O quarto de Ravena estava mergulhado em uma penumbra inquietante, iluminado apenas pelas velas estrategicamente posicionadas ao redor do grande espelho. O ar era denso com o aroma de incenso, cheios de mistério.Luna, Eliezer e Ravena estavam reunidos ali, em completo silêncio, enquanto a jovem bruxa se preparava para invocar Esmê, sua avó e guia espiritual.— Preciso que fiquem quietos. — Ravena instruiu, sua voz baixa, mas firme.Eliezer apenas assentiu, cruzando os braços, enquanto Luna observava tudo com olhos atentos, sentindo um frio na barriga.Ravena fechou os olhos e inspirou profundamente, levando as mãos ao espelho à sua frente. Seu reflexo começou a tremular, como se a superfície fosse líquida.— Avó, a senhora está aí? — Ravena chamou em um tom reverente.Por alguns instantes, nada aconteceu. O quarto permaneceu em um silêncio opressor, até que uma forma começou a se materializar no espelho. A imagem de uma mulher de traços fortes e olhos profundos surgiu, seu olhar penet
Na manhã seguinte, Luna despertou sentindo-se estranha. Levantou-se como de costume, mas assim que começou a escovar os dentes, um enjoo forte a atingiu, forçando-a a correr para o banheiro.Apoiando-se na pia, respirou fundo, tentando entender o que estava acontecendo. Não havia motivo aparente para aquele mal-estar, mas não podia se dar ao luxo de faltar à escola. Precisava entregar um trabalho importante com suas amigas.Descendo as escadas para tomar o café da manhã, sentiu-se fraca e tonta. No último degrau, precisou se segurar para não cair, quando Ravena surgiu ao seu lado, segurando-a pelo braço.— Srta. Luna, você está bem? — Ravena perguntou, a expressão preocupada enquanto a ajudava até o sofá.Luna se deixou afundar no estofado e passou a mão na testa.— Não sei... Estou me sentindo estranha hoje. Um enjoo forte, até vomitei há pouco. — respondeu, tentando entender o que se passava com seu corpo.Ravena cruzou os braços, observando Luna com preocupação.— Você não deveria
Luna sentiu o chão sumir sob seus pés. Seu coração batia tão rápido que parecia querer escapar do peito.— N-não… Deve estar errado. — Sua voz saiu trêmula, quase um sussurro.— Amiga, não tem erro. — Âmbar disse, segurando o teste com firmeza. — Dois tracinhos significam positivo.Genevieve segurou o ombro de Luna, tentando acalmá-la.— Luna, respira… Vamos pensar com calma.Mas a mente de Luna já estava em um turbilhão. Seu corpo começou a tremer, e ela precisou se apoiar na pia para não desmoronar.— Eu não posso estar grávida. — Seus olhos começaram a marejar. — Com tudo o que está acontecendo… Eu não posso!Âmbar e Genevieve trocaram um olhar preocupado.— Precisamos sair daqui antes que alguém perceba. — Genevieve sussurrou. — Você precisa de um tempo pra processar isso.Luna assentiu, ainda sem acreditar. Sua vida já estava complicada o suficiente… E agora, isso.Luna suspirou, sentindo a cabeça pesar. Tudo dentro dela gritava que aquela gravidez não era algo comum. Era impossí
Ravena e Luna estavam quase prontas para a festa na clareira.Luna terminava de pentear os cabelos diante do espelho quando Ravena quebrou o silêncio:— Você pretende contar ao seu pai sobre a gravidez?Luna hesitou, passando os dedos pelos fios soltos antes de responder:— Ainda não… Quero falar com Darius primeiro.Antes que Ravena pudesse insistir no assunto, o som de uma buzina ecoou do lado de fora. Era Âmbar, com Genevieve.Trocaram um olhar rápido e, sem mais delongas, saíram de casa.Assim que se juntaram às amigas, trocaram cumprimentos animados e seguiram rumo à clareira, onde a festa já começava a ganhar vida.A noite de lua nova deixava o céu escuro, mas as estrelas brilhavam intensamente, iluminando a vasta clareira cercada por árvores imponentes. O local estava repleto de pessoas conversando e rindo, enquanto a música alta ecoava pela floresta. Uma grande fogueira ardia no centro, suas chamas dançando ao vento e lançando sombras tremulantes nas árvores ao redor.Bebidas
Após todo o ocorrido, Luna agora se encontrava na delegacia. Sentada em um banco frio, sentia-se completamente fora de si, como se tudo aquilo fosse apenas um pesadelo do qual não conseguia acordar.Do outro lado da sala, seu pai conversava com o xerife, tentando reverter a situação da melhor forma possível. Luna sabia que ele faria de tudo para protegê-la, mas dessa vez, nem ele parecia ter controle sobre o que estava acontecendo.Enquanto isso, suas amigas estavam na sala ao lado, prestando depoimento. Cada segundo de espera parecia uma eternidade. Ravena permaneceu ao seu lado o tempo todo, tentando acalmá-la de alguma forma, mas Luna mal conseguia ouvir suas palavras.A cena na clareira se repetia em sua mente como um filme acelerado: o empurrão, o impacto, o sangue... Felicia caída no chão. O choque foi tão grande que seu corpo tremia involuntariamente.Ela nunca havia machucado ninguém. Nunca sequer matara uma barata. E agora? Agora era uma assassina.E o pior de tudo era a ince
Luna caminhava em silêncio até sua casa, cada passo parecendo mais pesado que o anterior. O peso da culpa, do choque, da incerteza sobre o que viria depois. Myson estava preso para protegê-la, e isso a dilacerava por dentro. Como ele pôde se sacrificar por algo que ela fez? Como poderia consertar tudo agora?Ao atravessar a porta de casa, o silêncio era ensurdecedor. Seu pai seguiu direto para o escritório sem dizer uma palavra. Ela sabia que ele estava processando tudo, tentando encontrar uma maneira de contornar a situação. Mas algo lhe dizia que, dessa vez, não havia escapatória fácil.Genevieve e Âmbar estavam ao seu lado, a segurando como se temessem que ela desmoronasse a qualquer momento.— Vamos para o seu quarto, Luna — Genevieve sugeriu suavemente.Luna apenas assentiu, sem forças para discutir. Subiu as escadas, sentindo-se presa dentro de sua própria mente. O que ela havia feito? O que aconteceria com ela agora? Seu coração estava pesado, e a culpa queimava em seu peito co
Bem vinda a Lendcity A estrada estava vazia, com árvores imponentes à margem e um céu cinza pesado acima. Luna olhava pela janela do carro, os olhos marejados, mas já sem lágrimas. A dor da perda da mãe ainda estava cravada em seu peito, mas já fazia parte de seu ser, como uma cicatriz que, por mais que doída, era impossível de ignorar. O luto a engolia, e cada quilômetro que a afastava de sua antiga vida em Nova York parecia mais um peso em seus ombros.Ela nunca havia conhecido seu pai, Eliezer Bolívar. Nunca teve motivo para isso, até agora. A carta, com palavras frias, mas que, de alguma forma, sentiu o peso de uma tentativa de conexão, foi o que a levou até aqui. Ele, um homem desconhecido, que sua mãe sempre evitou mencionar. Ela sequer sabia o que esperar de Lendcity, uma cidade que parecia mais uma lenda do que um lugar real. O que ela sabia era que ali, em algum lugar, estava o homem que deveria ser seu pai.O carro parou em frente a uma casa grande, mas antiquada, com o por
Luna acordou sobressaltada, seu coração batendo forte no peito. Levou alguns segundos para entender onde estava, até que o som de batidas firmes na porta a trouxe completamente de volta à realidade.— Entre! — disse com a voz rouca de sono, acreditando que era seu pai.A porta se abriu lentamente, mas ao invés de Eliezer, uma jovem mulher entrou no quarto. Ela tinha a pele morena que reluzia sob a luz suave do lustre, cabelos negros presos em um coque elegante e vestia um vestido longo, coberto por um avental impecavelmente branco. Sua beleza era esplêndida, e sua postura, graciosa, com um toque de autoridade que parecia natural.— Boa noite. — disse a jovem, sua voz aveludada e formal. — Meu nome é Ravena. Sou empregada da casa e também sua criada. Vim avisá-la que o jantar está pronto, e o senhor Eliezer a aguarda na sala de jantar.Luna piscou, tentando se acostumar à presença de Ravena. Antes que pudesse responder, a jovem olhou ao redor, notando as malas ainda intocadas no chão.