DAVINAO caminho de volta da casa de Pryia foi feito em silêncio, apenas o ronco baixo do motor e o som distante da cidade preenchendo o vazio dentro do carro. Eu estava no banco da frente, ao lado de Meia-noite, enquanto Aaron, Timmy e Gutemberg dividiam o banco de trás.Quando paramos na lanchonete para pegar algo rápido, todos compraram seus lanches e voltaram para o carro. O cheiro de batatas fritas e hambúrgueres tomou conta do ambiente enquanto cada um se ocupava com sua comida. O rádio tocava uma música qualquer, abafada pelos mastigares e pelo silêncio carregado de tensão.Foi então que Gutemberg limpou a boca com o dorso da mão, largou o sanduíche no colo e limpou a garganta.— Parece que Aaron e Timmy estavam certos. Sua irmã ainda sente algo por mim.O barulho de papel amassado parou. Meus dedos apertaram o copo de refrigerante. Ninguém disse nada.— Ela tentou me beijar.— ele explicou.— Eu sabia! — Aaron gritou, alheio a minha expressão.Timmy fez um som de desgosto.Meia
DAVINAO quarto era silencioso, exceto pelo som suave da chuva lá fora. Meia-noite tinha me conduzido até lá, e agora estávamos apenas nós dois, a tensão pairando no ar como algo quase palpável. Eu estava parada, perto da cama, hesitando. O cheiro familiar dele ainda estava no ar, mas não era o suficiente para me fazer esquecer a insegurança que me tomava.Essa era a segunda vez que eu ia dormir com Meia-noite, e a sensação era estranhamente diferente. Não pela proximidade, porque, na verdade, estávamos mais próximos do que nunca. Mas porque, dessa vez, havia algo mais profundo em jogo que parecia pairar entre nós.— Você não precisa de nada, né? — Meia-noite perguntou, a voz suave, mas com aquela firmeza típica. Eu olhei para ele, e pela primeira vez naquela noite, vi uma rachadura na máscara dele. Talvez ele não soubesse, mas seus olhos estavam diferentes, mais suaves, como se estivessem buscando algo em mim.Eu balancei a cabeça, sem saber o que responder. A verdade é que eu não tin
DAVINAEu nem tive tempo de pensar. Meia-noite me puxou para trás de seu corpo. Eu nem vi quando ele sacou a pistola, mas lá estava ela, fria e mortal em sua mão, apontada para o vazio.— Não se mexa — ele ordenou, a voz baixa, mas carregada de comando.Por reflexo, prendi a respiração. Ele era puro controle e precisão, os ombros largos e tensos, pronto para disparar a qualquer momento. O olhar dele varreu o ambiente e, em seguida, focou nos outros dois que surgiram da escuridão.Timmy e Aaron.Ambos armados.Os dois vestiam apenas calças de moletom, descalços, e ainda assim pareciam perigosos demais para serem apenas garotos acordando no meio da noite. Timmy tinha o cenho franzido, o cabelo bagunçado e a pistola firme na mão. Aaron, ao lado dele, exibia um brilho alerta nos olhos, como se a adrenalina tivesse varrido qualquer resquício de sono. E então, no topo da escada, apareceu Fantasma.Diferente dos outros, ele usava uma camisa preta que parecia ter sido feita sob medida para a
DAVINAO silêncio dentro da casa era quase ensurdecedor. Era raro ter um momento só para mim ultimamente, mas eu sabia que não deveria reclamar. Todos os caras estavam na rua resolvendo mais um dos inúmeros problemas que surgiram desde que decidimos enfrentar aquela gangue maldita. Eu queria estar lá, queria lutar ao lado deles, mas sabia que minha presença era um risco. Pelo menos, era o que todos insistiam em dizer.Suspirei, apoiando os cotovelos na bancada da cozinha, tentando ignorar o incômodo no peito. A verdade era que, apesar de tudo, eu me sentia inútil. Estava segura, mas não fazia nada além de esperar. E esperar nunca foi o meu forte.O som de batidas na porta me tirou dos pensamentos. Meu corpo se moveu automaticamente. Talvez fosse um dos caras que esqueceu algo ou quisesse checar como eu estava. Sem hesitar, girei a maçaneta e abri a porta.O ar pareceu sair dos meus pulmões quando vi quem estava ali.Pryia.O olhar da minha irmã era uma mistura de choque e alívio, como
DAVINADAVINAMinha cabeça latejava. O mundo ao meu redor girava quando abri os olhos, piscando repetidamente para tentar focar minha visão.Tudo branco. Paredes, móveis, teto.Tentei me mexer e percebi que algo prendia meus tornozelos. Não o suficiente para me manter no chão, mas as correntes limitavam meus movimentos. Podia andar, mas apenas passos curtos. Correr estava fora de questão.Meu coração disparou.Onde diabos eu estava!?Meu corpo doía. Cada músculo e cada fibra. Meus olhos estavam pesados, a visão embaçada, e tudo girava. Tentei me levantar, mas meu equilíbrio falhou, e caí de volta na cama, meu corpo fraco demais para me sustentar.Respirei fundo, tentando me concentrar. Quando finalmente consegui ficar de pé, cambaleando, dei um passo incerto até a porta. Minhas mãos trêmulas alcançaram a maçaneta e eu tentei abrir, mas não havia jeito. A porta não cedeu.Foi quando os flashes começaram.Pryia. A imagem dela me encarando com olhos vazios. A última coisa que eu me lembra
DAVINAO silêncio do quarto já não me incomodava tanto quanto deveria. Era meu terceiro dia aqui, e eu já havia passado da fase de me perguntar como seria morrer de fome. Jimmy se certificava de que isso não acontecesse, trazendo refeições todos os dias, e no final, eu cedi. Comi porque precisava, porque me recusar a aceitar aquela comida não me tornaria mais forte, só me faria definhar sem propósito.A questão era que eu não podia simplesmente esperar. Meus homens estavam fazendo de tudo para me tirar dali, eu sabia disso, mas não podia ser só um peso morto esperando por um resgate. E então, o destino, ou seja, lá o que fosse, decidiu me dar uma chance de agir.A porta se abriu e, em vez do rosto envelhecido de Jimmy, foi ela quem apareceu.Pryia.Minha irmã traidora.Ela carregava uma bandeja com café da manhã, como se isso fosse normal, como se fosse natural me manter presa e trazer comida como um agrado. Eu deveria ter imaginado, deveria ter previsto, mas uma parte de mim ainda qu
DAVINAEstiquei a mão na direção de Pryia, sentindo o peso da frustração me consumindo, mas tentando manter o controle. Eu não poderia deixar que a raiva ou o desespero tomassem conta agora. Esse momento era minha única chance.— Me dá a chave, Pryia — disse, tentando soar mais tranquila do que realmente me sentia. Minha voz estava forçada, mas eu tinha que tentar. — Acabe logo com isso e me liberte. Sou sua irmã.Pryia me olhou com os olhos vermelhos, seu rosto carregado de uma culpa evidente.— Não posso.— sussurrou, sua expressão era de arrependimento, mas não o suficiente para fazer ela ceder. Ela estava presa às promessas de Jimmy, presa em algo que eu não poderia fornecer. — Pryia...Ela suspirou, se afastando um pouco, como se tentasse se convencer. — Tudo vai ficar bem, Davina. Jimmy não vai te machucar. Ele prometeu. Ele só precisa que você fique quieta. Que espere um pouco mais.Eu me levantei, sentindo a dor da tensão no meu corpo, mas a determinação me impulsionava. Meus
DAVINAEu não podia mais ficar ali escondida, assistindo tudo o que acontecia. Não podia deixar meu homem ser destruído pelas palavras de Jimmy. Ele não merecia isso.Sem pensar duas vezes, me levantei, saindo de onde estava me escondendo. O som dos meus passos ecoou pelo corredor, quebrando o silêncio carregado de tensão entre pai e filho. Quero dizer, irmão e irmão.Gutemberg congelou imediatamente ao me ver. O choque tomou conta de seu rosto, como se ele tivesse visto um fantasma. Seus olhos se arregalaram, o pânico tomando conta de cada centímetro de seu corpo.— Davina? — ele sussurrou, a voz cheia de incredulidade, como se fosse impossível que eu estivesse ali, diante dele.Jimm