LUCASA pele de Giovanna tem uma maciez e um gosto adocicado que me lembram flores da primavera. Dio! Seu perfume ainda estava na minha camisa.Fechei os olhos com a lembrança de seus lábios entreabertos num oferecimento, esperando ser beijados. Os cabelos espalhados nas costas, macios, negros e brilhantes.Massageei minha nuca. Eu sinto como se tivesse com os nervos repuxados. Sim, tudo isso devido ao estresse desses últimos dias, com o trabalho acumulado, gerando tensão no meu pescoço e ombros. Não via a hora dessa agitação passar. Não via a hora que as máquinas novas estivessem em seus lugares, operando normalmente e que acontecesse logo essa festa e minha vida voltasse ao normal. Um monte de merda que eu trocaria só para poder ficar o dia inteiro com ela.Então, finalmente, poderei chegar em casa mais cedo e curtir minha doce e linda Giovanna.Agora eu estava no canto observando eles finalizarem a arrumação do salão para o baile. A noite está agradável, quente, mas não muito abafa
Ele caminha em minha direção e, ainda que minha expressão permaneça calma, tudo dentro de mim treme. Meu coração acelera com uma força quase infantil, como se cada passo dele ativasse um alarme dentro do meu corpo. Quando ele se aproxima e pressiona o corpo contra o meu, é como se o tempo parasse. Seus braços envolvem minha cintura com uma delicadeza firme, aquela que faz parecer que o mundo lá fora não existe mais. Mas ele não se move. Apenas fica ali, parado, como se o simples contato já bastasse.O ar entre nós fica espesso, quase palpável. Consigo sentir o calor que emana do seu corpo, e sei que o cheiro dele — aquele perfume másculo com toques amadeirados e notas quentes que grudam na memória — vai ficar impregnado na minha pele por horas, talvez dias. Seus olhos castanhos, profundos e intensos, estão fixos no meu rosto. E eu, apesar de todas as minhas feridas, me perco por um instante naquele olhar que parece prometer o mundo.— Acho que não é justo você ficar aqui. Eu vou por c
O dia passou lento, arrastado como um filme em câmera lenta. Cada minuto parecia pesar em meus ombros, como se o tempo estivesse me testando, brincando com minha ansiedade. Meu coração, inquieto, batia num ritmo que não obedecia à lógica. Eu estava nervosa, ansiosa, inquieta... só conseguia pensar no dia de amanhã.Dei graças a Deus quando Felipe chegou da escola dizendo que tinha dever de casa. Foi como um alívio, uma desculpa perfeita para ocupar minha mente com algo real, concreto, que me trouxesse de volta ao presente. Sentei ao lado dele e, por alguns momentos, consegui focar apenas em letras, números e cadernos coloridos. Era bom, quase terapêutico, cuidar dele. Queria tanto ser mais leve, mais despreocupada... Queria ser como outras mulheres que confiam cegamente. Mas eu não sou mais assim. Algo em mim se partiu — e não voltou a ser inteiro.Mais tarde, depois que Felipe adormece com seu ursinho apertado nos braços, caminho em silêncio até meu quarto. A casa está mergulhada em
Apanho os brinquedos de Felipe espalhados pelo chão da sala e devolvo-os ao baú. O silêncio pesa ao meu redor, mesmo com os sons da casa. Sinto como se estivesse andando em direção ao fim de um penhasco. Cada segundo é uma contagem regressiva até a verdade se revelar. Não vejo a hora de dar o horário de Renata chegar, me produzir, ir à festa, dar tudo certo e acabar logo com essa agonia. Quero saber. Preciso saber. Mesmo que doa. Mesmo que o que eu veja me esmague por dentro.Faltam algumas horas para o sol se pôr. Acendo as luzes da sala, tentando afastar as sombras que se acumulam dentro de mim. A claridade não alcança o que está escuro aqui dentro. Vou até o bar e abro uma garrafa de uísque. Bebo um gole dele puro, sentindo o calor descer queimando pela garganta, esperando que essa sensação me acalme, me anestesie. Ainda nervosa, puxo as cortinas e as fecho com um gesto rápido, como se isso pudesse me proteger do que está por vir.Marcello chora no carrinho. Pego ele no colo e sint
Da janela, observo os convidados se espremendo pelo cordão de segurança que contorna a entrada do Cassino. O clima lá fora é de expectativa. Cada um deles aguarda sua vez para entregar o convite e ser revistado. Aqui dentro, o contraste é gritante: luzes em excesso, música pulsando, e tentações por todos os lados. Mulheres lindas, exuberantes, com fantasias provocantes e olhares ousados. São maioria, convidadas dos Sabatines, claro, já que eles são os anfitriões desta noite. Tento ignorar a beleza que passa por mim e me concentro em algo mais mundano: o garçom com a bandeja de uísques. Estou cansado. Exausto, na verdade. Um gole não faria mal… só para relaxar. O problema é que esse lugar me sufoca. Não é onde eu gostaria de estar. Meu lugar seria ao lado de Giovanna e das crianças. Meu lar.Alguém segura meu braço, me fazendo parar. Sinto o toque firme, e quando viro, vejo o rosto sério de Vincent.— Hoje eu não quero que você beba. Quando bebe não consegue parar. Já reparou nisso? Pr
—Você é lida sabia? Vem comigo. Conheço um lugar calmo. E conversa é uma coisa que não quero ter com você. Topa? —Eu a testo.Seus olhos brilham por trás da máscara.—Tudo bem. —Ela sussurra.Ela aceitou? Dio! Tudo isso me surpreende. Confuso, caminho com meu braço em sua cintura e a levo até uma porta lateral do salão. Ali era uma sala de reunião, onde logo mais nos reuniríamos com os Sabatines. A abro e acendo a luz de um pequeno abajur. É um espaço grande, com três grandes sofás confortáveis. Mais adiante uma mesa de reunião. GiovannaQuando chego à entrada do Cassino, entrego meu convite com as mãos um pouco trêmulas. Uma segurança uniformizada me revista com um sorriso protocolar. Veste calça preta e camiseta branca com o slogan do Cassino. Os homens, por sua vez, estão em outra fila, sendo revistados por um segurança igualmente vestido.— Só seguir pelo tapete vermelho e subir aquela escada. — Ela me orienta, gentil, apontando o caminho.Respiro fundo. Detesto saltos!, reclamo
LUCASMuitas coisas passam pela minha cabeça ao vê-la ali. Questionamentos se chocam dentro de mim como ondas violentas. O que a levou a entrar nesse jogo? Ter comprado aquela fantasia sem me dizer nada, e agora estar em meus braços... Ela parecia prestes a se entregar por completo, quando o que eu esperava era um teatro, uma punição silenciosa, um castigo emocional qualquer.Uma voz sussurra em minha mente, cruel e cética:Ela veio para te vigiar.Mas outra, mais obscura, responde de imediato:Ou é só um fetiche? Fazer amor fingindo ser uma estranha?O lado perverso dentro de mim começa a borbulhar, querendo escapar. Minha respiração acelera. Era como correr sem sair do lugar. Meu corpo clamava uma verdade incômoda — eu a queria. De forma selvagem, irrefreável. Como se qualquer explicação para ela estar ali não fizesse a menor diferença.Dilato as narinas como um predador farejando sua presa. Ela cheira diferente. Até o perfume ela trocou. Ela pensou em tudo. Estratégica. Implacável.
Dio! Sinto uma poça de ácido corroendo meu estômago.Acabou a participação de Lucas na minha história. Eu irei reescrevê-la. Ela não será ditada pelos Bertizollo. Eu me recuso a repetir a vida que eu levava ao lado de Vitor.Mais um casamento falido, eu perdi a batalha novamente. Mas como diz o ditado, se te derem um limão, faça uma limonada. Se um pão duro, uma torrada.— Giovanna. Chegamos. Renata diz olhando para mim preocupada.Fiz que sim com a cabeça. Saí do carro. Ela depois que saiu me abraçou. Juntas caminhamos até a porta. Fez um gesto para que eu entrasse primeiro, mas, por um instante, hesitei. Pensando no que eu diria a Felipe amanhã quando ele acordasse.—Vem Giovanna. Tome um banho. Farei um chá para você.LUCASEu não sei o que estou sentindo, pois é uma mistura de sentimentos no meu peito. Raiva, tristeza, impotência. E o pior de tudo. O futuro parecia vazio. Oco.Sim, apesar de tudo eu a amava.Essa merda de sentimento entrou tão rápido no meu coração, como uma maldi