__Tem certeza de que deseja estar presente na cerimônia do Supremo? - Perguntou Vanessa com os olhos fixos na estrada.
Me chamo Aurora Havelle, sou uma híbrida de loba e bruxa. Recentemente, perdi minha mãe, vítima do misterioso assassino que nos atormenta há séculos. Está sendo muito difícil encarar essa nova realidade. Embora nunca fôssemos muito próximas, raramente conversávamos sem discutir, e isso não me impede de sentir a dor de sua perda.
Sou recém-formada em medicina, para ser mais precisa, devo dizer que sou veterinária. Desde que minha mãe morreu, tenho tido sonhos esquisitos com uma mulher dando à luz a um bebê. Nunca consigo ver seu rosto, pois sempre aparece borrado. Ao seu lado, há sempre outras duas mulheres e um homem que suponho ser o pai da criança, mas esses também aparecem com os rostos borrados. O mais incrível é que sinto que conheço todos.
Estou a caminho da alcateia do Alfa Eric, ele é meu pai. Nos damos muito bem, apesar de nos termos distanciado quando resolvi estudar em outra cidade. Ele é casado com Lucinda, uma mulher extraordinária. Sentindo muito em dizer, sempre me dei melhor com ela do que com minha própria mãe. Não, meus pais não eram casados. Minha mãe foi apenas uma das namoradas que meu pai teve em sua adolescência antes de encontrar Lucinda, sua companheira.
Cresci ouvindo de minha mãe que fui um trágico acidente, mas meu pai afirma que eu sou seu bem mais precioso.
__Eu tenho que ir. - Respondi pela milésima vez depois de um tempo em silêncio.
Como filha de um alfa, tenho que seguir as tradições e estar em todos os eventos importantes que acontecem na alcateia, mesmo contra minha vontade.
O Supremo fará uma cerimônia para apresentar sua companheira para todo seu povo, e o lugar escolhido foi a alcateia do meu pai, que, por ser a maior, acomoda mais gente. Acredito que também seja o lugar mais próximo do seu, por isso as terras do meu pai tiveram mais um ponto atrativo para os felizardos.
__Você sabe que se não estiver bem, eu dou meia volta nesse carro e a gente volta para o nosso apartamento, e dane-se quem achar ruim, não sabe? - Vanessa insistiu.
Conheci Vanessa no primeiro ano da faculdade, e desde então nos tornamos melhores amigas. Ela é uma loba solitária, ou era, já que agora fazemos companhia uma à outra. Vanessa é aquela amiga super protetora, e desde que contei a ela sobre os meus pesadelos, ela passou a cuidar mais de mim e quase nunca me deixa sozinha. Confesso que seus cuidados é que têm me animado, quando não estou no trabalho ocupando a cabeça.
__Eu sei. - Sorrio olhando para ela. - Mas não quero decepcionar meu pai. - Voltei a olhar para o vulto que a paisagem fazia conforme o carro se movimentava.
__Tenho certeza de que ele vai entender.
__Eu sei que, se fosse o caso, ele entenderia, mas... eu preciso distrair minha cabeça. - Sussurrei.
__Tudo bem.
Senti seu toque gélido em meu ombro, mas não ousei olhá-la, pois sentia as lágrimas se formando em meus olhos ao me lembrar dos últimos acontecimentos em minha vida.
☆☆☆
Vanessa ainda dirigia em silêncio. Vez ou outra, eu a via fazendo menção de falar, mas logo ela mudava de ideia. O crepúsculo já se fazia presente com seus tons alaranjados, embelezando a pista larga coberta pela vasta floresta ao redor. Ao longe, consegui ver os muros de pedras antigas da alcateia. Em cima deles, dois grandes lobos feitos de mármore azulado seguravam uma placa que ia de uma ponta a outra com o nome "Alcatéia Lua de Sangue" gravado sobre o bronze espalhado nela.
__Chegamos. - Disse Vanessa ao parar o carro em frente aos enormes portões de ferro.
__É... - Suspirei- Chegamos.
Vi dois lobos que vigiavam a entrada da alcateia se aproximarem farejando o ar. Logo que me identificaram, abriram espaço fazendo uma reverência. Os portões se movimentaram, e segundos depois, tive visão de todo aquele lugar que eu já não via há muito tempo.
Havia crianças brincando, pessoas conversando, jovens sorridentes. Ainda assim, consegui sentir as aflições deles. O assassinato da minha mãe deixou todos em alerta. Talvez nem todos, já que nosso supremo fará uma cerimônia onde muitas alcateias se reunirão aqui, o que, para mim, é um ótimo lugar para um possível novo ataque. Como ditam as regras, não devemos ir contra nosso supremo, principalmente tratando-se de Lucian, o supremo mais temido e misterioso da história.
"Essa é boa."
Eu nunca o vi, mas segundo o que ouvi, não é uma pessoa muito agradável, e sua aparência é dominadora. Sinceramente, não me intimido com comentários; as pessoas exageram. Prefiro ver para crer, e é exatamente o que vai acontecer nessa cerimônia, extremamente mal elaborada.
__Aqui é lindo. - Vanessa olhava encantada para cada canto da alcateia.
__Cuidado para não atropelar ninguém. - Sorri.
__Não seja palhaça! - Ela sorri estacionando o carro em frente à minha casa, onde meu pai e sua companheira já nos esperavam com um sorriso estampado no rosto.
__Está pronta? - Vanessa perguntou com um semblante preocupado.
Fiquei em silêncio.
Estar aqui não é uma tarefa fácil, principalmente depois de vários conflitos que minha mãe armou com Lucinda. Confesso que me sinto envergonhada por isso. Cresci vivendo de um lado para o outro, sem uma casa fixa. Passava a maioria do tempo no apartamento de minha mãe na Itália e o restante aqui. Quando cheguei na adolescência, passei a ficar mais tempo com meu pai, mas logo segui meu próprio caminho, estudando medicina, como minha mãe. E agora cá estou eu, outra vez, depois de anos.
__Estou. - Olhei para ela e saí do carro em seguida.
__Filha! Como é bom ver você. - Meu pai me envolveu em um abraço apertado. A última vez que o vi foi no velório da minha mãe, há três meses. Desde então, nossas conversas eram apenas por telefone; ele fazia questão de me ligar todos os dias, a cada segundo.
__É bom ver você também.- Aconcheguei minha cabeça em seu peito. Meu pai era muito alto, sua aparência jovial o deixava mais atraente, como Lucinda sempre dizia. Seus olhos eram azuis bem claros como os meus, e seus cabelos eram negros, o que se diferenciava dos meus, que são brancos como os da minha mãe.
__Como está, querida? - Lucinda se aproximou.
__Estou levando como dá. - Sorri a cumprimentando com um abraço. Lucinda era uma mulher linda, seus cabelos eram longos e loiros, e seus olhos eram verdes como pedras de esmeraldas.
__Como vai Vanessa? - Meu pai apertou a mão de minha amiga, que observava tudo em silêncio.
__Muito bem, senhor Eric. - Ela fez uma reverência.
__Você é uma moça bem educada. - Disse Lucinda, e meu pai concordou.
__Bem, vamos entrar. - Disse meu pai nos guiando para dentro de sua linda casa.
Ao entrar em casa, um sentimento nostálgico invadiu meu peito. Olhei para as escadas e relembrei os vários tombos que tive ali durante a infância. Lembro de chorar com o joelho ralado e meu pai me confortando, dizendo que logo aquilo iria passar, e passava, de fato.
Ele é um ótimo pai.
__Melhor vocês duas descansarem um pouco antes do jantar. - Disse Lucinda.
__ É uma boa ideia. - Disse meu pai passando os braços em volta da cintura da companheira.
__Eu adoraria. - Vanessa se pronunciou.
__ Já mandei arrumar seu quarto, Aurora. Achei que vocês prefeririam ficar juntas, acertei? - Lucinda perguntou.
__Acertou sim, obrigada. - Sorri.
__Bem, então vamos deixar vocês irem. - Meu pai se aproximou- minha filha, tenho algumas coisas para conversar com você.
__Aconteceu alguma coisa?
__ Não, não se preocupe. - Ele beijou minha testa- no jantar conversamos.
__Tudo bem.
(...)
Lucian...Ser o supremo Alfa nunca foi uma tarefa fácil, principalmente lidando com um bando de lobos rebeldes. Desde a morte dos meus pais, herdei o papel de supremo de meu pai. Passei todo esse tempo na mais profunda solidão, na esperança de encontrar minha companheira de alma, acreditando que com ela ao meu lado tudo pudesse ser diferente.Que grande e tolo engano.Me decepcionei profundamente ao encontrar Isabel. Não consigo amá-la como deveria, muito menos suportar a presença dela. Como se isso não bastasse, ela organizou uma cerimônia na alcateia do Alfa Eric, sem minha autorização, para se apresentar como suprema luna. Isso jamais aconteceria se dependesse de mim, mas, como já foi anunciado para todo o meu povo, devo cumprir com a infeliz obrigação de apresentá-la.__Que cara é essa? - Perguntou Romeu, um dos meus betas.__Essa é a expressão de quem não está a fim de festa. - Respondi com cara fechada, meu estado normal.Convivo com meus dois betas, Romeu e Felipe, Lídia, a brux
Aurora...Depois da noite de ontem, não consegui dormir pensando no que meu pai havia falado durante o jantar. Ele me disse que havia colocado o corpo de minha mãe no mausoléu de nossa família e que não descansaria até encontrar o responsável por sua morte. Fiquei emocionada com essa informação, passei a manhã inteira refletindo sobre isso. Meus pais nunca se deram bem, principalmente depois que meu pai casou com Lucinda.Marquei com ele de irmos até o mausoléu durante a tarde. Logo depois do almoço, meu pai teve que receber algumas pessoas em seu escritório e, pelo visto, o assunto era sério; as expressões de seu rosto o entregavam.Subi para o meu quarto na expectativa de descansar um pouco, mas não deu muito certo. E agora cá estou eu em plena três da tarde, curtindo a brisa na varanda de meu quarto, esperando a hora de sair chegar. Confesso que, desde o enterro da minha mãe, jamais tive coragem de ir visitar seu túmulo no lugar onde ela estava enterrada antes, talvez por remorso de
Lucian...Não sei por que apenas o toque de Isabel me enfurece; odeio sua mania de controle. Deixei-a sozinha e fui abraçar Alma antes de me trancar no escritório. Passo a maior parte do tempo sozinho, refletindo sobre minha medíocre vida.Há muito tempo não venho aqui; apenas envio um de meus betas e, às vezes, Alma vem se certificar de que tudo está em ordem. Mas agora me vi obrigado a comparecer na m*****a cerimônia que minha amada companheira organizou às minhas costas.Bufei.Caminhei até a mesa onde havia algumas bebidas, peguei uma garrafa transparente com o líquido dourado e o despejei sobre o cálice que segurava. Me aproximei da porta de vidro da varanda e passei a encarar o nada.Suspirei, fechando os olhos.O rosto da bela dama veio em meus pensamentos, fazendo-me acalmar."Quem será você?"Algo dentro de mim se interessa muito em saber quem ela é. Devo estar maluco; como posso ter interesse na vida de uma mulher que nunca vi antes? Eu não sei, mas não vou descansar até desc
...Contei sobre a visão que tive durante minha visita ao mausoléu. Meu pai disse que não sabia da ligação que isso poderia ter com a morte da minha mãe, e isso não me surpreendeu, pois eu já esperava por isso. Seja o que for, está se revelando aos poucos, como se fosse um enigma, mas a questão é: qual a finalidade disso? Talvez seja algo que eu não vou gostar de saber._____ Não vai tocar na comida? - Vanessa me olhava com reprovação.Olhei para a cama ao lado da minha, onde minha amiga estava saboreando um pedaço generoso de bolo de chocolate. Por insistência de Lucinda, viemos jantar no quarto, pois nos sentiríamos mais à vontade depois da tarde difícil que todos passamos. Ela não errou na sugestão, mas a verdade é que meu apetite não havia aparecido ainda._____ Não estou com fome. - Respondi, olhando para o prato repleto de carne e legumes._____ Aurora.Vanessa colocou o prato que segurava sobre o criado-mudo._____ Eu sei que está passando por um momento difícil, mas... você tem
Aurora...Abri os olhos quando senti algo frio em minha testa, minha visão estava embaçada e só consegui ver a silhueta de duas pessoas. Aos poucos, fui me recuperando e vi que ao meu lado estavam Vanessa e Lucinda vestidas formalmente."Já é dia?"Olhei para fora e vi que o sol já raiava, e os pássaros cantavam animadamente entre os galhos das árvores.__ Como se sente? - Vanessa sentou-se ao meu lado, deixando seus cabelos negros roçarem a pele do meu braço.__ Está doendo alguma coisa, querida? - Perguntou Lucinda.Demorei um pouco para respondê-las, estava tentando identificar qualquer incômodo em meu corpo, mas não encontrei. Pelo contrário, estava me sentindo muito bem; seria estranho se eu já não soubesse o motivo daquilo."Dom da cura"__ Estou bem e não sinto nada. - Sentei na cama - Já estão de saída?__ Que bom - Vanessa falou desconfiada, provavelmente pensou que eu estava omitindo o que sentia - e sim, estamos de saída. Mas, se quiser, fico aqui com você sem problema algum
Lucian...Cumprimentava todas as comitivas presentes; alguns olhavam torto para Isabel, talvez pela forma vulgar dela andar e se vestir.___ Poderia melhorar essa sua carranca? - Ela estava irritada.Ignorei totalmente e me sentei em um dos tronos. Romeu, Felipe e Lídia ficaram de pé ao meu lado, Alma se misturou entre os convidados, e Isabel sentou-se no trono ao meu lado. Ainda estava fumegante pela informação que Lídia me deu mais cedo.____ Supremo, já faz um tempo que os convidados chegaram, não seria melhor dar início à apresentação de sua luna? Você sabe, todas as alcateias reunidas, um assassino à solta, pode ser arriscado.____ Comece.____ Sim, senhor.O ancião começou a falar e ganhou a atenção de todos, ou quase todos, já que alguns estavam totalmente indiferentes e concentrados em suas próprias conversas.____ Não deveríamos estar nos apresentando ao nosso povo? - Questionou Isabel.____ Eles já me conhecem.Ela revirou os olhos e se levantou, pegando o microfone da mão do
Lucian...___ Essa mulher me tira do sério!___ Calma, filho. - Alma tentava me acalmar, porém suas tentativas eram falhas.Ao sair daquele lugar, tive que me conter para não matar Isabel. Quando chegamos em casa, ela agiu como se nada tivesse acontecido e foi para seus aposentos. Pro seu bem, foi o melhor que ela fez.____ Ela chamar todo mundo de imprestável foi o cúmulo do absurdo. - Felipe se jogou no sofá rindo feito uma hiena.____ Ela é muito sem noção. - Lídia revirou os olhos, mostrando seu descontentamento com Isabel.____ O dia hoje foi muito estressante e agora temos um problema muito mais importante para resolver do que ficar falando de Isabel. - Digo.____ Qual é mesmo?- Perguntou Felipe.Lídia deu um tapa em sua cabeça.___ Ai, ruiva. - Ele resmunga.Alma sorri dos dois.____ O problema é a volta do assassino; algo me diz que dessa vez ele tem um alvo específico. - Ela diz.___ Acho que ele sempre teve. - Diz Felipe...Ouço a conversa em silêncio até sentir falta de uma
Lucian...Depois de sair daquele hospital, retornei a minha casa e fui confrontado com milhares de perguntas, às quais nem me dei ao trabalho de responder. Dirigi-me diretamente ao meu escritório e apanhei uma garrafa de uísque, virando-a de uma vez na boca.A bebida descia como um calmante cuja validade expirara; de nada adiantou, eu me encontrava na mesma situação ou até pior do que antes.Joguei-me no sofá do escritório, que ficava de frente para a grande janela de vidro. As luzes estavam apagadas; a única iluminação provinha da enorme lua cheia. Coloquei o braço sob a testa e fechei os olhos, imaginando Aurora em meus braços."Essa mulher me faz perder o controle com uma facilidade surpreendente.""Por que ela atrai tanto a minha atenção?"Seu jeito de andar e falar me deixa rendido aos seus pés, pronto para servi-la. Nunca me senti tão atraído por ninguém, mas Aurora, apenas com um olhar, despertou em mim o sentimento mais possessivo que um lobo poderia ter. Ela entrou em meu cami