Estava dançando ao som de "Crazy in Love" quando meu celular começou a tocar insistentemente. Ao ver o nome da minha mãe piscar no visor, eu sabia que ela iria me encher de perguntas.
— Filha, você já comeu?
— Já.
— Eu sei que está mentindo, Everlly Caroline. Filha, você melhor do que ninguém sabe que precisa se alimentar decentemente.
— Estou comendo uns pedaços de queijo, fique tranquila.
— Se está comendo queijo, é porque está bebendo vinho. Ever, você precisa cuidar mais de sua saúde.
Minha mãe ficou quase meia hora dizendo que eu deveria tratar melhor a minha saúde, que eu tive uma segunda oportunidade de viver, enquanto muitos morreram, e tals. Eu apenas escutava e fazia alguns sons com a boca para que ela percebesse que eu estava prestando atenção. Depois de muita briga, ela me lembrou que eu era a única que havia sobrado da família, e ela não queria me perder.
Entendo a minha mãe, e sei que estou sendo relapsa com a minha saúde, mas eu passei anos só fazendo o que era correto e sempre me ferrava no final. Agora, decidi que iria viver de acordo com o meu pensamento; que se foda o resto. Eu preciso parar de ser cuzona com a minha mãe; ela só fez me amar e me proteger a vida toda.
Como me senti culpada, fui para a cozinha e preparei um macarrão para comer. Eu amo cozinhar, mas cozinhar para si mesmo é uma merda. Terminei meu jantar e, enquanto lavava a louça, percebi que precisava de uma foda bem dada, de preferência uma que me fizesse esquecer aquele moreno gostoso chamado Jefferson.
Me arrumei rapidamente e fui para um bar que havia perto de casa. Como era dia de música ao vivo, eu sabia que encontraria um carinha disposto a ir para minha casa. Me sentei no bar, pedi uma cerveja ao barman, e estava puxando assunto com ele até que um cara se aproximou, sentou ao meu lado e começou a puxar conversa. Passados vinte minutos, eu o convidei para minha casa, e estávamos saindo quando senti alguém tocar meu ombro. Me virei para ver quem era, e era Jefferson. Isso só pode ser castigo divino.
— Parece que temos a mania de nos encontrarmos. – A voz grave dele enviava eletricidade pelo meu corpo.
— Verdade, oi e tchau! Vamos, gato. – Puxei a mão do cara, mas Jeff se aproximou e falou algo em seu ouvido. O cara rapidamente deu uma desculpa e foi embora.
— Porra! Por que está me perseguindo? Acabou de me fazer perder uma boa trepada.
Estava furiosa com esse cara que age como se fosse o meu dono.
— Ele não é homem pra você. – Jeff deu aquele sorrisinho cafajeste.
— E nem você.
— Engraçado, se não sou homem pra você, por que me pediu para te foder com mais força.
Jefferson começou a imitar a minha fala na cama e estava atraindo atenção para nós.
— Admito, foi uma foda gostosa pra caralho, mas já passou! Esquece.
Me virei para sair, e ele puxou a minha mão, e mais uma vez a eletricidade estava percorrendo pelo meu corpo.
— Vai dizer que não quer repetir.
— Prefiro usar meu vibrador, me dá licença e para de ficar me assediando.
Olhei para ele com raiva e voltei para casa muito revoltada. Graças ao filho da puta, terei que usar a porra do vibrador.
Quando cheguei ao escritório na manhã seguinte, Magno entrou em minha sala todo alegrinho.
— Bom dia, Cattleya.
— Só se for pra você. – Digo irritada, e ele me encara por alguns segundos.
— Por que está irritada, Ever?
— Seu cliente não me deixa em paz. Não sei com que intuito dele, mas está me irritando de verdade. Acredita que ontem ele, além de empatar a minha foda, queria ir pra minha casa transar? E daí que a gente se pegou uma vez? Ele pode ficar me mandando flores ou me chamando para me dar orgasmo quando lhe der na teia.
Meu amigo estava me olhando completamente confuso, e me pediu para explicar a história direitinho para ele. Quando expliquei, ele me encarou de cenho franzido.
— Isso é bem estranho, Jeff é nosso cliente há muito tempo, e sei que ele não tem namorada ou ficante. Na verdade, ele é um espírito livre igual a você, não se apega. Tem certeza que está falando do mesmo cara?
Ouvindo Magno, eu fiquei confusa. Se ele é um espírito livre como eu, por que fica me perseguindo? Meu amigo perguntou se queria que eu falasse com ele, e neguei, dizendo que posso lidar com isso. Antes de sair, Magno me entregou um copo de café e um presente, e me agradeceu novamente por ter ajudado ele e Bruno. Marcamos de conversar no almoço, e meu amigo saiu.
Não demorou, Carlos entrou lendo a minha agenda. Quando ele falou o nome do Lucas, já revirei os olhos.
— Se for outro processo trabalhista, manda ele para o Magno ou a Juli. Não aguento mais livrar a cara dele.
— Eu até posso recomendar um dos dois, mas ele é o seu cliente, Ever.
De dois em dois meses, surge alguém na empresa dele na justiça, e ele corre para que eu o salve. Já dei várias dicas ao dito cujo, só que ele prefere economizar, e a porra dessa economia traz problemas para ele, que j**a no meu colo e quer que eu resolva da melhor maneira que não afete o seu bolso. Esse é o lado ruim de ser uma advogada trabalhista.
— Como eu queria ficar a minha energia em processos trabalhistas.
— Infelizmente aparecem poucos casos dessa magnitude para nós.
Carlos terminou de ler a minha agenda do dia e depois se retirou. A parte mais divertida do meu dia é que hoje vou ao hospital ver as crianças.
A hora do almoço chegou, e enquanto eu falava sem parar, meus amigos só me encaravam. Tenho certeza de que eles estavam perdidos no que eu falava.
— Vocês não vão dizer nada? Vou ter que ficar aqui tagarelando sem parar? – Perguntei a eles.
— Estamos perdidos nessa história, Ever. – Bruno me encarou, e revirei os olhos.
Expliquei a eles novamente tudo que aconteceu desde o meu aniversário até ontem a noite.
— Vou ser sincero com você, amiga, acho que está na hora de largar essa vida de pegar sem se apegar. Você e David estão presos ao passado, e isso está influenciando o presente de vocês. Por conta disso, talvez nem tenham um futuro.
— Obrigada por esfregar na nossa cara que somos fodidos no amor, isso já sabemos.
— E o que estão fazendo para mudar? – Agora foi a vez de Magno perguntar.
— Entrar em um relacionamento não é nada fácil, e vocês lembram muito bem o quanto sofri com Rafael. Não quero ficar destruída daquele jeito novamente. Só o David sabe como realmente fiquei.
— Hey! Ninguém está dizendo que ter reservas é ruim. O que estamos dizendo é que você não pode ficar fazendo rodízios de homens. Isso pode fazer bem para o corpo, mas não para a alma, e você sabe muito bem disso. Se me disser que isso é mentira, eu paro de falar agora.
Os dois ficaram me encarando, e fiquei muito desconfortável. Pedi a eles para mudarem de assunto. De certa forma, os dois estavam certos, mas eu jamais daria o braço a torcer.
Após o almoço, voltamos para o escritório, e estava trabalhando até receber um buquê de orquídeas, minhas flores favoritas, e só quem sabe sobre isso são meus amigos e família.
Peguei o cartão, e quando li, meu sangue subiu. Peguei minhas coisas e avisei a Carlos para cancelar meus dois últimos compromissos de hoje. Ele estava bem confuso, mas quando viu meu olhar de furia, apenas assentiu.
Bati a porta do meu carro com toda força, e enquanto dava a partida, jurei que faria aquele babaca comer cada pétala.
Estacionei com toda a fúria em frente à concessionária, e quando me aproximei da recepção, Juliana, uma conhecida, se levantou para me abraçar. — Ever, cada vez que te vejo você está muito gata, meu irmão não para de falar de você. – Conheci Jonas, seu irmão no ano passado; tivemos um sexo bacana, mas nada de muito emocionante. — O que faz aqui, menina? Não me diga que voltou com o... — Não diga o nome do inominável. Na verdade, vim falar com ele. – Ela percebeu meu olhar de fúria e sorriu. — Ele está na sala com uma “cliente”. Como sabia o caminho, fui até lá e, quando cheguei, abri a porta com tudo. Rafael e a mulher estavam se beijando, e ela ficou muito sem graça quando me viu. — Quem é ela, Rafael? – A mulher perguntou. — Sou a ex-noiva dele, querida. Você pode ir para aquele cantinho que eu preciso acertar as contas com esse safado. Não vou demorar. – Disse à mulher que fez exatamente o que mandei. — Se veio aqui é porque recebeu as flores. – Ele sorriu. — Que porra é isso
Já havíamos perdido as contas de quantas latinhas tínhamos bebido, e depois de várias conversas aleatórias, David finalmente me perguntou o motivo de eu ter ido até o trabalho de Rafael. Eu me levantei, peguei a minha bolsa e lhe dei o cartão. Assim que ele leu, olhou para mim com o cenho franzido.— Ele te mandou um bilhete com desculpas depois de quatro anos?— Amigo, você leu direitinho o bilhete, não achou nada estranho?— É tarde demais agora para pedir desculpa? Porque eu sinto falta mais do que só do seu corpo. Na verdade, sinto falta de você inteirinha. É, eu sei que te decepcionei, mas te pergunto mais uma vez, é tarde demais para pedir desculpa? – Ele leu mais uma vez, e como vi que não entendeu porcaria nenhuma, peguei meu celular e coloquei a música. — O que tem haver a música com as desculpas do babaca?— Eu ainda te disse que deveria estudar inglês ao invés de fazer italiano. – Mostrei a ele a tradução da música, e só aí ele percebeu.— Que filho da puta! Nem pra pedir d
Jefferson AlbuquerqueO dia de hoje está uma correria, não aguento mais entrar e sair de reuniões. Rafael não veio trabalhar, pois disse que passaria o dia com sua mãe e largou toda a bomba na minha mão. Mais cedo meu pai veio me visitar e perguntou como têm sido as coisas para mim. Digo a ele que estou levando da forma que dá.Por volta das três da tarde, estava finalizando uma reunião quando recebi uma ligação da escola da minha filha dizendo que a mãe dela está na secretaria tentando levar Renata. Na mesma hora, finalizei a reunião às pressas e corri para a escola de Renata. Quando cheguei lá, vi Gisele fazendo a maior confusão.— O que você faz aqui? – Perguntei me aproximando dela e tentando me controlar ao máximo.— Eu sou mãe da Renata e tenho total direito de vê-la quando quiser.— Você sabe muito bem que perdeu esse direito há três anos.— Você me fez perder esse direito, você é um desgraçado, um desgraçado – ela avançou para me socar e prendi a sua mão.— Se você me bater vo
Everlly começou a me beijar intensamente dentro do banheiro masculino, suas mãos explorando meu corpo enquanto eu correspondia ao desejo crescente. O ambiente estava impregnado de luxúria, e o calor entre nós só aumentava. Perguntei a ela entre os beijos se queria ir para minha casa, e sua resposta afirmativa não deixava dúvidas sobre as intenções da noite.— Quero sim, Jefferson. Vamos para a sua casa. - Ela murmurou, seus lábios roçando no meu ouvido, enviando arrepios pela minha espinha.Saímos do banheiro, mantendo um olhar carregado de desejo, ignorando o ambiente da boate e seguimos em direção à saída. Cada passo era uma promessa, um convite para o que estava por vir. O ar lá fora nos atingiu como um choque, mas era a eletricidade entre nós que realmente importava.Chegamos à minha casa, e mal fechamos a porta, nossos corpos se uniram novamente, desta vez com uma urgência mais intensa. Everlly não era uma mulher com rodeios, ela sabia o que queria, e eu estava mais do que dispos
Everlly SoaresEstava no trabalho quando meu amigo entrou e sentou animado, me encarando de uma maneira que começou a me irritar. Eu sabia exatamente o que ele queria saber, mas não estava disposta a contar.— Anda Ever, me conta. Como foi a noite? – Continuei lendo os documentos à minha frente. — Não me deixa curiosa, sua vaca.— Se não reparou, estou trabalhando. – Estava me esforçando para não gargalhar dele.— Vai. Me conta. – David insistiu.— Vamos lá, se você quer saber o que aconteceu comigo, vou te contar exatamente. Nós transamos loucamente e depois fui embora do seu apartamento.— Você fez o quê? – Meu amigo olhou para mim incrédulo. — Fui embora, mas deixei um bilhete agradecendo pela noite e deixando bem claro que não iria acontecer novamente.As expressões do meu amigo eram as coisas mais engraçadas. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes e, por fim, desistiu.David parecia ter engolido em seco, processando o que acabei de contar. Depois de um breve silêncio, ele final
Já era noite quando me arrumei, optei por um vestido vermelho justo e que acentua cada curva do meu corpo, doutor Márcio ficará louco. Entrei no meu carro e parti para o restaurante, doutor Márcio até que insistiu para que eu fosse em seu carro, mas neguei dizendo que o encontraria no restaurante que ele marcou. Ao entrar o encontrei à minha espera e quando me viu se levantou. — Você está linda. – Ele disse beijando a minha mão. — Obrigada você também não está nada mal. Nos sentamos e logo ele chamou o garçom e pediu uma taça de vinho caro e tenho certeza que é para me impressionar. — Eu vou querer água com gás e uma rodela de limão, por favor. – O garçom assentiu e márcio olhou para mim. — Tem certeza que não prefere uma taça de vinho? – Digo a ele que vim de carro e ele sorriu. — Sei que você é consciente, mas uma taça não faz mal. — A cada hora mil e duzentas pessoas morrem através de acidentes causados por motoristas alcoolizados, e 89% dos homens são as maiores vítimas. S
Estávamos na área de lazer do meu condomínio, meus amigos riam animados as imitações de Bruno, David gargalhava, mas eu sabia que ele não estava nada bem, aproveitei a distração do pessoal e o puxei para longe. — Amigo, fala a verdade, como você está? – Perguntei a ele que soltou um suspiro pesaroso. — Nada bem, Ever. Minha mãe ontem ligou para mim e me descascou, sabia que ela me chamou de filho ingrato? Eu ingrato? Eles me expulsaram de casa quando eu tinha apenas treze anos, se não fosse a tia Marta me trazer para o Rio de Janeiro e cuidar de mim, não sei o que teria me tornado. Aí a minha mãe vem me falar de ingratidão. – Abracei meu amigo bem apertado, nessas horas não palavras de consolo que realmente console. — Você é um consultor jurídico que ganha muito bem e não precisou deles para nada. Quando eles tentarem te por pra baixo, pense nisso e saiba que você é muito melhor que todos eles juntos. — Já disse que te amo? — Hoje não. – Demos um selinho e ele me abraçou. —
David Santos Everlly e eu chegamos ao aeroporto e não demorou nosso voo foi anunciado, eu estava me sentindo estranho por rever a minha família e minha amiga percebeu, por isso ficou conversando comigo para desviar a minha atenção, conversei. — Ever, vai descansar um pouco, não precisa ficar conversando comigo para que eu me sinta bem, eu estou bem é sério. – Estava tentando convencer a mim mesmo que estava tudo bem. — Não estou com sono. Eu sabia que ela ficaria de olho em mim o máximo que pudesse, ainda mais que ela sabe como me sinto em relação a minha família. Para ser sincero eu nem queria ir para a tal dessa leitura de testamento, isso não me importa, mas parece que o velho, vulgo meu pai deixou uma cláusula explícita que só poderia abrir o testamento com todos presentes e isso incluía a mim, por que diabos ele fez isso, não faço ideia? O foda é ter que estar no mesmo ambiente que toda a minha família homofóbica, ainda bem Everlly está comigo, por que acho que não conseg