Naquela noite, mais uma vez, Luna não conseguiu dormir. Sentada na cama, encarando o teto escuro de seu quarto, ela se perguntou o que a mantinha acordada. Seus dias na mansão começaram a se ajeitar: Genevieve e Âmbar tornaram-se boas amigas, Ravena era uma companhia constante e acolhedora, e seu pai, mesmo sendo enigmático, demonstrava ser uma boa pessoa. Então, por que aquela inquietação?Depois de um longo suspiro, decidiu que ficar deitada não resolveria nada. Caminhou até a varanda de seu quarto, abraçando o ar fresco da noite. Quando ergueu os olhos, foi imediatamente capturada pela visão hipnotizante da lua cheia. Ela estava em seu ápice, grandiosa e brilhante, dominando o céu com sua majestade.Algo dentro de Luna se agitou ao encará-la. Era uma sensação estranha e inexplicável, como se aquela lua a estivesse chamando. Uma força desconhecida parecia crescer em seu peito, uma vontade impulsiva e primitiva que ela não entendia. Por um momento, sentiu um impulso quase irresistíve
Luna não desistiria tão fácil. Continuou correndo, agora mais lentamente, pensando em achar outra direção que a levasse de volta à mansão ou ao encontro da voz de Ravena.Depois de alguns minutos, um som ecoou na escuridão: uivos. Vários. Luna parou por um momento, assustada, mas não se deixou abater. Respirou fundo e seguiu o som. Quanto mais andava, mais se aproximava deles, sentindo a tensão crescer em seu peito.Seus passos diminuíram. O coração batia freneticamente quando uma claridade cortou a escuridão à sua frente. Fumaça. Ela sentiu o cheiro de lenha queimando e notou o brilho alaranjado de uma fogueira.Cautelosa, andou mais um pouco, mas logo recuou instintivamente. A cena à sua frente era intrigante e misteriosa. Parecia uma aldeia, ou talvez uma pequena vila escondida na floresta. Luna deu alguns passos para trás, tentando não ser vista, escondendo-se por entre as árvores.Observou em silêncio, sem acreditar no que seus olhos viam. Parecia uma festa ou uma reunião secreta
Darius era apenas um adolescente comum na tribo, ou pelo menos assim se via. Com 18 anos, prestes a completar 19, ele ainda não havia passado pela transformação, algo que todos esperavam com ansiedade, mas que ele não entendia completamente. Crescer em uma matilha, onde seu pai era o alfa, sempre fora uma experiência que o conectava a algo maior, mas até aquele momento, ele se via mais como um espectador do que um participante ativo das dinâmicas da matilha.Enquanto os mais velhos falavam com respeito e reverência sobre os eventos da transformação, Darius sentia uma mistura de curiosidade e receio. Ele sabia que, aos 19 anos, o processo de transformação seria inevitável para ele, e, ao contrário das fêmeas, que passavam pela mudança aos 18, os machos precisavam esperar um pouco mais. A pressão de se tornar um lobo completo, de finalmente assumir seu lugar como membro pleno da matilha, estava sempre presente, mas ele não sabia o que realmente significava até aquele momento.Atribuiçõe
Eliezer entrou na sala com uma expressão grave, os olhos fixos em Ranamés, que o aguardava de braços cruzados. Ambos sabiam que o que estavam prestes a discutir poderia mudar o curso das coisas para ambos os lados.- Você precisa entender, Ranamés, minha filha não será um perigo - disse Eliezer com firmeza. - Não importa o que aconteça, ela não trará problemas para sua alcatéia. Caso haja qualquer situação que eu perceba que fuja do controle, eu mesmo darei um fim nisso.Ranamés olhou para ele, a desconfiança escrita em seu rosto. A desconfiança era inevitável. A tensão entre lobos e vampiros nunca esteve tão alta. Mas o que realmente o incomodava era o segredo que pesava sobre ele. O fato de que Taynara e Luna, as duas jovens, poderiam ser irmãs. Isso, se descoberto, acabaria com tudo. Se alguém descobrisse, a paz entre as duas espécies cairia por terra.- Você entende o que está em jogo, Eliezer? - disse Ranamés, a voz baixa e grave. - Não podemos permitir que Taynara ou Luna descub
Darius estava no quarto de sua cabana, o ambiente tranquilo, mas o coração acelerado. Ele acabara de completar 19 anos, e naquela noite, a lua cheia iluminaria o céu, marcando o momento de sua primeira transformação. Ele já estava preparado, em sua bermuda, sem camisa, e com a túnica de seda branca em mãos, pronta para ser vestida. A túnica era um símbolo de paz e saúde, colocada momentos antes da transformação, para garantir que nada de errado acontecesse. Era tradição. Os homens usavam túnicas, e as mulheres, camisolas sem nada por baixo, representando pureza e uma conexão com a natureza.Quando estava prestes a colocar a túnica, a porta do quarto se abriu discretamente. Taynara entrou silenciosamente, seus passos leves como sempre. Ela se aproximou de Darius e, sem hesitar, o abraçou por trás, seus lábios tocando suas costas, com um beijo suave.- Está com medo, meu amor?perguntou ela, sua voz suave e cheia de preocupação.Darius, um pouco surpreso, olhou para frente, tentando man
Luna abriu os olhos lentamente, sentindo uma dor aguda na cabeça que a fez gemer baixinho. Tudo parecia embaçado por um momento, até que sua visão clareou o suficiente para perceber onde estava: em seu quarto. As paredes familiares e os móveis bem arrumados a reconfortaram, mas o peso da dor em sua cabeça a trouxe de volta à realidade. Ela tocou de leve no local do incômodo e sentiu as bandagens que cobriam sua testa.Ao lado de sua cama, Ravena, sempre diligente, ajeitava um prato de sopa fumegante e um copo de suco de morango no criado-mudo. A expressão dela era de alívio misturado com preocupação.- Que bom que a senhorita acordou - disse Ravena, lançando-lhe um sorriso. - Ficamos muito preocupados.Luna piscou algumas vezes, tentando se lembrar do que havia acontecido. Tudo parecia um borrão confuso em sua mente. A floresta. A escuridão. E aquela cena... algo assustador. Antes que pudesse organizar seus pensamentos, sua boca se abriu para perguntar:- O que... o que aconteceu? Eu
Enquanto Luna tentava terminar a sopa, os flashes daquela noite invadiam sua mente como uma tempestade de lembranças. A cena era clara demais para ser um sonho. A transformação, os uivos, os olhos brilhantes... Tudo aquilo era real. Ela sabia disso.No entanto, seus pensamentos foram interrompidos por uma leve batida na porta. Ravena entrou, com o mesmo semblante calmo de sempre, mas com uma postura que exalava preocupação.- Senhorita, já terminou? Precisa tomar o remédio e descansar pelo resto do dia. - Ravena disse, aproximando-se da cama.Luna olhou para o prato e o suco, ainda com um pouco de ambos. Sentia-se dividida, sua mente ainda lutando para entender o que havia acontecido na floresta.- Não consegui terminar tudo... - respondeu Luna, desviando o olhar.Ravena pegou a bandeja com cuidado e a colocou no criado-mudo ao lado da cama.- Tudo bem, mas precisa comer mais depois. Agora tome o remédio, vai ajudá-la com a dor de cabeça.De repente, Luna falou, sua voz firme e decidi
Enquanto Luna dormia após tomar o remédio, sua mente a transportava para um sonho tão real que ela podia sentir o cheiro da floresta e ouvir o som do vento nas folhas. No sonho, ela estava no centro de uma clareira, sob a luz prateada da lua cheia. Ao seu redor, figuras indistintas observavam em silêncio, formando um círculo.De repente, uma sensação estranha tomou conta de seu corpo. Ela sentiu seus ossos se contorcendo, a pele esquentando, enquanto algo dentro dela ganhava forma. Ela tentou gritar, mas o som que saiu de sua boca foi um uivo poderoso que ecoou pela floresta. Luna olhou para suas mãos e viu garras surgirem. Seus pés, agora patas, afundaram na terra macia. Ela havia se transformado em uma loba.Sua pelagem era de um cinza prateado, brilhando à luz da lua, e seus olhos, espelhados no reflexo de uma poça de água próxima, eram de um azul intenso e hipnotizante. Ela sentia-se poderosa, conectada à terra e ao céu.No entanto, a cerimônia não parecia terminar ali. De repente