Camille,A sensação de alívio que o trabalho me trazia parecia ser apenas uma fachada, uma fina camada de proteção contra a escuridão que me perseguia. Minha mente estava em constante turbulência, uma mistura de medo, raiva e tristeza. As memórias de Lorenzo e tudo o que aconteceu ainda me assombravam. Mas, de alguma forma, eu havia aprendido a seguir em frente, ou pelo menos, a fingir que estava tudo bem. Eu me mantinha ocupada, tentando sufocar as emoções que insistiam em vir à tona.Era tarde, e o escritório estava vazio. Terminei mais um dia de trabalho, exausta, mas satisfeita. Fotografar clientes e organizar eventos havia se tornado uma válvula de escape. Era ali, atrás da câmera, que eu conseguia me desligar por algumas horas da realidade sombria que pairava sobre mim.Desci até o elevador, o andar vazio, o silêncio inquietante. As luzes do corredor piscavam levemente, e um calafrio percorreu minha espinha. Apertei o botão do elevador e esperei. O silêncio me deixava desconfort
Lorenzo,O silêncio no escritório era quase ensurdecedor. As evidências estavam todas ali, sobre a mesa, como um peso esmagador. Camille Cristina Benedetti. O nome que antes era sinônimo de paz e felicidade agora carregava uma ameaça que eu nunca poderia ter previsto. Ela estava envolvida, tinha que estar. As transações, as coincidências de datas… tudo apontava para isso. Se ela sabia de tudo, se ela fazia parte do plano de seu pai, então também teria que pagar.Vittorio estava em pé ao meu lado, ainda observando a minha reação enquanto eu analisava os documentos novamente pela enésima vez. A fúria dentro de mim borbulhava, quase me consumindo. O amor que eu sentia por Camille se transformava em algo tóxico, um veneno que corria pelas minhas veias. Eu não podia confiar nela. Não mais.Levantei-me da cadeira abruptamente, minhas mãos apertando os papéis com tanta força que meus dedos doíam.— Vittorio — comecei, com a voz baixa e carregada de raiva. — Reúna todos os nossos homens. Quer
Camille,O que mais me atormentava não era o fato de estar amarrada àquela cadeira, com correntes apertadas em volta dos meus pulsos e tornozelos, ou o frio gelado que parecia vir das paredes úmidas e escuras do lugar onde me haviam jogado. O que realmente me atormentava era a sensação de traição, o choque de ver o homem que eu amava se transformar em um completo estranho, alguém que me olhava com puro ódio e desprezo.Eu não fazia ideia de onde estava. O lugar tinha um cheiro de mofo, de abandono. As paredes estavam cobertas de ferrugem, e o som gotejante de água pingando ecoava por todo o ambiente. Era uma espécie de galpão ou depósito, um lugar completamente isolado, onde ninguém me encontraria. Eu estava completamente à mercê de Lorenzo.Meus pulsos doíam. As correntes que me prendiam à cadeira eram apertadas e cruéis, machucando a pele a cada movimento que eu fazia. Eu tentei me mexer, mas era inútil. Meu corpo estava exausto, o medo me dominava, fazendo meu coração disparar no p
Lorenzo,Eu a observava de longe, sentando numa cadeira velha de madeira, enquanto tragava lentamente meu cigarro. O cheiro de fumaça preenchia o ar pesado do armazém. Camille estava apagada, caída, a cabeça pendida para o lado, com as correntes ainda segurando seu corpo na cadeira. O tapa que dei havia sido mais forte do que pretendia, e sua fragilidade me atingiu de uma forma que eu não esperava.Ela parecia tão pequena, tão vulnerável. Mas, ao mesmo tempo, tudo nela me lembrava da traição. Eu não podia deixar isso me afetar. Não agora. Havia uma verdade que precisava ser dita, e ela seria arrancada à força, se necessário.Eu olhei para um dos meus homens, que estava parado nas sombras, esperando instruções. Seu olhar estava fixo no chão, sem ousar me encarar.— Joga água nela. Preciso que acorde — falei, a voz rouca.Ele não hesitou, obedeceu. Pegou um balde de água gelada, lotado de gelo, que estava encostado perto da porta e se aproximou dela. Camille ainda estava inconsciente, a
Lorenzo,Eu me sento na cadeira de couro do meu escritório, a cabeça pulsando com a mistura de raiva e frustração. O cheiro de cigarro está impregnado no ar, mas, mesmo assim, acendo outro. Camille está me destruindo por dentro. Não com palavras, mas com sua recusa em confessar. Ela sabe onde Nico está. Ela tem que saber.Puxo o cigarro com força e olho para a pilha de papéis à minha frente. Negócios da família. Contratos, acordos, transações de armas. A máfia não espera por ninguém, muito menos por mim, por mais que minha cabeça esteja obcecada por vingança. Eu tenho uma reunião importante em algumas horas, mas tudo o que consigo pensar é nela. A única maneira de alcançar Benedetti é através dela, se ela cooperasse.Vittorio entra na sala sem bater, como sempre faz. Meu braço direito, meu confidente. Ele sabe mais sobre mim do que qualquer outro. Ele sabe até onde estou disposto a ir.— O pessoal já está esperando — ele diz, sem rodeios. — Richardson e os outros estão prontos para fe
Camille,As horas se arrastaram lentamente depois que ele saiu, e o silêncio do armazém me envolveu como um manto pesado. Eu estava sozinha, completamente à mercê do frio, da dor e do medo que Lorenzo havia me deixado. Meu corpo tremia, mas não era mais apenas devido ao frio da água que ele jogou em mim. Era algo mais profundo, algo que queimava por dentro.O fogo estava crescendo dentro de mim. Senti como se algo estivesse errado, como se meu corpo estivesse lutando contra si mesmo. Minha cabeça girava, e a dor que antes estava localizada apenas nas áreas onde ele me machucara agora se espalhava por todo o meu corpo. Um calor insuportável tomou conta de mim, e minha pele começou a queimar como se eu estivesse pegando fogo. Era como se meu corpo estivesse me abandonando.Tentei mexer meus braços, minhas pernas, mas estava fraca demais. O desespero começou a se infiltrar na minha mente enquanto meu corpo se recusava a responder. Eu sabia que algo estava muito errado, mas não conseguia
Lorenzo,As luzes da clínica privada piscavam por um momento quando chegamos, e dois dos meus homens rapidamente tiraram Camille do carro. Ela estava inconsciente, frágil, mas viva. O médico já estava à espera na entrada, preparado para levá-la direto para a sala de tratamento. Eu não queria que ela morresse, não ainda. Eu precisava dela lúcida. Precisava das respostas que ela teimava em não dar.A chuva fina que caía lá fora fazia o asfalto brilhar sob as luzes dos postes, e o som da água batendo no chão se misturava com o burburinho sutil das vozes dentro da clínica. Eu os segui enquanto levavam Camille para dentro, os passos ecoando no silêncio do corredor. Minhas mãos estavam enfiadas nos bolsos, mas a tensão em meu corpo estava clara. Eu não gostava dessa situação. Não gostava de depender de ninguém, muito menos de um médico, para garantir que ela sobrevivesse.O médico, um homem que eu conhecia há anos, de confiança e discretíssimo, se aproximou assim que entramos na sala de eme
Camille,Eu ainda estava deitada naquela cama fria e estéril, sentindo o peso esmagador da solidão enquanto o som da porta se fechando ecoava pela sala. Lorenzo havia saído, e com ele, toda esperança parecia ter desaparecido. O quarto estava mergulhado em um silêncio opressor, e a escuridão que vinha de dentro de mim parecia se misturar com o ambiente ao meu redor. A dor física ainda estava lá, forte, latejante, mas havia algo muito mais profundo corroendo minha alma. A dor emocional era insuportável, como se estivesse me rasgando de dentro para fora.As palavras dele ainda ecoavam em minha mente, repetindo-se como um mantra perverso. “A dor física pode ter acabado, mas a dor psicológica está só começando.” Aquilo reverberava em mim, cada sílaba me lembrando do inferno que ele ainda pretendia infligir. Lorenzo estava decidido a me destruir, e a pior parte de tudo isso era que ele estava conseguindo. Eu sentia que minha mente estava se fragmentando, lentamente despedaçada por uma dor q