Samuel Kan
Com um urro gutural, me libertei das mulheres que me prendiam e saltei pela janela. Em minha forma de lobo, a poção que meus irmãos me deram teria menos efeito, mas ainda assim, meu tempo era curto.
Os estilhaços do vidro da janela quebrada cortaram minhas patas enquanto eu aterrissava dois andares abaixo. Por um instante, pensei ter visto um vulto em cima de uma árvore, ou talvez... uma mulher? Mas isso não importava agora. A poção me confundia, e minhas visões podiam ser enganosas.
Continuei correndo entre as árvores, cambaleando a cada passo. Minha visão turva dificultava a fuga, e eu sabia que meus irmãos logo enviariam alguém em meu encalço. Precisava encontrar um lugar para me esconder e ativar um bloqueio mágico.
Minha forma de lobo era imponente, comum para um lobo de guerra. Meu tamanho e pelo acinzentado quase prateado me tornavam um alvo fácil. Era difícil me esconder entre as moitas, ainda mais sob o efeito da poção.
De repente, um som estrondoso ecoou atrás de mim. Um galho quebrou a poucos metros de distância, e percebi que alguém estava me seguindo.
Me escondi entre as folhagens, sentindo a poção tomar conta do meu corpo. Com todas as minhas forças, me concentrei em formar o bloqueio mágico.
Aos poucos, a barreira se formou ao meu redor. Ninguém do lado de fora seria capaz de me ouvir, me ver ou sentir minha presença. Era a minha única chance de me proteger dos meus irmãos.
"Está feito..." sussurrei para mim mesmo, soltando um urro de dor. Meu peito queimava com a poção, e eu precisava reprimir essa dor de alguma forma.
Enquanto me concentrava em drenar a poção do meu corpo, um som suave ecoou no jardim entre as arvores e arbustos. Não era o estrondo pesado de botas que eu esperava dos meus irmãos, mas sim passos leves e vacilantes, como se alguém estivesse se aproximando com cautela.
Minha mente turva pela poção dificultava a visão, mas ainda assim, consegui distinguir a silhueta de uma mulher. Ela usava um volumoso vestido branco, mas seus detalhes eram indecifráveis.
Uma onda de confusão me dominou. Como ela podia me ver? A barreira mágica deveria estar ativa, impedindo qualquer contato visual. Franzi o cenho, desconfiado.
— Senhor... você está bem? — ela perguntou com voz suave, se aproximando lentamente.
Balancei a cabeça negativamente, alertando-a para se manter afastada. Mas quem era essa mulher? Uma comparsa dos meus irmãos? Ou algo mais? Ela não podia me tocar, protegida pela barreira.
Ou assim eu pensei. Para meu espanto, ela atravessou o limite do escudo sem hesitar, se agachando perto de mim.
— Impossível... — murmurei com a respiração entrecortada.
— Céus... o que aconteceu com você? — sua voz, agora ofegante, carregava um tom de preocupação genuína. — Precisa que eu chame ajuda?
Olhei para ela com desconfiança. Era possível que ela estivesse mentindo? Que estivesse me atraindo para uma armadilha? Mas algo na suavidade de sua voz, me fez hesitar.
Senti a aproximação dos meus irmãos, percebi que a mulher ao meu lado não me reconhecia. A escuridão e o efeito da poção dificultavam a visão, mas meus ouvidos aguçados captaram os sons de seus passos apressados.
Sem hesitar, a puxei para dentro da barreira mágica, prendendo-a em meus braços.
— Seu louco! O que está fazendo? — ela gritou desesperada, tentando se livrar de mim com socos e chutes inúteis. Sua força era irrisória, a mais fraca que eu já havia visto.
— Ele deve ter vindo por aqui! As meninas avisaram que ele fugiu pela janela! — a voz de um dos meus irmãos ecoou pela floresta, enquanto seus homens cercavam o perímetro.
A mulher se acalmou de repente, permanecendo em silêncio sobre meu peito enquanto observava a cena ao redor. A barreira funcionava perfeitamente, protegendo-nos dos meus irmãos. Mas como ela havia conseguido entrar?
Nunca antes havia encontrado alguém que pudesse atravessar a minha barreira mágica de camuflagem. Essa mulher era diferente. Algo em mim me dizia que ela não era quem aparentava ser, já que se ela fosse uma loba ao menos teria conseguido se livrar de mim com facilidade, será que é uma humana? Humana aqui? Ainda assim, humanos também não consegue me ver e nem entrar na barreira.
Estávamos encurralados. Meus irmãos e seus capangas haviam cercado o perímetro, mas isso não me amedrontava. Minha barreira mágica me protegia, e eu poderia mantê-la ativa por quanto tempo quisesse.
Mas o casamento se aproximava, e a cada segundo que passava, a angústia de não estar ao lado de Maya me consumia. Fechei os olhos por um instante, sentindo meu peito queimar com a saudade e a frustração.
De repente, um gemido de dor cortou o silêncio. Era a mulher que eu havia prendido dentro da barreira. Sua voz fraca e suplicante me causava um estranho prazer, misturado com culpa e confusão.
— Ei... — ela sussurrou, implorando por piedade. — Você vai me matar? Me deixe ir! Socorro!
Ela gritou com todas as suas forças, mas seus gritos eram em vão. A barreira bloqueava qualquer som, isolando-a do mundo exterior.
O pânico se apoderou de seus olhos. Ela me encarou com terror, finalmente compreendendo sua situação.
— Quem é você? — perguntou com voz trêmula, ela perguntou e eu deixei ela se afastar de mim um pouco, mas a mantendo ainda na barreira, mas parece que estou começando a perder o controle e não podia ter uma mulher aqui, mas agora não posso deixar ela sair ou eu vou ser descoberto.
Soltei mais um urro o efeito estava em seu pico, uma luz vermelha incandescente emanou do meu corpo, tomando conta de mim.
A poção me consumia, me afastando da racionalidade. Eu precisava estar sozinho, e logo o efeito começaria a diminuir, me libertando daquela fúria incontrolável que eu tinha, mas agora ela seria meu ponto de escape e consumação daquilo que eu menos queria com qualquer outra mulher.
— Que azar o seu ter me encontrado... — rosnei para ela, que me encarava com horror.
Cap.; 6: quem é a mulher que eu possui?Maya tentou se afastar na primeira oportunidade, mas ele se moveu num estalo, os olhos brilhando com uma intensidade feroz que fez Maya temer. o braço dele se enrolando ao redor dela como um açoite. Maya caiu com um grito abafado, o peso dele a imobilizando no chão.— faça silencio. — Samuel a alertou após ouvir os passos ainda distante.— Quem... quem é você? — ela arfou, tentando empurrá-lo, mas ele era sólido como pedra.Samuel não conseguia pensar. Seus sentidos estavam confusos, misturados em uma tempestade de instinto e desejo. Ele sentia a presença dela, tão perto, tão insuportavelmente forte. Quem era ela? Como tinha passado por sua barreira? Como podia vê-lo quando ninguém jamais conseguira?Os olhos dele eram um abismo, selvagens, incapazes de foco. Ele segurava Maya com tanta força que seu corpo doía, mas era incapaz de soltar. Sua respiração vinha pesada contra o rosto dela, e por um momento, Maya viu algo brilhar nos olhos dele...
Capítulo 7 – A Fuga e o DesprezoO jardim estava vazio, mas Maya não se sentia livre. Cada passo que dava parecia ser mais pesado que o anterior, o vestido branco, agora sujo e rasgado, arrastando no chão como um manto de vergonha. As lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se ao suor frio e à terra que manchava sua pele. Ela só queria ir embora, fugir para longe daquele lugar, onde as lembranças do que acabara de acontecer não a perseguiriam.Quando chegou a um canto mais afastado, tentando se esconder na escuridão, uma mão forte a agarrou violentamente pelo braço. O grito que ela soltou foi abafado pelo toque brusco, e seu corpo foi puxado para trás com força. Ela tentou se desvencilhar, mas a pressão aumentava, e logo se viu sendo arrastada para a frente.— O que está fazendo, hein? Tentando fugir? — a voz de seu pai rasgou a noite como uma lâmina afiada. Ele estava ali, furioso, seus olhos brilhando de raiva. — Sua ingrata!Maya olhou para ele com os olhos inchados de tanto c
Cap. 8: Instintos nunca mentem.Samuel Kan.Antes de seguir para o grande salão pedi para meu pai deixar tudo preparado e fui rapidamente ate a cobertura onde estava metade da guarda de lobos, sei que todo aquele jardim é observado, então penso que poderiam ter visto algo.Mas não conseguir obter nada. Como eles poderiam ter perdido alguém tão peculiar, se bem... que ela não tinha cheiro de lobo, mas não acredito que tenha sido uma humana, eu também não sentir nada que disse que ela é uma humana, era algo família, mas peculiar, infelizmente a poção que eles me deram causa um bloqueio agressivo para que lobos como eu que só conseguem ficar com suas parceiras tenham contato com outras lobas, ou seja, ele me torna alguém que não consegue identificar minha parceira então por consequência acabei conseguindo ficar com alguém como aquela desconhecida.— Quero que vocês averiguem a lista de convidados e todas as mulheres que estiveram nesse lugar, sele os portões e não deixe ninguém sair até
Cap. 9: O líder também deve punir.— O grande Líder Alfa... — um deles começou, com um sorriso venenoso nos lábios. — É realmente digno desse título caros ministros? — um deles perguntou.Observei a multidão se entreolhar, a desconfiança crescendo no ar. Mantive minha postura imponente, os olhos frios, sem demonstrar qualquer emoção, aqueles três já deveria saber que não há nada que eles possam fazer para me atingir, eu só me submeto a outras lideranças para não causar problemas no equilíbrio de todo a matilha.— O nosso grande e imaculado líder talvez não tenha o direito de estar em qualquer posição estando nesse mundo onde temos regras rigorosas com escândalos, porque então ele é um dos primeiros a quebrar as regras.— O que estão insinuando? — Minha voz saiu firme, carregada de uma ameaça velada ao mesmo tempo que escondia um sorriso cruel.Os trigêmeos trocaram olhares antes de um deles disparar o golpe final.— Que você traiu sua própria Luna e não faz muito tempo! — eles levanta
Cap. 10: impiedosa como não esperava.O homem ainda estava de joelhos aos meus pés. Parecia que ninguém entendia a proporção do problema em que meus irmãos haviam me enfiado. Encarei o homem com ainda mais raiva. Ninguém deveria ousar tentar me enganar e destruir minha reputação, a não ser eu mesmo.Ergui as mãos. O poder ancestral que corria em minhas veias começou a vibrar no ar. A luz ao meu redor pulsava com energia divina, e os lobos próximos recuaram instintivamente. Sim, todos eles tinham medo de mim.— Todos vocês devem entender — minha voz reverberou como um trovão — por que nunca devem tentar brincar comigo.Um vento forte atravessou o salão quando voltei minha atenção para o serviçal ajoelhado. Com um gesto, envolvi seu corpo com minha magia. Num instante, ele começou a fragmentar-se em pequenos pedaços de luz, desintegrando-se diante dos olhos de todos até que não restasse mais nada.Gritos de horror ecoaram enquanto ele desaparecia, obliterado pelo meu poder. O medo se in
Cap. 11: Ninguém me engana.Fiquei em silêncio por um longo momento. Algo dentro de mim se contorceu. Isso não era certo. Isso não era... Maya.Lembrei-me dela, mesmo de séculos atrás, generosa, justa, alguém que nunca tomaria uma decisão tão cruel, alguém que entrou para a história dos lobos com honra.Mas essa mulher diante de mim não parecia aquela Maya, não ainda. Ela não se lembrava de tudo. Talvez fosse por isso... talvez fosse apenas a confusão de um espírito fragmentado, um instinto de sobrevivência, algo que o tempo corrigiria.— Vou pensar sobre isso. — Respondi, minha voz neutra. — Mas agora não quero falar disso. Quero apenas que você fique ao meu lado a partir de hoje.Ela sorriu, satisfeita. Mas, enquanto a abraçava novamente, senti meu coração pesar ao buscar minha ligação com ela.Algo estava errado. Eu estava buscando nela algo que eu não estava sentindo. Era algo inconfundível: a nossa ligação. Mas ela é a minha Maya... Não é possível que possam ser tão parecidas. Me
Cap. 12 Sem ligação.Samuel Kan observava Maya enquanto ela caminhava ao seu lado em silêncio, saindo do escritório. Seus olhos ainda estavam vermelhos, o rosto delicado marcado por uma tristeza fingida, algo que poderia enganar qualquer um, mas não a ele.Ele a levou até o quarto sem dizer uma palavra, refletindo sobre tudo o que acontecera naquela noite. A festa ainda seguia lá fora, mas a tensão entre eles pairava no ar.— Troque-se, vista outra roupa para que possa ficar confortável na festa. — Ele ordenou, fechando a porta atrás deles.Maya ergueu os olhos para ele, a expressão moldada em uma mistura de surpresa e charme calculado. Ela avançou devagar, os dedos deslizando pelo próprio vestido de maneira propositalmente sedutora.— Preciso mesmo me trocar agora, Kan? — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Depois de tudo o que aconteceu… não prefere ficar aqui comigo?Ela se aproximou mais, os dedos tocando seu peito, o calor da pele dela contrastando com o controle de ferro que
Cap. 13 : Você não é minha Luna.— Kan? — ela chamou olhando ao redor confusa.Seus olhos varreram o ambiente, buscando por ele, mas não o encontraram, ela não conseguia vê-lo.Maya sempre fora capaz de vê-lo, não importava as barreiras ou feitiços que lançasse, mas aquela mulher… não, então kan teve a certeza a mulher diante dele não era sua verdadeira Luna.Samuel Kan permaneceu imóvel, observando Maya se mover pelo escritório em busca dele. Seu olhar estava confuso, levemente inquieto, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Mas a verdade era evidente: ela não conseguia vê-lo.Se fosse a verdadeira Maya, teria percebido sua presença, mesmo sob a barreira.O coração de Kan pulsava com um misto de fúria e frustração. Como aquilo era possível? Quem era essa mulher? Como havia conseguido enganá-lo por tanto tempo?Ele esperou, oculto, enquanto Maya resmungava algo inaudível e saía do escritório com passos apressados. Havia algo suspeito em seu comportamento, algo que não es