Annalucia
Nada, absolutamente nada, nem a conversa com a psicóloga, nem a conversa com Samuel. Nada me preparou para o primeiro encontro entre mim e as crianças. Nada me preparou para o turbilhão de sentimentos que tomou conta de mim ao olhar os três em pé, ali em frente a porta.
Harry vem correndo e me abraça gostosamente, eu envolvo meus braços ao redor daquele pequeno corpo e sinto o cheiro gostoso de bebê, ele descansa o rostinho na curva do meu pescoço e se aninha ao meu colo. É tão bom sentilo assim que sinto que ele não deveria sair dali nunca mais.
- Senti tanto a sua falta mamãe. - Sônia corri até mim e me abraça também. - Papai disse que você estava viajando, que precisava de um tempo sozinha para descansar. - ela se afasta um pouco e olha nos meus olhos. - Não viaja de novo mamãe, eu pensei que você nunca mais voltaria, ficou tanto tempo longe... Eu prometo não dar trabalho para não cansar a senhora de novo, eu vou ser boazinha... Prometo. - Ela fala entre soluços e isso parte o meu coração.
- Nunca mais vou viajar sem você, vamos ficar juntas para sempre. - Eu a beijo com carinho. - Não quero que mude e deixe de fazer o que você faz. Você não dá trabalho algum minha linda. A mamãe te amo do jeitinho que você é. - E não me importa se eu não tenho memória alguma dela, eu senti que ela é minha, não precisava de memória para constatar isso. Falei o que sabia que a minha menina precisava ouvir.
Josh nos olhava de longe, o chamei com a mão e no segundo seguinte estava com os três em meus braços.
- Onde estava mãe? Estava com tantas saudades. – Percebi então que Josh também chorava.
- Não importa onde estava querido. O importante é que nunca mais sairei de perto de vocês. – Respondi fazendo carinho em sua cabeça. Não era o momento para falar sobre o acidente. Era a hora dos pequenos matarem a saudades da mamãe.
Olhei para Samuel e Liana que olhavam para o nosso abraço choroso. Samuel claramente gostaria de se juntar ao nosso abraço. Desviei o olhar para não lhe dar esperanças. Em questão de minutos as minhas prioridades haviam mudado. Eu ainda iria me divorciar de Samuel, mas as crianças viriam comigo.
Liana estava tão feliz pelos meus sobrinhos estarem finalmente com a mãe e tão triste pelo meu irmão que estava ao meu lado com um olhar devastado por ter sido excluído do abraço familiar que estava acontecendo em nossa frente.
É tão triste que isso esteja acontecendo com eles, quando conversei com a Annalucia ainda no hospital vi o tamanho do ódio que ela tem pelo meu irmão. Ódio esse que tinha ficado no passado e agora graças à esse acidente maldito põe em risco a felicidade do meu irmão e da sua família.
Deixo a cena atrás de mim e vou até a cozinha beber um copo d’água e me deparo com um mensagem na porta da geladeira:
“Você me completa e enche todos os dias minha vida de felicidade! Te amo princesa”
E de repente estou ainda mais triste. Maldito acidente.
Annalucia
Me separo das crianças e eles continuam me olhando como se de alguma forma eu pudesse virar poeira e sumir bem na frente deles.
- Estou com um pouco de ciúmes. – Samuel falou puxando a atenção das crianças para ele. – Quer dizer que só porque a mãe de vocês está aqui eu não ganho nem se quer um abraço? - No mesmo instante as crianças estão em cima dele.
- Bom crianças, é muito bom vê-los assim todos juntos, mas eu tenho que voltar para casa. – Liana fala vindo de algum lugar. – Annalucia meu bem nos encontramos amanhã na festa de boas-vindas na casa da sua mãe. Precisamos colocar o papo em dia. Crianças venham se despedir da sua tia. – As crianças pulam em cima de Liana e quase a derruba. Eu rio. - Vamos Samuel.
- Liana eu acho melhor você chamar um táxi. Eu não vou deixar a Annalucia aqui sozinha com as crianças. Ela ainda precisa descansar. – Ele responde.
- Ela vai descansar Samuel. Junto aos filhos dela, que estão morrendo de saudades dela. Você vai me levar e ponto. Em uma hora você está de volta.
Samuel faz uma cara desesperada e eu fico com raiva dele. Quem esse idiota pensa que é?! Acha que não sei cuidar de crianças?! Pensa que não pode confiar em mim?!
- Deem tchau ao papai crianças! Digam a ele que ele pode demorar o quanto que quiser e que vamos nos divertir muito por aqui! – Falo com uma nota de desprezo que Samuel nota e fica envergonhado.
- Bom. Tchau. Até mais tarde. – Ele sai pela porta da frente atrás de Liana e bate à porta com cuidado.
Viro para as três crianças que estão na minha frente ainda me olhando e falo:
- Okay crianças, o que vamos fazer para passar o tempo? – Josh e Sônia me lançam um olhar estranho e eu percebo que ficar sozinha com as crianças não será tão fácil quanto eu achei.
Flashback12 anos atrásEra impossível pensar outra coisa enquanto eu olhava Samuel andando pelo corredor com o nariz empinado com duas vadias a tira colo.- Olha se não é a Olivia Palito. - Ele disse vindo em minha direção.Embora hoje em dia eu tivesse peitos tamanho M e ostentasse orgulhosamente um corpinho 36 Samuel foi a única pessoa que nunca esqueceu meus "apelidos" de infância.- O que você quer idiota? - Perguntei com raiva.- Fiquei sabendo que seu encontro de ontem não aconteceu. Que pena, não? – Ele fala e as duas vadias gargalham.- É? E ficou sabendo como? – Caio no seu jogo, não consigo evitar, ele me irrita.<
Flashback on12 anos atrás- Mas mãe, eu não consegui uma carona para festa eu preciso que você me leve. – Já estou pronta com meu vestido preto e saltos. Sem chances de eu não ir nesta festa.- Não vai dar Annalucia. Estou saindo, seu pai tem um jantar importante e já estou atrasada para pega-lo. Tchau. Se for sair não chegue tarde. – Ela bate à porta da frente.Droga, o que vou fazer? Cogito chamar um táxi, mas a volta será complicada para conseguir um o local é meio afastado e Benício está na Itália para o enterro de alguém, não vai a festa. Pedi uma carona com a Liana, mas o Samuel está sem carro então eles vão de carona com outras pessoas. Olho para a mesinha da entrada e vejo a chave do carro do meu pai.Por que não? Não deve
Eram 07:00 quando Mônica chegou para buscar as crianças para o colégio. Segundo ela essa era uma das minhas funções, mas não sei mais dirigir então passei o papel.Me despeço de Josh e Sônia com beijos e abraços rápidos. Ambos estavam com pressa para ir ao colégio.Crianças. Humpf.Peguei Harry pela mão e estava o levando em direção ao carro de Mônica.-Mamãe. - Ele chama minha atenção.- O que bebê? - Me abaixo para ficar a sua altura e olha-lo nos olhos.- Não quero ir para escola mamãe. Quero ficar com você. - Ele diz fazendo o bico mais lindo que já vi na vida.- Mas você tem que ir meu amor. Você não está com saudades do seus amiguinhos? - Nesse momento seus olhinhos encheram de agua e meu coração doeu.- Não
Eu tentava evitar, Samuel também, mas as nossas discussões estavam cada vez piores e as crianças começaram a nos ver discutindo de vez em quando. A falta de carinho entre a gente também chamava a atenção e de vez em quando ouvíamos um “você não vai beijar a/o mamãe/papai?”.Meu pai passou aqui mais vezes durante a semana, sempre contando histórias do quanto Samuel é maravilhoso, Dafine estava igualzinha. Os dois estavam em pânico pelo divórcio e avisei aos dois que foi só uma ideia que cogitei, mas que não iria me precipitar, o que deixou os dois visivelmente aliviados.Mônica pegou algo no ar e foi me visitar na empresa uma vez. Como a mulher maravilhosa que é, ela teve muito tato, mas deixou bem claro para mim que não está feliz com tudo que está acontecendo entre Samuel e eu e que isto está afetando
- Benício!- Olá Annalucia! Que bom que se lembra de mim. – me encolho como sempre faço quando escuto a palavra lembrar, mas me recomponho, levanto e estendo a mão para ele.- Em que posso ajudá-lo? – Pergunto enquanto nos cumprimentamos. – Sente-se por favor.- Eu trabalho para a despegar.com, setor de marketing e propaganda e estamos precisando de um novo comercial – Benício começa falando.- Wow despegar maior agência de turismo da América Latina. Nada mal Benício. – Brinco com ele. – Mas vamos continue. O que está procurando?Benício começa a falar todas as suas ideias e começo a fazer anotações. O plano é bom. Minha mente enche de ideias e já passo para o papel. É um projeto grande, vou precisar da ajuda da Jazmin ainda não confio em mim.Embora tenha visto alguns
Annalucia Saio do trabalho e vou buscar as crianças na escola. Mônica não vai poder olhá-los hoje à tarde então limpei minha tarde no trabalho para ficar com eles. Silvana estava na minha cozinha fazendo comida, enquanto Meg está de férias ela se comprometeu em cozinhar no meu lugar, minhas incursões na cozinha nas últimas semanas não foram bem sucedidas.Almoçamos os cinco juntos e depois disso as crianças foram fazer as atividades, Silvana continuava cozinhando enquanto eu lavava os pratos. Nosso papo girava em torno das crianças. Repassei minha agenda na cabeça, As crianças tem natação as 17:00 então terei que sair de casa meia hora antes.- Annalucia. – Minha mãe fala. – Estou preocupada com você. Talvez devêssemos procurar outro médico.- Por que? – Perg
Samuel São 12:00 e estou saindo da minha segunda reunião. Estou perto da agência de Annalucia e como está no horário de almoço decido chamá-la para almoçar.- Olá Eva, como vai? A Annalucia está? – Pergunto a recepcionista da agência.- Olá Samuel. Quanto tempo não nos vemos. Estou ótima. E você? A Annalucia está em uma reunião com um cliente.Se quiser pode esperar lá dentro ou na sala dela eu libero a sua entrada. – Eva me respondeu.- Eu vou bem, poderia está melhor, mas as coisas estão se ajeitando. – Respondi. – Irei esperar lá dentro.Obrigado. – Falo indo em direção a porta de vidro que Eva havia desbloqueado.Caminho até a sala de Annalucia e encontro Ana, secretária dela sentada em sua mesa de trabalho.<
Annalucia Acordo no sábado com meu celular tocando. Tateio a mesa de cabeceira, pego e vejo o nome de Mônica brilhando em frente.- Alô. – Minha voz ainda sai rouca de sono.- Bom dia Annalucia. Te acordei? – A voz dela soa alegre do outro lado e afasto o telefone para saber que horas são.Merda 08:00, quem além de Mônica estaria feliz a uma hora dessas em um sábado?- Sem problemas. Bom dia. Aconteceu alguma coisa? – Falei com ela ontem à noite e estava tudo bem.- Não. Na verdade sim. Uma amiga me convidou para passar o final de semana em sua casa de praia e me falou que eu poderia levar os meninos. Queria saber se gostariam de ir. – Ela fala.- Claro Mônica. Vou falar com eles. Sônia e Josh com certeza vão querer ir, mas Harry será um pouco mais difícil.- O convença Annalucia. V