Enquanto Luna conhecia o cotidiano de sua nova escola, na diretoria, Eliezer Bolívar conversava com a Diretora Howthorne. Sentado em uma poltrona de couro escuro, ele mantinha a postura impecável e o semblante sério, algo típico de sua personalidade reservada.
A diretora Howthorne, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos penetrantes, o observava com atenção. Apesar de sua aparência humana, seus modos ainda carregavam traços da loba que fora no passado. Ela havia deixado a matilha há décadas, mas mantinha um vínculo velado com os Lunares, especialmente por ser uma figura de respeito em Lendcity. — Agradeço por me receber, diretora. — Eliezer começou, com sua voz grave e controlada. — Estou aqui para falar sobre minha outra filha, Taynara. Howthorne ergueu uma sobrancelha, interessada. Ela sabia da ligação de Eliezer com os Lunares, mas poucos compreendiam a extensão dos segredos que ele guardava. — Ah, sim, Taynara. — disse ela, entrelaçando as mãos sobre a mesa. — Tenho acompanhado seu progresso. Porém, há algo que gostaria de discutir com o senhor. Eliezer inclinou levemente a cabeça, atento. — O que houve? A diretora suspirou antes de continuar. — Taynara tem estado ausente com frequência nas últimas semanas. Considerando sua idade — ela completou, com um olhar significativo —, 18 anos, creio que possamos estar lidando com o início de sua transformação lupina. Eliezer estreitou os olhos, absorvendo a informação. Ele sabia que esse momento chegaria, mas não esperava que fosse tão cedo. — A senhora acredita que as ausências estão relacionadas a isso? Howthorne assentiu. — É provável. Esse processo pode ser desconcertante para jovens como ela, especialmente quando estão em uma escola humana. Por isso, tentei suavizar a situação ao informar que ela havia ganhado uma bolsa. Foi a melhor forma de justificar sua presença aqui. Eliezer cruzou os braços, pensativo. — Fez bem. Não quero que ela saiba que eu estou por trás disso. Prefiro que ela se concentre em sua própria jornada sem sentir minha interferência direta. A diretora sorriu levemente, reconhecendo o dilema paternal por trás da fachada imponente de Eliezer. — Entendido, Sr. Bolívar. Continuarei monitorando Taynara de perto e informarei o senhor sobre qualquer mudança em sua situação. Eliezer se levantou, ajeitando o paletó. — Agradeço sua discrição, Diretora Howthorne. Ela não deve suspeitar de nada. Howthorne observou enquanto ele saía da sala, refletindo sobre a complexidade de Eliezer Bolívar. Ele era, sem dúvida, um homem envolto em mistérios, carregando responsabilidades que poucos poderiam compreender. E agora, com suas duas filhas em Ravenswood, ela sabia que o destino de ambas estava entrelaçado de formas que nem mesmo ele poderia prever. Cena na Diretoria - Continuação Eliezer olhou para a diretora com intensidade, como se quisesse reforçar a seriedade de suas palavras. — Diretora Howthorne, é imperativo que Luna não descubra nada sobre Taynara, e muito menos sobre suas origens. Isso pode... acabar com tudo. A diretora, apesar de experiente, sentiu o peso do pedido. Ela sabia que guardar esse segredo seria uma tarefa delicada, mas entendia o motivo por trás da cautela de Eliezer. — Entendido, Sr. Bolívar. Tomarei o máximo de cuidado para que Luna não tenha acesso a nenhuma informação que possa ligá-las. Eliezer soltou um leve suspiro, aliviado, mas sua expressão continuava séria. Ele passou a mão pelo queixo, em um gesto pensativo. — Agradeço sua compreensão, diretora. Luna... — Ele hesitou por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. — Luna é mais que especial para mim. Ela é minha esperança, meu maior motivo. Não posso permitir que nada ou ninguém a coloque em perigo. A diretora assentiu com firmeza, tocada pela vulnerabilidade que transpareceu por trás do tom usualmente reservado de Eliezer. — Fique tranquilo, Sr. Bolívar. Sua confiança em mim não será quebrada. Eliezer a fitou por mais alguns segundos antes de estender a mão em agradecimento. — Agradeço, diretora. Conto com sua discrição. — Sempre. — Howthorne apertou sua mão, e com isso, o compromisso entre eles estava selado. Eliezer se virou e saiu da sala com passos firmes, deixando para trás o silêncio pesado da diretoria. A diretora ficou imóvel por alguns instantes, contemplando as palavras que ele havia dito. "Luna é mais que especial para mim." O que exatamente ele queria dizer com isso? E quais segredos tão profundos ele ainda escondia? Ele sabia que proteger Luna e Taynara significava proteger muito mais do que duas jovens. Era algo muito maior... algo que, de certa forma, conectava todo o legado dos Bolívar. Eliezer deixou a sala da diretoria com a mente turva, cada palavra trocada com a diretora Howthorne ecoando em sua mente. Ele sabia que estava caminhando por uma linha tênue, lidando com uma situação que poderia ter consequências irreparáveis. Seus olhos estavam fixos no corredor vazio enquanto ele se dirigia para a saída da escola. O peso dos segredos que ele carregava, segredos sobre a verdadeira natureza de sua filha, Luna, e sobre Taynara, sua outra filha, estava se tornando quase insuportável. Mas ainda havia uma coisa que ele precisava fazer antes de ir para casa. Algo que ele não poderia deixar para depois. Ao sair da escola, Eliezer pegou o celular e, com mãos firmes, fez uma ligação para um número que ele conhecia muito bem. O toque na linha foi curto, mas suficiente para que ele pudesse ouvir a voz familiar. — Está tudo em ordem? — a voz do outro lado da linha perguntou, com um tom de urgência que só Eliezer reconhecia. — Não, ainda não está. Mas em breve tudo se resolverá. Eu preciso de mais tempo. Luna não pode descobrir nada ainda. — Eliezer falou em um tom baixo, quase sussurrando, como se estivesse com medo de ser ouvido. Ele sabia que estava correndo contra o tempo. — Você está indo pelo caminho certo, Eliezer. Mas seja cauteloso. Se Luna descobrir, tudo estará perdido. — a voz respondeu, com um tom de preocupação real. Eliezer suspirou, olhando para a mansão ao longe, já vislumbrando os passos que teria que dar para manter o segredo a salvo. Ele não podia deixar que Luna soubesse sobre a matilha, sobre o que ela realmente era. Não antes da hora certa.Eliezer empurrou a porta pesada da mansão, entrando no vasto hall de entrada. O ambiente estava iluminado por um imenso lustre de cristal que pendia do teto alto, refletindo luzes suaves nas paredes decoradas com quadros antigos e cortinas aveludadas. O som de seus passos ecoava pela sala silenciosa, interrompido apenas por sua voz grave e firme.— Ravena! Quero você no meu escritório agora! — ele bradou, sua voz cortando o ar como uma lâmina.Ravena, que estava na cozinha terminando de secar os pratos do jantar, ergueu a cabeça de imediato. Ela parou por um momento, tentando compreender o tom urgente na voz de Eliezer. Ele raramente a chamava com tanta impaciência. Com um suspiro contido, ela enxugou as mãos em seu avental branco impecável e saiu rapidamente, atravessando os corredores da mansão.Ravena era uma jovem que carregava consigo uma beleza única e impressionante. Sua pele de ébano reluzia sob a luz suave dos lustres, e seus olhos expressivos eram de um castanho quente, semp
O Segredo Revelado por EsmêRavena, ainda sentindo o peso da conversa com Eliezer, dirigiu-se apressadamente até o altar que mantinha escondido em um dos recônditos mais discretos da mansão. O altar era simples, mas carregava uma energia ancestral poderosa. Velas acesas em círculos, ervas aromáticas espalhadas e um espelho antigo repousavam no centro, refletindo a chama trêmula.Ela se ajoelhou diante do altar, com as mãos unidas, e murmurou em voz baixa:- Vovó Esmê... Eu preciso de você. Apareça, por favor.Quase imediatamente, o ambiente ficou pesado, e o ar pareceu vibrar. Uma figura translúcida emergiu no espelho, com olhos sábios e um sorriso acolhedor. Esmê, a avó de Ravena, era uma presença poderosa, mesmo em espírito.- Eu já sei por que me chamou, minha pequena Ravena - disse Esmê, sua voz ecoando como um sussurro entre mundos.Ravena respirou fundo, hesitante, mas sua preocupação logo emergiu em palavras.- Eu temo pelo que Luna pode ser, vó. Temo por ela... e por seu futur
Bem vinda a Lendcity A estrada estava vazia, com árvores imponentes à margem e um céu cinza pesado acima. Luna olhava pela janela do carro, os olhos marejados, mas já sem lágrimas. A dor da perda da mãe ainda estava cravada em seu peito, mas já fazia parte de seu ser, como uma cicatriz que, por mais que doída, era impossível de ignorar. O luto a engolia, e cada quilômetro que a afastava de sua antiga vida em Nova York parecia mais um peso em seus ombros.Ela nunca havia conhecido seu pai, Eliezer Bolívar. Nunca teve motivo para isso, até agora. A carta, com palavras frias, mas que, de alguma forma, sentiu o peso de uma tentativa de conexão, foi o que a levou até aqui. Ele, um homem desconhecido, que sua mãe sempre evitou mencionar. Ela sequer sabia o que esperar de Lendcity, uma cidade que parecia mais uma lenda do que um lugar real. O que ela sabia era que ali, em algum lugar, estava o homem que deveria ser seu pai.O carro parou em frente a uma casa grande, mas antiquada, com o por
Luna acordou sobressaltada, seu coração batendo forte no peito. Levou alguns segundos para entender onde estava, até que o som de batidas firmes na porta a trouxe completamente de volta à realidade.— Entre! — disse com a voz rouca de sono, acreditando que era seu pai.A porta se abriu lentamente, mas ao invés de Eliezer, uma jovem mulher entrou no quarto. Ela tinha a pele morena que reluzia sob a luz suave do lustre, cabelos negros presos em um coque elegante e vestia um vestido longo, coberto por um avental impecavelmente branco. Sua beleza era esplêndida, e sua postura, graciosa, com um toque de autoridade que parecia natural.— Boa noite. — disse a jovem, sua voz aveludada e formal. — Meu nome é Ravena. Sou empregada da casa e também sua criada. Vim avisá-la que o jantar está pronto, e o senhor Eliezer a aguarda na sala de jantar.Luna piscou, tentando se acostumar à presença de Ravena. Antes que pudesse responder, a jovem olhou ao redor, notando as malas ainda intocadas no chão.
Segredos da floresta A madrugada estava silenciosa, exceto pelo leve farfalhar das árvores ao redor da mansão Bolívar. Luna virou-se na cama pela quarta vez, incapaz de pegar no sono. Algo dentro dela parecia inquieto, pulsando como se buscasse uma saída. Após alguns minutos de luta interna, ela cedeu. Levantou-se, foi até a janela e a abriu.O ar frio da noite tocou sua pele, e ela inspirou profundamente. O céu estava limpo, com uma lua cheia brilhante que parecia maior do que o normal, cercada por estrelas que cintilavam como pequenos cristais. O brilho prateado da lua iluminava o jardim da mansão, revelando o contorno das árvores e os caminhos de pedra.Luna sentiu um arrepio na espinha ao olhar para a lua. Algo sobre sua luz parecia... convidativo. Um calor inexplicável cresceu em seu peito, e ela não conseguiu desviar o olhar. Era como se a lua sussurrasse seu nome, atraindo-a para algo que ela não compreendia.Ela fechou os olhos, tentando entender aquela sensação. Em sua mente
Após a conversa no escritório, Luna desceu as escadas, ainda assimilando a ideia de voltar para a escola. Já havia algumas semanas desde o acidente de sua mãe, e ela não tinha certeza de como se sentiria rodeada por tantas pessoas desconhecidas.Eliezer estava esperando por ela no hall de entrada, segurando uma mochila preta simples e uma pilha de cadernos e livros encapados com cores sóbrias.— Aqui estão seus materiais. Achei que precisaria de algo básico para começar — disse ele, estendendo o conjunto.Luna aceitou os itens com um aceno de cabeça. A mochila parecia pesada, mas a preocupação maior não era o peso físico, e sim o que o dia traria.— Eu achei que talvez... não fosse voltar para a escola — confessou, hesitante.— Educação é essencial — respondeu Eliezer, categórico. — Além disso, será bom para você. Uma oportunidade de começar de novo, se adaptar.Luna não quis prolongar a conversa. Apesar de tudo, sabia que ele estava certo. Então subiu para o quarto, trocou de roupa e
Quando o sinal do intervalo ecoou pelos corredores, Luna se levantou junto aos outros alunos, ainda um pouco desconfortável. Seguiu o fluxo até o refeitório, um amplo salão iluminado por grandes janelas que deixavam a luz do dia entrar e refletir nas mesas de metal polido. O local era decorado com murais coloridos e placas com mensagens motivacionais. O aroma de comida fresca pairava no ar, mas havia algo tenso no ambiente que ela não conseguia ignorar: os olhares.Ela pegou uma bandeja e seguiu pela fila, observando as opções disponíveis. Havia pratos simples, como sanduíches, saladas e sopas, mas também sobremesas que pareciam deliciosas. Escolheu uma salada e um suco de maçã, tentando não chamar atenção.Com a bandeja em mãos, começou a procurar um lugar para sentar. Olhou ao redor, mas percebeu que algumas pessoas cochichavam entre si, lançando olhares furtivos em sua direção. O calor subiu para seu rosto, e ela tentou ignorar.Finalmente, avistou uma mesa com quatro pessoas, apar