Ela dá um gritinho do outro lado.—Que bom!—Renata, eu resolvi ir sem Lucas saber. Não quero que ele me reconheça lá.—Como? Eu ouvi direito? Sem Lucas saber? Dio, Giovanna. O que você tem em mente?—Eu e Lucas estamos nos acertando. Ele me fez promessa de fidelidade, disse que deseja que nosso casamento dê certo. Então, quero observá-lo de longe, e ver como ele se comporta lá. Preciso de respostas. Quero tirar a imagem que ele deixou de italiano sedutor.—Giovanna, você me surpreendeu agora. Dio! Então preciso comprar alguns acessórios.— Acessórios?— Sim. Peruca e uma máscara. — Eu senti um arrepio na espinha pelo jogo que eu estou entrando.— Obrigada Renata. Não conta nada para ninguém, por favor.Ela dá um suspiro.—Espero que ele se comporte e que você tenha sua resposta. Vocês fazem um casal tão bonito. Felipe está tão apegado a ele. — Ela se calou por um tempo e meu coração estava pequenino com as falas dela. —E se ele não se comportar?Eu respiro fundo e digo resoluta:—Nos
Uma batida na porta interrompe meus pensamentos. É Raquel.Eu já tinha me exaltado com ela, logo que cheguei, a proibindo de ligar para a minha casa. Mesmo assim, sua presença ainda me incomoda. Ela representa o que fui — e que não quero mais ser.—A outra remessa do maquinário chegou e você precisa assinar alguns documentos.—Tudo bem.Ela entra, como sempre segura de si, e me lança aquele olhar atrevido, como se ainda houvesse alguma intimidade entre nós.—Não precisa ficar com essa cara amarrada. Já conversamos sobre isso. Eu não vou ligar mais para a sua casa. É que você andou faltando. Na verdade, você andou sumido. Frank me disse que ficou doente. Isso foi na quinta-feira. Hoje é terça e sábado você costuma aparecer no Cassino. Ficou doente todos esses dias?Peguei os documentos das mãos dela, ignorando seu olhar invasivo, insistente.—Não, senhorita Watson. Obrigado pela preocupação, mas eu estou bem. Me ausentei por motivos particulares.Ela me avalia, como se quisesse me ler
GIOVANNAPassei a noite tendo a televisão como companhia, os questionamentos indo e vindo como ondas quebrando dentro de mim. Lucas chegou tarde do trabalho. Sim, ele tinha me avisado que seria assim essa semana. Mas não adiantava — sua fama o precedia. Eu sempre acho que ele está com alguma mulher.Não consigo evitar.Mesmo com esses pensamentos, me surpreendo por estar tranquila. Talvez porque fiz questão de não termos mais intimidade física. Acho que se ainda estivéssemos mantendo uma relação sexual, eu estaria mais vulnerável, mais à flor da pele. A decisão de ir à festa também me deu um certo alívio. É bom agir. É bom fazer alguma coisa, me sentir no controle, ainda que minimamente.Lá, na festa, estarei com os olhos cravados nele. Sei que haverá muitas tentações, e o simples fato de observar pode me dar respostas que palavras nunca me dariam.Carrego dentro de mim o medo, sim. Mas mais do que isso, o desejo profundo de que nosso casamento dê certo.Só que não consigo mais me ilu
LUCASA pele de Giovanna tem uma maciez e um gosto adocicado que me lembram flores da primavera. Dio! Seu perfume ainda estava na minha camisa.Fechei os olhos com a lembrança de seus lábios entreabertos num oferecimento, esperando ser beijados. Os cabelos espalhados nas costas, macios, negros e brilhantes.Massageei minha nuca. Eu sinto como se tivesse com os nervos repuxados. Sim, tudo isso devido ao estresse desses últimos dias, com o trabalho acumulado, gerando tensão no meu pescoço e ombros. Não via a hora dessa agitação passar. Não via a hora que as máquinas novas estivessem em seus lugares, operando normalmente e que acontecesse logo essa festa e minha vida voltasse ao normal. Um monte de merda que eu trocaria só para poder ficar o dia inteiro com ela.Então, finalmente, poderei chegar em casa mais cedo e curtir minha doce e linda Giovanna.Agora eu estava no canto observando eles finalizarem a arrumação do salão para o baile. A noite está agradável, quente, mas não muito abafa
Ele caminha em minha direção e, ainda que minha expressão permaneça calma, tudo dentro de mim treme. Meu coração acelera com uma força quase infantil, como se cada passo dele ativasse um alarme dentro do meu corpo. Quando ele se aproxima e pressiona o corpo contra o meu, é como se o tempo parasse. Seus braços envolvem minha cintura com uma delicadeza firme, aquela que faz parecer que o mundo lá fora não existe mais. Mas ele não se move. Apenas fica ali, parado, como se o simples contato já bastasse.O ar entre nós fica espesso, quase palpável. Consigo sentir o calor que emana do seu corpo, e sei que o cheiro dele — aquele perfume másculo com toques amadeirados e notas quentes que grudam na memória — vai ficar impregnado na minha pele por horas, talvez dias. Seus olhos castanhos, profundos e intensos, estão fixos no meu rosto. E eu, apesar de todas as minhas feridas, me perco por um instante naquele olhar que parece prometer o mundo.— Acho que não é justo você ficar aqui. Eu vou por c
O dia passou lento, arrastado como um filme em câmera lenta. Cada minuto parecia pesar em meus ombros, como se o tempo estivesse me testando, brincando com minha ansiedade. Meu coração, inquieto, batia num ritmo que não obedecia à lógica. Eu estava nervosa, ansiosa, inquieta... só conseguia pensar no dia de amanhã.Dei graças a Deus quando Felipe chegou da escola dizendo que tinha dever de casa. Foi como um alívio, uma desculpa perfeita para ocupar minha mente com algo real, concreto, que me trouxesse de volta ao presente. Sentei ao lado dele e, por alguns momentos, consegui focar apenas em letras, números e cadernos coloridos. Era bom, quase terapêutico, cuidar dele. Queria tanto ser mais leve, mais despreocupada... Queria ser como outras mulheres que confiam cegamente. Mas eu não sou mais assim. Algo em mim se partiu — e não voltou a ser inteiro.Mais tarde, depois que Felipe adormece com seu ursinho apertado nos braços, caminho em silêncio até meu quarto. A casa está mergulhada em
Apanho os brinquedos de Felipe espalhados pelo chão da sala e devolvo-os ao baú. O silêncio pesa ao meu redor, mesmo com os sons da casa. Sinto como se estivesse andando em direção ao fim de um penhasco. Cada segundo é uma contagem regressiva até a verdade se revelar. Não vejo a hora de dar o horário de Renata chegar, me produzir, ir à festa, dar tudo certo e acabar logo com essa agonia. Quero saber. Preciso saber. Mesmo que doa. Mesmo que o que eu veja me esmague por dentro.Faltam algumas horas para o sol se pôr. Acendo as luzes da sala, tentando afastar as sombras que se acumulam dentro de mim. A claridade não alcança o que está escuro aqui dentro. Vou até o bar e abro uma garrafa de uísque. Bebo um gole dele puro, sentindo o calor descer queimando pela garganta, esperando que essa sensação me acalme, me anestesie. Ainda nervosa, puxo as cortinas e as fecho com um gesto rápido, como se isso pudesse me proteger do que está por vir.Marcello chora no carrinho. Pego ele no colo e sint
Da janela, observo os convidados se espremendo pelo cordão de segurança que contorna a entrada do Cassino. O clima lá fora é de expectativa. Cada um deles aguarda sua vez para entregar o convite e ser revistado. Aqui dentro, o contraste é gritante: luzes em excesso, música pulsando, e tentações por todos os lados. Mulheres lindas, exuberantes, com fantasias provocantes e olhares ousados. São maioria, convidadas dos Sabatines, claro, já que eles são os anfitriões desta noite. Tento ignorar a beleza que passa por mim e me concentro em algo mais mundano: o garçom com a bandeja de uísques. Estou cansado. Exausto, na verdade. Um gole não faria mal… só para relaxar. O problema é que esse lugar me sufoca. Não é onde eu gostaria de estar. Meu lugar seria ao lado de Giovanna e das crianças. Meu lar.Alguém segura meu braço, me fazendo parar. Sinto o toque firme, e quando viro, vejo o rosto sério de Vincent.— Hoje eu não quero que você beba. Quando bebe não consegue parar. Já reparou nisso? Pr