As duas me olharam. Mariane continuou, não se dando por vencida:
- Eu tive todo o trabalho de organizar a sua noite e você pára no caminho para fazer xixi e decide que vai passar a sua última noite de solteira num bar “fuleiro” de beira de estrada? Ei, esta palavra existe?
- Deixa-a se divertir... – Lina falou, bebendo o restante da água de seu copo.
- Lina, vocês não contestam minha irmã de jeito algum... Porque tem medo de ela tirá-las do seu círculo de amizade. No meu caso, falo o que penso, afinal, sou a irmã mais velha e não me importo em ficar puxando o saco de uma Rockfeller para ter algum tipo de benefício.
Lina levantou e disse, saindo:
- Você é uma chata!
Mariane ficou sentada à mesa, sozinha. Virei as costas e ela perguntou:
- Vai deixar sua irmã sozinha, depois de todo o trabalho que tive para organizar a sua festa?
- Eu só quero me divertir, Mariane. E não preciso de um monte de homens nus para isso.
- Trabalhei nisso por meses...
- Me desculpe, Mariane... Mas você nunca perguntou o que eu realmente queria para esta noite.
- Jamais passou pela minha cabeça que você pudesse querer ficar num lugar como este. Aposto que foi contaminada pelos germes do banheiro. Ou o barman colocou drogas na sua bebida. Pode-se esperar qualquer coisa deste lugar, onde as mulheres usam mini saias com botas e os homens cheiram a tabaco e perfume barato.
- Mas eles parecem se divertir mais do que a gente nas nossas festas, não é mesmo? – Virei as costas e fui me embrenhando no meio das pessoas, tentando chegar ao palco.
A música tocada pelo DJ foi baixando o volume até silenciar completamente. Consegui ficar na frente do palco, vendo a iluminação ficar mais fraca e os refletores focarem no palco.
- Boa noite, pessoal. Somos a banda Dreams...
Aplausos e gritos histéricos femininos ecoaram no lugar. O vocalista deu um sorriso e parou por um momento, analisando as pessoas presentes, até seus olhos encontrarem os meus. Charles me encarou por um tempo e eu sustentei o olhar, não desviando. E certamente foi o efeito daquela bebida, que parecia fogo, que me deu coragem.
- Hoje a noite é especial... Temos uma garota que vai casar amanhã... – os olhos dele seguiram nos meus, fazendo os mais próximos virarem na minha direção, curiosos – Garotinha, “meus pêsames”.
Todos começaram a rir. Me senti encabulada e não gostei da atitude dele. Humor negro, a meu ver. Se Charles tinha medo do casamento, eu não. Não fui obrigada a casar... Era uma escolha minha...
Balancei a cabeça, decepcionada, e virei as costas:
- Tequila para a noiva! – Charles falou no microfone, fazendo eu virar novamente na direção dele – Por minha conta... – o dedo indicador apontou para mim.
Fiquei parada no meio das pessoas sem dizer nada, ainda sentindo as pernas moles e desobedientes.
- Pode escolher a música, Sabrina. – O homem seguiu falando comigo, como se não estivéssemos num bar cheio e ele ao microfone.
Foi então que eu, a filha do dono da maior gravadora do país, que conhecia vários cantores e bandas famosas, tendo recebido inclusive visita de muitos deles na minha casa, fiquei muda, sem conseguir pronunciar uma palavra, como se não conhecesse música alguma ou não tivesse uma preferida.
- Eu escolho a sua música então, garotinha. – Ele apontou na minha direção e seus dedos tocaram as cordas da guitarra, iniciando a melodia que eu conhecia.
Todos começaram a dançar assim que Charles e a banda Dreams tocaram Star me Up, dos Rolling Stones.
Ok, Charles não era só lindo. Ele tocava maravilhosamente bem. A voz era forte a ao mesmo tempo doce. Ele conseguia tocar rock e cantar num tom mais lento que o original, quase como se fosse uma música romântica.
Tentei não focar na letra da música e imaginar que tinha sido aleatória aquela escolha.
Um dos barman’s entregou-me um copo de tequila, ali mesmo. Fiquei segurando a bebida com as duas mãos, tentando não derrubar enquanto todos se moviam ao meu redor, dançando e pulando no ritmo da música.
Talvez fosse melhor beber tudo de uma vez. Avistei Tay bebendo e conversando com o barman que havia a atendido anteriormente. Dill estava um pouco adiante, beijando um desconhecido. E parecia estar gostando. Lina e Tefy dançavam a alguns metros de mim, rodeadas de alguns homens. Mariane certamente estava sentada onde a deixei. E eu seguia ali, sozinha, como se fosse uma fã da banda, encarando o vocalista enquanto lambia o sal, bebia a tequila e chupava o limão. No terceiro copo eu chupei todo o limão e bebi a tequila sem lamber o sal. No quarto eu estava no mesmo lugar, sem me mover, porque tudo girava ao meu redor.
Meus olhos já não conseguiam encontrar os do vocalista, barman, guitarrista e homem mais lindo do mundo. Senti minha bexiga cheia e me dirigi ao banheiro. Dei dois passos e virei toda a bebida... Na camisa preta dele... E a outra parte em mim.
- Me desculpe... Eu sou desastrada... – Comecei a passar a mão na camisa dele, molhada, tentando secar, como se aquilo fosse resolver.
- Tudo bem, Sabrina. – Ele pegou minha mão e olhou nos meus olhos.
- Sou desastrada...
- É a terceira vez que diz isso. Acho que bebeu demais.
- Meu vestido... Novo... – Lamentei.
- Venha, vamos limpar isso e tentar recuperar seu vestido novo.
Ele pegou minha mão e passamos pela multidão, entrando por uma porta do lado do bar. Seguimos por um corredor de caixas de bebidas e chegamos num banheiro grande, branco, não parecendo muito limpo, com um vaso sanitário, uma pia com cuba clara e um chuveiro ao fundo.
- Não acho prudente ficarmos juntos no banheiro... Eu vou casar amanhã. – Falei, confusa.
- Qual seu problema, Sabrina? Não vou fazer nada com você, ok?
Assenti, com a cabeça, envergonhada. Ele pegou meu queixo e levantou, fazendo-me encará-lo.
- A não ser que você queira.
- Eu...
- Se você está certa do que quer fazer e gosta dele, tudo bem. Por mais que... Eu queira muito beijar sua boca, não farei isso sem seu consentimento. E juro por Deus que nunca, jamais, respeitei tanto uma mulher como estou fazendo com você.
Umedeci meus lábios e depois os comprimi, sentindo meu corpo arder em chamas. Retirei a mão dele do meu queixo, querendo aquele beijo como jamais desejei algo em toda a minha vida:
- Eu... Sou só uma “garotinha”... Talvez por isso me respeite tanto.
- Talvez nossa diferença de idade não seja tão grande quanto você pensa.
- Dez anos? – Chutei.
- Onze. – Ele sorriu.
Abaixei o olhar, focando no piso branco amarelado, desgastado, sem brilho e com vários arranhões, como se aquilo fosse a única coisa que me preocupasse naquele momento.
- Eu... Vou limpar o seu vestido. – Ele disse, pegando um pedaço de pano que parecia uma toalha, umedecendo-o na água.
Enquanto ele passava o pano no meu vestido, eu já sabia que aquele Chanel não tinha mais serventia alguma, assim como eu.
Charles seguia tentando limpar o que não se via da sujeira. Era só umidade... Eu poderia lavar e tudo ficaria ok. Mas não sei se eu teria coragem de tirar o cheiro dele impregnado no tecido do meu pretinho básico de marca remonada.
Retirei a mão dele e segurei-a, afastando de mim:
- Está tudo certo, Charles. Eu preciso ir agora.
- Para o bar?
- Embora?
- Mas... Recém é meia-noite.
- Sim, mas amanhã é um longo dia para mim. Nove horas já começo os preparativos...
- Entendo... Então vamos. – Ele virou de costas e saiu, esperando que eu o seguisse.
Assim eu fiz: o segui de volta pelo corredor, voltando ao bar.- Eu... Preciso voltar para o palco. Afinal, recebo para isso. – Sorriu, com o olhar dentro do meu.- Você... Canta e toca muito bem. – Observei.- Um elogio? Estamos evoluindo. – Os lábios se abriram num sorriso, que retribui.- Eu... Entendo um pouco de música... Não muito, mas um pouco.- Tanto que não sabia nem o que sugerir para sua última música de solteira? – Ironizou.- Eu bebi demais, confesso.- Ou... Pode ter ficado completamente sem palavras ao ver a performance do vocalista da Dreams.- Claro que não! Você é muito convencido.- E você tem um vocabulário bem restrito, bebê... Já falou esta frase.- Você fica cuidando cada palavra que eu digo, por acaso?- Sim... Infelizmente sim.- Infelizmente? – Arqueei a sobrancelha, questionadora.Tay apareceu e me abraçou:- A experiência que estamos vivendo aqui será eterna, amiga.Ah, eu que o diga, Tay!- Olá... Sou Charles. – Ele estendeu a mão na direção dela, que lhe
Das bandas e cantores famosos que tinham em Noriah Norte e também os mundialmente conhecidos, mais da metade deles pertenciam à gravadora do meu pai, a J.R. Music.Depois de uma hora de música, a banda finalmente despediu-se do público. Fiquei ali, parada, no meio das pessoas, esperando Charles descer. E eu nem sabia ao certo o que diria para ele.Observei as mulheres o cercarem, pedindo fotos com ele e elogiando sua performance. Quando nossos olhos se encontraram, um calafrio percorreu minha barriga, jamais sentido antes, como se tudo dentro de mim queimasse como fogo.Charles era onze anos mais velho do que eu. Meu noivo era cinco. Fiquei curiosa sobre a experiência de dormir com um homem de quase trinta anos. Ele tinha jeito de ser bom de cama.Olhei no relógio e já era uma e meia da manhã. Não sei quanto tempo ele ficaria rodeado pelas mulheres histéricas. E eu não podia esperar. Aliás, eu nem deveria estar ali, sozinha, no meio da pista de dança, esperando pelo próximo passo dele
- Oi, meu amor. Como está?- Estou bem. Voltando para casa.- Já?- Não me diga que ainda está na rua, seu safadinho. – Brinquei.Ouvi a risada dele do outro lado da linha:- Na verdade, estávamos na casa do Sandro. Agora decidimos ir para a Babilônia.- Babilônia? – minha voz se alterou – Vai ver mulheres nuas dançando?- Querida, você sabe que elas não estão nuas. E não vou pelas garotas... Mas pelas bebidas. - Bebidas tem em todos os lugares, Colin.- Sabemos que há bebidas que só existe lá. Não curto muito beber outra coisa além de uísque, mas os rapazes querem fazer algo diferente. Mas se preferir, posso desistir. Sem problemas. Você que manda em mim e sabe muito bem disso.Comecei a rir:- Mando?- No meu corpo, no meu coração e na minha alma. Respirei fundo e falei:- Pode ir, Colin. Eu estava brincando. Se divirta.- E você está indo tão cedo embora... Não estava boa a sua festa?- Estava... Muito boa. Mas amanhã preciso estar pronta às nove horas para o Day Spa.- Para fica
Mariane me abraçou carinhosamente:- Estarei ao seu lado, não se preocupe.- Obrigada por todo trabalho que você teve para organizar este momento. E me desculpe por não ter sequer chegado até lá.Ela começou a rir:- Tudo bem... Por isso mesmo vou me certificar de que tudo teria saído conforme planejei. O que importa é que você gostou, mesmo ficando no Cálice Efervescente... Não acha este nome estranho?- Sim e não... Estranho, mas não para aquele lugar. – Eu ri.Ela me deu um beijo no rosto:- Vou indo. Durma bem, descanse que amanhã você tem um longo dia.- Hoje, você quer dizer.- Sim... – ela olhou no relógio – Daqui algumas horas você já tem que sair da cama.- Boa festa... E curta bastante.Mariane saiu e eu tirei minha roupa, entrando no chuveiro quente, deixando a água escorrer pelas costas, tentando relaxar.A bebida em excesso me deixava com uma sensação de tontura e ao mesmo tempo bem-estar. Desliguei o registro e sequer pus uma roupa, me jogando na cama king size já arruma
- Bom dia, meu amor.Olhei para meu noivo, Colin Monaghan. Usava terno e a camisa branca por baixo estava com os primeiros botões abertos, mostrando parte do seu peito nu. Os cabelos estavam levemente despenteados, uma mecha caindo sobre a testa.Colin era um homem bonito, inteligente e sexy. Moreno, não muito mais alto do que eu, pele clara, cabelos não muito curtos, que ele mantinha sempre bem penteados. Devido à malhação diária, tinha um belo corpo, especialmente o tórax, bíceps e abdômen, extremamente definidos. Os olhos eram âmbar e tinham um formato estreito e sedutor, finalizados com sobrancelhas grossas e escuras e cílios longos. Ele tinha um nariz bonito, que combinava com o rosto quadrado e os lábios finos. Era um homem que fazia questão de estar sempre bem barbeado.- Ah, Colin... Oi.- Você... Está tudo bem? Aconteceu algo? – A expressão dele pareceu de preocupação.Respirei fundo e tentei dissipar os pensamentos que tentavam dominar minha mente e o abracei com força:- Tu
Pensei em fazer algo diferente, que pudesse deixá-lo mais excitado. Puxei-o pela mão novamente, seguindo até o final do corredor. Abri a porta do quarto dos meus pais e corri para a cama gigantesca, me jogando sobre ela.- O que... Você está fazendo? – ele arqueou a sobrancelha – Este é o quarto dos seus pais.- Exatamente... – abri as pernas e o chamei com meu dedo indicador – Quero fazer sexo na cama dos meus pais, futuro marido.Ele riu:- Isso é brincadeira, não é mesmo? – olhou para os lados, procurando algo que eu não identifiquei o que era – É um teste do seu pai?- Relaxa, Colin. Papai não voltou de viagem. Se preferir, tranco a porta, assim ficamos mais a vontade.- Você só pode estar louca, Sabrina!- Colin, se não fizermos isso hoje nunca mais faremos. É nosso último dia de namorados, noivos ou seja lá o que podemos chamar isso. Vamos fazer um sexo diferente... E arriscado.- Isso é... De uma infantilidade sem tamanho da sua parte.Deitei a cabeça no centro da cama, olhando
Já era quase sete da manhã. Vesti um conjunto confortável de terno e bermuda de linho, de marca renomada com slippers dourados. Precisava descansar meus pés, pois os sapatos que usaria com vestido de noiva embora fossem confortáveis, eram altíssimos.Não usei maquiagem, pois logo faria os procedimentos de limpeza facial.Quando desci para o café da manhã, a mesa já estava posta... Para uma pessoa. Min-ji serviu-me de uma xícara de chocolate quente.- Ninguém vai tomar café da manhã comigo? – Perguntei, só para confirmar o que já estava bem claro.- Sua mãe marcou o “dia de mãe da noiva” para bem cedo, seu pai não chegou ainda da viagem e a sua irmã apareceu quase pela manhã e pediu para não ser acordada em hipótese alguma porque precisava descansar.Suspirei, resignada:
Eu estava a remexer a comida, sem muito apetite, quando a porta de vidro automática se abriu e vi minha mãe, radiante e linda, como sempre, num belo vestido preto e sandálias da mesma cor.Calissa Rockfeller era uma mulher alta, morena, de pele clara e cabelos longos e sedosos. Os olhos eram castanho claros e ela tinha seios fartos e pernas longas. Eu e Mariane nos parecíamos com ela.- Mãe! – Nem cheguei a levantar da cadeira e ela deu-me um beijo na testa, sentando junto de mim, enquanto largava a bolsa pequena, com o enorme logo da marca, sobre a mesa.- Não pensou que eu fosse deixá-la almoçar sozinha no seu último dia de solteira, não é mesmo?- Pensei que sim... – Confessei, sorrindo feliz com a presença dela.Não demorou nem cinco minutos e foi trazido um prato para ela e a mesa foi reposta para duas pessoas. Ela logo serviu-se, elogiando a