Capítulo 05

Acordei com meu celular apitando sem parar, e quando olhei o visor, era David. Encarei o aparelho algumas vezes e sinceramente cogitei jogá-lo na parede, mas desisti. 

— O que foi, David? Por que está me ligando às… – Olhei no visor novamente. — Três da manhã.

— Amiga, preciso muito de você. – Ele estava chorando, o que era muito estranho, já que David não era desse tipo de pessoa. Perguntei a ele o que estava acontecendo, e ele apenas chorava ainda mais. Isso já estava me preocupando. Perguntei onde ele estava, e quando me disse que estava em um motel, pedi o endereço e me arrumei rapidamente. Passei uma maquiagem rápida só para tirar a cara de sono, e quando estava pronta, saí. Fui dirigindo igual a uma louca e finalmente cheguei no tal motel. Pedi para entrar, só que o atendente me disse que não poderia permitir. Então, precisei puxar ainda mais o meu decote e falar de uma maneira mais sexy, e logo ele me deu a permissão. Pisquei para o atendente, que sorriu. “Homens são tão babacas”, pensei comigo mesma. 

Estacionei rapidamente e bati na porta do quarto. Quando entrei, meu amigo se jogou em meus braços e começou a chorar.

— David, miguxo! Respira. – Pedi a ele que fizesse o mesmo que eu e, quando estava mais calmo, me chamou para sentar na cama. — Me conta o que aconteceu. Algum cara filho da puta fez algo com você? Me mostra a foto dele que eu caço o filho da puta e dou umas porradas nele.

Meu amigo respirou fundo, e finalmente me contou o que havia acontecido. Seu pai havia falecido, e mesmo que ele tivesse deserdado o meu amigo, era seu pai.

— Minha mãe me ligou e pediu que eu fosse para o funeral. Amiga, eu não vejo a minha família há mais de dez anos. Como vou chegar lá?

Toda a sua família era cristã e muito fervorosa, e pelo filho ser homossexual, eles o mandaram embora de sua vida.

— Eu vou com você. Magno e Bruno voltarão amanhã, e converso com eles sobre me ausentar.

— Promete que vai comigo a Floripa? – Afirmei mais uma vez, e ele me abraçou.

— Amiga, perdi uma boa foda hoje por conta de toda essa merda com a minha família.

— Vamos para a minha casa. A gente descongela uma pizza e toma um café porque tenho uma audiência mais tarde. Não posso chegar fedendo a álcool.

Meu amigo concordou. Depois que acertei a conta do motel, fomos para minha casa, onde meu amigo uma hora ria, outra hora chorava, e eu sabia o que era a dor da perda.

— Obrigado por estar aqui comigo, Eve. – Segurei a sua mão e depois me aproximei dele.

— Você sempre está comigo. Nossos caminhos se cruzaram no primeiro ano do ensino médio, e para completar, você me ajudou quando meu pai faleceu, me ajudou a continuar vivendo, e então ir com você ao funeral e aguentar a sua família filha da puta é o mínimo que posso fazer. Só não prometo que vou segurar a minha língua se ver aqueles idiotas falando de você.

— Eu aqui me lamuriando pela minha família de merda e esquecendo que a sua vida foi repleta de provações. – Ele acariciou os meus ombros.

— Somos dois fodidos.

— Com toda a certeza, por isso nos amamos. – Ficamos em silêncio e acabamos dormindo.

Acordei com Poppy lambendo meus pés e comecei a rir. Percebi que havia dormido toda torta. Acordei meu amigo, que se espreguiçou cheio de floreio. Quando vi a hora, percebi que se não começasse a correr, me atrasaria. Então, me arrumei rapidamente. Antes de sair, dei comida para os meus pets e parti. Como vi que ainda tinha tempo, passei em uma cafeteria e pedi um café bem forte. Como os atendentes ali me conheciam há muito tempo, pois já tinha ajudado a dona do café, eles sempre me mimam.

Quando estava saindo, trombei em alguém, e ao levantar a cabeça para pedir desculpas, vi Jefferson.

— O que faz na minha cafeteria favorita? – Ele pergunta, dando um sorrisinho de lado.

Olhei para ele e revirei os olhos.

— A cafeteria é pública e também é minha favorita. 

— Temos algo em comum, morena. Já que estamos aqui, que tal tomar um café comigo?

— Acho que já estou com meu café. – Levanto meu copo para ele. — E de qualquer maneira, já estou atrasada.

Não dei chance dele dizer mais nada e sai apressada. Chegando ao fórum, Carlos já estava à minha espera junto com a nossa cliente. Conversamos brevemente, e logo fomos chamados. Como era uma audiência de acordo, foi bem rápido de resolver. Assim que saí do fórum, virei para o meu assistente.

— Carlos, vai querer ir comigo, ou tem algum compromisso antes de voltar ao trabalho?

— Vou almoçar com a Cami. Ela está de TPM e muito irritada. – Ele fez uma careta e comecei a rir. 

— Bom almoço e leve uma barra de chocolate para ela, de preferência uma bem cara.

Me despedi de Carlos e fui para o escritório. Chegando lá, entrei em  minha sala e comecei a trabalhar, pois, graças ao meu sócio, a minha mesa está repleta de trabalho extra. Um entregador trouxe meu almoço em nome de Carlos. Tenho certeza que ele sabia que eu não faria uma pausa para o almoço. 

No meio da tarde, Mariana entrou com um buquê enorme de flores coloridas e me entregou.

— É para mim? – Perguntei, e ela revirou os olhos.

— Claro, né. Abre, estou curiosa. – Quando abri o envelope, li o bilhete. 

“Como não sabia qual sua rosa preferida, te dei todas elas. Por que não janta comigo? Prometo te fazer gritar de prazer depois.” 

Um sorriso brota dos meus lábios. Ora, ora, acho que ele gostou do nosso encontro meses atrás tanto quanto eu.

— E então, quem mandou as flores? – Ela perguntou curiosa.

— Um cliente. – Fingi cara de tédio.

— Foi o Luís Chaves? Porque esse cara é insistente. Lembro que ele te perseguiu por uns dois meses, e para piorar, aquele cara de pau é casado. Por falar nele, por onde anda?

— Ele saiu do nosso escritório. – Lembrei a ela, mas a verdade é que eu o soquei e disse que se não saísse do meu escritório por bem, sairia por mal. Como ele era um filha da puta medroso, saiu correndo. Ela saiu da sala decepcionada, e depois voltei ao trabalho.

No final do dia, quando o escritório já estava vazio, cumprimentei o segurança da noite e fui para o estacionamento. Meu celular começou a apitar incessantemente, e quando atendi, era Magno.

— Oi, Ever. Só estou ligando para avisar que Bruno e eu chegamos em casa.

— Que maravilha, migo! Conseguiu resolver os seus B.Os?

— Consegui sim, e nós trouxemos um presentinho pra você. Amanhã eu levo. – Agradeci a ele e desliguei.

Chegando em casa, alimentei os meus pets, cortei uns pedaços de queijo, peguei uma garrafa de vinho que estava na geladeira e coloquei uma música para me animar.

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