Cap 2

Acordo novamente algumas horas depois tentando pôr minha cabeça no lugar. Vamos, Annalucia. Respira. Tudo poderia ser pior. Você poderia estar morta, poderia ter um filho com esse louco... olha a parte boa, existe separação, é só pedir o divórcio e pronto. Adeus Samuel.

- Filha, você está bem? – minha mãe entra no quarto vindo me abraçar.

- Como aconteceu? – Pergunto de braços cruzados e ela entende do que estou falando.

- Vocês se apaixonaram, eu até estranhei. Sempre me falou que o odiava. Quando você me falou que estava

grávida eu tive vontade de matar você... – eu a interrompo

- O-O QUE NÃO... NÃ – Falo tudo embolado, meio gaguejando. Não acredito Deus, o que foi que eu te fiz?

Eu não tinha nenhuma lembrança. Senti os pelos dos meus braços arrepiarem e uma sensação de claustrofobia tomou conta de mim... Imediatamente lágrimas me vieram aos olhos amargas e desesperadas. O ar ao meu redor parecia ter condensado, eu tentava puxar o ar para os meus pulmões, mas todo o meu esforço parecia em vão.

- Eu... Não estou conseguindo... Respirar!

- Annalucia, filha, calma. Eu não sabia que você não sabia. – Minha mãe falava correndo até a porta, mas eu não estava prestando atenção. – Annalucia, filha, você está bem. Eu vou chamar o médico.

Eu tentava inalar o ar que não chegava aos meus pulmões, levei a mão ate o peito, sentindo meu coração acelerado. Precisava sair dali, queria pedir ajuda.

Em instantes o médico entrou no quarto:

- Senhora Álvares, o que a senhora está sentindo? - o médico perguntou preocupado, pegando o meu pulso.

Eu inspirei e expirei o ar diversas vezes, apontei para minha garganta, a força que eu fazia para respirar era dolorosa.

- Eu... Não consigo... Respirar. - então tudo ficou escuro e eu cai na inconsciência.

Samuel

- Por favor, alguém, chame o médico. – A mãe da Annalucia sai gritando. Vejo os médicos entrando, olho e vejo que eles estão colocando um aparelho nela. Vou até sua mãe e a abraço.

- Vai ficar tudo bem. – Não é justo. Agora que ela já estava bem pensei que iríamos ficar juntos e que iríamos resolver esse problema juntos. Me doeu quando ela falou que não se lembrava de mim. Doeu ainda mais por saber que a era minha culpa. Se eu não tivesse tirado os olhos da estrada nada disso estaria acontecendo.

- Foi tudo culpa minha, Samuel. Eu falei com ela sobre as crianças – eu a abraço ainda mais forte

- A culpa não foi sua. Vai ficar tudo bem.

Depois de um tempo o médico sai do quarto da Annalucia vindo até nós:

- Ela está bem. Nós a sedamos. Ela teve uma crise nervosa, normal em casos como o dela. Notícias importantes devem ser dadas a ela com extremo cuidado. Talvez, até mesmo, com o apoio da psicóloga do hospital. – Ele explicou.

– Ela deve despertar novamente em algumas horas.

- Oh Samuel fiquei tão preocupada que pudesse ter causado algum mal a minha filha. – Minha sogra ainda estava se culpando.

- Não fique assim. O médico já falou que ela está bem. Olha, por quê a senhora não vai para casa descansar um pouco? Qualquer notícia nova eu telefono imediatamente.

- Tem razão querido. Qualquer notícia mesmo, a menor que seja, você me liga. Até logo meu bem. – Ela me abraça novamente e sai.

Entro no quarto e vejo Annalucia dormindo. Meu amor, como sinto sua falta. Me aproximo da cama e acaricio seus cabelos loiros. Me perco no tempo até que alguém abre a porta:

- Samuel, ela está bem? – Liana, minha irmã, chega me abraçando.

- Sim. E ela já sabe que é mãe. – Liana me olha incrédula. – Foi a Silvana. Ela meio que contou, mas só contou que ela tinha um filho.

- Oh Meu Deus! Ela surtou, não é? Imagine quando ela souber da Sônia e do Harry?

- Como eles estão? – Pergunto sobre as crianças.

- Josh está meio bravo, pergunta dela toda hora, ele tem 10 anos não é mais um bebê e sabe que estamos mentindo sobre a viagem. Sophie está bem, digamos, ela tem 8 anos, mas está agindo como uma adulta. Harry você sabe, está na mesma, chora muito à noite na hora da história. – Ele tem só 4 anos. Eu choro, por que ele não iria chorar?

- Sabe o que tenho medo Liana? – Ela balança a cabeça negando. – Que ela desconte tudo neles. Você sabe que eu sempre fui um babaca com ela quando éramos mais novos.

- Samuel, ela também não era um doce com você. Não se culpe. – Liana fala voltando a me abraçar. – Bom. Eu tenho que ir pegar as crianças na escola, mais tarde eu volto para encontrá-la acordada.

- Eu vou sair com você. Ela já está perto de acordar e não vai gostar de me ver aqui ao lado dela. – Falo tristemente e acompanho minha irmã.

Annalucia

Após despertar novamente fui submetida a uma bateria de exames. Enquanto estava sozinha tentava a todo o custo lembrar de algo, mas toda vez que me esforçava, uma dor de cabeça horrível me alcançava.

Resolvi ficar quieta e deixar para lá, qualquer coisa que eu esqueci não deve valer a pena de ser lembrado. Fala sério, eu me casei com o Samuel. Por que iria querer me lembrar disso?! Senhor! Eu tenho um filho com ele. Nada disso estava nos meus planos. Tomara que eu ao menos tenha um emprego.

Quando fui levada de volta ao quarto, fechei os olhos e aos poucos fui perdendo a consciência caindo num sono profundo.

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Simón e os meus pais vinham todos os dias ao hospital. Embora eu não soubesse o que ele vinha fazer aqui, na maior parte do tempo eu simplesmente o ignorava. Minha mãe evitava de todas as formas as minhas perguntas, estava com medo que eu tivesse outra crise.

Minha maior surpresa foi com Liana, vendo-a na minha frente, a minha melhor amiga, eu percebi que realmente os anos haviam se passado. Liana estava totalmente diferente, uma verdadeira mulher, em nada se parecia com a pirralha da minha memória, mas, ela também, evitava minhas perguntas.

Acabei percebendo também as mudanças em todos, em mim, que estava com os cabelos mais curtos e mais claros, com os seios e o quadril maiores e com o rosto estava mais maduro, na minha mãe, que estava com umas ruguinhas, no meu pai, que havia ganhado fios de cabelo branco e mesmo não querendo em Samuel, que parecia mais forte e mais lindo do que antigamente.

Lindo?! Qual é o seu problema Annalucia?! Pensando que aquele babaca é lindo.

A porta do quarto se abriu e o Dr. Mário passou por ela falando comigo:

- Os resultados dos seus exames saíram. Embora tenha sofrido uma pancada muito forte na cabeça esse não foi o motivo da sua amnésia. Nada nesses exames indicam que sua amnésia foi causada por um trauma físico, acredito que você esteja tendo uma amnésia traumática. - Fala o Dr. Mario com meus exames em mãos.

- E isso quer dizer o que? - Pergunto confusa.

- Que sua memória pode ou não voltar. É sua própria mente quem está bloqueando suas memórias.- Explica o médico. - Não esforce a sua memória senhora Álvares, deixe as lembranças virem naturalmente.

- Annalucia. – Já havia perdido as contas de quantas vezes havia o corrigido desde a primeira vez que acordei.

- Senhora Annalucia. – Ele só pode estar me provocando. Eu não estou velha. Ou estou? – Pode se arrumar. Você vai passar por uma consulta com a psicóloga do hospital e se estiver tudo bem você vai para sua casa. – Bom, casa eu tenho. Vou me arrumar, quando vejo a aliança no meu dedo e a tiro.

Samuel

- Senhor Álvares! – O Dr. Mário sai do quarto de Annalucia me chamando e eu levanto. – Sua esposa já recebeu alta. Ela vai passar pela consulta com a psicóloga e estará liberada. – Somente balanço a cabeça positivamente.

- Liana, peça para a mamãe pegar as crianças. – falo com ela que estava ao meu lado.

- Vamos levá-la para casa juntos. – Eu confirmo.

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