Cap. 20: Tensão na saída.Antes de ir ao encontro de seus pais, ela seguiu até seu quarto e entrou no banheiro, ainda abatida. Lana se olhava no espelho do banheiro, o vapor do banho criando uma névoa ao seu redor. Seu corpo estava tenso, seus músculos doíam, como se cada parte dela tivesse sido esticada e usada de uma maneira que nunca imaginara. A água quente caía sobre sua pele, mas não conseguia aliviar completamente a sensação de arrebatamento e culpa que ainda a consumia. O cheiro do perfume que ela passava na pele parecia mais intenso agora — uma tentativa de mascarar o que sabia que havia acontecido e o que ainda estava acontecendo com ela.Ela se perguntava o que havia feito, como tinha chegado naquele ponto, entregando-se àquelas ligações que a tomavam por completo, que a faziam perder o controle. O pensamento sobre os trigêmeos e o que acontecera com eles ainda a assombrava. O que havia de errado com ela? Como tinha permitido que tudo isso acontecesse, como se seu corpo
Cap. 21: Faro perdido.A ansiedade foi tomada por um alívio imediato quando, finalmente, com um leve aceno de cabeça, ele deu um passo para trás, permitindo que seguissem se despedindo deles como se fossem pessoas distantes. Maya, por um momento, respirou pesadamente, lutando contra o efeito do remédio. Seus dedos mexeram, mas estava tão fraca que era inútil. Ainda assim, algo balançou os sentidos de Kan.O carro avançou. Eles estavam livres, ou pelo menos assim pensaram. Segundos depois, Kan sentiu um giro na cabeça, um puxão no peito. De repente, ele conseguiu sentir um fio da ligação com sua loba, mas não conseguiu detectar. Isso o deixou confuso, era como se ela estivesse muito perto e, ao mesmo tempo, distante, por causa da forma sutil como ele sentia sua presença.— Procurem o jardim! — ele ordenou abruptamente, sua voz ressoando com autoridade, ao mesmo tempo em que tentou captar a presença entre os carros, mas logo sumiu.Soldados imediatamente se espalharam pela mansão, vascu
Cap. 22: Abraço da morte.— Lana se casou com ele — sua mãe completou, a voz carregada de algo que parecia culpa.O impacto foi como um soco. Maya então se sentou na cama como se tudo estivesse desabando.Ela cambaleou um passo para trás, a respiração ficando irregular.— Não… tem algo que eu ouvi... eu vou poder viver com vocês, certo?Mas seus pais não responderam. Seus olhares apreensivos já diziam tudo.— Sim?... — ela murmurou, negando com a cabeça.Mas a seriedade no olhar de seus pais dizia que não.— Sinto muito — sua mãe continuou, mas sua expressão endureceu. — Agora precisamos nos certificar de que você não está grávida.Maya congelou.— O quê?Sua mãe ergueu um pequeno frasco com um líquido escuro.— Você precisa tomar. Agora, eu sei que não é culpa sua que alguém tenha tido a coragem de fazer isso com você, mas... precisamos nos livrar do que pode estar prestes a crescer em você.— O que está dizendo? Que eu tenho que... supostamente interromper uma gestação?O coração de
Cap .23 Tentativa de matar Maya— Não mate ela assim! Por favor! — Lorena gritou, e Hayde soltou Maya com cuidado na cama, enquanto a culpa o dominava, mas ele tentava disfarçar a todo custo.— Tudo bem... eu não tinha a intenção de acabar com a vida dela de forma tão dolorosa. Vamos dar o remédio e esperar pelos resultados. — Hayde sugeriu, temeroso.A mãe de Maya hesitou, segurando o pequeno frasco nas mãos trêmulas. O líquido escuro refletia a luz bruxuleante do quarto, e uma sombra de condenação dançava dentro do vidro.— Tem certeza de que devemos fazer isso? — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro.O pai de Maya fechou os olhos, os ombros tensos.— Se não fizermos, estaremos condenados.A mãe apertou os lábios, engolindo a culpa. Era como se não houvesse saída.Ambos se ajoelharam ao lado da cama, onde Maya jazia inconsciente. O rosto pálido e sereno, completamente vulnerável, com marcas de sangue entre os lábios — ela parecia que estava partindo.— Me perdoe, filha… — murmurou
Cap. 24 Tudo pela prole.Eu ainda tinha o gosto amargo na boca do remédio que deveria ter matado uma suposta vida dentro de mim, e uma dor lancinante no peito por causa daquele abraço. Era como se meu coração estivesse sendo comprimido por algo invisível.Engoli em seco, sentindo o corpo inteiro vibrar com uma energia que não reconhecia. Meus músculos, que sempre foram fracos, pareciam pulsar com força, como se houvesse algo novo dentro de mim… algo vivo.Ainda assim, não conseguia apagar o fato de que eles tentaram me matar. E poderiam tentar de novo, se souberem que estou bem.A lembrança do líquido forçando sua passagem pela minha garganta, o gosto amargo, o desespero tomando meu peito… tudo voltou em um turbilhão. Meu pai sussurrando desculpas. Minha mãe hesitando, mas ainda assim me condenando.Mas eu sobrevivi. Algo dentro de mim me manteve viva. Será que… será que era porque eu estou realmente grávida?O pensamento me fez prender a respiração.Meu peito ainda ardia, mas não era
25. A Vila dos Lobos e KanO ar da Vila dos Lobos tinha um peso próprio. Era espesso, quase palpável, como se cada partícula carregasse séculos de orgulho e desconfiança.Assim que cruzei os portões de madeira maciça, senti os olhos sobre mim — atentos, desconfiados, julgando cada passo meu. Eu não era bem-vinda ali. Era uma estranha. Uma sombra errante entre matilhas que protegiam seu território com garras e dentes.Eles não aceitavam forasteiros.As casas mais simples eram construídas com pedra bruta e madeira escurecida pelo tempo, pareciam mais fortalezas do que lares. Em algumas, bandeiras antigas balançavam com o vento, ostentando brasões de clãs que eu só conhecia por histórias sussurradas em noites de fogueira e outras eram mais ostentadas, construções ornamentais e chamativas, supostas casas dos lobos de alto escalão, elas se erguiam como fortalezas silenciosas no coração da vila. Feitas de pedra escura e madeira entalhada com símbolos antigos, impunham respeito à primeira vi
Cap. 26 Prisioneira para as Feras.À frente, além de um portão de ferro negro, velho e corroído pelo tempo, havia um espaço amplo e circular. Uma arena. Não daquelas gloriosas, mas crua, cercada por arquibancadas de pedra, onde figuras com olhos selvagens se empoleiravam como aves de rapina. No centro, a terra estava marcada por garras, suor e sangue seco.Eu não devia estar ali, e, para minha má sorte, eu tinha chegado à porta dos fundos — justamente por onde entram as novas criaturas para serem levadas às celas ou onde os lobos são jogados para serem devorados. Tremi, sentindo meu corpo todo entrar em estado de alerta. Tentei fugir.Mas, antes que pudesse dar um passo para trás, vozes me cercaram.— O que temos aqui? — disse um homem, saindo das sombras com um sorriso torcido, cruel. Era largo, os braços pareciam troncos, e os olhos, vazios de empatia.Outros surgiram — um grupo de lycans. Metade homens, metade lobos, com cicatrizes pelo corpo e olhares de quem já havia matado... e
Cap. 27: sem esperança para você.Meu corpo recuou por instinto, encolhendo-se atrás da parede de pedra — mas era tarde.Ele estava planejando algo?O suspiro pesado que ele soltou chegou até mim como um vento amargo.Kan deu meia-volta. Seus passos vinham em minha direção: firmes, impacientes, quase irritados.Eu quis correr. Quis sumir. Mas meu corpo não respondeu. Estava cansada, ferida... fraca. Quando tentei me afastar, tropecei numa raiz retorcida e caí sentada no chão, coberto de poeira e folhas mortas.Ele parou a poucos passos de mim. Não estendeu a mão. Não ofereceu ajuda.Apenas me olhou de cima, como se eu fosse uma pedra no caminho.— Por que ainda está aqui? — a voz dele era grave, direta. — É óbvio que vai morrer nesse lugar. Lobos como nós não toleram fraqueza. Muito menos inutilidade.As palavras atravessaram meu peito como facas.Não respondi. Apenas abaixei os olhos e apertei os dedos contra a terra fria.— Você não serve pra nada. Nem aqui, nem em qualquer outro ca