DAVINAO silêncio dentro da casa era quase ensurdecedor. Era raro ter um momento só para mim ultimamente, mas eu sabia que não deveria reclamar. Todos os caras estavam na rua resolvendo mais um dos inúmeros problemas que surgiram desde que decidimos enfrentar aquela gangue maldita. Eu queria estar lá, queria lutar ao lado deles, mas sabia que minha presença era um risco. Pelo menos, era o que todos insistiam em dizer.Suspirei, apoiando os cotovelos na bancada da cozinha, tentando ignorar o incômodo no peito. A verdade era que, apesar de tudo, eu me sentia inútil. Estava segura, mas não fazia nada além de esperar. E esperar nunca foi o meu forte.O som de batidas na porta me tirou dos pensamentos. Meu corpo se moveu automaticamente. Talvez fosse um dos caras que esqueceu algo ou quisesse checar como eu estava. Sem hesitar, girei a maçaneta e abri a porta.O ar pareceu sair dos meus pulmões quando vi quem estava ali.Pryia.O olhar da minha irmã era uma mistura de choque e alívio, como
DAVINADAVINAMinha cabeça latejava. O mundo ao meu redor girava quando abri os olhos, piscando repetidamente para tentar focar minha visão.Tudo branco. Paredes, móveis, teto.Tentei me mexer e percebi que algo prendia meus tornozelos. Não o suficiente para me manter no chão, mas as correntes limitavam meus movimentos. Podia andar, mas apenas passos curtos. Correr estava fora de questão.Meu coração disparou.Onde diabos eu estava!?Meu corpo doía. Cada músculo e cada fibra. Meus olhos estavam pesados, a visão embaçada, e tudo girava. Tentei me levantar, mas meu equilíbrio falhou, e caí de volta na cama, meu corpo fraco demais para me sustentar.Respirei fundo, tentando me concentrar. Quando finalmente consegui ficar de pé, cambaleando, dei um passo incerto até a porta. Minhas mãos trêmulas alcançaram a maçaneta e eu tentei abrir, mas não havia jeito. A porta não cedeu.Foi quando os flashes começaram.Pryia. A imagem dela me encarando com olhos vazios. A última coisa que eu me lembra
DAVINAO silêncio do quarto já não me incomodava tanto quanto deveria. Era meu terceiro dia aqui, e eu já havia passado da fase de me perguntar como seria morrer de fome. Jimmy se certificava de que isso não acontecesse, trazendo refeições todos os dias, e no final, eu cedi. Comi porque precisava, porque me recusar a aceitar aquela comida não me tornaria mais forte, só me faria definhar sem propósito.A questão era que eu não podia simplesmente esperar. Meus homens estavam fazendo de tudo para me tirar dali, eu sabia disso, mas não podia ser só um peso morto esperando por um resgate. E então, o destino, ou seja, lá o que fosse, decidiu me dar uma chance de agir.A porta se abriu e, em vez do rosto envelhecido de Jimmy, foi ela quem apareceu.Pryia.Minha irmã traidora.Ela carregava uma bandeja com café da manhã, como se isso fosse normal, como se fosse natural me manter presa e trazer comida como um agrado. Eu deveria ter imaginado, deveria ter previsto, mas uma parte de mim ainda qu
DAVINAEstiquei a mão na direção de Pryia, sentindo o peso da frustração me consumindo, mas tentando manter o controle. Eu não poderia deixar que a raiva ou o desespero tomassem conta agora. Esse momento era minha única chance.— Me dá a chave, Pryia — disse, tentando soar mais tranquila do que realmente me sentia. Minha voz estava forçada, mas eu tinha que tentar. — Acabe logo com isso e me liberte. Sou sua irmã.Pryia me olhou com os olhos vermelhos, seu rosto carregado de uma culpa evidente.— Não posso.— sussurrou, sua expressão era de arrependimento, mas não o suficiente para fazer ela ceder. Ela estava presa às promessas de Jimmy, presa em algo que eu não poderia fornecer. — Pryia...Ela suspirou, se afastando um pouco, como se tentasse se convencer. — Tudo vai ficar bem, Davina. Jimmy não vai te machucar. Ele prometeu. Ele só precisa que você fique quieta. Que espere um pouco mais.Eu me levantei, sentindo a dor da tensão no meu corpo, mas a determinação me impulsionava. Meus
DAVINAEu não podia mais ficar ali escondida, assistindo tudo o que acontecia. Não podia deixar meu homem ser destruído pelas palavras de Jimmy. Ele não merecia isso.Sem pensar duas vezes, me levantei, saindo de onde estava me escondendo. O som dos meus passos ecoou pelo corredor, quebrando o silêncio carregado de tensão entre pai e filho. Quero dizer, irmão e irmão.Gutemberg congelou imediatamente ao me ver. O choque tomou conta de seu rosto, como se ele tivesse visto um fantasma. Seus olhos se arregalaram, o pânico tomando conta de cada centímetro de seu corpo.— Davina? — ele sussurrou, a voz cheia de incredulidade, como se fosse impossível que eu estivesse ali, diante dele.Jimm
DAVINAEu estava prestes a explodir. De novo. Mas, sério, quem poderia me culpar? Eu tinha acabado de escapar das garras de um sociopata, minha cabeça ainda latejava com os resquícios da adrenalina, e agora Timmy estava ali, de braços cruzados, cara fechada e a expressão de quem não ia ceder um centímetro.— Davina, você não vai a lugar nenhum.Seu tom era calmo, firme, e irritantemente seguro de si. Meu sangue ferveu.— Timmy, querido, devo lembrar que sou uma mulher livre? Eu sinto que algo aconteceu com Vincent! Eu preciso ir atrás dele!Ele deu um passo à frente, como se achasse que aquilo ia me fazer mudar de ideia. O que era ridículo, porque eu sou um maldito furacão quando coloco algo na cabeça.— Você acabou de ser sequestrada, Davina! — ele retrucou. — Você tem noção do que acabamos de passar para te tirar de lá? Não vou deixar você sair correndo atrás do príncipe da máfia como se isso fosse um episódio de novela policial.Oh, ótimo. Agora ele queria me dar uma lição de moral.
DAVINANós temos um plano.Eu repito isso mentalmente enquanto ajusto a calça jeans apertada, sentindo o tecido moldar minhas pernas com uma precisão quase incômoda. O peso da faca contra a minha pele dentro da bota me traz uma estranha sensação de segurança. Timmy me ensinou a usá-la, golpes curtos, certeiros, direto onde dói mais. Eu lembro de suas mãos segurando as minhas, do calor do seu corpo quando ele sussurrava que, no fim das contas, o elemento surpresa era a melhor arma de todas.Deslizo a pistola para dentro da cintura da calça. Meia-noite me ensinou a manejá-la, ensinou a não tremer na hora de puxar o gatilho. "Se hesitar, morre", ele sempre diz.O clique discreto da porta se abrindo me faz erguer os olhos para o espelho. Gutemberg entra no quarto sem pedir permissão, como se pertencesse a ele. E talvez pertença, não o quarto, mas o momento. Seu olhar percorre meu corpo de cima a baixo, e tem algo estranho ali. Não é desejo, não é desaprovação. É algo no meio, algo carrega
DAVINAEu sinto os olhos em nós enquanto descemos as escadas, os passos de Gutemberg firmes ao meu lado, os nossos dedos entrelaçados com naturalidade. O calor da sua mão na minha me dá uma sensação de segurança, embora eu saiba que, por mais que o toque dele seja suave, o que está por vir não será fácil. Cada degrau que descemos ecoa dentro de mim, cada movimento meu parece mais pesado que o anterior. Mas o que me surpreende é a calma dele. Como se ele soubesse exatamente o que fazer. Como se, de alguma forma, ele já tivesse aceitado o risco e soubesse que a batalha que se aproxima não é mais sobre escolha. É sobre obrigação.Chegamos ao fim das escadas e, ao olhar para a sala, vejo todos esperando. Timmy, com a expressão cerrada e os punhos provavelmente apertados. Aaron, sempre com olhar de cálculo, examinando tudo com a frieza de quem já está pensando no próximo movimento. E Meia-noite, que observa todos com a autoridade de quem já viu e fez de tudo. Nada está fora de lugar, e, po