Cap 4

Annalucia

Nada, absolutamente nada, nem a conversa com a psicóloga, nem a conversa com Samuel. Nada me preparou para o primeiro encontro entre mim e as crianças. Nada me preparou para o turbilhão de sentimentos que tomou conta de mim ao olhar os três em pé, ali em frente a porta.

Harry vem correndo e me abraça gostosamente, eu envolvo meus braços ao redor daquele pequeno corpo e sinto o cheiro gostoso de bebê, ele descansa o rostinho na curva do meu pescoço e se aninha ao meu colo. É tão bom sentilo assim que sinto que ele não deveria sair dali nunca mais.

- Senti tanto a sua falta mamãe. - Sônia corri até mim e me abraça também. - Papai disse que você estava viajando, que precisava de um tempo sozinha para descansar. - ela se afasta um pouco e olha nos meus olhos. - Não viaja de novo mamãe, eu pensei que você nunca mais voltaria, ficou tanto tempo longe... Eu prometo não dar trabalho para não cansar a senhora de novo, eu vou ser boazinha... Prometo. - Ela fala entre soluços e isso parte o meu coração.

- Nunca mais vou viajar sem você, vamos ficar juntas para sempre. - Eu a beijo com carinho. - Não quero que mude e deixe de fazer o que você faz. Você não dá trabalho algum minha linda. A mamãe te amo do jeitinho que você é. - E não me importa se eu não tenho memória alguma dela, eu senti que ela é minha, não precisava de memória para constatar isso. Falei o que sabia que a minha menina precisava ouvir.

Josh nos olhava de longe, o chamei com a mão e no segundo seguinte estava com os três em meus braços.

- Onde estava mãe? Estava com tantas saudades. – Percebi então que Josh também chorava.

- Não importa onde estava querido. O importante é que nunca mais sairei de perto de vocês. – Respondi fazendo carinho em sua cabeça. Não era o momento para falar sobre o acidente. Era a hora dos pequenos matarem a saudades da mamãe.

Olhei para Samuel e Liana que olhavam para o nosso abraço choroso. Samuel claramente gostaria de se juntar ao nosso abraço. Desviei o olhar para não lhe dar esperanças. Em questão de minutos as minhas prioridades haviam mudado. Eu ainda iria me divorciar de Samuel, mas as crianças viriam comigo.

Liana estava tão feliz pelos meus sobrinhos estarem finalmente com a mãe e tão triste pelo meu irmão que estava ao meu lado com um olhar devastado por ter sido excluído do abraço familiar que estava acontecendo em nossa frente.

É tão triste que isso esteja acontecendo com eles, quando conversei com a Annalucia ainda no hospital vi o tamanho do ódio que ela tem pelo meu irmão. Ódio esse que tinha ficado no passado e agora graças à esse acidente maldito põe em risco a felicidade do meu irmão e da sua família.

Deixo a cena atrás de mim e vou até a cozinha beber um copo d’água e me deparo com um mensagem na porta da geladeira:

“Você me completa e enche todos os dias minha vida de felicidade! Te amo princesa”

E de repente estou ainda mais triste. Maldito acidente.

Annalucia

Me separo das crianças e eles continuam me olhando como se de alguma forma eu pudesse virar poeira e sumir bem na frente deles.

- Estou com um pouco de ciúmes. – Samuel falou puxando a atenção das crianças para ele. – Quer dizer que só porque a mãe de vocês está aqui eu não ganho nem se quer um abraço? - No mesmo instante as crianças estão em cima dele.

- Bom crianças, é muito bom vê-los assim todos juntos, mas eu tenho que voltar para casa. – Liana fala vindo de algum lugar. – Annalucia meu bem nos encontramos amanhã na festa de boas-vindas na casa da sua mãe. Precisamos colocar o papo em dia. Crianças venham se despedir da sua tia. – As crianças pulam em cima de Liana e quase a derruba. Eu rio. - Vamos Samuel.

- Liana eu acho melhor você chamar um táxi. Eu não vou deixar a Annalucia aqui sozinha com as crianças. Ela ainda precisa descansar. – Ele responde.

- Ela vai descansar Samuel. Junto aos filhos dela, que estão morrendo de saudades dela. Você vai me levar e ponto. Em uma hora você está de volta.

Samuel faz uma cara desesperada e eu fico com raiva dele. Quem esse idiota pensa que é?! Acha que não sei cuidar de crianças?! Pensa que não pode confiar em mim?!

- Deem tchau ao papai crianças! Digam a ele que ele pode demorar o quanto que quiser e que vamos nos divertir muito por aqui! – Falo com uma nota de desprezo que Samuel nota e fica envergonhado.

- Bom. Tchau. Até mais tarde. – Ele sai pela porta da frente atrás de Liana e bate à porta com cuidado.

Viro para as três crianças que estão na minha frente ainda me olhando e falo:

- Okay crianças, o que vamos fazer para passar o tempo? – Josh e Sônia me lançam um olhar estranho e eu percebo que ficar sozinha com as crianças não será tão fácil quanto eu achei.

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