Cap .23 Tentativa de matar Maya— Não mate ela assim! Por favor! — Lorena gritou, e Hayde soltou Maya com cuidado na cama, enquanto a culpa o dominava, mas ele tentava disfarçar a todo custo.— Tudo bem... eu não tinha a intenção de acabar com a vida dela de forma tão dolorosa. Vamos dar o remédio e esperar pelos resultados. — Hayde sugeriu, temeroso.A mãe de Maya hesitou, segurando o pequeno frasco nas mãos trêmulas. O líquido escuro refletia a luz bruxuleante do quarto, e uma sombra de condenação dançava dentro do vidro.— Tem certeza de que devemos fazer isso? — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro.O pai de Maya fechou os olhos, os ombros tensos.— Se não fizermos, estaremos condenados.A mãe apertou os lábios, engolindo a culpa. Era como se não houvesse saída.Ambos se ajoelharam ao lado da cama, onde Maya jazia inconsciente. O rosto pálido e sereno, completamente vulnerável, com marcas de sangue entre os lábios — ela parecia que estava partindo.— Me perdoe, filha… — murmurou
Cap. 24 Tudo pela prole.Eu ainda tinha o gosto amargo na boca do remédio que deveria ter matado uma suposta vida dentro de mim, e uma dor lancinante no peito por causa daquele abraço. Era como se meu coração estivesse sendo comprimido por algo invisível.Engoli em seco, sentindo o corpo inteiro vibrar com uma energia que não reconhecia. Meus músculos, que sempre foram fracos, pareciam pulsar com força, como se houvesse algo novo dentro de mim… algo vivo.Ainda assim, não conseguia apagar o fato de que eles tentaram me matar. E poderiam tentar de novo, se souberem que estou bem.A lembrança do líquido forçando sua passagem pela minha garganta, o gosto amargo, o desespero tomando meu peito… tudo voltou em um turbilhão. Meu pai sussurrando desculpas. Minha mãe hesitando, mas ainda assim me condenando.Mas eu sobrevivi. Algo dentro de mim me manteve viva. Será que… será que era porque eu estou realmente grávida?O pensamento me fez prender a respiração.Meu peito ainda ardia, mas não era
25. A Vila dos Lobos e KanO ar da Vila dos Lobos tinha um peso próprio. Era espesso, quase palpável, como se cada partícula carregasse séculos de orgulho e desconfiança.Assim que cruzei os portões de madeira maciça, senti os olhos sobre mim — atentos, desconfiados, julgando cada passo meu. Eu não era bem-vinda ali. Era uma estranha. Uma sombra errante entre matilhas que protegiam seu território com garras e dentes.Eles não aceitavam forasteiros.As casas mais simples eram construídas com pedra bruta e madeira escurecida pelo tempo, pareciam mais fortalezas do que lares. Em algumas, bandeiras antigas balançavam com o vento, ostentando brasões de clãs que eu só conhecia por histórias sussurradas em noites de fogueira e outras eram mais ostentadas, construções ornamentais e chamativas, supostas casas dos lobos de alto escalão, elas se erguiam como fortalezas silenciosas no coração da vila. Feitas de pedra escura e madeira entalhada com símbolos antigos, impunham respeito à primeira vi
Cap. 26 Prisioneira para as Feras.À frente, além de um portão de ferro negro, velho e corroído pelo tempo, havia um espaço amplo e circular. Uma arena. Não daquelas gloriosas, mas crua, cercada por arquibancadas de pedra, onde figuras com olhos selvagens se empoleiravam como aves de rapina. No centro, a terra estava marcada por garras, suor e sangue seco.Eu não devia estar ali, e, para minha má sorte, eu tinha chegado à porta dos fundos — justamente por onde entram as novas criaturas para serem levadas às celas ou onde os lobos são jogados para serem devorados. Tremi, sentindo meu corpo todo entrar em estado de alerta. Tentei fugir.Mas, antes que pudesse dar um passo para trás, vozes me cercaram.— O que temos aqui? — disse um homem, saindo das sombras com um sorriso torcido, cruel. Era largo, os braços pareciam troncos, e os olhos, vazios de empatia.Outros surgiram — um grupo de lycans. Metade homens, metade lobos, com cicatrizes pelo corpo e olhares de quem já havia matado... e
Cap. 27: sem esperança para você.Meu corpo recuou por instinto, encolhendo-se atrás da parede de pedra — mas era tarde.Ele estava planejando algo?O suspiro pesado que ele soltou chegou até mim como um vento amargo.Kan deu meia-volta. Seus passos vinham em minha direção: firmes, impacientes, quase irritados.Eu quis correr. Quis sumir. Mas meu corpo não respondeu. Estava cansada, ferida... fraca. Quando tentei me afastar, tropecei numa raiz retorcida e caí sentada no chão, coberto de poeira e folhas mortas.Ele parou a poucos passos de mim. Não estendeu a mão. Não ofereceu ajuda.Apenas me olhou de cima, como se eu fosse uma pedra no caminho.— Por que ainda está aqui? — a voz dele era grave, direta. — É óbvio que vai morrer nesse lugar. Lobos como nós não toleram fraqueza. Muito menos inutilidade.As palavras atravessaram meu peito como facas.Não respondi. Apenas abaixei os olhos e apertei os dedos contra a terra fria.— Você não serve pra nada. Nem aqui, nem em qualquer outro ca
A Marca dos Condenados é um peso.O silêncio que pairava após a sentença era mais cruel os que estavam presentes encaravam tudo com um olhar de deboche como se disse a ela indiretamente que ela merecia aquele fim, O som dos passos de Maya na trilha de terra seca da vila dos lobos parecia ecoar por todo o território como uma marcha fúnebre. Os portões de pedra ao longe anunciavam o fim de tudo que ela conhecera e o começo de um abismo desconhecido.Kan a observava à distância, imóvel, como uma sombra entre as colunas do templo dos guerreiros, Seus olhos, antes dourados como âmbar selvagem, tornaram-se negros como a noite sem lua, Ele a seguia com precisão cirúrgica, analisando cada curva de sua pele onde ele encontra exposta, seu pescoço agora que ela não usava mais o capuz, cada hesitação dos dedos que tremiam ao segurar a barra do capuz. Mas foi quando o vento levantou os fios de cabelo dela, revelando o delicado contorno do pescoço, que algo nele se ativou.— é exatamente ai que eu
Cap. 29 Longe de ser rastreada.E, ironicamente, foi ser banida que a salvou, ela se levantou as pressas olhando ao redor como se procurasse algo, e alguns de seus pertences tinha caído, um dos seus saquinhos de pano onde ela tinha guardado algumas joias, ela rapidamente o recuperou se certificando que estavam ali e suspirou aliviada ao ver que não tinha perdido nada.Era sua única oportunidade de conseguir sair dali e conseguir viver por alguns dias até conseguir se estabilizar.Maya odiou aquele lugar com todas as suas forças.O ar parecia envenenado, O solo pulsava com uma ameaça invisível, como se o chão quisesse engoli-la inteira, Até a luz era hostil. Cinza, pálida. Sem esperança. Seu corpo doía onde haviam mordido, seus joelhos estavam ralados, e a vergonha latejava mais que os ferimentos.O guarda do portão, um velho lobo de olhar cansado, abria lentamente a pesada porta de ferro encantado. Maya não disse nada. Apenas correu. Correu com os olhos úmidos, o coração em frangalhos
Cap. 30: Da desventura uma ventura— Esse banco é público, ou você cobra entrada? — disse uma voz masculina, bem-humorada, mas não invasiva.Maya olhou para o lado com cautela.Era um jovem, talvez com uns vinte e quatro anos, alto, de corpo esguio — o tipo de pessoa que parecia caminhar muito pela cidade. Talvez um universitário, ou alguém que simplesmente pertencia às ruas. Usava jeans escuros, um tênis simples e uma camisa de linho de botões abertos sobre uma camiseta clara. Tudo limpo, bem ajustado, com aquele toque elegante que vem de quem não tenta demais, mas acerta mesmo assim.Seus cabelos castanho-escuros estavam um pouco desalinhados, como se o vento sempre passasse por ali primeiro. Os óculos de aro fino davam a ele um charme intelectual, e embora fosse discreto, era impossível ignorar os traços marcantes do rosto — a linha do maxilar bem desenhada, os olhos atentos, quase gentis demais para um desconhecido. Ele era comum... mas com algo cativante. Uma beleza que nascia da