Eliezer entrou na sala com uma expressão grave, os olhos fixos em Ranamés, que o aguardava de braços cruzados. Ambos sabiam que o que estavam prestes a discutir poderia mudar o curso das coisas para ambos os lados.- Você precisa entender, Ranamés, minha filha não será um perigo - disse Eliezer com firmeza. - Não importa o que aconteça, ela não trará problemas para sua alcatéia. Caso haja qualquer situação que eu perceba que fuja do controle, eu mesmo darei um fim nisso.Ranamés olhou para ele, a desconfiança escrita em seu rosto. A desconfiança era inevitável. A tensão entre lobos e vampiros nunca esteve tão alta. Mas o que realmente o incomodava era o segredo que pesava sobre ele. O fato de que Taynara e Luna, as duas jovens, poderiam ser irmãs. Isso, se descoberto, acabaria com tudo. Se alguém descobrisse, a paz entre as duas espécies cairia por terra.- Você entende o que está em jogo, Eliezer? - disse Ranamés, a voz baixa e grave. - Não podemos permitir que Taynara ou Luna descub
Darius estava no quarto de sua cabana, o ambiente tranquilo, mas o coração acelerado. Ele acabara de completar 19 anos, e naquela noite, a lua cheia iluminaria o céu, marcando o momento de sua primeira transformação. Ele já estava preparado, em sua bermuda, sem camisa, e com a túnica de seda branca em mãos, pronta para ser vestida. A túnica era um símbolo de paz e saúde, colocada momentos antes da transformação, para garantir que nada de errado acontecesse. Era tradição. Os homens usavam túnicas, e as mulheres, camisolas sem nada por baixo, representando pureza e uma conexão com a natureza.Quando estava prestes a colocar a túnica, a porta do quarto se abriu discretamente. Taynara entrou silenciosamente, seus passos leves como sempre. Ela se aproximou de Darius e, sem hesitar, o abraçou por trás, seus lábios tocando suas costas, com um beijo suave.- Está com medo, meu amor?perguntou ela, sua voz suave e cheia de preocupação.Darius, um pouco surpreso, olhou para frente, tentando man
Luna abriu os olhos lentamente, sentindo uma dor aguda na cabeça que a fez gemer baixinho. Tudo parecia embaçado por um momento, até que sua visão clareou o suficiente para perceber onde estava: em seu quarto. As paredes familiares e os móveis bem arrumados a reconfortaram, mas o peso da dor em sua cabeça a trouxe de volta à realidade. Ela tocou de leve no local do incômodo e sentiu as bandagens que cobriam sua testa.Ao lado de sua cama, Ravena, sempre diligente, ajeitava um prato de sopa fumegante e um copo de suco de morango no criado-mudo. A expressão dela era de alívio misturado com preocupação.- Que bom que a senhorita acordou - disse Ravena, lançando-lhe um sorriso. - Ficamos muito preocupados.Luna piscou algumas vezes, tentando se lembrar do que havia acontecido. Tudo parecia um borrão confuso em sua mente. A floresta. A escuridão. E aquela cena... algo assustador. Antes que pudesse organizar seus pensamentos, sua boca se abriu para perguntar:- O que... o que aconteceu? Eu
Enquanto Luna tentava terminar a sopa, os flashes daquela noite invadiam sua mente como uma tempestade de lembranças. A cena era clara demais para ser um sonho. A transformação, os uivos, os olhos brilhantes... Tudo aquilo era real. Ela sabia disso.No entanto, seus pensamentos foram interrompidos por uma leve batida na porta. Ravena entrou, com o mesmo semblante calmo de sempre, mas com uma postura que exalava preocupação.- Senhorita, já terminou? Precisa tomar o remédio e descansar pelo resto do dia. - Ravena disse, aproximando-se da cama.Luna olhou para o prato e o suco, ainda com um pouco de ambos. Sentia-se dividida, sua mente ainda lutando para entender o que havia acontecido na floresta.- Não consegui terminar tudo... - respondeu Luna, desviando o olhar.Ravena pegou a bandeja com cuidado e a colocou no criado-mudo ao lado da cama.- Tudo bem, mas precisa comer mais depois. Agora tome o remédio, vai ajudá-la com a dor de cabeça.De repente, Luna falou, sua voz firme e decidi
Enquanto Luna dormia após tomar o remédio, sua mente a transportava para um sonho tão real que ela podia sentir o cheiro da floresta e ouvir o som do vento nas folhas. No sonho, ela estava no centro de uma clareira, sob a luz prateada da lua cheia. Ao seu redor, figuras indistintas observavam em silêncio, formando um círculo.De repente, uma sensação estranha tomou conta de seu corpo. Ela sentiu seus ossos se contorcendo, a pele esquentando, enquanto algo dentro dela ganhava forma. Ela tentou gritar, mas o som que saiu de sua boca foi um uivo poderoso que ecoou pela floresta. Luna olhou para suas mãos e viu garras surgirem. Seus pés, agora patas, afundaram na terra macia. Ela havia se transformado em uma loba.Sua pelagem era de um cinza prateado, brilhando à luz da lua, e seus olhos, espelhados no reflexo de uma poça de água próxima, eram de um azul intenso e hipnotizante. Ela sentia-se poderosa, conectada à terra e ao céu.No entanto, a cerimônia não parecia terminar ali. De repente
Uma semana depois do acidente, Luna despertou cedo, sentindo-se revigorada após os dias de repouso. Determinada a retomar sua rotina, ela se arrumou para voltar às aulas, mas antes disso, sentou-se à mesa de seu quarto com seu diário aberto.Com a caneta em mãos, começou a registrar cada detalhe do que viu naquela noite na floresta. As imagens estavam gravadas em sua mente com uma nitidez que a fazia questionar cada explicação dada por Ravena e seu pai. Escreveu sobre a transformação que testemunhou, os uivos, os olhos brilhantes e a sensação estranha que a conectava de forma inexplicável àquele momento.No final da página, quase sem perceber, desenhou o rosto de um lobo. O olhar selvagem e poderoso que emergiu do papel parecia encará-la de volta, como se a desafiasse a desvendar os segredos que a cercavam.Por mais que insistissem que tudo não passara de um sonho causado pela pancada na cabeça, Luna sabia, no fundo, que aquilo era real. E, acima de tudo, sentia que aquilo era só o co
Alguém chamou Darius ao longe, e ele se afastou de Luna sem dizer mais nada. Confusa, Luna tentou organizar seus pensamentos, mas antes que pudesse se recompor, viu ao longe suas amigas Genevieve e Âmbar no refeitório, acenando para ela.Sem muito apetite, Luna decidiu não pegar comida, preferindo comer algumas frutas que Ravena havia preparado para ela mais cedo. Ao se aproximar das amigas, sentou-se à mesa com um suspiro, claramente agitada.— Vocês não sabem o que aconteceu... — começou, chamando a atenção das duas.Genevieve e Âmbar se inclinaram curiosas, os olhos brilhando de expectativa.— Conta logo! — Âmbar insistiu.Luna fez uma pausa, como se não acreditasse no que estava prestes a dizer.— Darius. Ele falou comigo.As duas arregalaram os olhos.— Darius? Do nada? — Genevieve perguntou, incrédula.— E ele disse o quê? — Âmbar quis saber.— Ele... se apresentou, pediu desculpas por ter me ignorado e por aquele dia na frente da escola. Como se nada tivesse acontecido! — Luna
A moto estacionou com um ronco suave em frente à imponente mansão dos Bolívar, onde Luna morava. Ela desceu com cuidado, retirou o capacete e sacudiu os cabelos, tentando organizar os fios enquanto agradecia a Darius. Ele, por sua vez, desceu da moto com calma, mantendo aquele olhar enigmático que a fazia sentir um misto de nervosismo e curiosidade.— Está entregue — disse Darius, com um leve sorriso, encarando-a de forma diferente, como se tentasse decifrá-la.Luna estendeu o capacete para ele, mas no instante em que os dedos deles se tocaram, ambos sentiram uma faísca incomum. Era como se uma corrente elétrica os conectasse, um toque breve, mas intenso. Luna recuou, sem jeito, e tentou disfarçar o impacto que aquilo causou.— Obrigada pela carona — disse ela, virando-se rapidamente para entrar no jardim da mansão.— Luna? — chamou Darius, interrompendo-a.Ela virou-se novamente, surpresa e ainda um pouco nervosa, encontrando mais uma vez aquele olhar profundo.— Me desculpe mais uma