguir manter isso por muito tempo após recebermos isso.
Ele ergueu a mão, revelando um frasco com um líquido lilás que brilhava sob a luz fraca do escritório.
— Seria bom que ele morresse de uma vez! — exclamou outro dos trigêmeos com um tom brutal.
— Não esqueçamos que ele tem origem divina — ponderou o terceiro irmão com voz calma. — Lobos da linhagem dele não morrem fácil assim. As chances de ele sobreviver são grandes. Por isso, melhor apenas tramar e sujar sua imagem. Assim, poderemos liderar.
Eu me afastei silenciosamente da porta entreaberta, meu coração batendo forte no peito. Nada de diferente estava realmente acontecendo. Entre grandes famílias, conspirações e traições eram comuns. Se eu me envolvesse, acabaria me prejudicando.
Meu objetivo era seguir com o plano e cumprir com o casamento com esse desconhecido, Samuel Kan, filho mais velho de Gael Kan.
Ao voltar para o meu quarto, encontrei um batalhão de pessoas me esperando: maquiadoras, cabeleireiras e costureiras para ajustar o vestido que eu nem mesmo me dei ao trabalho de olhar. Era uma peça fascinante, digna de um casamento deslumbrante e exageradamente luxuoso.
Após quase duas horas de preparação, eu estava pronta. Do lado de fora, agora, havia uma multidão que eu observava furtivamente pela janela.
Ouvi rumores de que Samuel Kan ainda não havia chegado. Já estava de noite e faltavam poucos minutos para o casamento, mas nem sinal dele. A cada minuto que passava, minha ansiedade aumentava.
— Ele não cumpriu com o acordo! Eu quero ir embora! Não quero ser uma noiva abandonada no altar! — berrei quando meus pais entraram na sala.
— Querida, tenha calma — disse minha mãe, tentando me acalmar. Mas ela e meu pai trocavam olhares desconfiados. Ele tinha desistido, eu podia sentir.
— Eu não quero mais me casar! — berrei com todas as minhas forças, mas minhas palavras pareciam ecoar no vazio. Meus pais não me ouviam, cegos por seus próprios objetivos. Tentei escapar pela porta, mas meu pai me segurou com força bruta, me arrastando de volta para a cama. O volume do vestido me impedia de lutar, me deixando à mercê da sua fúria.
— Você não vai fugir! Nem que ele venha amanhã, você vai esperar! — ele gritou, sua voz carregada de autoridade.
— Não sou um brinquedo! Diga a ele que eu não vou me casar! — implorei, lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. Mas pela primeira vez, senti o peso da mão de meu pai contra a minha face. Uma dor física, mas acima de tudo, uma dor emocional profunda. Ele nunca me havia tocado antes...
Naquele momento, a realidade me atingiu como um raio. Eu era apenas um objeto, um meio para alcançar um acordo que não me beneficiava em nada. Me entregavam sem hesitar, mesmo sabendo dos riscos que isso representava para mim.
Com o coração partido e a alma em pedaços, corri para a janela. Era a minha única chance de liberdade. Olhei para o grande jardim, deserto e silencioso. Era a noite perfeita para a minha fuga.
Mas como descer? A mansão era alta, e eu não tinha as habilidades necessárias para escalá-la. Subi no peitoril da janela, buscando uma solução. Um grande pinheiro se erguia majestosamente ao lado da mansão, suas galhos frondosos oferecendo uma rota de escape.
Com cautela, comecei a escalar a árvore. A adrenalina corria pelas minhas veias, cada galho me aproximando da liberdade que tanto ansiava.
Do alto do pinheiro, observei a mansão adormecida. Ninguém me veria escapar, protegida pela escuridão e pelas folhas exuberantes da árvore.
Com um último impulso, pulei do galho mais baixo, aterrissando com sucesso no solo macio do jardim. Corri o mais rápido que pude, meus pés descalços pisando na grama úmida. A mansão diminuía à minha vista, cada passo me afastando daquela prisão dourada, me aproximando de seus muros gradeados, mas algo me chamou atenção quando olhei para uma parte com muitas moitas e arvores, um homem estava jogado no chão, a penumbra da noite não permitia que eu visse seu rosto com clareza, mas ele estava com a respiração irregular mantendo a mão sobre o peito.
Cap.4: Trama dos trigêmeos.Samuel kanA aurora despontou, anunciando o dia do meu casamento. No entanto, meu coração não pulsava com a alegria habitual de um noivo. Em vez disso, era tomado por uma mistura de ansiedade e melancolia.Horas antes da cerimônia, eu me encontrava em meu escritório, cercado por uma comitiva de líderes das empresas da nossa família. Eles discutiam animadamente sobre os detalhes do casamento, enquanto eu me perdia em pensamentos sobre Maya. Será que ela já havia chegado?Com dificuldade, tentava me concentrar nas palavras dos anciões, mas meus pensamentos se voltavam para ela, a mulher que amava e que havia sacrificado sua vida para me salvar. O casamento arranjado com outra mulher era apenas um meio para um fim, uma exigência da deusa do destino que eu precisava cumprir para poder encontrá-la novamente.Quando ela tinha morrido em meus braços, a deusa do destino me garantiu que ela renasceria e eu aceitei a derrota naquele dia, mas fui salvo por um triz, um
Cap.5: aprisionada em meus braços.Samuel KanCom um urro gutural, me libertei das mulheres que me prendiam e saltei pela janela. Em minha forma de lobo, a poção que meus irmãos me deram teria menos efeito, mas ainda assim, meu tempo era curto.Os estilhaços do vidro da janela quebrada cortaram minhas patas enquanto eu aterrissava dois andares abaixo. Por um instante, pensei ter visto um vulto em cima de uma árvore, ou talvez... uma mulher? Mas isso não importava agora. A poção me confundia, e minhas visões podiam ser enganosas.Continuei correndo entre as árvores, cambaleando a cada passo. Minha visão turva dificultava a fuga, e eu sabia que meus irmãos logo enviariam alguém em meu encalço. Precisava encontrar um lugar para me esconder e ativar um bloqueio mágico.Minha forma de lobo era imponente, comum para um lobo de guerra. Meu tamanho e pelo acinzentado quase prateado me tornavam um alvo fácil. Era difícil me esconder entre as moitas, ainda mais sob o efeito da poção.De repente
Cap.; 6: quem é a mulher que eu possui?Maya tentou se afastar na primeira oportunidade, mas ele se moveu num estalo, os olhos brilhando com uma intensidade feroz que fez Maya temer. o braço dele se enrolando ao redor dela como um açoite. Maya caiu com um grito abafado, o peso dele a imobilizando no chão.— faça silencio. — Samuel a alertou após ouvir os passos ainda distante.— Quem... quem é você? — ela arfou, tentando empurrá-lo, mas ele era sólido como pedra.Samuel não conseguia pensar. Seus sentidos estavam confusos, misturados em uma tempestade de instinto e desejo. Ele sentia a presença dela, tão perto, tão insuportavelmente forte. Quem era ela? Como tinha passado por sua barreira? Como podia vê-lo quando ninguém jamais conseguira?Os olhos dele eram um abismo, selvagens, incapazes de foco. Ele segurava Maya com tanta força que seu corpo doía, mas era incapaz de soltar. Sua respiração vinha pesada contra o rosto dela, e por um momento, Maya viu algo brilhar nos olhos dele...
Capítulo 7 – A Fuga e o DesprezoO jardim estava vazio, mas Maya não se sentia livre. Cada passo que dava parecia ser mais pesado que o anterior, o vestido branco, agora sujo e rasgado, arrastando no chão como um manto de vergonha. As lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se ao suor frio e à terra que manchava sua pele. Ela só queria ir embora, fugir para longe daquele lugar, onde as lembranças do que acabara de acontecer não a perseguiriam.Quando chegou a um canto mais afastado, tentando se esconder na escuridão, uma mão forte a agarrou violentamente pelo braço. O grito que ela soltou foi abafado pelo toque brusco, e seu corpo foi puxado para trás com força. Ela tentou se desvencilhar, mas a pressão aumentava, e logo se viu sendo arrastada para a frente.— O que está fazendo, hein? Tentando fugir? — a voz de seu pai rasgou a noite como uma lâmina afiada. Ele estava ali, furioso, seus olhos brilhando de raiva. — Sua ingrata!Maya olhou para ele com os olhos inchados de tanto ch
Cap. 8: Instintos nunca mentem.Samuel Kan.Antes de seguir para o grande salão pedi para meu pai deixar tudo preparado e fui rapidamente ate a cobertura onde estava metade da guarda de lobos, sei que todo aquele jardim é observado, então penso que poderiam ter visto algo.Mas não conseguir obter nada. Como eles poderiam ter perdido alguém tão peculiar, se bem... que ela não tinha cheiro de lobo, mas não acredito que tenha sido uma humana, eu também não sentir nada que disse que ela é uma humana, era algo família, mas peculiar, infelizmente a poção que eles me deram causa um bloqueio agressivo para que lobos como eu que só conseguem ficar com suas parceiras tenham contato com outras lobas, ou seja, ele me torna alguém que não consegue identificar minha parceira então por consequência acabei conseguindo ficar com alguém como aquela desconhecida.— Quero que vocês averiguem a lista de convidados e todas as mulheres que estiveram nesse lugar, sele os portões e não deixe ninguém sair até
Cap. 9: O líder também deve punir.— O grande Líder Alfa... — um deles começou, com um sorriso venenoso nos lábios. — É realmente digno desse título caros ministros? — um deles perguntou.Observei a multidão se entreolhar, a desconfiança crescendo no ar. Mantive minha postura imponente, os olhos frios, sem demonstrar qualquer emoção, aqueles três já deveria saber que não há nada que eles possam fazer para me atingir, eu só me submeto a outras lideranças para não causar problemas no equilíbrio de todo a matilha.— O nosso grande e imaculado líder talvez não tenha o direito de estar em qualquer posição estando nesse mundo onde temos regras rigorosas com escândalos, porque então ele é um dos primeiros a quebrar as regras.— O que estão insinuando? — Minha voz saiu firme, carregada de uma ameaça velada ao mesmo tempo que escondia um sorriso cruel.Os trigêmeos trocaram olhares antes de um deles disparar o golpe final.— Que você traiu sua própria Luna e não faz muito tempo! — eles levanta
Cap. 10: impiedosa como não esperava.O homem ainda estava de joelhos aos meus pés. Parecia que ninguém entendia a proporção do problema em que meus irmãos haviam me enfiado. Encarei o homem com ainda mais raiva. Ninguém deveria ousar tentar me enganar e destruir minha reputação, a não ser eu mesmo.Ergui as mãos. O poder ancestral que corria em minhas veias começou a vibrar no ar. A luz ao meu redor pulsava com energia divina, e os lobos próximos recuaram instintivamente. Sim, todos eles tinham medo de mim.— Todos vocês devem entender — minha voz reverberou como um trovão — por que nunca devem tentar brincar comigo.Um vento forte atravessou o salão quando voltei minha atenção para o serviçal ajoelhado. Com um gesto, envolvi seu corpo com minha magia. Num instante, ele começou a fragmentar-se em pequenos pedaços de luz, desintegrando-se diante dos olhos de todos até que não restasse mais nada.Gritos de horror ecoaram enquanto ele desaparecia, obliterado pelo meu poder. O medo se in
Cap. 11: Ninguém me engana.Fiquei em silêncio por um longo momento. Algo dentro de mim se contorceu. Isso não era certo. Isso não era... Maya.Lembrei-me dela, mesmo de séculos atrás, generosa, justa, alguém que nunca tomaria uma decisão tão cruel, alguém que entrou para a história dos lobos com honra.Mas essa mulher diante de mim não parecia aquela Maya, não ainda. Ela não se lembrava de tudo. Talvez fosse por isso... talvez fosse apenas a confusão de um espírito fragmentado, um instinto de sobrevivência, algo que o tempo corrigiria.— Vou pensar sobre isso. — Respondi, minha voz neutra. — Mas agora não quero falar disso. Quero apenas que você fique ao meu lado a partir de hoje.Ela sorriu, satisfeita. Mas, enquanto a abraçava novamente, senti meu coração pesar ao buscar minha ligação com ela.Algo estava errado. Eu estava buscando nela algo que eu não estava sentindo. Era algo inconfundível: a nossa ligação. Mas ela é a minha Maya... Não é possível que possam ser tão parecidas. Me