Quando aquela boca grande o bastante para engolir metade de uma casa se fechou sobre Inaê, o primeiro pensamento que lhe veio à mente foi que seria devorada e se afogaria antes de sentir a digestão. Porém, no momento em que as mandíbulas cerraram, a água baixou como se fosse drenada. O dragão engolira a água e deixara Inaê sobre a língua.
Estava muito escuro ali dentro, mas era mais tranquilo que em um barco, inclusive não balançava. Inaê podia sentir que o dragão mergulhava cada vez mais, e se perguntou se ele chegaria no fundo do oceano. Isso seria fantástico, a jovem sempre imaginou que tipo de criaturas viveriam lá.
Mas assim que ele abrisse a boca, mesmo se a pressão da água não a matasse na hora, ainda se afogaria. O que o dr
Mover-se naquela roupa fora da água era estranho, mas dentro era como andar com pesos amarrados nos tornozelos. Ainda era um milagre conseguir andar no fundo do oceano sabe-se lá a quantos quilômetros da superfície, mas Inaê levou um tempo absurdo para se afastar de Uminami. O dragão nadava em círculos suavemente à espera da jovem, e ela notou ao se aproximar que era o dragão de tentáculos. E não estava sozinho, mais além havia outros cinco ou seis, enfileirados lado a lado, mas Inaê não sabia dizer quantos exatamente, estava muito escuro. Quando ela finalmente alcançou seu dragão, os demais se aproximaram, alguns com a cabe&c
Foi o dragão de plumas que deu aulas teóricas sobre o prana. Ele deitou-se no leito marinho junto de Inaê, e com a proximidade ela reparou que o senhor do mar tinha patas com cinco longas garras. Nunca lhe ocorrera que eles tivessem patas, não dava para vê-las de fora da água. -- Antes de mais nada, diga-me o que sabe do Fluido Universal – não precisou que Inaê respondesse, a cara de dúvida que ela exibiu bastou – Você desconhece esse termo. Tudo bem, você não teve acesso a isso na ilha onde nasceu, então vou explicar. “O Fluido Universal é a substância da qual se origina toda a matéria do universo, inclusive a
Marisol estava em seu sétimo dia no mar quando avistou terra ao longe. Nunca ficara tanto tempo em um navio, e começava a se sentir enjoada, chegando a ter algumas ânsias de vômito, mas felizmente sem ir além disso. Ela se debruçava na amurada quando o que devia ser Lunae apareceu no horizonte. -- Só levamos uma semana para chegar porque o Sete Dias de Fogo é motorizado. Se fosse a vela, demoraria mais – Tristão falou para distrair Marisol da preocupação que claramente a tomava. Aos quarenta anos, ele era um dos melhores policiais da Ilha Delfim, e Janaína o tinha em alta conta, por isso o mandara como guarda-costas da filha. Marisol levo
Marisol ouviu o tiro de uma arma de fogo às suas costas, seguido pelo assovio de uma bala, passando pelo espaço onde pouco antes estivera sua cabeça. Encolheu-se e agarrou-se com mais força às rédeas do cavalo. -- Pare, idiota! Vai acertar a garota! Ela olhou por cima do ombro e viu dois militares, também montados, e um tomava o fuzil do outro. Será que faziam aquilo a mando do rei, para não prejudicar seu bebê? Ainda bem que o palácio não era muito longe do porto, logo que chegaram no píer onde o Sete Dias de Fogo estava, desmontaram e correram para
Embora estejamos distantes, tudo que aprendo e faço aqui é pelos meus entes queridos -- Mantenha o foco! Você precisa abrir a água sozinha se quiser sobreviver! – a voz trovejante do dragão de corais se sobressaía mesmo em meio à tempestade. Ondas maiores do que Inaê imaginava ser possível surgiam a cada cinco minutos, e ela tinha que empenhar toda a sua mente para criar uma abertura na água, onde ficaria, incólume, enquanto a onda seguia ou quebrava às suas costas, uma cena que seria fantástica se não fosse tão assustadora. Inaê começara aquilo de manhã cedo, e não sabia há quanto tempo estava ali, no meio do que devia ser a tempestade mais demorada e violenta da História. &nb
Aconteceu que Inaê ficou mesmo resfriada, então não pôde sair no dia seguinte, confinada no quarto, aos cuidados de uma Sango excessivamente preocupada. Ela não foi trabalhar, trazia remédios a cada hora e insistia que permanecesse deitada, embora Inaê argumentasse que se sentia bem o bastante para andar. -- Você é pior que meu pai – comentou depois de tomar um chá para baixar a febre. Dario não deixava a cabeceira das filhas quando doentes. Lembrar disso trouxe um aperto a seu peito. No fim da tarde ela já estava bem, e saiu com Sango e Ashima para um festival que acontecia na cidade. Quase todos usavam aquelas roupas típicas, que Ashima explicara se chamarem quimono, aqueles especificamente do estilo yukata. Sango lhe emprestara
Inaê abriu os olhos e foi ofuscada pelas luzes fortes que só podiam ser de um hospital. Sentiu uma pontada ao mover o braço e notou um acesso ligado a uma bolsa de soro, então se lembrou de recuperar sua prancha de windsurfe após horas de tentativas, e nada além. Onde estava? Será que as ondas a levaram para alguma terra desconhecida? -- Acordou, Haier-sama? – um enfermeiro se aproximou da cama. Estava em Uminami, mas não sabia como voltara – Nos deu um susto. -- O que aconteceu? -- Vossa Excelência não voltou por horas, e à tarde um dos ryu-sama
-- Então isso é o céu – Ashima olhava para cima com as mãos sobre os olhos ofuscados e a boca entreaberta. Sango ergueu os braços para sentir o vento entre os dedos. -- Só tinha visto desenhos e gravações das nuvens e do sol. -- Mas como vocês não estão acostumados, é melhor não ficarem muito tempo aí, ou podem acabar com fotoqueratite, queimadura solar nos olhos – Inaê alertou – E eu só tenho um par de óculos escuros. -- O mar é verde? – a curandeira baixou o rosto para a água –