Fiquei pensativa antes de responder. Charles era um homem maduro. E eu não queria bancar a mocinha inocente. Tampouco desinteressada, mesmo certa de que não rolaria nada entre nós.
- Era só uma brincadeira! – ele sorriu, percebendo minha incerteza – Afinal, se esta não é uma festa a fantasia, creio que a garotinha vai casar em breve, estou certo?
Assenti, com a cabeça, ainda com a bebida na mão.
- Quando vai ser? – Perguntou, curioso, os olhos nos meus.
- Amanhã.
- Quem se casa aos dezoito anos hoje em dia?
- Eu! E não vejo nada de errado.
- Você é tão jovem!
- Não sou “tão jovem”. Você que é “tão velho”. – Revidei.
- Ainda assim casamento está fora da minha lista de coisas a fazer na vida.
- Jura? Prefere ficar por aí, atrás de todas as “garotinhas” que entram no bar?
Apoiou os cotovelos no balcão e ficou a centímetros de distância, fazendo com que eu conseguisse sentir a sua respiração morna na minha pele.
- Não me envolvo com “garotinhas”... Só com mulheres maduras.
Quanta petulância! Eu não era boa em respostas. Inexperiente talvez, pois era difícil algo sair fora do meu planejamento. Porém aquele homem parecia não seguir a regra.
- Que bom! Estou longe de estar no seu centro de interesse – foi minha resposta – No caso, gosto de homens experientes, mas você não faz o meu tipo.
- E qual homem faz seu tipo, “Sabrina”? Confesso que fiquei curioso.
- Gosto do tipo... Gentil, bem vestido, cheiroso, educado, bem barbeado, cabelos bem cortados...
- Sem brincos, certamente... – riu, mostrando a pequena argola numa das orelhas – Tudo certo, não há nenhuma possibilidade de nos interessarmos um pelo outro então, estou certo?
- Certíssimo. Agora pare de ficar conversando e me explique como bebo esta coisa e para que serve este sal todo.
Ele pegou o copo da minha mão e disse:
- É simples! Respire fundo, solte o ar, lamba o sal, beba a tequila e morda o limão.
- Como?
- Quer mesmo que eu repita?
- Isso é muito estranho... – Olhei o copo na mão dele, balançando a cabeça, confusa.
- Se importa se eu fizer uma demonstração?
- No meu copo?
- Sim, no seu copo.
Eu teria dito não. Beber no mesmo copo de um desconhecido não era uma coisa que eu faria. Mas eu não entendia bem o motivo pelo qual aquele homem não parecia um simples estranho. E era difícil admitir para mim mesma que eu queria sentir o gosto dele na minha bebida, tocar os lábios em algo que ele tivesse tocado. Droga, eu estava mesmo pensando isso?
- Pode sim... – Falei, pensando exatamente o contrário do que eu disse.
Ele passou a língua no sal na borda do copo, bebeu um grande gole da bebida e mordeu um pedaço do limão. E a cara dele não pareceu de desagrado.
- Sua vez, garotinha.
Respirei fundo e olhei para o copo. Soltei o ar rapidamente, passei a língua no sal, bebi um grande gole da bebida completamente amarga, que desceu queimando pela minha garganta até chegar ao estômago, sendo que senti exatamente todo o trajeto dela no interior do meu corpo. Se não bastasse, mordi o limão, azedo, que pareceu não ser nada comparado ao amargor do líquido que havia no copo.
Comecei a fazer careta e balançar o rosto. Charles começou a rir:
- Você se acostuma depois de um tempo.
- Por que todo o ritual? Não dá só pra beber o líquido?
- O sal abre as papilas gustativas e o limão fecha, mascarando o sabor áspero e picante da bebida.
- Se riscar um fósforo, creio que isso pegue fogo. – Senti o calor subir imediatamente à minha face.
- Sim, ela pega fogo... Mas não precisa riscar o fósforo... – Ele olhou na direção dos meus seios, fazendo literalmente o fogo espalhar-se pelo meu corpo e o suor começar a descer pelas minhas costas.
- Tem... Ar condicionado aqui? – Olhei para os lados, procurando um climatizador.
- Infelizmente não temos, bebê... Assim como o seu Champagne Vueve não sei o resto...
- Por que de tantas bebidas escolheu me dar esta?
- É tudo que uma mulher precisa antes de casar, eu garanto.
- Charles, pode começar a aquecer. Vocês entram em quinze minutos. – Gritou um homem mais velho, atendendo do lado oposto do bar.
- Estou indo!
Ele me olhou:
- É agora que me despeço, bebê. Além de barman, sou cantor nas horas vagas.
- Canta bem? – Me ouvi perguntando.
- Muito, muito bem. Pode ficar para assistir... Seria um prazer vê-la admirando minha performance, bebê.
- Você é muito convencido.
- Nem sempre, juro. Mas tem vezes que gosto de vender o produto, que no caso, sou eu mesmo.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele virou as costas, sem dar explicações.
Procurei Tay, que já não estava mais ali. Bebi o resto da tequila amarga e de sabor forte e quando acabou a dose me sentia muito, mas muito quente.
Eu não conseguia ver Charles no palco, pois tinha muitas pessoas na minha frente.
Procurei minhas amigas, que estavam espalhadas pelo bar. Somente Mariane e Lina estavam sentadas numa mesa, bebendo água mineral.
Fui até elas, sentindo minhas pernas bambas.
- Tudo certo? – Mariane perguntou.
- Por que não estaria?
- Seu rosto está vermelho.
- É a bebida... Quente.
Mariane olhou no relógio:
- Vamos? Já passa das onze. Temos horário marcado.
- Eu... Não sou obrigada a ir. – Falei, ainda de pé, olhando para elas.
- Você só pode estar louca! O que viu de bom nesta “espelunca”? – Mariane perguntou.
- Pega leve, Mariane! É a despedida de solteiro “dela”. Se Sabrina gostou, a gente fica.
Arranquei o véu banco que tinha na minha cabeça e coloquei sobre a mesa:
- Não quero usar isso. Estou me sentindo ridícula.
As duas me olharam. Mariane continuou, não se dando por vencida:- Eu tive todo o trabalho de organizar a sua noite e você pára no caminho para fazer xixi e decide que vai passar a sua última noite de solteira num bar “fuleiro” de beira de estrada? Ei, esta palavra existe?- Deixa-a se divertir... – Lina falou, bebendo o restante da água de seu copo.- Lina, vocês não contestam minha irmã de jeito algum... Porque tem medo de ela tirá-las do seu círculo de amizade. No meu caso, falo o que penso, afinal, sou a irmã mais velha e não me importo em ficar puxando o saco de uma Rockfeller para ter algum tipo de benefício.Lina levantou e disse, saindo:- Você é uma chata!Mariane ficou sentada à mesa, sozinha. Virei as costas e ela perguntou:- Vai deixar sua irmã sozinha, depois de todo o trabalho que tive para organizar a sua festa?- Eu só quero me divertir, Mariane. E não preciso de um monte de homens nus para isso.- Trabalhei nisso por meses...- Me desculpe, Mariane... Mas você nunca
Assim eu fiz: o segui de volta pelo corredor, voltando ao bar.- Eu... Preciso voltar para o palco. Afinal, recebo para isso. – Sorriu, com o olhar dentro do meu.- Você... Canta e toca muito bem. – Observei.- Um elogio? Estamos evoluindo. – Os lábios se abriram num sorriso, que retribui.- Eu... Entendo um pouco de música... Não muito, mas um pouco.- Tanto que não sabia nem o que sugerir para sua última música de solteira? – Ironizou.- Eu bebi demais, confesso.- Ou... Pode ter ficado completamente sem palavras ao ver a performance do vocalista da Dreams.- Claro que não! Você é muito convencido.- E você tem um vocabulário bem restrito, bebê... Já falou esta frase.- Você fica cuidando cada palavra que eu digo, por acaso?- Sim... Infelizmente sim.- Infelizmente? – Arqueei a sobrancelha, questionadora.Tay apareceu e me abraçou:- A experiência que estamos vivendo aqui será eterna, amiga.Ah, eu que o diga, Tay!- Olá... Sou Charles. – Ele estendeu a mão na direção dela, que lhe
Das bandas e cantores famosos que tinham em Noriah Norte e também os mundialmente conhecidos, mais da metade deles pertenciam à gravadora do meu pai, a J.R. Music.Depois de uma hora de música, a banda finalmente despediu-se do público. Fiquei ali, parada, no meio das pessoas, esperando Charles descer. E eu nem sabia ao certo o que diria para ele.Observei as mulheres o cercarem, pedindo fotos com ele e elogiando sua performance. Quando nossos olhos se encontraram, um calafrio percorreu minha barriga, jamais sentido antes, como se tudo dentro de mim queimasse como fogo.Charles era onze anos mais velho do que eu. Meu noivo era cinco. Fiquei curiosa sobre a experiência de dormir com um homem de quase trinta anos. Ele tinha jeito de ser bom de cama.Olhei no relógio e já era uma e meia da manhã. Não sei quanto tempo ele ficaria rodeado pelas mulheres histéricas. E eu não podia esperar. Aliás, eu nem deveria estar ali, sozinha, no meio da pista de dança, esperando pelo próximo passo dele
- Oi, meu amor. Como está?- Estou bem. Voltando para casa.- Já?- Não me diga que ainda está na rua, seu safadinho. – Brinquei.Ouvi a risada dele do outro lado da linha:- Na verdade, estávamos na casa do Sandro. Agora decidimos ir para a Babilônia.- Babilônia? – minha voz se alterou – Vai ver mulheres nuas dançando?- Querida, você sabe que elas não estão nuas. E não vou pelas garotas... Mas pelas bebidas. - Bebidas tem em todos os lugares, Colin.- Sabemos que há bebidas que só existe lá. Não curto muito beber outra coisa além de uísque, mas os rapazes querem fazer algo diferente. Mas se preferir, posso desistir. Sem problemas. Você que manda em mim e sabe muito bem disso.Comecei a rir:- Mando?- No meu corpo, no meu coração e na minha alma. Respirei fundo e falei:- Pode ir, Colin. Eu estava brincando. Se divirta.- E você está indo tão cedo embora... Não estava boa a sua festa?- Estava... Muito boa. Mas amanhã preciso estar pronta às nove horas para o Day Spa.- Para fica
Mariane me abraçou carinhosamente:- Estarei ao seu lado, não se preocupe.- Obrigada por todo trabalho que você teve para organizar este momento. E me desculpe por não ter sequer chegado até lá.Ela começou a rir:- Tudo bem... Por isso mesmo vou me certificar de que tudo teria saído conforme planejei. O que importa é que você gostou, mesmo ficando no Cálice Efervescente... Não acha este nome estranho?- Sim e não... Estranho, mas não para aquele lugar. – Eu ri.Ela me deu um beijo no rosto:- Vou indo. Durma bem, descanse que amanhã você tem um longo dia.- Hoje, você quer dizer.- Sim... – ela olhou no relógio – Daqui algumas horas você já tem que sair da cama.- Boa festa... E curta bastante.Mariane saiu e eu tirei minha roupa, entrando no chuveiro quente, deixando a água escorrer pelas costas, tentando relaxar.A bebida em excesso me deixava com uma sensação de tontura e ao mesmo tempo bem-estar. Desliguei o registro e sequer pus uma roupa, me jogando na cama king size já arruma
- Bom dia, meu amor.Olhei para meu noivo, Colin Monaghan. Usava terno e a camisa branca por baixo estava com os primeiros botões abertos, mostrando parte do seu peito nu. Os cabelos estavam levemente despenteados, uma mecha caindo sobre a testa.Colin era um homem bonito, inteligente e sexy. Moreno, não muito mais alto do que eu, pele clara, cabelos não muito curtos, que ele mantinha sempre bem penteados. Devido à malhação diária, tinha um belo corpo, especialmente o tórax, bíceps e abdômen, extremamente definidos. Os olhos eram âmbar e tinham um formato estreito e sedutor, finalizados com sobrancelhas grossas e escuras e cílios longos. Ele tinha um nariz bonito, que combinava com o rosto quadrado e os lábios finos. Era um homem que fazia questão de estar sempre bem barbeado.- Ah, Colin... Oi.- Você... Está tudo bem? Aconteceu algo? – A expressão dele pareceu de preocupação.Respirei fundo e tentei dissipar os pensamentos que tentavam dominar minha mente e o abracei com força:- Tu
Pensei em fazer algo diferente, que pudesse deixá-lo mais excitado. Puxei-o pela mão novamente, seguindo até o final do corredor. Abri a porta do quarto dos meus pais e corri para a cama gigantesca, me jogando sobre ela.- O que... Você está fazendo? – ele arqueou a sobrancelha – Este é o quarto dos seus pais.- Exatamente... – abri as pernas e o chamei com meu dedo indicador – Quero fazer sexo na cama dos meus pais, futuro marido.Ele riu:- Isso é brincadeira, não é mesmo? – olhou para os lados, procurando algo que eu não identifiquei o que era – É um teste do seu pai?- Relaxa, Colin. Papai não voltou de viagem. Se preferir, tranco a porta, assim ficamos mais a vontade.- Você só pode estar louca, Sabrina!- Colin, se não fizermos isso hoje nunca mais faremos. É nosso último dia de namorados, noivos ou seja lá o que podemos chamar isso. Vamos fazer um sexo diferente... E arriscado.- Isso é... De uma infantilidade sem tamanho da sua parte.Deitei a cabeça no centro da cama, olhando
Já era quase sete da manhã. Vesti um conjunto confortável de terno e bermuda de linho, de marca renomada com slippers dourados. Precisava descansar meus pés, pois os sapatos que usaria com vestido de noiva embora fossem confortáveis, eram altíssimos.Não usei maquiagem, pois logo faria os procedimentos de limpeza facial.Quando desci para o café da manhã, a mesa já estava posta... Para uma pessoa. Min-ji serviu-me de uma xícara de chocolate quente.- Ninguém vai tomar café da manhã comigo? – Perguntei, só para confirmar o que já estava bem claro.- Sua mãe marcou o “dia de mãe da noiva” para bem cedo, seu pai não chegou ainda da viagem e a sua irmã apareceu quase pela manhã e pediu para não ser acordada em hipótese alguma porque precisava descansar.Suspirei, resignada: