Já havia amanhecido na grande cidade de Paris, o vento soprava lá fora, mostrando o quanto essa manhã seria fria. Alexia toma um demorado banho quente, ao terminar, veste-se e coloca um sobretudo branco por cima do vestido azul que molda perfeitamente sua barriga. Penteia seus longos e escuros cabelos, olha no espelho e sorri discretamente ao ver Lucas sentado na cama, ainda sonolento.
— Bom dia, amor! Nossa, acho que vou me atrasar para a reunião. — Ela fala ao olhar no relógio. Meu Deus, esqueci de avisar a Lia. Você pode passar no meu escritório e falar com ela? Minha consulta é agora de manhã. — Ela fala admirando-o pelo espelho.— Bom dia, meu amor. — ele levanta, coloca a camisa e checa as mensagens do celular encostando na parede em frente da janela.— Pode deixar que aviso, esse horário ela não está no escritório, mas ligo da empresa!— Obrigada por isso.— Querida, Como dormiu essa noite? Parecia estar assustada essa madrugada. — Ela o olha um pouco desanimada, pois teve novamente os mesmos pesadelos de sempre.— Foi pela chuva?— Não me lembro. Deve ter sido o mesmo de sempre. — Alexia abaixa o olhar, triste por ter passado tantos anos e ainda ter os mesmos sonhos, o mesmo pânico de dias chuvosos de quando era pequena. Ele levanta e dá um beijo em sua testa. — Lucas, você vai comigo na Laila ver nosso filho? — Ela pergunta com o olhar distante, mesmo sabendo a resposta.— Hum, creio que não, meu amor. Wendy mandou uma mensagem agora pouco, disse que tenho uma importante reunião e não poderei desmarcar. — Ele mente. Sem nenhuma surpresa, ela levanta e sai sem olhar para trás. Ele fica com raiva por ela fazer isso. Lucas precisava de dinheiro, então essa noite ele a tratou com carinho. Ao chamá-la de amor, ela já sabia que ele ia pedir. Por isso, antes de sair, ela deixa um cheque assinado por ela para ele colocar o valor que precisa. Vendo-o ali em cima da penteadeira, Lucas sorri. — Muito bem, senhora arrogante. Pelo menos é inteligente. Eu mereço muitos zeros nesse cheque para te suportar.Ele se j**a na cama contente por poder manipular Alexia por míseras carícias. Já no estacionamento, Alexia encontra Matheo, amigo e segurança.— Bom dia, Matheo. Vamos!— Vai sozinha novamente? Aquele ser que você chama de namorado não vai se dar nem o trabalho de ir com você? — Matheo pergunta, sem esconder seu ódio por Lucas.— Como vê, ele não está aqui! Vamos logo, não tenho tempo a perder, com conversa fiada. — Alexia percebe que acabou sendo grossa com alguém que não tem nada a ver com o assunto. — Matheo... me desculpa? Não quis ser grossa, é que às vezes eu coloco expectativas no que já sei que nunca irá acontecer.— Não tem problema, já estou acostumado com seu jeito carinhoso de dizer que gosta da minha companhia. — Ele ri.— Trabalho há anos para senhora arrogante, esqueceu?— Matheo encontra os olhos dela e sorri, sem muito esforço acaba arrancando um discreto sorriso dela. — Quer que eu entre com você? — Alexia olha para ele agradecida.— Obrigada, Matheo, mas não precisa. Quando descobri a gravidez, já imaginei passar por isso sozinha. — Eles vão conversando até chegar no consultório. — Pode ir, tire o seu dia de folga. Você está há semanas adiando.— Vou ficar aqui. Não tenho nada de importante para fazer. — Ele fala desafiando ela. Os dois, apesar da diferença de idade, são muito amigos. Ele sempre ajudou a mãe a cuidar dela quando era bebê. Matheo meio que se sente responsável por Alexia, pois foi o que a mãe dele o fez jurar, que cuidaria dela como um irmão mais velho.— Nada de importante?— Ela serra olhos o encarando em julgamento.— Tem certeza? Quando eu voltar, não quero te ver aqui. E trate de se lembrar que dia é hoje! — Ela fala séria, mas sem ser grossa. Ele a olha e coça a cabeça, tentando entender do que ela está falando.Alexia chega ao consultório de sua amiga em minutos. Elas se cumprimentam com um beijo no rosto e um abraço rápido.— Bom dia, Alexia. Como está? E esse bebê?— Laila fala animada por ve-la.— Olha, sua barriga cresceu um pouco mais. — a médica ajuda-a deitar na cama e, em seguida, levanta sua blusa. Alexia resmunga quando sente o gel gelado em sua barriga.— Cresceu um pouquinho. Nossa, parece que esse bebezinho vai sair andando já. Como ele pula aqui dentro. — Alexia fala sorrindo. Laila observa e sorri também, feliz por vê-la bem e admirada com o tamanho do amor e alegria que essa gravidez trouxe a Alexia, nas poucas vezes que a vê assim.Laila e ela se conheceram no colégio quando Alexia tinha 10 anos e Laila 14. Com o passar dos anos, ela foi o único apoio que Laila tinha. Seus pais eram muito bons com ela, mas por um acidente, ela perdeu os dois no mesmo dia. Apesar de ter uma conta bancária recheada, Laila optou por terminar os estudos e abrir uma clínica. Alexia foi como uma âncora nesses momentos tão tristes e elas se tornaram inseparáveis.Laila é o oposto de Alexia, uma mulher doce, carinhosa e muito sensível. Ela se emociona por coisas tão pequenas, mas que para ela têm tanto significado. Mesmo sabendo o quão durona sua amiga se mostra, ela sabe que tudo que Alexia quer é ser ouvida, compreendida e amada.— Amiga, está sozinha novamente? — ela pergunta, percebendo que Lucas não compareceu em mais uma consulta.— Pois é, sabe como Lucas é. Ele está atolado de trabalho e disse que não conseguiu desmarcar a reunião por ser muito importante. Já estou acostumada, amiga. Não se preocupe. — Alexia fala sem esboçar reação, tentando se convencer mais uma vez de que é por isso que ele não veio.— Bom, saiba que sempre estarei segurando sua mão para o que precisar. — Laila desvia o olhar e resolve mudar de assunto e continuar com a ultra, pois sabe o quanto Alexia não gosta de conversas sentimentais. — Mas esse bebezinho só pode estar de brincadeira. — ela fala frustrada analisando mais de uma vez o monitor de ultrassonografia..— O que é dessa vez? Menina ou menino? — Alexia sorri, se divertindo com a situação.— Não consigo entender, já fizemos vários exames. No de sangue saiu menino, aqui menina, depois menino. Já estou achando que são dois, daí eles se revezam para sacanear a tia aqui. — ela ri.— Já estou quase aposentando esse monitor, e olha que ele é novo.— Parece que meu filho já tem para quem puxar, é misterioso igual ao vovô. — Sentando na cama, ela fica pensando no seu pai. Apesar de tudo, Mael era o único em quem ela podia confiar de verdade.— Amiga, ele está bem, crescendo bastante, e já está me deixando com uns fios de cabelo brancos antes de nascer.— O que importa é que o Isaac ou a Hannah está bem. Por enquanto, é só o meu amado bebê. Apesar de que eu sinto que aqui dentro está meu pequeno Isaac.— Sim, muito amado! Dia das garotas amanhã? Acho que estou precisando... — Laila abaixa a cabeça para não mostrar sua tristeza, mas não passa despercebido por Alexia. Só de olhar para sua amiga, entende que ela precisa conversar, precisa ouvir seus conselhos. Por mais duros que sejam, são os mais verdadeiros.Laila saiu de um relacionamento abusivo graças a Alexia. Apesar de saber o quanto Yure era ruim, Laila o amava, e a separação está sendo difícil. Ela só está conseguindo ficar longe porque Alexia sempre está na casa dela, apoiando e fazendo as sessões das garotas que virou quase uma regra para elas, filmes, pipoca e muita música...— Claro! Laila, estarei sempre aqui te apoiando em tudo, você sabe disso. Sei que não sou a melhor pessoa, muito menos a mais carinhosa, mas saiba que estarei de braços abertos sempre que precisar. — Laila abraça Alexia, mesmo sem gostar dessa melosidade, como ela mesma fala, retribui o abraço e se despede da amiga.— Amiga, antes de ir, quero te entregar um presente... eu quem o fiz... espero que goste, pois fiz de todo o coração. — Alexia pega a pequena caixinha de madeira com detalhes em meia pérolas. Seus olhos brilham ao ver nele um delicado chaveiro, gravado com seu nome e as iniciais dos nomes que seriam do seu filho. Olhando para sua amiga com os olhos cheios de lágrimas, lágrimas que, como sempre, não deixará cair na frente de Laila.— É simplesmente o presente mais lindo que já ganhei. — Ela puxa Laila para um abraço caloroso, diferente de todos que ela já deu. — Muito obrigada, Laila. Você realmente não tem ideia do quanto eu amei.— Como fico feliz, Alexia. Saiba que te amo. Nunca saia da minha vida, por favor... — Laila fala baixinho, quase num sussurro.— Também te amo, e olha que amo poucas pessoas.— Ela da um leve sorriso.— Sempre me senti privilegiada por isso. Te ligo mais tarde. — E assim as duas se olham sorrindo. Alexia sai da sala e entra no elevador, enquanto Laila não vê sua amiga desaparecer atrás das grandes portas de metal. Ela não saiu do lugar.Alexia aperta o pequeno chaveiro na mão e o leva em contato com seu peito. Ali, sozinha, encostada no espelho do elevador, ela deixa a emoção tomar conta. Seus olhos ardiam pelas lágrimas que caíam uma atrás da outra. Por alguns segundos, ela os mantém fechados. Sua memória a transporta para anos atrás. Aquele chaveiro, para ela, é muito mais do que isso...Quando pequena, Alexia gostava de brincar sempre no quarto do pai, Mael. Entre tantas jóias e relógios valiosos, ele tinha um chaveiro com as iniciais M e A. Ele o carregava por todo lugar, nunca o deixava para trás. Mael sempre deixava claro que o valor das coisas não está em quanto custa, e sim no sentimento que está por trás delas. Ela nunca entendeu o que tinha de tão importante nele, só anos depois da sua morte, ela descobriu que eram as iniciais do seu nome com o dele. Mael mandou fazer assim que a paternidade foi confirmada. Ao ver o chaveiro que sua amiga fez com tanto carinho e tanta delicadeza nos detalhes, ela sente uma
Alexia levanta elegantemente, caminhando em passos lentos, com o olhar distante.— Que bom que terminaram! Agora posso fazer isso.— se aproximando de Lucas, ela desfere um forte tapa na cara dele, apesar de mãos pequenas, sua força era bem maior que se podia imaginar.— E você, Dominique? Parece que você não é tão inocente quanto aparenta. — O olhar de Alexia está carregado de indignação e desapontamento. Dominique engole em seco, com medo das consequências de suas ações.— Alexia, por favor, me escuta, foi um erro, eu não queria te magoar. Eu amo você, só você! — Lucas tenta se explicar desesperadamente, mas suas palavras não conseguem acalmar a dor e a raiva que Alexia está sentindo. Se jogando de joelhos no chão ele implora por perdão.Ela os encara por um momento, sem dizer uma palavra. A mágoa e a tristeza estão evidentes em seu rosto, mas ela se mantém forte. Alexia sabe que precisa agir com determinação e firmeza, preservando sua dignidade.— Que cena lamentável. Levante-se e as
Lucas olha intensamente para ela pela última vez, seus olhos encontram os dela, e um instante de arrependimento percorre seu ser. Ele se dá conta do quão grosseiro e idiota foi ao longo do tempo e lamenta profundamente suas atitudes. No entanto, seu remorso é inútil, pois é tarde demais para se desculpar. Antes que Lucas consiga articular uma palavra, ela se afasta com indiferença, ignorando qualquer sinal de tristeza que possa estar sentindo. No hall do hotel, ela caminha com determinação até o balcão e rapidamente entrega suas ordens de despejo. Em seguida, entra em seu carro e liga para seus advogados, pedindo uma reunião de emergência e colocando todos em alerta. Aqueles que a conhecem sabem que qualquer atraso é inaceitável quando ela está com raiva.Ao chegar na empresa, uma sala repleta de pessoas a aguardava, incluindo os Donavan, pais de Lucas, que não faziam ideia do motivo daquela reunião.Horas se passaram, repletas de discussões acaloradas e surpresas. Ela dissolve todas
Alexia desce do carro correndo, sem se importar com o sangue que escorre pelo seu rosto, mas o desespero mesmo foi perceber que atropelou alguém.— Meu Deus. Por favor! Se afastem.— Ela fala autoritária, mas ao mesmo tempo emanando medo em sua voz, espantando os curiosos que estavam em cima dele, dando espaço para ela se aproximar do rapaz caído no chão.— Não se mova!— Ela fala impedindo o belo rapaz de levantar.— Por favor, alguém pode emprestar um telefone ou ligar para emergência?— Diz um pouco nervosa, suas mãos estavam trêmulas além do normal.— Ei, você está bem? Fala comigo. Como se chama?— Sem nem saber o que estava falando, ela faz um monte de perguntas uma atrás da outra.— Ow! Você de novo?— Ele fala lembrando do dia anterior em que esbarrou nela.— Que isso, morri e estou no céu? Acabo de ver um anjo— Ele fala como se estivesse hipnotizado, admirando o belo rosto de Alexia.— Desculpa não me apresentar de pé, acho que estou meio atropelado.— Ele fala rindo, encarando os belos
A mulher do outro lado da linha bufa por ter que ensinar Cleber a fazer o seu trabalho.— Pegue a bolsa com os documentos dela, não deixe vestígio de quem se trata. A idiota foi parar longe, tão previsível. Aí ninguém conhece a senhora arrogante. Será enterrada como desconhecida.— Ok, senhora. Mais alguma coisa?— Não! O dinheiro foi transferido para sua conta. Já pode sumir do mapa. Se eu te ver, tenha certeza de que você será um homem morto. — Com essas palavras, a voz feminina do outro lado desliga o celular.Quando Cleber ameaça ir embora, percebe que Alexia começa a se mexer. Ele pega o celular e liga para a mandante do crime.— Senhora, ela ainda está viva. Nem o diabo quer essa mulher. O que eu faço?— Não se fazem assassinos como antigamente. Termine o serviço, seu inútil! — A voz feminina, alterada, fala do outro lado da linha, desligando com raiva o celular.Quando Cleber vai terminar o que começou, ele ouve barulho de carro se aproximando. Apavorado, ele acelera e se escond
Vanusa olha assustada com o que ela fala.— Como assim? Não sabe quem você é.— Eu... eu não sei, onde estou? Quem são vocês? E por que meu corpo dói tanto? — Alexia pergunta com a voz baixa, quase num sussurro.Vanusa corre para procurar uma enfermeira ou um médico, e logo volta com eles.— A senhora sabe o seu nome? — pergunta o médico que estava de plantão.— Desde que acordei, estão me chamando de Alexia, creio que vocês me conhecem melhor do que eu, pois não me lembro.— Cadê o prontuário da paciente? — João pergunta para a enfermeira, que responde balançando a cabeça em negação. — Desculpe, logo resolvo isso! Pelo que falei com os meninos que estão lá fora, ontem a senhora sofreu um acidente junto com o seu namorado Benício. — Alexia abaixa a cabeça um pouco desconfiada, sem saber se o que estão falando é verdade. — Esses jovens estão desde ontem esperando para lhe ver, se puder, peço para eles entrarem, talvez os conheça. Infelizmente, o médico que te atendeu não atende o telefo
A mãe do Benício a encara por alguns segundos, até que abre um sorriso.— Ah, então você conhece minha nora, talvez possa ajudá-la a se convencer de que é namorada do meu filho. — Vanusa fala animada, sem perceber a arrogância da mulher na sua frente.— Não acredito, amiga? Você perdeu a memória? — Dafne olha-a com soberba e abre um sorriso diabólico. Alexia, sem notar a maldade nos olhos da bela mulher, abaixa a cabeça triste. — Oh, minha querida, vamos te ajudar a lembrar, não se preocupe. Sou sua amiga de infância, sempre contamos tudo uma para a outra.– Ali, Dafne viu a chance de se livrar do Benício sem ter que matá-lo.Dafne Duran é namorada de Benício, ela mora com ele em Barcelona, praticamente têm uma vida de casados. Benício conseguiu recentemente o sonhado negócio que mudaria a vida deles e de suas famílias, então veio para a cidade onde nasceu para dar a notícia do seu noivado. Mesmo morando juntos, ela ficava enrolando ele com essas formalidades. E ele, iludido pelo amor
Após semanas de recuperação, Alexia finalmente estava se sentindo melhor. Vanusa decidiu levá-los de volta para casa, onde Alexia ficaria no quarto com Benício. Um sentimento de gratidão e amor crescia a cada dia dentro do coração de Alexia enquanto ela se dedicava a cuidar de Benício com perfeição. Ela pediu para colocarem uma cama de solteiro no quarto, permitindo que pudesse cuidar de Benício e descansar ao mesmo tempo. Seu corpo não doía mais e a cesariana cicatrizou perfeitamente. Alexia não apenas encontrava forças para cuidar dele, mas também se tornou independente em suas atividades diárias. Ela ajudava na cozinha, aprendeu a cozinhar e se tornou uma grande ajuda para Vanusa nos cuidados com Benício, seguindo tudo o que havia aprendido com as enfermeiras.Cada ato de amor e dedicação de Alexia transcendia em suas ações diárias. Ela aprendeu a fazer a barba de Benício e cortar seu cabelo, depositando todo o seu amor em cada movimento. Parecia que nada no mundo poderia quebrar