GIOVANNAMinha cabeça dói com um latejar agudo, como se martelassem meu crânio por dentro. Tento abrir os olhos, piscando furiosamente, mas há algo cobrindo minha visão.Dio… estou com uma venda.Um arrepio percorre minha espinha, e o pânico me atinge com força. Tento respirar, mas sinto um pano de seda apertado em volta da minha boca, abafando meu grito. Estou amordaçada.Meu coração dispara, martelando contra o peito preso por um cinto de segurança. Tento me mover, me sentar, mas meus pulsos estão amarrados. Sinto a tensão da corda queimando minha pele. Os tornozelos também estão presos. Não posso mover as pernas. Estou presa. Completamente imobilizada.Contorço-me no banco de couro, o ranger do material ecoando na minha cabeça como um alarme de perigo. Tento gritar, mas o som sai abafado, um gemido desesperado e patético contra a mordaça.Dio, isso é patético.E, pior… isso não é um sonho. Isto é real. Totalmente real.A gravidade da situação toma conta de mim como uma onda de gelo
Ele dá um sorriso cínico e fica sério. O cheiro dele e seus olhos pesados sobre mim é uma combinação inebriante. Isso me deixou um pouco desequilibrada. Quando comecei a me afastar senti seus dedos de repente no meu rosto. Meus olhos se arregalaram e meu coração começou a bater duro e antes que eu percebesse o que estava acontecendo ele tomou minha boca com um beijo intenso e quente. O tempo todo me provocando com sua língua, sugando meus lábios. Eu estremeci. Odiava-me, naquele momento por apreciar tanto esse beijo.Quando seus lábios soltaram os meus, eu choraminguei.—Nunca vou perdoar você!Ele correu sua boca no meu pescoço dizendo:— Nunca é tempo demais....Seus lábios tomaram os meus novamente, numa tortura angustiante. Eu estremeci novamente. Seu cheiro maravilhoso era golpe baixo. Seus braços fortes e quentes me trazendo para mais perto do seu corpo me davam um prazer torturante.Seus lábios soltam os meus e correm pelo meu pescoço. Revivo tudo que sofri com ele. Tudo que el
LUCASNo dia seguinte acordo cedo. Procuro com os olhos Giovanna. Ela está adormecida. O lençol cobrindo apenas metade de seu corpo.Os cabelos espalhados no travesseiro. Suas costas nuas. Na hora sinto meu coração se agitar. Afasto os lençóis e me levanto. Sinto uma dor forte no joelho. Mancando pego minhas roupas e me visto. Antes de sair do quarto fito Giovanna novamente, sentindo-me frustrado, e com um sentimento de raiva saio do quarto. Desço as escadas com dificuldade.Sento-me no sofá e fico encarando o vazio, revivendo a noite anterior.Sim, eu a tinha levado ao limite, a deixado louca de desejo e propositalmente parei. A questionei, querendo saber se sua ótica em relação a mim havia mudado. Eu sabia que ela insistiria naquele absurdo que eu não sabia quem era ela. Mas mesmo esperando essa resposta, não consegui deixar de me corroer de raiva quando ela confirmou Como um camaleão de sentimentos, eu não demonstrei o quanto isso me afetava, e a tratei friamente. Ainda assim,
— Lucas. Como pode agir normalmente? Você me trouxe a força. Você me sequestrou.Lucas gargalha e pega um pão.— Sequestro? Isso não foi um sequestro.— Diga isso à polícia!—Você é minha esposa.—Sua esposa? Você me trouxe amarrada, vendada e amordaçada.—Estávamos te protegendo. Do jeito que anda nervosa, poderia ter provocado um acidente.— Me protegendo? Vocês deturpam as coisas. Só um Bertizollo acha normal uma coisa dessas! Vocês são tão obstinados naquilo que querem que nem pensam nas consequências.—Você está dramatizando tudo. —Lucas me diz com pouco caso e tranquilamente enche a xícara de café e depois a minha.—Lucas! E meus filhos? Felipe e Marcello?—Renata e Vincent ficarão com eles. Hoje Vincent irá leva-los a um parque de diversão. E eles são meus filhos também.Eu ignoro esse último comentário dele e digo:—Dio! Vocês planejaram tudo!—Sim, podemos ser intempestivos, mas cuidamos de todos os detalhes. Agora coma. Eu estou morrendo de fome. Você não?Adiantava argumen
Meu coração se aperta no peito.Dio! Por Lucas?—Entendo. E ele estava bem? Feliz?—Sim, não se preocupe. Renata é uma ótima tia.Eu limpei uma lágrima do meu rosto. —Obrigada senhora Smith. Não consigo deixar de me sentir triste. Que Cazzo! Eu sou uma mãe dedicada e ele pergunta por Lucas? Não consigo deixar de rever a expressão feliz no rostinho dele com a promessa que fiz que hoje nós sairíamos juntos. E agora eu quebro essa promessa com meu sumiço?Desligo o telefone e subo as escadas devagar. Tento não pensar nisso. Felipe é muito noivo para ficar encucado ou magoado e eu não tenho culpa.Vou até o banheiro. Escovo os dentes. Penteio meus cabelos. Meus lábios ainda estão vermelhos com o beijo. Passo um batom clarinho e depois vou até a janela. Olho para o lado de fora. O céu está azul, mas como entramos no outono está frio. As montanhas ao longe e o sol atrás delas é um lindo espetáculo. Olho para baixo e vejo Lucas mais ao longe. Ele está de costas para mim. Está apoiado a u
De repente, ele me afasta. Segura meu queixo com firmeza e força meu rosto a encará-lo. Seu aperto é duro, mas não machuca. Seus olhos, como tempestades prestes a desabar, mergulham nos meus.— Que tipo de resposta é essa?Não desvio o olhar. Quero que ele veja a verdade crua nos meus olhos, sem hesitação.— Eu te amo. E resolvi que... devemos recomeçar do zero.Lucas solta meu queixo devagar. Respira fundo e inclina-se para frente, colando sua testa na minha. Ficamos assim, respirando juntos, como se nossos corpos estivessem tentando se encontrar novamente no silêncio.Ele se afasta apenas o suficiente para me encarar com seriedade.— Isso significa que confiará em mim daqui por diante? Cegamente?A palavra pesa. "Cegamente" é um salto no escuro, um risco. Mas naquele momento, entre o passado que me atormenta e o presente que pulsa diante de mim, percebo que nunca estarei pronta se não tentar. Meu coração bate acelerado e eu digo:— Sim. Cegamente.E antes que a dúvida tivesse tempo
EpílogoUm mês depois...Pedi para Ruan estacionar em frente ao cassino. Meus dedos tremiam de ansiedade enquanto eu segurava o envelope com o exame em mãos. Meu coração martelava no peito, apertado, elétrico. Eu mal podia esperar para contar a novidade a Lucas. Aquela notícia mudaria nossas vidas — outra vez.A secretária, uma senhora gentil de meia idade que sempre me recebia com um sorriso caloroso, me olhou surpresa, mas com ternura.—Preciso falar com Lucas — pedi. —Mas não quero ser anunciada.Ela assentiu com delicadeza, como se já adivinhasse que se tratava de algo importante.Abri a porta devagar. Lucas estava no escritório, atrás da mesa de madeira escura recém-comprada. Vestia roupas casuais, mas havia algo em sua postura — a segurança, a beleza crua, o brilho nos olhos castanhos — que o fazia parecer saído de uma campanha de moda. Um bad boy elegante, meu homem. O pai dos meus filhos. Meu tudo.Ele ergueu o olhar, e um sorriso iluminou seu rosto quando me viu.—Giovanna? —
GiovannaEu sabia que meu casamento com Lucas seria diferente.E põe diferente nisso!Assumir a esposa do próprio irmão falecido, com dois filhos, não era uma situação comum. Mas o que mais doía era enxergar a superficialidade nos olhos de Lucas quando ele me olhava. E o pior? Eu me apaixonei por ele.Não apenas por sua beleza – embora ele fosse irresistivelmente lindo, com aqueles braços tatuados, a covinha charmosa no rosto e os lábios carnudos. Dio! Mas eu enxerguei além. Ou ao menos achei que enxergava. Me apaixonei por qualidades que, hoje, percebo que ele nunca teve.Eu sorria com nossas conversas, mesmo quando eram vazias. Me sentia especial, vivendo um conto de fadas. Mas Lucas não era o príncipe da minha história – era o sapo que me iludiu com seu sorriso sedutor, apenas para depois despedaçar tudo com sua falta de amor.Nosso casamento ruiu diante de suas viagens, sempre cercadas de piranhas. E, enquanto ele se afundava em sua vida de solteiro, cercado pelas piores companhia