Cap. 10: impiedosa como não esperava.O homem ainda estava de joelhos aos meus pés. Parecia que ninguém entendia a proporção do problema em que meus irmãos haviam me enfiado. Encarei o homem com ainda mais raiva. Ninguém deveria ousar tentar me enganar e destruir minha reputação, a não ser eu mesmo.Ergui as mãos. O poder ancestral que corria em minhas veias começou a vibrar no ar. A luz ao meu redor pulsava com energia divina, e os lobos próximos recuaram instintivamente. Sim, todos eles tinham medo de mim.— Todos vocês devem entender — minha voz reverberou como um trovão — por que nunca devem tentar brincar comigo.Um vento forte atravessou o salão quando voltei minha atenção para o serviçal ajoelhado. Com um gesto, envolvi seu corpo com minha magia. Num instante, ele começou a fragmentar-se em pequenos pedaços de luz, desintegrando-se diante dos olhos de todos até que não restasse mais nada.Gritos de horror ecoaram enquanto ele desaparecia, obliterado pelo meu poder. O medo se in
Cap. 11: Ninguém me engana.Fiquei em silêncio por um longo momento. Algo dentro de mim se contorceu. Isso não era certo. Isso não era... Maya.Lembrei-me dela, mesmo de séculos atrás, generosa, justa, alguém que nunca tomaria uma decisão tão cruel, alguém que entrou para a história dos lobos com honra.Mas essa mulher diante de mim não parecia aquela Maya, não ainda. Ela não se lembrava de tudo. Talvez fosse por isso... talvez fosse apenas a confusão de um espírito fragmentado, um instinto de sobrevivência, algo que o tempo corrigiria.— Vou pensar sobre isso. — Respondi, minha voz neutra. — Mas agora não quero falar disso. Quero apenas que você fique ao meu lado a partir de hoje.Ela sorriu, satisfeita. Mas, enquanto a abraçava novamente, senti meu coração pesar ao buscar minha ligação com ela.Algo estava errado. Eu estava buscando nela algo que eu não estava sentindo. Era algo inconfundível: a nossa ligação. Mas ela é a minha Maya... Não é possível que possam ser tão parecidas. Me
Cap. 12 Sem ligação.Samuel Kan observava Maya enquanto ela caminhava ao seu lado em silêncio, saindo do escritório. Seus olhos ainda estavam vermelhos, o rosto delicado marcado por uma tristeza fingida, algo que poderia enganar qualquer um, mas não a ele.Ele a levou até o quarto sem dizer uma palavra, refletindo sobre tudo o que acontecera naquela noite. A festa ainda seguia lá fora, mas a tensão entre eles pairava no ar.— Troque-se, vista outra roupa para que possa ficar confortável na festa. — Ele ordenou, fechando a porta atrás deles.Maya ergueu os olhos para ele, a expressão moldada em uma mistura de surpresa e charme calculado. Ela avançou devagar, os dedos deslizando pelo próprio vestido de maneira propositalmente sedutora.— Preciso mesmo me trocar agora, Kan? — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Depois de tudo o que aconteceu… não prefere ficar aqui comigo?Ela se aproximou mais, os dedos tocando seu peito, o calor da pele dela contrastando com o controle de ferro que
Cap. 13 : Você não é minha Luna.— Kan? — ela chamou olhando ao redor confusa.Seus olhos varreram o ambiente, buscando por ele, mas não o encontraram, ela não conseguia vê-lo.Maya sempre fora capaz de vê-lo, não importava as barreiras ou feitiços que lançasse, mas aquela mulher… não, então kan teve a certeza a mulher diante dele não era sua verdadeira Luna.Samuel Kan permaneceu imóvel, observando Maya se mover pelo escritório em busca dele. Seu olhar estava confuso, levemente inquieto, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Mas a verdade era evidente: ela não conseguia vê-lo.Se fosse a verdadeira Maya, teria percebido sua presença, mesmo sob a barreira.O coração de Kan pulsava com um misto de fúria e frustração. Como aquilo era possível? Quem era essa mulher? Como havia conseguido enganá-lo por tanto tempo?Ele esperou, oculto, enquanto Maya resmungava algo inaudível e saía do escritório com passos apressados. Havia algo suspeito em seu comportamento, algo que não es
Cap. 14 O erro obvio.Lana seguiu de forma sorrateira em direção ao quarto onde seus pais estavam hospedados. Ela podia ouvir as risadas deles antes de entrar, enquanto comemoravam sua nova vida como parte da família Kan.Entrou às pressas, o rosto pálido e os olhos arregalados, mas sua reação foi ignorada por seus pais, ainda em êxtase.O som das taças de cristal tilintando ecoava suavemente. Lana os encarava, sentados ao redor de uma mesa refinada, degustando um vinho caro, sorridentes e relaxados.Eles haviam conseguido. Finalmente eram parte de uma família influente, respeitada e poderosa.— Quem diria que estaríamos aqui, bebendo como nobres? — o pai dela comentou, girando a taça entre os dedos. — Nosso plano está indo perfeitamente.A mãe sorriu, satisfeita.— Assim que sairmos com Maya esta noite, não haverá mais riscos, e todo esse mal-entendido vai desaparecer. — Francely, mãe das gêmeas, suspirou, batendo os pés no chão e encarando o piso, como se quisesse dizer algo.Debaix
Cap:15Os pais trocaram um olhar cauteloso.— Filha… — o pai começou. — Precisamos pensar na sobrevivência da família.— Sobrevivência?! — Lana riu sem humor. — Vocês me fizeram fingir ser Maya para garantir nossa ascensão, para me tornar a esposa de Kan… e agora simplesmente querem jogá-la de volta para ele?! E eu?! Sou um brinquedo de novo? Algo descartável que vocês pegam e jogam fora quando não serve mais?!A mãe revirou os olhos, impaciente.— Não estamos te jogando fora, Lana. Mas você sabe que Kan nunca teve a mesma ligação com você. Pode ser perigoso insistir em ficar ao lado dele. Ele deve ter ficado confuso porque vocês são idênticas, mas ninguém sabe que são gêmeas. Só que ele sente a ligação apenas com Maya, e agora… ela está grávida. Ele não poderá ir contra isso.— E agora vocês se lembram disso?! — Lana cuspiu as palavras, furiosa.O pai suspirou pesadamente.— Foi um erro subestimarmos a conexão dos lobos. Pensamos que ele aceitaria a troca, mas está claro que algo o in
Cap. 16 Decisão de ir ao submundo.A decisão foi tomada em silêncio, carregada de arrependimento e medo. Os pais de Lana trocaram olhares tensos, cientes de que estavam sem saída, ainda mais após saberem que sua própria filha estava contra eles.— Se Kan não tiver aceitado você completamente… — o pai murmurou, apertando o copo de vinho. — Podemos estar mortos antes do amanhecer. Então, de uma forma ou de outra... não estamos perdidos?A mãe mordeu o lábio inferior, as mãos tremendo sobre a mesa.— Ele não tem mais escolha. Já me apresentou para toda a matilha, e agora eu sou a Luna dele. A líder que eles esperam que dê a chance de retomarem seu antigo reinado. — Ela riu com deboche.— Mas então a esperança acabou... — O pai esfregou o rosto, pensativo. — Você nasceu nesse mundo, mas está longe de ser a Deusa renascida de Kan. E se... a Maya for essa Deusa? Se o tempo todo fosse ela? Eu não sei se quero continuar com isso. Porque, se Maya for a renascida, todos sabem o quão importante
Cap. 17 Um mate proibido.A noite estava densa, pesada, como se o próprio mundo segurasse a respiração diante do que estava prestes a acontecer. Lana deslizava pela escuridão como uma sombra, a capa negra ocultando sua identidade enquanto se movia silenciosamente pelos jardins do fundo da mansão. A cada passo, o frio cortante da madrugada se infiltrava em sua pele, mas ela não hesitou.Ela encontrou o soldado nos limites da propriedade, um homem de postura rígida e olhar desconfiado. Sem perder tempo, retirou do bolso uma joia cintilante, um rubi lapidado em forma de lágrima, e estendeu para ele.— Onde fica a entrada do submundo? — sua voz era baixa, mas firme.O homem hesitou por um momento, o olhar avaliando-a com suspeita. Mas a promessa de riqueza falou mais alto. Ele pegou a joia com dedos ávidos e apontou com a cabeça para além das muralhas.— A leste, o segundo anexo. Entre as colinas, segunda porta, quando você abrir, haverá uma fenda nas rochas. Se seguir por ali, vai encont