Camille,O que mais me atormentava não era o fato de estar amarrada àquela cadeira, com correntes apertadas em volta dos meus pulsos e tornozelos, ou o frio gelado que parecia vir das paredes úmidas e escuras do lugar onde me haviam jogado. O que realmente me atormentava era a sensação de traição, o choque de ver o homem que eu amava se transformar em um completo estranho, alguém que me olhava com puro ódio e desprezo.Eu não fazia ideia de onde estava. O lugar tinha um cheiro de mofo, de abandono. As paredes estavam cobertas de ferrugem, e o som gotejante de água pingando ecoava por todo o ambiente. Era uma espécie de galpão ou depósito, um lugar completamente isolado, onde ninguém me encontraria. Eu estava completamente à mercê de Lorenzo.Meus pulsos doíam. As correntes que me prendiam à cadeira eram apertadas e cruéis, machucando a pele a cada movimento que eu fazia. Eu tentei me mexer, mas era inútil. Meu corpo estava exausto, o medo me dominava, fazendo meu coração disparar no p
Lorenzo,Eu a observava de longe, sentando numa cadeira velha de madeira, enquanto tragava lentamente meu cigarro. O cheiro de fumaça preenchia o ar pesado do armazém. Camille estava apagada, caída, a cabeça pendida para o lado, com as correntes ainda segurando seu corpo na cadeira. O tapa que dei havia sido mais forte do que pretendia, e sua fragilidade me atingiu de uma forma que eu não esperava.Ela parecia tão pequena, tão vulnerável. Mas, ao mesmo tempo, tudo nela me lembrava da traição. Eu não podia deixar isso me afetar. Não agora. Havia uma verdade que precisava ser dita, e ela seria arrancada à força, se necessário.Eu olhei para um dos meus homens, que estava parado nas sombras, esperando instruções. Seu olhar estava fixo no chão, sem ousar me encarar.— Joga água nela. Preciso que acorde — falei, a voz rouca.Ele não hesitou, obedeceu. Pegou um balde de água gelada, lotado de gelo, que estava encostado perto da porta e se aproximou dela. Camille ainda estava inconsciente, a
Lorenzo,Eu me sento na cadeira de couro do meu escritório, a cabeça pulsando com a mistura de raiva e frustração. O cheiro de cigarro está impregnado no ar, mas, mesmo assim, acendo outro. Camille está me destruindo por dentro. Não com palavras, mas com sua recusa em confessar. Ela sabe onde Nico está. Ela tem que saber.Puxo o cigarro com força e olho para a pilha de papéis à minha frente. Negócios da família. Contratos, acordos, transações de armas. A máfia não espera por ninguém, muito menos por mim, por mais que minha cabeça esteja obcecada por vingança. Eu tenho uma reunião importante em algumas horas, mas tudo o que consigo pensar é nela. A única maneira de alcançar Benedetti é através dela, se ela cooperasse.Vittorio entra na sala sem bater, como sempre faz. Meu braço direito, meu confidente. Ele sabe mais sobre mim do que qualquer outro. Ele sabe até onde estou disposto a ir.— O pessoal já está esperando — ele diz, sem rodeios. — Richardson e os outros estão prontos para fe
Camille,As horas se arrastaram lentamente depois que ele saiu, e o silêncio do armazém me envolveu como um manto pesado. Eu estava sozinha, completamente à mercê do frio, da dor e do medo que Lorenzo havia me deixado. Meu corpo tremia, mas não era mais apenas devido ao frio da água que ele jogou em mim. Era algo mais profundo, algo que queimava por dentro.O fogo estava crescendo dentro de mim. Senti como se algo estivesse errado, como se meu corpo estivesse lutando contra si mesmo. Minha cabeça girava, e a dor que antes estava localizada apenas nas áreas onde ele me machucara agora se espalhava por todo o meu corpo. Um calor insuportável tomou conta de mim, e minha pele começou a queimar como se eu estivesse pegando fogo. Era como se meu corpo estivesse me abandonando.Tentei mexer meus braços, minhas pernas, mas estava fraca demais. O desespero começou a se infiltrar na minha mente enquanto meu corpo se recusava a responder. Eu sabia que algo estava muito errado, mas não conseguia
Lorenzo,As luzes da clínica privada piscavam por um momento quando chegamos, e dois dos meus homens rapidamente tiraram Camille do carro. Ela estava inconsciente, frágil, mas viva. O médico já estava à espera na entrada, preparado para levá-la direto para a sala de tratamento. Eu não queria que ela morresse, não ainda. Eu precisava dela lúcida. Precisava das respostas que ela teimava em não dar.A chuva fina que caía lá fora fazia o asfalto brilhar sob as luzes dos postes, e o som da água batendo no chão se misturava com o burburinho sutil das vozes dentro da clínica. Eu os segui enquanto levavam Camille para dentro, os passos ecoando no silêncio do corredor. Minhas mãos estavam enfiadas nos bolsos, mas a tensão em meu corpo estava clara. Eu não gostava dessa situação. Não gostava de depender de ninguém, muito menos de um médico, para garantir que ela sobrevivesse.O médico, um homem que eu conhecia há anos, de confiança e discretíssimo, se aproximou assim que entramos na sala de eme
Camille,Eu ainda estava deitada naquela cama fria e estéril, sentindo o peso esmagador da solidão enquanto o som da porta se fechando ecoava pela sala. Lorenzo havia saído, e com ele, toda esperança parecia ter desaparecido. O quarto estava mergulhado em um silêncio opressor, e a escuridão que vinha de dentro de mim parecia se misturar com o ambiente ao meu redor. A dor física ainda estava lá, forte, latejante, mas havia algo muito mais profundo corroendo minha alma. A dor emocional era insuportável, como se estivesse me rasgando de dentro para fora.As palavras dele ainda ecoavam em minha mente, repetindo-se como um mantra perverso. “A dor física pode ter acabado, mas a dor psicológica está só começando.” Aquilo reverberava em mim, cada sílaba me lembrando do inferno que ele ainda pretendia infligir. Lorenzo estava decidido a me destruir, e a pior parte de tudo isso era que ele estava conseguindo. Eu sentia que minha mente estava se fragmentando, lentamente despedaçada por uma dor q
Lorenzo,Haviam se passado algumas semanas desde que a deixei naquela cama de hospital. Durante esse tempo, viajei para cuidar de alguns negócios. Eu precisava de distância dela, não porque estava me afastando do que estava por vir, mas porque sabia que a minha raiva precisava ser controlada. Camille ainda era a chave para tudo, e eu não poderia perder o controle, não agora. Eu precisava dela viva, mas também precisava que ela fosse destruída, quebrada o suficiente para que me desse todas as respostas.Quando cheguei de volta à cidade naquele dia, a primeira coisa que fiz foi ir ao hospital. Camille havia se recuperado o suficiente para ser removida de lá, e eu havia decidido que o próximo passo precisava ser dado em outro lugar. Um lugar mais isolado, mais controlado.Eu a levei para uma das minhas casas fora da cidade, cercada por seguranças. Não havia como ela fugir, mesmo que quisesse. As janelas eram protegidas com vidros à prova de balas, e havia câmeras em cada canto. Ela estav
Camille,Quando Lorenzo saiu do porão, o ar pareceu ficar mais leve, mas o medo e a dor ainda me esmagavam por dentro. Meu corpo estava em frangalhos, cada golpe que ele havia desferido contra minha pele havia deixado marcas profundas, não apenas fisicamente, mas mentalmente. Eu estava quebrada, embora ainda não completamente. Ele queria minha confissão, queria que eu dissesse algo que eu não tinha para dar.A dor física era intensa, como um fogo que queimava cada parte do meu corpo, mas o que mais doía era a sensação de impotência. Eu nunca imaginei que poderia acabar assim, presa, torturada por um homem que um dia cheguei a amar. A ironia de tudo isso me atingia em cheio. Como alguém que parecia tão doce em alguns momentos poderia se transformar nesse monstro? Eu nunca quis machucá-lo, nunca quis fazer parte do mundo sujo em que meu pai, Nico, estava envolvido. Mas Lorenzo não acreditava nisso.Cada respiração que eu dava era um esforço monumental. Minhas costelas doíam, e o ar pare