Parte 1...
O dia até estava fresco e ventava lá fora. Pela grande parede de vidro dava para ver a rua lá embaixo, onde os galhos das árvores balançavam de um lado para outro. Ali dentro da sala o ar-condicionado deixava a sala na temperatura ideal.Mas o cabeça de tudo, o chefe maior, Lorenzo Salvattore, deixava as pessoas em volta da grande mesa de madeira mogno com um arrepio de frio. Seu olhar gélido passou de um por um, aguardando por explicações que justificassem os erros que ele havia encontrado na planilha mensal de lucros da empresa.Sentado em sua cadeira alta e confortável, ele fingia estar calmo. Mantinha no rosto um leve sorriso, quase que relaxado, enquanto ouvia as explicações sobre os últimos eventos que haviam chegado até ele.Para os presentes em volta, aqueles minutos esperando enquanto ele lia os documentos abertos à sua frente, estava se tornando quase que uma tortura. Cada um ali sabia que ia levar sua parte de culpa nesse processo.Lorenzo cuidava dos negócios da família desde que tinha vinte e cinco anos. Suas ideias só fizeram aumentar e melhorar o patrimônio da família e de seus sócios. Ele mesmo tinha sua própria fortuna, o que o deixava com uma grande responsabilidade nas mãos. Cada atitude dele tinha uma consequência e por isso mesmo ele não podia aceitar erros.Fossem erros inocentes ou feitos de má intenção. De ambas as formas era necessário muito cuidado. E além de seus interesses particulares, ele tinha que cuidar de todos que compunham as empresas. Do sócio majoritário ao rapaz que entregava o café.Todos eram importantes para o bom andamento das empresas e também por isso ele tinha que valorizar seus esforços. Se por acaso ele cometesse um erro que viesse a causar um problema aos sócios, também causaria aos empregados abaixo. Todo mundo iria perder.E uma coisa que o aborrecia muito era gente incompetente. E infelizmente, um dos culpados pelo erro atual era o abusado de seu irmão mais novo, Gutto.E Gutto não era apenas incompetente. Ele era mau caráter também. E preguiçoso. Juntando tudo isso era um perigo manter ali uma pessoa assim. E ele já havia dito isso aos pais, que desde sempre apoiaram tudo o que o irmão mais novo fazia, deixando para ele a responsabilidade de resolver seus problemas, mas agora ele tinha passado do limite.Bateu os dedos em cima da mesa, olhando para a pasta aberta, lendo pela terceira vez o relatório final que tinha recebido de um de seus assistentes. E não era nada agradável.Por sua vontade ele explodiria ali mesmo e jogava tudo no ventilador, para espalhar a merda em cima dos responsáveis. Havia ali um golpe em andamento contra seus interesses e de sua família. Agora novamente ele teria que contornar e resolver mais esse pepino.E o pior que ele tinha visto, é que o erro era tão fácil de ser descoberto, que só mesmo uma mente pequena e incompetente seria capaz de achar que nunca seria descoberto. Um adolescente na aula de matemática teria descoberto aquilo. Chegou a respirar fundo enquanto olhava os números no papel.E mesmo com outros nomes relacionados ali no relatório, ele sabia que havia um mentor e grande culpado por aquelas ações. E tudo rodava e voltava para um nome. Por mais que ele quisesse puxar para outro lado, de novo, era isso.Gutto Salvattore.E não podia haver perdão agora para mais esse comportamento, ainda que seus pais ficassem contra ele. Dessa vez ele tinha que agir contra o irmão e de uma vez por todas dar um jeito de afastar Gutto das empresas. Não dava mais para alisar.Ele praguejou entre dentes. Gutto só estava ali por causa de seu sobrenome e do modo como seus pais o tratavam como uma criança inocente e que tudo o que fazia era sem querer. Não era.Ergueu os olhos e viu as caras de preocupação à sua volta, aguardando suas ações. Ele se ajeitou na cadeira e mexeu a cabeça, movendo o pescoço para diminuir a pressão.— Onde está meu irmão?Sua voz forte e cheia de crítica fez as pessoas olharem de um para outro, esperando que alguém respondesse. Uma das funcionárias respondeu, meio temerosa.— Nós o avisamos da reunião, senhor Salvattore.— E porque diabos ele não está aqui?Ela ergueu as sobrancelhas e apertou os lábios. Claramente sabia de algo e não queria falar. Ele segurou a vontade de dar um murro na mesa.Era um absurdo. O nível de cinismo de seu irmão era grande. Não fazia nada. Tinha um cargo na empresa por causa e somente de seu sobrenome. Arrogante, cínico e abusado. Vivia pelos corredores apenas matando tempo antes de sair correndo atrás de suas muitas mulheres.E era noivo. Outra coisa que ele ainda não tinha entendido bem. Qual o motivo desse noivado, se ele vivia de farra e festas, gastando o dinheiro que não trabalhava para ganhar. Só podia acreditar que era apenas por causa de sua mãe que exigia que ambos tivessem uma família.E nisso ele tinha que concordar. A mãe vinha pegando no pé deles há bastante tempo e de repente Gutto apareceu com essa noiva. E ela era uma das funcionárias da empresa.* Autora Ninha Cardoso.
Parte 2...E pelo jeito ele ainda achava que podia enfiar os dedos lisos e compridos em mais dinheiro para si, além do alto salário que recebia para não fazer nada.— E por acaso alguém o viu hoje de manhã?— Eu o vi entrando na sala dele - o funcionário do recursos humanos respondeu — E... Estava acompanhado.Lorenzo puxou o ar fundo, cheio de irritação e segurando seu gênio para não soltar tudo de vez. Sabia pelas caras ali em volta, que cada um deles esperava que ele desse a punição exata ao culpado de tudo o que eles foram obrigados a ouvir e do estresse que sentiam agora, na esperança de não levarem nenhuma punição também, já que apenas recebiam ordens.Aquelas pessoas ali trabalham muito e seguiam as normas da empresa diariamente, coisa que seu irmão não fazia. Todos ou a maioria deles pelo menos, sabiam que deviam obrigações a ele como chefe de tudo e suas responsabilidades eram grandes.— Eu posso ir chamá-lo novamente - a secretária fez o gesto para levantar.— Não! - disse f
Parte 3...E até por isso mesmo ele não entendia como uma garota tão bonita, capaz e inteligente como Juliana Moratti estava noiva de seu irmão. Não fazia muito sentido para ele.Ela era toda certinha, competente em sua função e sempre organizada. Todo mundo que a conhecia só tinha elogios para seu comportamento e sua personalidade ali dentro da empresa.Fora do trabalho ele não sabia como ela era, não tinha nenhum contato que lhe passasse informações, a não ser seu irmão, que da noite para o dia surgiu com a novidade de que iria se casar e quando soube o nome da criatura que teria coragem de fazer isso, ficou muito surpreso ao saber que seria Juliana.Lorenzo imaginava o irmão com qualquer garota fútil, burra e sem caráter, assim como ele gostava de se envolver, mas, ao contrário disso, ele escolheu uma totalmente o oposto.Não conseguia encaixar o perfil dos dois como um casal.O modo tão diferente dos dois o levava a muitos questionamentos e agora ainda mais. O que ela diria se sou
Parte 4...Uma única vez ela perguntou diretamente a ele e lhe mostrou um vídeo, onde ele caminhava de mãos dadas com uma garota e ele riu, dizendo que era uma das primas dele. Ficou desconfiada, mas quando ele pegou o celular para ligar e colocá-la para falar direto com a prima, ela deixou o assunto morrer.Depois de seis meses de namoro, ela já não sabia mais se queria mesmo se casar com ele. O pedido de casamento foi algo que a surpreendeu. Ela nem pensava em se casar com ele quando Gutto surgiu com um lindo anel de noivado e fez o pedido durante um jantar com a presença de sua irmã mais nova, Anete.Anete ficou tão animada com o pedido que ela praticamente aceitou se casar mais pela irmã do que por ele mesmo. Anete ficou tão feliz, foi logo contar aos pais que agora ela iria ter um cunhado rico e bonito graças a irmã.Ela não sabia muito bem porque aceitou mesmo. Gostava dele, mas não poderia dizer que era amor. Pelo menos não um amor como os que ela lia nos livros de romance e n
Parte 1...O estômago de Juliana revirou. Sua cabeça ficou tão cheia com as imagens que via que sentiu uma pontada no lado esquerdo da testa e seu coração ficou pesado.Era muita coisa para suportar assim, de repente. Sentiu sua nuca enrijecer. Ela precisava sair dali. Era ridículo demais. Não ia ficar ali olhando enquanto eles tentavam se vestir de uma forma desajeitada e apressada.Ela se virou e saiu apressada, quase tropeçando quando passou pela porta com desespero de se afastar dali o quanto antes. Estava sentindo coisas que não gostava. E dentro elas, uma grande vergonha de Lorenzo também estar ali nesse momento.Lorenzo ficou sem saber se ficava e brigava com os dois amantes descarados ou se corria atrás dela para ajudar. Em um impulso ele decidiu ir atrás dela.— Você não muda nunca, Gutto - disse com voz enraivecida e antes de sair, olhou feio para Anete — Você não tem caráter, garota? Que comportamento nojento.— Lorenzo, você não pode...Gutto tentou contestar, mas calou a
Parte 2...E Gutto tinha provado que era mesmo um moleque. Ela já sabia que ele era irresponsável em outras áreas da vida, mas ser um safado traidor estava virando um clichê.Sentiu vontade de chorar, só não estava bem definido por qual motivo ainda. Encostou no carro, a cabeça baixa, olhando para os próprios sapatos azuis escuro que costumava usar para o trabalho, fazendo conjunto com seu terninho comportado e elegante que a deixava com jeito mais profissional. Que era essa a sua intenção mesmo.Lorenzo ficou parado observando sua postura derrotada e sentiu uma ponta de de raiva. Não entendia o que uma mulher inteligente e capaz como ela podia estar fazendo ao lado de um homem que claramente só pensava em curtir a vida.Não havia um futuro adequado para eles como casal. E não era só ele quem pensava dessa forma. Já tinha dado uma de desligado enquanto ouvia um fio de fofoca que corria na sala de espera, onde três funcionárias falavam sobre Juliana.Até que não estavam falando mal de
Parte 3...— Eu já disse que vou ficar bem, não tem que se preocupar comigo e não pode me impedir de ir embora - disse de forma até mal criada — Eu tenho direito de ir e vir como queira.— Eu sei disso - ele inclinou a cabeça para a frente — Mas acho que sair assim, pode acabar causando algum prejuízo maior depois. Você está tremendo - olhou para suas mãos — Como vai controlar um carro assim?Ele tinha razão. Talvez ela nem fosse muito longe, apenas saísse do prédio para respirar melhor.— Vamos fazer assim - ele empurrou a porta de volta e voltou a travar, segurando a chave — Eu tenho água no meu carro. Ele está logo ali - apontou para o carro mais adiante, em uma das vagas de presidência — Vamos até lá, você bebe um pouco de água, senta e relaxa - abriu as mãos — Aí depois, se quiser ir embora dirigindo, eu a libero. Ok?Juliana olhou para o carro adiante. Era uma SUV enorme e alta. Claro, só podia ser. Engoliu em seco e apertou as mãos. Até que não seria ruim molhar a garganta. Est
Parte 3...— Eu já disse que vou ficar bem, não tem que se preocupar comigo e não pode me impedir de ir embora - disse de forma até mal criada — Eu tenho direito de ir e vir como queira.— Eu sei disso - ele inclinou a cabeça para a frente — Mas acho que sair assim, pode acabar causando algum prejuízo maior depois. Você está tremendo - olhou para suas mãos — Como vai controlar um carro assim?Ele tinha razão. Talvez ela nem fosse muito longe, apenas saísse do prédio para respirar melhor.— Vamos fazer assim - ele empurrou a porta de volta e voltou a travar, segurando a chave — Eu tenho água no meu carro. Ele está logo ali - apontou para o carro mais adiante, em uma das vagas de presidência — Vamos até lá, você bebe um pouco de água, senta e relaxa - abriu as mãos — Aí depois, se quiser ir embora dirigindo, eu a libero. Ok?Juliana olhou para o carro adiante. Era uma SUV enorme e alta. Claro, só podia ser. Engoliu em seco e apertou as mãos. Até que não seria ruim molhar a garganta. Est
Parte 4...Saíram dessa observação quando o som do elevador os fez recordar onde estavam. Lorenzo olhou na direção do elevador e viu a luz vermelha acesa. Alguém havia chamado o ascensor para o piso superior. Voltou a olhar para ela que também olhava para o mesmo ponto, com os olhos bem abertos. Esticou a mão e agarrou seu braço, como um pedido velado de ajuda.— Calma, é só o elevador.— Não... Pode ser o Gutto... Ele pode estar atrás de mim.— E você tem que falar com ele.— Mas não tem que ser agora - ela apertou o braço dele.Ele encheu o peito de ar e soltou um suspiro cansado. Ela provavelmente estava certa. Gutto iria querer aparecer com alguma desculpa esfarrapada, como ele sempre fazia para tudo. E ela estaria bem melhor se ficasse longe dele.— Então vamos sair daqui agora.Ele pegou a bolsa dela e jogou no banco de trás, puxando-a pela mão e praticamente a empurrou para dentro do carro, colocando o cinto de segurança e fechando a porta depressa.— Cássio!Ele chamou seu g